quem diria
filho de lavrador
e mãe analfabeta
um dia no brasil
ser chamado de poeta
ainda existe uma mulher
que me distorce o crâneo
me disseca e me atraca
quando chego ao cais
com esse barco em movimento
essa carcaça de lâminas e ossos
um mulher que me estica o plumo
e me deixa arame farpado
a ponto de me sangrar os dedos
poética 58
se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
não se assuste com essa química
isso se chama Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas
Tropicalirismo
girassóis pousando
NU - teu corpo festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce
Zeus me livre
Zeus me livre
dessa trágica comédia brasiliense
prefiro o nonsense - a patafísica
o teatro do absurdo de Ionesco, Arrabal
Fando e Liz, A Cantora Careca
As Cadeiras, A lição, Rinoceronte
As Mortes do Tanussi
me removem cicatrizes
como dias mais felizes¿
se Belo Horizonte chora
a morte de 56 mineiros
e o Espírito Santo também chora
os corpos soterrados pela lama
essa tragédia social
os 270 mortos em Brumadinho
mostram que no brazyl
há muita lama no meio do caminho
nas poéticas de Federico Baudelaire é foda-se quem quiser, as tragédias
sempre estão presentes, sociais, humanas, políticas, reais ou su-reais. com os
rasgos das mortalhas ele tece os carnavais, os atalhos, os becos, as vielas até
mesmo os não canaviais.
Meu blog juras-secretas - no blogspot. com - foi denunciado no face por
abuso aos padrões de segurança desse sistema - até quando viveremos tempos como
esse em que pessoas completamente desprovidas de conhecimento, podem determinar
o que se cabe ou não cabe ser divulgado em uma plataforma digital? O que está
postado no blog são poemas do livro, e o erotismo de alguns, com certeza mexe
com a libido dessas dar-mares evangélicas recatadas de araque que só trepam com
jesus na goiabeira. Para quem quiser conferir deixo a dica aí em cima do link é
só juntar e navegar, e boa viagem ao coração do mato dentro.
Artur Gomes –
Pátria A(r)mada
www.arturfulinaima.blogspot.com
IndGesta
uma caneta pelo amor de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno
vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade
dessa idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
www.secretasjuras.blogspot.com
Prezado
escritor Artur Gomes,
A Diretoria da União Brasileira de Escritores do
Rio de Janeiro envia, em anexo a este, o certificado de premiação e convida
para a reunião virtual que será realizada no dia 23 de Outubro às 16 h.
Atenciosamente,
Euridice Hespanhol
Diretoria social da UBE/RJ
O Poeta
Enquanto Coisa
Disponível para compra no site www.editorapenalux.com.br
SINOPSE: Depois das excitadas e excitantes Juras
secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar
pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em “O poeta
enquanto coisa” [...] Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez
fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos
obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma
tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano
pelas páginas turvas do mundo. [...] Seus versos são rascunhos, rasuras e
ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e
estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte
dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas.
[...] Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob
a força cósmica de Eros. [...] Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a
coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas) [...]
Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a
língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a
verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta:
a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa)
a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de
Baco”. [...] Artur Gomes ouve o
canto da sereia em sua cama, livro, divã, [...] se obstina pela ideia de
confissão, mas de uma confissão dionisíaca [...] preferindo um louvor a
Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma
poesia que roga.
Trechos do prefácio de Igor Fagundes
Festival Cine Vídeo De Poesia Falada
De alguma forma, Valdir Rocha é também responsável pela realização dessa Mostra, pois foi ele quem me colocou em contato com o Antônio Cunha, para autorizá-lo a gravar o meu Indgesta, poema do livro Pátria A(r)mada – Editora Desconcertos – 2019. Quando vi pela primeira vez o vídeo, a emoção bateu forte. E daí, comecei a acompanhar de perto a produção da Série Outros Autores, e a cada interpretação do Antônio, o coração saltava mais alto. Como a ideia do Projeto Arte Cultura Oficinas já estava em andamento, acrescentei entre as suas atividades a Mostra Cine Vídeo De Poesia Falada para mim uma das melhoras formas para divulgação poética. Quero deixar público, mês agradecimentos ao Valdir Rocha, por esse contato maravilho, ao Antônio Cunha, por ter permitido seus vídeos na Mostra, ao parceiro Tchelo d´Barros, pela criação da Arte do Cartaz, e a todos os poetas que compõem essa Primeira Mostra que se estenderá até o dia 15 de dezembro.
