quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

múltiplas poéticas

 Pele Grafia


meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com



Se esiste un tempo per il silenzio, questo è il mio tempo.


Stefania Diedolo


Se existe um tempo para o silêncio, este é o meu tempo.




o Rei está Nu

e a Rainha também

o palácio dava para

os fundos

do submundo

onde morava

a loucura tântrica

em suas garras semânticas

como física quântica

ela gozava solitária

ao amanhecer de todo dia


por onde o sexy aflora
não há controle sobre mim
da carne ao telhado o corpo
é um músculo retesado
a espera da penetração
ondas que num vai e vem
esperma escorre entre as coxas
do prazer de que não se contém


eu não tenho calma
minha alma é inquieta
não tenho como ficar quieta


Federika Lispector

www.fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com





 carnívora


o amor é feito de corpos
o amor é feito de membros
o amor é feito de meses
janeiro fevereiro março
todos os dias acordo e me lembro

o amor é feito de abril
maio junho julho
o amor é feito de agosto
setembro outubro novembro
o amor é feito dezembro

o amor é feito de anos
o amor é feito de agora
horas minutos segundos
é razão de estar no mundo
o amor se faz toda hora


Espelho 3

fotografei o espelho
em tua íris retina
e revelei a menina
que em meus olhos havia
banhada de sal e sol
em pétalas de girassol
que os meus olhos comiam


Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspot.com


LeminskiAndo em Cena

quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não sustenta um olhar que demora
diante do meu centro
este poema me olha

ali
se Alice ali se visse
quando Alice viu e não disse
se Alice ali se dissesse
quanta palavra veio
e não desce
ali bem ali
dentro da Alice
só Alice com Alice
ali se parece

Paulo Leminski


às vezes

o substantivo carece
de mais substantivos

o verbo de verbos
verbos de advérbios

as palavras fazem crescer o mundo
mas a língua não é a realidade
nem a arte se assemelha à natureza

criam outra
realidade que expande a realidade
(às vezes)
no branco da página

Aricy Curvello


 I


Tal aquele barqueiro distraído
que perdeu a isca e fisgou o remo as pescar
a lua, eu queria escrever distraidamente.
E encurvar o anzol até fechar-se um círculo
para que minhas palavras não caiam.

Quando engulo abstrações, morro de tédio.
Por isso, para sobreviver, meu devaneio
desce ao chão e distende-se numa caminhada.
E ao pisar na relva meus passos
estalam folhas secas.

Mas não é por maldade que piso
nas coisas da terra. A elas meus sapatos
irmanam-se no ímpeto que as faz
viver na simplicidade do cotidiano
a engendrar bichos de nuvem.

E distraidamente mantemos
o fôlego.

Mirian de Carvalho

do livro nada mais que isto
Scortecci Editora - 2011


signos em convulsão

flores
precisam de água

coelhos
gostam de folhas de couve-flor

humanas
confusões de signos

dexplosão de gaseduto no cairo
centenas de feridos em atentado no metrõ de londres

o público alvo do jô onze e meia
américa - terra de bravos

as abelhas que pousam nas uvas
não são clones de abelhas

um bilhete no e-mail du superpateta
poeta das perdidas ilusões

ilusionista, domador de leões
amante do bom vinho

e das mulheres que uivam na lua cheia
ronrons de fêmeas, gemidos

alquimia de salivas, miados
cheiros, imagens

sem replay

o rio que passa na minha cidade
está poluído

em quais camas as grandes cópulas douradas¿

um boeing me coloca diante das ondas do mar
marolas, maresias

frutos de flores marítimas
deuses do ar, deusa da água

o fogo arde a raíz das árvores
línguas de lesmas, húmus

nada que não finja
beleza que não finda

mesmos crisântemos
florescendo
na lâmina da espada

um facho de lua
sobre as pétalas
do jardim

Ademir Assunção
do livro Zona Branca
Travessa dos Editores - 2006



 pátria a(r)mada 1


só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o teu destino

só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pelo nu depravado
em tua cama sol à pino

só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os teus meninos

só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino

Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
fulinaima@gmail.com
(22) 99815-12668 - whatsapp 

www.arturgumes.blogspot.com


 
pele grafia

poema: Artur Gomes
arte: Cláudia Lobo

manhatan city e/ou mediocridade mídia

esta cidade cheira a bosta nas calçadas nas marquises e as meninas são felizes nas capas de revistas as meninas dos jardins são expressões su-realistas as meninas dos jardins gostam de funk as meninas dos jardins rastam de rap as meninas dos jardins só ferem punk as meninas dos jardins já mascam coca as meninas dos jardins só fumam clac as meninas dos jardins não são do rock as meninas dos jardins só festam ploc como sabem ou como queiram mas as meninas dos jardins não fedem nem cheiram

