quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

eu quero o tempo tempo tempo

 

a chícara é apenas um detalhe para pensar dela o café distraindo os olhos de coruja presos no umbigo

penso em vão não escrever certa vez comecei um poema com vírgula as curvas dos seios no branco do papel o caminho entre tecidos sob a pele para o túnel onde não passam automóveis a vírgula não é ponto apenas um sinal no início do poema que não precisa ter ponto final apenas curvas em direção a outras curvas para encontrar as outras vírgulas no início do poema

eu quero o tempo tempo tempo mesmo que seja cedo antes que seja tarde amanhecia setembro em bento gonçalves eu já pensava a carne dos pelos das folhas das polpas das uvas no vale dos vinhedos do cachorro louco janelas do apartamento da cidade alta os poemas pintados por juliana as costas nua na  contra luz nascendo o dia antes arte do que nunca um congresso brasileiro de poesia quero o temo tempo tempo quero quero nos pampas vagalumes acendendo suas lanternas na garoa das madrugadas uma guria na esquina me pedindo um gole de cerveja quantas eras quantas anas já tivemos tantas já fizemos quantas e o quântico volátil como éter se evapora quando é luz do dia.


Tudo Arde - poema em construção

 

suspenso

       no Ar

não penso

atravesso o portão da sua casa

o corpo em fogo

a carne em brasa

tudo arde

nas cinzas das horas

no silêncio da tarde

vou entrando sem alarde

sem comício

como um pássaro

que acaba de cantar

em pleno hospício


Pontal Foto.Grafia



Aqui,
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras – descobrimento
espinhas de peixe
convento
cabrálias esperas
relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no
AR

caranguejos explodem
mangues em pólvora
Ovo de Colombo quebrado
areia branca inferno livre
Rimbaud - África virgem –

carne na cruz dos escombros
trapos balançam varais
telhados bóiam nas ondas
tijolos afundando náufragos
último suspiro da bomba
na boca incerta da barra
esgoto fétido do mundo
grafando lentes na marra
imagens daqui saqueadas

Jerusalém pagã visitada

Atafona.Pontal.Grussaí

as crianças são testemunhas:
Jesus Cristo não passou por aqui

Miles Davis fisgou na agulha
Oscar no foco de palha
cobra de vidro sangue na fagulha
carne de peixe maracangalha
que mar eu bebo na telha
que a minha língua não tralha?
penúltima dose de pólvora
palmeira subindo a maralha
punhal trincheira na trilha
cortando o pano a navalha

fatal daqui Pernambuco

Atafona.Pontal.Grussaí

as crianças são testemunhas:
Mallarmè passou por aqui

bebo teu fato em fogo
punhal na ova do bar
palhoças ao sol fevereiro
aluga-se teu brejo no mar
o preço nem Deus nem sabre
sementes de bagre no porto
a porca no sujo quintal
plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?

www.secretasjuras.blogspot.com 





Santa Clara/Guaxindiba/Sossego –

 

não sei se clara

pode entender claramente

como amo

claro que nem tudo

ainda foi dito

escrito falado pensado

nem clara mesmo

imagina o quanto quero

e pode até se assustar

com tanta fala

mas clara ainda

não sabe que na sala

a vela acesa

em noite escura

ainda é clara



certa vez em vila velha na vitória do espírito santo trepei no bonde no centro histórico da cidade velha enquanto andra mirava seus olhos sobre os meus nada me disse em seu silêncio de dizer tanto



Artur Gomes

www.fulinaimargem.blospot.com


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