quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

multiplas poéticas


quem diria

filho de lavrador

e mãe analfabeta

um dia no brasil

ser chamado de poeta 




ainda existe uma mulher
que me distorce o crâneo
me disseca e me atraca
quando chego ao cais
com esse barco em movimento
essa carcaça de lâminas e ossos
um mulher que me estica o plumo
e me deixa arame farpado
a ponto de me sangrar os dedos


poética 58

se a negritude ameríndia
do meu canto
lhe causa desconforto
insana criatura
não se assuste com essa química
isso se chama Sagaranagens Fulinaímicas
meu girassol de metáforas
meu caldeirão de misturas


Tropicalirismo

girassóis pousando
NU - teu corpo festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce


ando
tão tenso
nesse tempo
estático

Zeus me livre

Zeus me livre
dessa trágica comédia brasiliense
prefiro o nonsense - a patafísica
o teatro do absurdo de Ionesco, Arrabal
Fando e Liz, A Cantora Careca
As Cadeiras, A lição, Rinoceronte

As Mortes do Tanussi
me removem cicatrizes
como dias mais felizes¿
se Belo Horizonte chora
a morte de 56 mineiros
e o Espírito Santo também chora
os corpos soterrados pela lama
essa tragédia social

os 270 mortos em Brumadinho
mostram que no brazyl
há muita lama no meio do caminho

nas poéticas de Federico Baudelaire é foda-se quem quiser, as tragédias sempre estão presentes, sociais, humanas, políticas, reais ou su-reais. com os rasgos das mortalhas ele tece os carnavais, os atalhos, os becos, as vielas até mesmo os não canaviais.


Meu blog juras-secretas - no blogspot. com - foi denunciado no face por abuso aos padrões de segurança desse sistema - até quando viveremos tempos como esse em que pessoas completamente desprovidas de conhecimento, podem determinar o que se cabe ou não cabe ser divulgado em uma plataforma digital? O que está postado no blog são poemas do livro, e o erotismo de alguns, com certeza mexe com a libido dessas dar-mares evangélicas recatadas de araque que só trepam com jesus na goiabeira. Para quem quiser conferir deixo a dica aí em cima do link é só juntar e navegar, e boa viagem ao coração do mato dentro.


Artur Gomes

Pátria A(r)mada

www.arturfulinaima.blogspot.com

IndGesta

uma caneta pelo amor de deus
uma máquina de escrever
uma câmera por favor
quero um computador
nem que seja pós moderno

vamos fazer um filme
vamos criar um filho
deixa eu amar a lídia
que a mediocridade
dessa idade mídia
não coca cola mais
nem aqui nem no inferno

Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020

www.secretasjuras.blogspot.com



 

Prezado escritor Artur Gomes,

A Diretoria da União Brasileira de Escritores do Rio de Janeiro envia, em anexo a este, o certificado de premiação e convida para a reunião virtual que será realizada no dia 23 de Outubro às 16 h.

Atenciosamente,

Euridice Hespanhol
Diretoria social da UBE/RJ


O Poeta Enquanto Coisa

Disponível para compra no site www.editorapenalux.com.br

SINOPSE: Depois das excitadas e excitantes Juras secretas, de 2018, o poeta e artista multimídia Artur Gomes volta a tornar pública sua jura de amor e fidelidade ao arcaico deus Dionísio em “O poeta enquanto coisa” [...] Comparece ao ethos deste livro a mesma embriaguez fulinaímica de sempre: a que toma, mediante o delírio atento frente aos passos obtusos do ser e estar das gentes, cada palavra como taça, vinho tinto e uma tinta capaz de, em contrapartida, rogar lúcida a passagem dilacerada do humano pelas páginas turvas do mundo. [...] Seus versos são rascunhos, rasuras e ranhuras a passar a limpo os nexos e os nervos de sua fatura formal e estilística, deixando sobre a página tanto um rastro de unha quanto o esmalte dos escritos e vozes que em sua alma avultam e nos dedos instauram cutículas. [...] Não apenas o corpo do homem, da mulher, se sensualiza e se sexualiza sob a força cósmica de Eros. [...] Nessa porosidade, o poeta se entende permeável a coisas e pessoas (a pessoas já misturadas às coisas, a pessoas já coisas) [...] Também por isso, por essa poesia de tamanho contato, fricção, a relação com a língua se confirma erotizada e – vale dizer – tanto a língua física quanto a verbal, o que equivale a dizer que escrita e oralidade se reencontram no poeta: a sofisticação da escritura literária não perde (pelo contrário, potencializa) a dimensão primigênia do poeta como cantor, como ator “na divina língua de Baco”. [...] Artur Gomes ouve o canto da sereia em sua cama, livro, divã, [...] se obstina pela ideia de confissão, mas de uma confissão dionisíaca [...] preferindo um louvor a Dionísio a um Deus que não sabe dançar, que não sabe gozar, na liturgia de uma poesia que roga.

