Ontem no Sarau Baião de Dois
AO ARTUR(Artur Gomes) COM CARINHO.
Meu caro Artur, Artur Gomes. Não foi possível
comparecer para te abraçar conforme era o meu desejo e o seu também. Mas fiquei
com você o dia todo em meu pensamento. Relembrei sua trajetória de lutas e
conquistas. Relembrei o carinho e admiração que meu pai tinha por você desde o
Jornal de Campos e Um Instante No Meu Cérebro(aliás, Dr. Renato Aquino,
ontem, ao encontrar-se comigo, pediu-me que desse um abraço por ele também,
abraço carregado de admiração deste os tempos da Escola Técnica Federal...).
Nossos encontros nos bons tempos dos bares da
vida, da poesia rasgada, do violão solidário parceiro entre primas e
bordões...Lembrei-me de sua presença forte e marcante com sua poesia sensual
erotizando e deixando vir à flor da pele e entrando pelos poros e eriçando os
pelos do tecido social conservador e dos costumes conservadores e as vezes
hipócritas da colonial moral da planície, ó libidinoso fauno...
No teatro das minhas lembranças, te vi nos palcos
com seu atrevimento poético e sua figura -entre apolínea e dionisíaca -
dominando a cena ao dizer sobre sobre o doce mel do prazer da carne, o suave
cheiro do açúcar dos nossos doces, e como um guerreiro goitacá zangado,
apontando a flecha para os exploradores do povo, e denunciando o amargo sabor
dos desgovernos de nossas elites dirigentes...e isso com a coragem dos nossos
quilombolas -que foram tantos- porque vivíamos em pleno período da ditadura
militar e civil-empresarial em nosso país! Também vieram amenidades de nossos
papos descontraídos sobre mulheres, música, cachaça e outras cositas mais, que
ninguém é de ferro(desculpe o momento de erudição, mas já dizia Nietzsche
"a arte existe para que a realidade não nos destrua").
Também
desfilaram pelos campos do pensamento nossos encontros nos campos de futebol,eu
do meu jeito, e você com jogadas refinadas de quem foi moleque jogando pelada
nos campinhos e terrenos baldios que outrora existiam por toda parte, não é
mesmo? Há quem jure ter visto visto você falando para a bola: "Vem, Poema
número II"...
E foi então que apareceu ao Professor e atento
historiador da cultura campista, entre o ofício e o deslavado amor à Terra, o
Artur conquistador de um belo espaço no cenário cultural do país com um
reconhecimento de muitos aplausos pelos diversos cantos e antologias atestando
sua presença consagrada, embora você nem ligue pra isso e muitos conterrâneos
infelizmente nem deram conta disso...e você continua andando pra baixo e pra
cima pelas ruas de sua cidade esbanjando o vigor dos sexogenários ...como
também o sou. E o que dizer de suas músicas, belas parcerias e instigantes
participações e vitórias No Tempo dos Festivais?
E agora, como é lindo ver o meu filho Helinho
estar atento ao seu trabalho e me dizer: Papai, admiro muito a arte, o talento
do Artur!
Viu, Gato Velho, tá ficando que nem vinho
bom,hein? Passando de geração em geração. E tenho certeza de que assim
permanecerá na alma de nosso povo por muitas e muitas gerações: isso é o que
acontece com quem escreve sua biografia no Bronze da História!
Além do abraço forte, tipo abraço de Homem da
Baixada - que aperta forte em cima mas não deixa que se toquem as partes
"de baixo"-, era mais ou menos isso que eu queria te falar. Taí o meu
abraço e o meu carinho por você. Em 29 de agosto de 2015.
Helinho Coelho
a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Artur Gomes
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