quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Travessia


                           Jura Secreta 38

                                                Travessia

 

De Almada vou atravessar o Tejo

barco à vela Portugal afora

em Lisboa vou compor um fado

e cantar no Porto feito blues rasgado

de amor pela senhora que me espera em paz

 

e todo vinho que eu beber agora

será como beijo que guardei inteiro

feito marinheiro que retorna ao cais

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspo.com


SagaraNAgens Fulinaímicas

O leão coroado elefante Maracatu Nação África de minha gente. Algumas pessoas acham  que me conhecem mas nunca leram SagaraNAgens e aí quando percebem o meu lado esquerdo fogem em silêncio e me mostram o seu direito que não afina com o meu anjo torto meu inverso transpirado pelo avesso.

 

Dia novo que não nasce anoitece

quem nunca leu sagaranagem

não pode dizer que me conhece

 

Quem me olha e não me vê

ainda não aprendeu a V(L)ER


 
Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

Remexendo no baú de guardados encontrei o Suor & Cio de 1985 que tem prefácio assinado pelo saudoso e inesquecível Uilcon Pereira, mestre dos mestres. Estou digitando o texto para o blog destinado as memórias: DA Nascente A Foz: Um Rio de Palavras.  Lembro-me que em 1996, o Departamento de Literatura da Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, na época coordenado pelo Cláudio Willer, criou o projeto Poesia 96, fui um dos 50 poetas selecionados, e Uilcon Pereira escreveu o texto de apresentação das minhas performances, tecendo sobre o trabalho poético que eu desenvolvia na época com poemas.gráfico.visuais. 



Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimagens.blogspot.com

profissão

 


                     Profissão

 

meu poema

se completa em teu vestido

roçando tua carne

no algodão tecido

 

meu ofício é de poeta

pra rima poema e blusa

e ficar na tua pele

pelo tempo em que me usa


 

Artur Gomes

Suor & Cio

Edições MVPB – 1985



Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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quarta-feira, 29 de setembro de 2021

poesia o que me resta

 


poema

concreto

grosso

duro

ereto

 

a mulher dos sonhos

 é de carne e osso

tem sangue medula cabelo

ágora agora me aliviando

as tensões e pesadelos

 

embora onipresente oculta

nada sabe tudo de mim

teus olhos dois búzios safira

pétalas na carne de sal que me atira

ao mar das metáforas serafim

 

absurdo não saber que absinto

absurdo não saber o que absente

absurdo sentir como eu te sinto

magnética essa elétrica corrente

quando bebo tuas águas além mar

e as mágoas pro infinito vou levando

em teu corpo sempre hei de me lavar

 

ando

tão tenso

nesse tempo

estático


                                    Tropicalirismo

 

girassóis  - pousando

nu teu corpo – festa

beija-flor seresta

poesia fosse

esse sol que emana

do teu fogo farto

lambuzando a uva

de saliva doce

 

Poética 58

 

se a negritude ameríndia

do meu canto

lhe causa desconforto

insana criatura

com se assuste com essa química

isso se chama

SagaraNAgens Fulinaímicas

meu girassol de metáforas

 meu caldeirão de misturas




 talvez nem mesmo Rimbaude

soubesse o que  estava escrito

embora muitas vezes tenha dito

 

assim que ela me veio

tirei o freio dos pedais

 

 Rúbia Querubim  


o que vai

de um lado da ponte

a outra

é o que sai da boca

 

o que entra é língua

que entorta

beija sem pedir licença

chupa morde - atrevida

e os caninos  gozam

na entrada e na saída


                                            Le Gumes

para 

Jiddu Salanha e Tchello d´Barros

 

o gume da minha faca

está bem afiado

quando fura sangra

não é funk nem fake

é punk koereano

 

 era uma vez um país

na esperança de ser feliz

aí veio um infeliz e destruiu

 

               EuGênio Mallarmè




 poesia o que me resta

22 – 100  Anos depois

 