Trechos do prefácio de Igor Fagundes


Projeto Arte Cultura Oficinas
Festival Cine Vídeo De Poesia Falada

De alguma forma, Valdir Rocha é também responsável pela realização dessa Mostra, pois foi ele quem me colocou em contato com o Antônio Cunha, para autorizá-lo a gravar o meu Indgesta, poema do livro Pátria A(r)mada – Editora Desconcertos – 2019. Quando vi pela primeira vez o vídeo, a emoção bateu forte. E daí, comecei a acompanhar de perto a produção da Série Outros Autores, e a cada interpretação do Antônio, o coração saltava mais alto. Como a ideia do Projeto Arte Cultura Oficinas já estava em andamento, acrescentei entre as suas atividades a Mostra Cine Vídeo De Poesia Falada para mim uma das melhoras formas para divulgação poética. Quero deixar público, mês agradecimentos ao Valdir Rocha, por esse contato maravilho, ao Antônio Cunha, por ter permitido seus vídeos na Mostra, ao parceiro Tchelo d´Barros, pela criação da Arte do Cartaz, e a todos os poetas que compõem essa Primeira Mostra que se estenderá até o dia 15 de dezembro.

Artur Gomes
Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
https://www.facebook.com/studiofulinaima
 



Mar que as vezes vem
mar que as vezes vai
Mar quando vem
me entra e fica
e quando vai
de dentro de mim não sai

Artur Gomes

www.fulinaimicamente.blogspot.com


faço a minha parte
o que ninguém faz não me interessa
eu tenho pressa


tragédia infame

empresto minha voz aos deserdados os desnutridos
os que não tem pela manhã café com pão
e sobre a mesa no almoço nem mesa
nem carne seca com farinha

espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha

empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem fome
ou os que morrem assassinados

nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido o brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o apelido
do causador dessa desgraça

Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca :
Deus Não Joga Dados

https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/


ofício de poeta

franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linhas de pesar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo desenredos
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus enredos

Artur Gomes

E a viagem antropomágica continua
venha viajar com cine vídeo poesia
Fulinaíma MultiProjetos
KINO3 – Studio Fulinaíma Produção Audiovisual
https://www.facebook.com/studiofulinaima 


aquário
 
quando a polícia chegou
ela estava na sala
sentada no sofá
a boca arreganhada
a dor arredando-se troppo tarde

o gato miava

o olhar preso no tempo
ignorava a janela aberta
temporal relâmpagos ventania
ana maria braga na tevê
contas vencidas no chão

o gato miava

havia sangue por todo canto
e o sorriso estava no fundo:
abaixo do peixinho vermelho
seus 32 dentes de porcelana
trovejavam impecáveis

o gato miava

 

sil guimarães

[ imagem meus gatos lola & barthô ]


O demiurgo


do vírus

nova ordem virá

o humano

demasiado humano

continuará


César Augusto de Carvalho 



POEMA XXII

 

Os amantes

não são eternos.

Disse-me uma mulher

que traía sua companheira.

São como as calçadas

e as casas de cavalo.

São como

as lâmpadas fluorescentes

e os copos de vidro.

Nunca ousamos dizer:

lealdade no deserto de dedos!

Disse-me uma mulher

que traía sua companheira:

Olha as águas

do rio sonolento.

Observa se nele

vivem pescadores embriagados.

Vê se respiram

fogueira com aroma de cravo.

Os amantes não são eternos.

Disse-me uma mulher

quando se dobrava em mim.