Federico Baudelaire


Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa
por Nuno Rau

Andamos no presente como vagando sobre um território rumo a outro, o futuro, para onde olhamos (além do olhar atento à nossa paisagem, o agora), mas sem perder a ligação com os territórios de onde viemos, o passado, de onde nos enviam mensagens-cabogramas. Ocorre que, antes, essas mensagens pareciam trilhar cabos unificados, e hoje elas nos vêm por uma rede de miríades de fios entrelaçados, com origens várias, por wi-fi, mescladas aos arcaicos sinais de fumaça, batidas de tambor.

O poeta contemporâneo tão mais contemporâneo se torna quando, atento ao presente absoluto para pensar a direção de seus passos, fica também atento aos sinais do passado, não dispensando o gesto ameríndio de perscrutar nas matas o aproximar-se da civilização predatória (como os nativos norte-americanos encostavam o ouvido nos trilhos do trem) enquanto observa, na tela de seu dispositivo, a nuvem de futuros prováveis, nem todos gloriosos: assim um poeta se torna criador de mundos.

Artur Gomes performa, em “O poeta enquanto coisa”, a sua dança tribal em que diversos dados da tradição se mesclam em sua reinterpretação ancorada no hoje, o que sempre implica numa tomada de posição política do poeta, que brindamos aqui, com alegria, porque nos traz luz sobre um momento particular de trevas na vida civil. É por estas vias que o liquidificador estético do poeta mistura antropofagicamente em suas iguarias-poemas, para que brindemos, deuses gregos com orixás, filosofia e orgia, mente e corpo, política e sexo, o corpo que precisa estar presente cada vez mais nos poemas, afastando quando possível os séculos de metafísica que nos oprimem. Evoé, Artur! Que seu canto ecoe pelos corações e mentes do presente e do tempo que virá.

Nuno Rau, arquiteto, professor de história da arte, tem poemas em diversas revistas literárias, e nas antologias Desvio para o vermelho, do Centro Cultural São Paulo, Escriptonita, que co-organizou, e 29 de Abril: o verso da violência. Publicou o livro Mecânica Aplicada, poemas, finalista do 60º Prêmio Jabuti e do 3º Prêmio Rio de Literatura. Ministra oficinas de poesia no Instituto Estação das Letras e é coeditor da revista mallarmargens.com


o curral das merdavilhas

o brasil já foi ilha de vera cruz
e nunca foi ilha
já foi terra de santa cruz
e nunca foi santa
hoje ninguém mais se espanta
com o volume das trapaças
no curral das merdavilhas

Artur Fulinaíma

https://ciadesafiodeteatro.blogspot.com/ 


Toda Nudez Não Será Castigada

estou nua em pelo
disfarçando o pesadelo
para olhar do alto
o palácio do assalto
e seus metralhas

minha língua é faca
não é palha
é palavra pronta
pra cortar a carne
como fio de navalha
onde houver canalha
toco fogo dentro

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


minha ovelha preferida
está se rebelando
os ensaios da Mocidade
Independente de Padre Olivácio
estão se aproximando
e ela não dá as caras
vou baixar decreto
vou baixar o santo
e não diga no entanto
que sou linha dura
dessa rapadura você ainda não viu
ela não é santaa
e não duvido nada que a sua mãe
foi a ovelha que pariu

Pastor de Andrade


por entre
os seios do meu corpo
abro uma ponte
para o seu

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


 

pele grafia

meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento

o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia

Artur Gomes
in SagaraNAgens Fulinaímicas
https://www.facebook.com/sagaranagens/?fref=ts 


muitos ainda não entenderam
: poesia é o ato
de despir o corpo
de todas as vaidades.
rasgar os panos, se tornar
verdadeiramente humano

