terça-feira, 28 de setembro de 2021

Suor & Cio


                                          campos

 

levo-te nas entranhas

fuligem ferro pó

o ódio declarado das usinas

injetado na veia

                 até os ovos

nos olhos:

a visão encarnecida

do rufo dos chicotes

na cara e  no suor

levo-te escrava

na certeza de não mais

sangrar em teus aceiros

ou enterrar-me até os ossos

em teus canaviais

 

moagem

 

na orgia verde

de uma nova safra

o homem lavra

:

a  esperança atenta

Nos lençóis de palha

 

engenho

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

 

soterra em teus grilhões

a voz que tenta –a avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

 

mas cravado  em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

estreito em cada porta

 

MOENDA

 

usina

     mói a cana

     o caldo

     e o bagaço

 

usina

      mói o braço

      a carne

      o osso

 

usina

      mói o sangue

      a fruta

     e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho

controlam

o saldo & o lucro

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB edições – 1985


Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimicamente.blogspot.com

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