 

Celso de Alencar

 

Publicado no livro SETE, 2001- Vinte e cinco xilogravuras do artista plástico Valdir Rocha e vinte e cinco poemas de Celso de Alencar



A METAFÍSICA IMPUNE

eis a metafísica impune

nas escamas dos peixes

que saltam nas redes

reluzindo o resto de negrume

da noite que fugaz se evade:

 

Ademir Demarchi

Pirão de Sereia

Realejo Edições - 2012


Jura Secreta 45

fulinaimagem

 

1

por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

e minha língua fosse

só furor dos Canibais

e essa lua mansa fosse faca

a afiar os versos que inda não fiz

e as brigas de amor que nunca quis

mesmo quando o projeto

aponta outra direção embaixo do nariz

e é mais concreto

que a argamassa do abstrato

por enquanto vou te amar assim

admirando teu retrato

enquanto penso minha idade

e o que trago da cidade

embaixo as solas dos sapatos

 

2

o que trago

embaixo as solas dos sapatos é fato

bagana acesa

sobra do cigarro é sarro

dentro do carro

ainda ouço Jimmi Hendrix

quando quero

dancei bolero

sampleAndo rock and roll

prá colher lírios

há que se por o pé na lama

a seda pura foto-síntese do papel

tem Flor de Lótus nos bordéis Copacabana

procuro um mix da guitarra de Santanna

com os espinhos da Rosa de Noel


Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

imagem: Felipe Stefani

www.secretasjuras.blospot.com



essa costela arrancada
suja de dor & mel


" Ao abismo caímos
e não era voo aquilo "

Ludwig Zeller


eu faço
porque faço
como se fácil fosse

como se eu
fosse um
fosso fértil
fogo - fátuo

um filho
do farto idílio
ou
do fausto desígnio

( oito mil
olhos mortos
me olham oblíquos )

eu faço
porque se não faço
a língua seca
como se lírio fosse

como se
fosse um
fato fútil
feto fosco
fonte falsa
ou uma
folha solta
salto falho

( urubus passeiam
sobre sete encantadores
assombros
e sobre seis avenidas
selvagens
cinco silêncios supersônicos
trafegam trêmulos )

eu faço
porque faço
como se festa fosse

como se eu
fosse um
filisteu filósofo
filipino andrógino
paladino erótico
girassol perplexo
vestígio herético

( &
oito mil
olhos

se abrem
ébrios

se calam
mortos )

garbo gomes
( texto)

Valdir Rocha

( Arte)



A descoberta

Seguimos nosso caminho por este mar de longo
Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
E houvemos vista de terra
os selvagens
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam por a mão
E depois a tomaram como espantados
primeiro chá
Depois de dançarem
Diogo Dias
Fez o salto real
as meninas da gare
Eram três ou quatro moças bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.

 

Oswald de Andrade
(in Poesias Reunidas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1971.)



cato cacos de azuis

nos alumínios

em cada mínimo

que vejo  azulejo

 

Federico Baudelaire

https://fulinaimagemfreudelerico.blogspot.com/




E como a máquina marcasse o meu desejo

e minha mão latente se perdesse

no ato frio que a vida emana

 

só pude ver um rosto inacabado

e uma entranha mais q se pusesse

no rastro do entorno já perdido

 

no fogo q arrebenta uma pupila

que só dardeja na noite do teu ventre

e num somenos acaba de apagar.

 

Romério Rômulo

A máquina do mundo pós-Drummond)



sua língua

          na minha

                     corpo

                              todo

                                                caminha

 

Dinovaldo Giliolli


  

ainda que hoje não fosse

o dia que queremos

é carnaval

é carNAvalha

navalha na carne

carne na navalha

despir os panos

pensar os planos

soltar o berro

e ferro na boneca

que ninguém é de ferro

 

Artur Gomes Fulinaíma

https://braziliricapereira.blogspot.com/



Jura Secreta 32

fosse apenas o que já foi dito
escrito falado pensado
não fosse tudo o que já foi maldito
e nada do que nunca foi sagrado

falo em tua boca enquanto em transe
um anjo me ilumina tanto
que mesmo mudo em tua língua canto

como um diabo que subindo aos céus
tentou muito mais de uma vez
quem sabe Gregório ou quem sabe Castro
descendo aos infernos como sempre fez

talvez Camões no corpo de um astro
me lance a infinita chama da pornô Gráfica lucidez

Artur Gomes
do livro Juras Secretas
Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com  


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