sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

sarau baião de dois

 

Ontem no Sarau Baião de Dois

AO ARTUR(Artur Gomes) COM CARINHO.
Meu caro Artur, Artur Gomes. Não foi possível comparecer para te abraçar conforme era o meu desejo e o seu também. Mas fiquei com você o dia todo em meu pensamento. Relembrei sua trajetória de lutas e conquistas. Relembrei o carinho e admiração que meu pai tinha por você desde o Jornal de Campos e Um Instante No Meu Cérebro(aliás, Dr. Renato Aquino, ontem, ao encontrar-se comigo, pediu-me que desse um abraço por ele também, abraço carregado de admiração deste os tempos da Escola Técnica Federal...).

Nossos encontros nos bons tempos dos bares da vida, da poesia rasgada, do violão solidário parceiro entre primas e bordões...Lembrei-me de sua presença forte e marcante com sua poesia sensual erotizando e deixando vir à flor da pele e entrando pelos poros e eriçando os pelos do tecido social conservador e dos costumes conservadores e as vezes hipócritas da colonial moral da planície, ó libidinoso fauno...

No teatro das minhas lembranças, te vi nos palcos com seu atrevimento poético e sua figura -entre apolínea e dionisíaca - dominando a cena ao dizer sobre sobre o doce mel do prazer da carne, o suave cheiro do açúcar dos nossos doces, e como um guerreiro goitacá zangado, apontando a flecha para os exploradores do povo, e denunciando o amargo sabor dos desgovernos de nossas elites dirigentes...e isso com a coragem dos nossos quilombolas -que foram tantos- porque vivíamos em pleno período da ditadura militar e civil-empresarial em nosso país! Também vieram amenidades de nossos papos descontraídos sobre mulheres, música, cachaça e outras cositas mais, que ninguém é de ferro(desculpe o momento de erudição, mas já dizia Nietzsche "a arte existe para que a realidade não nos destrua"). 


Também desfilaram pelos campos do pensamento nossos encontros nos campos de futebol,eu do meu jeito, e você com jogadas refinadas de quem foi moleque jogando pelada nos campinhos e terrenos baldios que outrora existiam por toda parte, não é mesmo? Há quem jure ter visto visto você falando para a bola: "Vem, Poema número II"...

E foi então que apareceu ao Professor e atento historiador da cultura campista, entre o ofício e o deslavado amor à Terra, o Artur conquistador de um belo espaço no cenário cultural do país com um reconhecimento de muitos aplausos pelos diversos cantos e antologias atestando sua presença consagrada, embora você nem ligue pra isso e muitos conterrâneos infelizmente nem deram conta disso...e você continua andando pra baixo e pra cima pelas ruas de sua cidade esbanjando o vigor dos sexogenários ...como também o sou. E o que dizer de suas músicas, belas parcerias e instigantes participações e vitórias No Tempo dos Festivais?


E agora, como é lindo ver o meu filho Helinho estar atento ao seu trabalho e me dizer: Papai, admiro muito a arte, o talento do Artur!

Viu, Gato Velho, tá ficando que nem vinho bom,hein? Passando de geração em geração. E tenho certeza de que assim permanecerá na alma de nosso povo por muitas e muitas gerações: isso é o que acontece com quem escreve sua biografia no Bronze da História!

Além do abraço forte, tipo abraço de Homem da Baixada - que aperta forte em cima mas não deixa que se toquem as partes "de baixo"-, era mais ou menos isso que eu queria te falar. Taí o meu abraço e o meu carinho por você. Em 29 de agosto de 2015.

Helinho Coelho


a tarde arde como gengibre na carne da boca faz tempo não pedalo pelo litoral com a língua alvoroçada na espuma das marés em guaxindiba sempre encontro motivo para os dentes lábios e dedos carne de caranguejo no meio do beijo tem uma mulher de Itaocara passeando por aqui saudades da minha amiga de Recife e da sua filha em Rio das Ostras onde vaza sob meus pés o poema inacabado agora me vens de Salvador todo desejo toda fúria incontrolável como cavalo selvagem que se desprendeu da cela.



pele grafia


meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia


Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com 


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