a chícara é apenas um detalhe para pensar dela o café distraindo os olhos de coruja presos no umbigo
penso em vão não escrever certa vez comecei um poema com vírgula as
curvas dos seios no branco do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o
túnel onde não passam automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no
início do poema que não precisa ter ponto final apenas curvas em direção a
outras curvas para encontrar as outras vírgulas no início do poema
eu quero o tempo tempo tempo mesmo que seja cedo antes que seja tarde amanhecia
setembro em bento gonçalves eu já pensava a carne dos pelos das folhas das
polpas das uvas no vale dos vinhedos do cachorro louco janelas do apartamento
da cidade alta os poemas pintados por juliana as costas nua na contra luz nascendo o dia antes arte do que
nunca um congresso brasileiro de poesia quero o temo tempo tempo quero quero
nos pampas vagalumes acendendo suas lanternas na garoa das madrugadas uma guria
na esquina me pedindo um gole de cerveja quantas eras quantas anas já tivemos
tantas já fizemos quantas e o quântico volátil como éter se evapora quando é
luz do dia.
Tudo Arde - poema em construção
suspenso
no Ar
não penso
atravesso o portão da sua casa
o corpo em fogo
a carne em brasa
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício
como um pássaro
que acaba de cantar
em pleno hospício
Pontal Foto.Grafia
Aqui,
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras – descobrimento
espinhas de peixe
convento
cabrálias esperas
relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no
AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado
areia branca inferno livre
Rimbaud - África virgem –
carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas
Jerusalém pagã visitada
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui
Miles Davis fisgou na agulha
Oscar no foco de palha
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha
cortando o pano a navalha
fatal daqui Pernambuco
Atafona.Pontal.Grussaí
as crianças são testemunhas:
Mallarmè passou por aqui
bebo teu fato em fogo
punhal na ova do bar
palhoças ao sol fevereiro
aluga-se teu brejo no mar
o preço nem Deus nem sabre
sementes de bagre no porto
a porca no sujo quintal
plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?
www.secretasjuras.blogspot.com
Santa Clara/Guaxindiba/Sossego –
não sei se clara
pode entender claramente
como amo
claro que nem tudo
ainda foi dito
escrito falado pensado
nem clara mesmo
imagina o quanto quero
e pode até se assustar
com tanta fala
mas clara ainda
não sabe que na sala
a vela acesa
em noite escura
ainda é clara
certa vez em
vila velha na vitória do espírito santo trepei no bonde no centro histórico da
cidade velha enquanto andra mirava seus olhos sobre os meus nada me disse em
seu silêncio de dizer tanto
Artur Gomes
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