Meu poema esse objeto estranho

feito de ferro alumínio barro

 chumbo antimônio estanho

nuvem pesada

por cima de cabeças ocas

flecha de índio em tua cara pálida

o brasil perdeu o pau da brasa

destruiu a casa

minha vida

se não fosse poeta

não estaria enfiando

a faca na ferida

 

não pertenço a esta tribo

a(r)mada de verde amarelo

a minha tribo é muito mais sacana

fulinaímica sagarana

canibal tupiniquim

venho das matas Cacomanga

das plantações de aipim

 

antropofágico goytacá

em overdose NU vermelho

meu coração DuBoi tatá

Oswald de Andrade meu espelho

nos  roçados de mandioca

já fabriquei muita farinha

meu poema metrofágico

foi traduzido em Mandarim

dentro da aldeia carioca

sou Cordel Lua Madrinha

nos verões de fevereiro

nos carnavais do SerAfim

 

Artur Gomes

www.fulinaimargens.blogspot.com



Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

www.fulinaimcamente.blogspot.com

tempo suspenso

 


Uma cidade sem poesia não é nada

 Zeus meu deus arcaico marllarmélico mallarmaico me ensinou a entender no aramaico  meus desejos brazilíricos e  transformar as tragédias do bordel em manifestos bordelíricos

 Federika Lispector

Nem sei o que ela anda fazendo  hoje em meio a pernambucanos marxistas ela que nunca foi chegada a Marx e nunca leu O Capital ela que que em 1987 me namorou na Ciranda do Boi Cósmico e na hora de encarar o Arino na Pedra do Reino fugiu da Oficinas de Artes Cênicas da ETFC foi estudar matemática e morar em Niterói.

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

https://www.facebook.com/arturgomespoeta



Terra em Transe

Corpo Em Trânsito

 22 – 100 Anos Depois

 A tropicália comeu Oswald de Andrade, eu também li re-li devorei comi e também criei meu SerAfim, depois devorei comi o quinteto tropicanalista Tom Zé Caetano Gil Capinam Torquato. 

Acho que a minha antropofagia começou na Mostra Visual de Poesia Brasileira –


você tem fome de quê?

você tem sede de quê?

Eu tenho fome sede de V(L)ER.

 

Manifesto antropofágico – Oswald de Andrade

antropofagia – tropicália – o que será o que seria

roteiro para um filme de humor sarcástico – santa loucura santa nesse hospício do homem do pau brasil

 Macuaíma Versus Fuliaíma  - a febre criativa de Mário de Andrade     na lira  Paulistana de Artur Gomes

Intervenções ocupações parangolés de Hélio Oiticica

Caldeirão de Cultura pós tudo



tempo suspenso

 

caso descrevesse a fugaz aparição como

:

um fenômeno óptico meteorológico

separou a luz do sol do seu espectro

(aproximadamente) contínuo

e o brilho de sua luz sobre gotas de chuva

formou uma curvatura colorida

com as cores do espectro solar

 

tal esforço teórico

pouco diria da

ponte celeste, erguida

sobre o azul

arcoirisando a tarde

visão plena de beleza

 

entre

fenômeno atmosférico

x

carga simbólica

vale a lenda

             reencantamento

             tesouros

over the rainbow

 

                                                           dalila teles veras

in uma pausa na luta

coletânea – org. manoel ricardo de lima

mórula editorial – 2020

 

1

deus se recorda

como se fosse hoje

teria de fazer tudo em sete dias

e fez

e passamos a numerá-los

como conta de mentiroso

 

2

a maçã foi comida

a serpente voltou para a árvore

o jardim virou mato e ferrugem de planta.

era uma vez o paraíso

 

3

primeiro queimaram os livros

depois queimam os próprios homens

para apagar de vez a memória dos

livros

 

4

quando ana cristina césar

olhou naquela manhã pela janela

o céu de Copacabana

parecia um coberto azul

 

5

nossa senhora das flores

começa a colecionar miniaturas de genet

para suportar as madrugadas de insônia

 

6

trinta anos de hospício

e deus ainda hesita em voar

das mãos de camille claudel

 

7

depois que kurt schwiters morre em 1948

ana flor passa o resto da vida

tatuando borboletas no corpo

e voando sobre os campanários

 

Celso Borges

In pequenos poemas viúvos

OlhoD´Água Edições – 2020

 

