campos
levo-te nas entranhas
fuligem ferro pó 
o ódio declarado das usinas
injetado na veia
                 até os
ovos 
nos olhos:
a visão encarnecida
do rufo dos chicotes
na cara e  no suor 
levo-te escrava
na certeza de não mais
sangrar em teus aceiros 
ou enterrar-me até os ossos
em teus canaviais
moagem
na orgia verde
de uma nova safra
o homem lavra
:
a  esperança atenta
Nos lençóis de palha
engenho
minha terra
é 
de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta –a avança
plantada em ti
como canavial
que a foice corta
mas cravado  em ti 
me ponho à luta 
mesmo sabendo – o vão
estreito em cada porta 
MOENDA
usina
     mói a cana
     o caldo
     e o bagaço
usina
      mói o braço
      a carne
      o osso
usina
      mói o sangue
      a fruta
     e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho 
controlam
o saldo & o lucro
Artur Gomes
Suor & Cio
MVPB edições – 1985
FULINAIMICAMENTE


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