Artur Gomes

Toda Nudez Não Será Castigada

www.secretasjuras.blogspot.com


psicanalítica

freudelicamente
meu coração fellini
tem estado bergman
por desejar branquinha
em seu estado avesso

Federico Baudelaire
https://www.facebook.com/federicoduboi/?fref=ts


 espírito santo


Guarapari aqui estou
aqui me encontro
em estado de espírito santo
nesse mar azul e branco
como a s cores da Portela
o rio já passou em minha vida
nas marés de um serafim
mar é o que fica
como o deus que me habita
sem princípio meio ou fim

Federika Bezerra
foto: Artur Gomes

www.fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com


pecadora confesso

estando toda no cio
no corpo querendo tudo
minha mãe que me descreve
já me conhece do parto
eu sou vadia e não te iludo
eu tenho as veia abertas
um furacão entre as coxas
um vulcão no ventre/útero
mas só um homem me come
desde a minha tenra idade
nas ostras cravei meu nome
eu sou gigi mocidade

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


o sal que me escorre em águas
algas em minha pele atlântica
quando tudo em meu corpo é mar

Beatriz Gumes


Raphaella

a língua lambe
tua pele logo abaixo
do umbigo
entrando entre as coxas
com as mãos em fogo
tateando todos poros
tua carne fresca e úmida
de saliva treme
de prazer e gozo


travessia

encontrei o meu amor
do outro lado do Atlântico
oceano que não é Pacífico
sujeito a calmarias e tempestades
se não for buscar
morro aqui de saudades


sefarim macunaímico

ontem disse que me amava
queria até transar comigo
hoje foge de mim
tranca a tranca do umbigo
fecha a porta entre as coxas
ela sabe que me deixa louca
e adora provocação
mas vou buscar no cu do mundo
sua libido o seu tesão


Federika Lispector
https://www.facebook.com/giginua/


a língua passeia por todo
seu corpo da boca da cabeça
a boca do inferno
já é quase inverno
preciso dos teus seios
pra me alimentar
mamar nos teus mamilos
e tudo aquilo que o leite der
seja de onde vier o líquido
seja que líquido vier.

Gigi Mocidade
https://www.facebook.com/giginua/


sou parte de um time
onde a trama arde
a carne treme
a paixão é transe
a transa trêmula
quando a carne trinca
se o país é treva
a ideia tranca

Federico Baudelaire

https://www.facebook.com/federicoduboi/


Netuno manda avisar
que a maré tá de veneta
sexo tá rimando Federika
com Gigi nada de Rhaffhaela
aquela foto não é dela
pode ser de Roma Dell
Bhonnynny não é sobrenome
esperma não é espuma
esse mar nunca foi pluma
nem mamãe mergulha aqui
na lascívia Flor do Láscio
eu sou Gigi Independente
da Mocidade de Padre Olivácio

Gigi Mocidade
https://www.facebook.com/giginua/ 

não é por ser pastor
que vou deixar de amar
desejar beijar comer
rimar com o que puder
rimar com o teu prazer

gozar quando vier

com o corpo ardente brasa

deitar na minha cama

morar na minha igreja

fuder na minha casa

Pastor de Andrade

meus dedos esticados
como cordas de pianos
roçam teus olhos azuis
eu tenho planos
de te tocar com blues

artur gomes

www.arturkabrunco.blogspot.com


o meu amor me deixou
só me resta deitar na grama
e pensar a cama que não tenho

a roupa não cabe no meu corpo
eu tenho os dentes de febre
eu tenho a febre nos dentes
e uma fome no ventre
que não dou o nome
o homem que me come


Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com

 
em carne viva em carne crua


a noite assombra
nos lençóis da nossa cama
depois de lamber teu sexo
em carne viva carne crua
meu olho cravado em tua lua
toda branca
toda nua

a bunda virada pro mar
a frente janela pra rua

não sei quantas palavras
ainda terei que inventar
pra significar a coisa
que ainda não tem nome

a coisa cínica
a coisa sântrica
como linha do novelo
essa onda me pega Atlântica
da sola dos pés até a ponta
do último fio de cabelo

Artur Gomes
www.fulinaimargem.blogspot.com

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