Artur Gomes
Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
https://www.facebook.com/studiofulinaima
Mar que as
vezes vem
mar que as vezes vai
Mar quando vem
me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai
Artur Gomes
www.fulinaimicamente.blogspot.com
faço a minha parte
o que ninguém faz não me interessa
eu tenho pressa
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados os desnutridos
os que não tem pela manhã café com pão
e sobre a mesa no almoço nem mesa
nem carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem fome
ou os que morrem assassinados
nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido o brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o apelido
do causador dessa desgraça
Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca :
Deus Não Joga Dados
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
ofício de poeta
franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linhas de pesar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo desenredos
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus enredos
Artur
Gomes
E a viagem antropomágica continua
venha viajar com cine vídeo poesia
Fulinaíma
MultiProjetos
KINO3 – Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
https://www.facebook.com/studiofulinaima
aquário
quando a polícia chegou
ela estava na sala
sentada no sofá
a boca arreganhada
a dor arredando-se troppo tarde
o gato miava
o olhar preso no tempo
ignorava a janela aberta
temporal relâmpagos ventania
ana maria braga na tevê
contas vencidas no chão
o gato miava
havia sangue por todo canto
e o sorriso estava no fundo:
abaixo do peixinho vermelho
seus 32 dentes de porcelana
trovejavam impecáveis
o gato miava
sil guimarães
[ imagem meus gatos lola & barthô ]
O demiurgo
do vírus
nova ordem virá
o humano
demasiado humano
continuará
César Augusto de Carvalho
POEMA XXII
Os amantes
não são eternos.
Disse-me uma mulher
que traía sua companheira.
São como as calçadas
e as casas de cavalo.
São como
as lâmpadas fluorescentes
e os copos de vidro.
Nunca ousamos dizer:
lealdade no deserto de dedos!
Disse-me uma mulher
que traía sua companheira:
Olha as águas
do rio sonolento.
Observa se nele
vivem pescadores embriagados.
Vê se respiram
fogueira com aroma de cravo.
Os amantes não são eternos.
Disse-me uma mulher
quando se dobrava em mim.
Celso de Alencar
Publicado no livro SETE, 2001- Vinte e cinco xilogravuras do artista plástico Valdir Rocha e vinte e cinco poemas de Celso de Alencar
A METAFÍSICA IMPUNE
eis a metafísica impune
nas escamas dos peixes
que saltam nas redes
reluzindo o resto de negrume
da noite que fugaz se evade:
Ademir Demarchi
Pirão de Sereia
Realejo Edições - 2012
Jura Secreta 45
fulinaimagem
1
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos Canibais
e essa lua mansa fosse faca
a afiar os versos que inda não fiz
e as brigas de amor que nunca quis
mesmo quando o projeto
aponta outra direção embaixo do nariz
e é mais concreto
que a argamassa do abstrato
por enquanto vou te amar assim
admirando teu retrato
enquanto penso minha idade
e o que trago da cidade
embaixo as solas dos sapatos
2
o que trago
embaixo as solas dos sapatos é fato
bagana acesa
sobra do cigarro é sarro
dentro do carro
ainda ouço Jimmi Hendrix
quando quero
dancei bolero
sampleAndo rock and roll
prá colher lírios
há que se por o pé na lama
a seda pura foto-síntese do papel
tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana
procuro um mix da guitarra de Santanna
com os espinhos da Rosa de Noel
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux - 2018
imagem: Felipe Stefani
essa costela arrancada
suja de dor & mel
" Ao abismo caímos
e não era voo aquilo "
Ludwig Zeller
eu faço
porque faço
como se fácil fosse
como se eu
fosse um
fosso fértil
fogo - fátuo
um filho
do farto idílio
ou
do fausto desígnio
( oito mil
olhos mortos
me olham oblíquos )
eu faço
porque se não faço
a língua seca
como se lírio fosse
como se
fosse um
fato fútil
feto fosco
fonte falsa
ou uma
folha solta
salto falho
( urubus passeiam
sobre sete encantadores
assombros
e sobre seis avenidas
selvagens
cinco silêncios supersônicos
trafegam trêmulos )
eu faço
porque faço
como se festa fosse
como se eu
fosse um
filisteu filósofo
filipino andrógino
paladino erótico
girassol perplexo
vestígio herético
( &
oito mil
olhos
se abrem
ébrios
se calam
mortos )
garbo gomes
( texto)
Valdir Rocha
( Arte)
Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
Oswald de Andrade
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)
cato cacos de azuis
nos alumínios
em cada mínimo
que vejo azulejo
Federico Baudelaire
E como a máquina marcasse o meu desejo
e minha mão latente se perdesse
no ato frio que a vida emana
só pude ver um rosto inacabado
e uma entranha mais q se pusesse
no rastro do entorno já perdido
no fogo q arrebenta uma pupila
que só dardeja na noite do teu ventre
e num somenos acaba de apagar.
Romério Rômulo
A máquina do mundo pós-Drummond)
sua língua
na minha
corpo
todo
caminha
Dinovaldo Giliolli
ainda que hoje não fosse
o dia que queremos
é carnaval
é carNAvalha
navalha na carne
carne na navalha
despir os panos
pensar os planos
soltar o berro
e ferro na boneca
que ninguém é de ferro
Artur Gomes Fulinaíma
https://braziliricapereira.blogspot.com/
Jura Secreta 32
fosse apenas o que já foi dito
escrito falado pensado
não fosse tudo o que já foi maldito
e nada do que nunca foi sagrado
falo em tua boca enquanto em transe
um anjo me ilumina tanto
que mesmo mudo em tua língua canto
como um diabo que subindo aos céus
tentou muito mais de uma vez
quem sabe Gregório ou quem sabe Castro
descendo aos infernos como sempre fez
talvez Camões no corpo de um astro
me lance a infinita chama da pornô Gráfica lucidez
Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018
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