quarta-feira, 22 de setembro de 2021

metafórica




               meta/fórica

 

ouço a música

nesse disco estrangeiro

a musa tem o nome: guanabara

no silêncio ela ri da nossa cara

a flor do mangue agora mora

onde seu leito jorra lama

por sua boca desdentada

peixe podre explode angra

em meu poema carNAvalha

naturalismo onde supunha

sal da terra no esgoto

eco sistema não interessa

ao senhor do mato grosso

agro-negócio é matadouro

soja pasto para os bois

o simbolismo da escrita é só metáfora

a concretude o modernismo vem depois

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux – 2019 

 Tem coisas que só

as bruxarias explicam

 Quem me conhece pelo menos um pouco, e já leu Serafim Ponte Grande, de Oswald de Andrade, sabe muito bem o porque da minha paixão por este personagem. O vejo como um Artur Gomes cagado e cuspido. Ali me encontro em tudo dele, as putarias, as sacanagens, inclusive também a profissão,  tipógrafo de uma repartição pública.

Quase todas as pessoas que tem acesso a minha escrita, cita Oswald, como uma de minha referências, e está corretíssima a afirmação, pois desde 1983 quando criei a Mostra Visual de Poesia Brasileira, com o objetivo de pesquisar e mostrar a produção poética contemporânea, em todas as suas multi facetas e multi linguagens, Oswald é um dos poetas que até hoje povoam o meu imaginário e permanece em minhas camas do desassossego.

Dia desses muito antes de ser anunciada essa premiação, estava pensando a semana de 22, e refletindo sobre os 100 anos dela em 2002, que bate a nossa porta com todas essas dúvidas que pairam no ar. Escrevi esse poema acima, e nele a afirmação de ter em Oswald de Andrade o meu espelho.  

Me lembro que, na semana de 1922, Fulinaíma, irmão de Macunaíma, teria fugido numa caravana, escondido no capô do carro do Oswald de Andrade.

Dizem que este foi um dos motivos pelo qual Mario de Andrade (autor de Macunaíma e suposto criador de Fulinaíma) e Oswald, tiveram uma briga fenomenal.

100 anos depois, o único descendente direto da linhagem de Fulinaíma é o poeta Artur Fulinaíma, vulgo, Artur Gomes e que, por ironia do destino, acaba de ganhar o prêmio Oswald de Andrade, confirmando assim, a tese de que, segundo diria Vitálitas Maritákis, poeta e pensador grego (Tessalônica 1902), ainda vivo.

Esse, talvez seja, o mais importante prêmio literário do Brasil, o que nos faz felizes por saber que a semente fértil de 1922 ainda graça nos jardins poéticos de Campos dos Goytacazes e São Francisco de Itabapoana.

*

* Tartufo de Hollanda - Crítico, especializado na obra de Vitálitas Maritákis, poeta e crítico grego, nascido em 1902 e ainda vivo e lúcido.

O destino reservou a Artur Gomes o prêmio, que leva o nome do seu "salvador” Oswald de Andrade. 

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Artur Gomes

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