sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

múltiplas poéticas

não tenho panos

fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento

Federika Lispetor



alfândega

em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/


hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo

Gigi Mocidde

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SagaraNAgens

a terra aqui é vermelha
branca - é a carne de dracena
tudo cena -
dela só quero a boca

seus olhos de fogo me engolem
da janela em frente
estou no oitavo andar de um hotel qualquer

seus pelos são pétalas eletrizantes
de um maldito mal-me-quer

ajeito o foco da lente
para vê-la de perto
avisto a púbis de vênus

a língua cresce
não seria por menos
nem no mais banal dos melodramas
com essa linda louca que me acena
aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama

Artur Gomes

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Subversiva 1

Eu não sou santa

nem casta
a vida é bruta

e não me basta
 vou a luta


uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído

vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação

a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta

“a arte existe
porque a vida não basta”

se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer

“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”

vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era

Gigi Mocidade

setembro - 2019

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bolivariando 2

 

eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina

onde o profano e o sagrado

em puerto viejo

cavajarro se encontram

em outro tom

a cigana boliviana

com seus olhos de pimenta

com suas pimentas nos olhos

me levou para lá sierra

de santa cruz da Bolívia

onde se masca folhas de coca

antes do coito das cinco

sem chá e nem torrada

e cerveja muito menos

o sexo ali é na porrada

com  fogos de artifícios comendo

no carnaval do mato dentro



Artur Gomes

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linguagem

abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes

Gigi Mocidade

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a cara a tapa

tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca, estilete, canivete
afiada navalha
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras
dessas cara/velas
da milenar tropicanalha



Gigi Mocidade

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Eros

tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes Eros
eletrizou os nossos dedos?

Federico Baudelaire


Tempo Poético
Para Isadora Chiminazzo Predebon

O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2018

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Profanalha Nu Rio

a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração

do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca

sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária

: orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária

Artur Gomes

www.suorecio.blogspotcom


Poética 48

era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal

como eu quiser
como nunca antes
outra mulher me dera

Federika Lispector


Fricção

quem passou a língua
nas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè

Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora

- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua

e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem

Cristina Bezerra


jura secreta 54

 

Jura secreta 54

moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora

desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da Mata Atlântica
quântico amor ou metafísica
tudo que em mim não há respostas

metáfora D´alkimim fugaz Brazílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas

os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



lua nova

o imaginário
o su-real
a fantasia

como eu queria
ser a Cássia Eller
cantar nos seus ouvidos
:
nada disso
o tempo de espera é lua velha
a lua nova quando chega
bate a porta

abro para ver quem é
não há surpresa
é você mulher

Artur Gomes Gumes


 A tentação sou eu


Deito pra lua
só ela p(h)ode como eu quero
penetrar-me com sua luz de fogo
me deleitar com seu leite
eu quero a lua cheia
que me entre o mar das cochas
e me engravide com seu manto
e que não fique algum quebranto
o mal olhado o olho gordo
que me lave com seu líquido
e me leve até São Jorge
com o seu cavalo branco

Gigi Mocidade
 

www.porradalirica.blogspot.com


a Arte que me interessa
é sem mordaça
a muito tempo
minha boca do inferno
perdeu sua cabaça
pelo prazer de gozar
e fazer


                              Cristina Bezerra


             Poética 86


teu silêncio
pedra na garganta
saliva seca
nessa língua faca
por quê não canta
a dor de cotovelo?

derruba essa parede
que te cerca
desamarra essa corda
que te enforca
rasga essa mortalha
que te mata

 

os lençóis da cama

amanheceram amarrotados

te vejo nas vitrines

frente a janela contra luz

nos olhos  - me mostra

o litoral das costas

mar que não tem fim

 

mergulha que setembro

é outro tempo – o que se foi

já era – as ervas estão crescendo

nos canteiros

morremos de sede

do vinho que não bebemos

e do amor que não fizemos



Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


o sal que escorre
sobre tuas costas
é mar de esperma
que vai fecundar
entre tuas coxas
mariscos ostras
peixes vários
na explosão das algas

quando o mar do cio

em eclosão atlântica

for comunhão de olgas

e as conchas grávidas

de sereias

parir em seus ouvidos

Federico Baldelaire 


o mestre hoje me deixou sem palavras tive que me fingir de santa quase fiquei de quatro embora lendo as cartas de Rimbaud tive que concordar com ele aos 17 18 anos realmente meu corpo não cabia nos panos

Rúbia Querubim

https://arturfulinaima.blogspot.com/


poética 58

se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
não se assuste com essa química
isso se chama Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com


o rascunho

 

contém um poema

           que o poema

                  impresso

                    não tem

 

o testemunho

            na lenta rasura

            na pressão do punho

            na linha da letra

 

o cunho

 

aquilo:

        o que a palavra

                               nem

 

Eduardo Tornaghi

In Sala de Visitas – poetas e poemas

Org. Chris Resplande

Goiânia – GO - 2022


Jura secreta 27

 rio em pele feminina 

o rio com seus mistérios 
molha meu cio em silêncio 

desejo o que nos separa 
a boca em quantos minutos 

as flores soltas na fala 
o pó dos ossos dos anos 

você me diz não ter pressa 
seus olhos fogo na sala 

o beijo um lance de dados 
cuidado cuidado cuidado 

que sou um anjo de fadas 
não beije assim meus segredos 

meus olhos faróis nos riachos 
meus braços dois afluentes 
pedaços do corpo do rio 
meus seios ilhas caladas 
das chamas não conhece o pavio 

se você me traz para o cio 

assim que o sexo aflora 
esta palavra apavora 

o beijo dado mais cedo 
quebra meu ser no espelho 

meu cerne é carne de vidro 
na profissão dos enredos 
quanto mais água me sinto 
presa ao lençol dos seus dedos 

o rio retrata meu centro 
na solidão de mim mesma 
segundo a segundo nas águas 

lá onde o sol é vazante 
lá onde a lua é enchente 
lá onde o rio é estrada 

onde coloca seus versos 
me encontro peixe e mais nada 

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



uma menina chamada Beth Araújo

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