Êxodo

I

vigília é uma onda de fósforo

que expõe névoa sobre névoa

 

vislumbra no espelho frio

os répteis do alvorecer

 

chuva sobre o deserto

sobre todos os inocentes

 

o mundo espia

 - o que sabem eles das papoulas¿

II

0 céu é imenso e tudo o que temos

São estrelas exiladas em silêncio

 

outras crianças solitárias

entre lágrimas derramadas

 

â noite – nós abraçamos

os bravos corações imortais

 

paraíso de ninguém

- onde ninguém se move

 

III

recordar do paraíso dos figos

das oliveiras ciprestes

 

dos pássaros que cantam hinos

das flores que nascem em granadas

 

é preciso recolher os pertences

antes que sequem os pastos das colinas

 

são olhares cruzando o deserto

- ao próximo voo¿

 

ziul serip

in nakba –  flor da ressurreição

Editora Lobo Azul – 2020




 

Fulinaíma MultiProjetos

portalfulinaima@gmail.com

(22)99815-1268 – whatsapp


EntreVistas

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Studio Fulinaíma Produção Audiovisual

https://www.facebook.com/studiofulinaima



Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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as unhas de Hera

 


Mar que as vezes vem

mar que as vezes vai

quando vem me entra

e fica

quando vai

de dentro de mim não sai

 

Jura Não Secreta

para Paulo Leminski

 

quando a ciranda de roda

atravessou minha rua

com os teus fogos de artifícios

pelos céus da tua boca

 

foi então que eu quis a lua

e disse então sem sabê-la

antes que ela me visse

 

neste dia via Alice

foi então que ele me disse

:

- foi nesse chão que eu fiz Estrela

 

Litoral

 

Muitas vezes quando beijo o litoral das suas costas encontro algas pedrinhas e conchinhas mariscos estrela do mar procuro o que há nas entrelinhas para quando espuma escorrer entre o mar das suas coxas seja líquido esperma que saiu das entre minhas

 

Obscuro objeto do desejo

 

Eu sempre encaro um livro como o objeto do desejo muitas vezes como o desejo do objeto Clarice como livros como fossem chocolates que  roubou de Isadora  a mulher que me devora numa febre de batom que é muito louca enquanto sou O Homem Com A Flora Na Boca

 

 Estou procurando uma letra que complete a palavra que ainda não escrevi desafio que me propus quando escrevi a primeira ode para ela nem se deu conta da flauta mágica na metáfora azul do fauno em sua boca vermelha de batom e o cacho de uvas mastigados entre os dentes com cheiro de leite ardente esguichado na distância

 

As unhas de Hera

 

O meu amor é um relâmpago

um coice nas trovoadas

caldeirão de raios elétricos

em noites de Cingapura

 

Algumas noites é Ana

nas madrugadas é Vera

na cama somos Bacantes

mil giga byte um tera

muito mais que tri amantes

                no plug me acelera

 

arranca do chão os meus pés

            me lança na atmosfera  

ela -  a louca de Espanha

Medusa da Inglaterra

meu corpo trapezista dançantes

meu corpo tua quimera

 

enterra suas sete cabeças

enquanto me diz – espera

me morde me lambe – me lanha

com suas unhas de Hera

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

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Artur Gomes

FULINAIMICAMENTE

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terça-feira, 28 de setembro de 2021

Suor & Cio


                                          campos

 

levo-te nas entranhas

fuligem ferro pó

o ódio declarado das usinas

injetado na veia

                 até os ovos

nos olhos:

a visão encarnecida

do rufo dos chicotes

na cara e  no suor

levo-te escrava

na certeza de não mais

sangrar em teus aceiros

ou enterrar-me até os ossos

em teus canaviais

 

moagem

 

na orgia verde

de uma nova safra

o homem lavra

:

a  esperança atenta

Nos lençóis de palha

 

engenho

 

minha terra

é

de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

 

soterra em teus grilhões

a voz que tenta –a avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

 

mas cravado  em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

estreito em cada porta

 

MOENDA

 

usina

     mói a cana

     o caldo

     e o bagaço

 

usina

      mói o braço

      a carne

      o osso

 

usina

      mói o sangue

      a fruta

     e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho

controlam

o saldo & o lucro

 

Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB edições – 1985


Artur Gomes

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