não tenho panos
fico nua para o vento
relâmpagos trovões
tempestades temporais
e ventania
não tenho em mim calmaria
trago vulcões em pensamento
Federika Lispetor
alfândega
em santa cruz de la sierra
o poema e o anjo torto
se beijam num copo de vodka
com pimenta boliviana
e traçam Maydoida cigana
que me deixou no desconforto
Federico Baudelaire
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hoje vou comer
a coxinha da paulista
vou comer fiado
vou comer de graça
coxinha só se paga a prazo
a perder de vista
na pia no banheiro
no telhado na cozinha
coxinha se come aos montes
nas ruas nas praças
nos palácios nas garagens
coxinha é massa
de manobra
amassada com trigo com farinha
carne que se presta
pra usar comer e jogar na lata de lixo
coxinha não é gente
é pior que bixo
Gigi Mocidde
SagaraNAgens
a terra aqui é vermelha
branca - é a carne de dracena
tudo cena -
dela só quero a boca
seus olhos de fogo me engolem
da janela em frente
estou no oitavo andar de um hotel qualquer
seus pelos são pétalas eletrizantes
de um maldito mal-me-quer
ajeito o foco da lente
para vê-la de perto
avisto a púbis de vênus
a língua cresce
não seria por menos
nem no mais banal dos melodramas
com essa linda louca que me acena
aqui agora no meu quarto
embaixo dos lençóis na minha cama
Artur Gomes
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Subversiva 1
Eu não sou santa
nem casta
a vida é bruta
e não me basta
vou a luta
uma quadrilha
de filhos da puta
tomou o Planalto de assalto
o lugar deles é a lata de lixo
de onde nunca deveriam ter saído
vamos enxotar essa putada
varrer do mapa esses canalhas
nem que seja a golpe de gilete
a fios de navalhas
se é esse jeito ou única saída
subverter a ordem
acelerar o ritmo da libertação
a Arte é arma
e não temos tempo
de Temer a morte
Arte é intervenção da massa
armemos o povo
para o povo entender
e aprender a Ocupar
Democracia é palavra gasta
“a arte existe
porque a vida não basta”
se a massa está inerte
vamos fermentá-la
vamos fomentá-la
com fermento do biscoito fino
antes do anoitecer
“quem sabe faz a hora
não espera acontecer”
vamos a hora é essa
eu tenho pressa
não temos tempo pra espera
o trem das onze está partindo
e quem perder já era
Gigi Mocidade
setembro - 2019
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bolivariando 2
eu sempre andei
no encalço
dos olhos de carolina
na fantasia
dos meus passos
tem confete/serpentina
onde o profano e o sagrado
em puerto viejo
cavajarro se encontram
em outro tom
a cigana boliviana
com seus olhos de pimenta
com suas pimentas nos olhos
me levou para lá sierra
de santa cruz da Bolívia
onde se masca folhas de coca
antes do coito das cinco
sem chá e nem torrada
e cerveja muito menos
o sexo ali é na porrada
com fogos de artifícios comendo
no carnaval do mato dentro
Artur
Gomes
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linguagem
abraço este poema
como se beijasse meu poeta
com suas linhas tortas
em meu corpo tatuado
teu nome e sobrenome
como um gozo ardente
tua língua ativa
me lambendo quente
e todo líquido escorrendo
por entre o vão dos dentes
Gigi Mocidade
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a cara a tapa
tenho minha arma na língua
não nas coxas
veneno na saliva
só a cara é de anjo
o sal da ilha de creta
a pedra da boa viagem
tenho na bagagem
faca, estilete, canivete
afiada navalha
para raspar pentelhos
rasgar bandeiras
dessas cara/velas
da milenar tropicanalha
Gigi Mocidade
www.porradalirica.blogspot.com
Eros
tua blusa de seda
entre meus dentes
o nó se desfez depois do vinho
sob as folhas dos parreirais
vale - os vinhedos
quantas vezes Eros
eletrizou os nossos dedos?
Federico Baudelaire
Tempo Poético
Para Isadora Chiminazzo Predebon
O tempo é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no incons/ciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
Caminho de Pedras
o cenário
Vale dos Vinhedos
o tempo
guardo em segredo
como uma Jura Secreta
na íris dos olhos dela
na face oculta da noite
na retidão clara do dia
como um concha na areia
o tempo mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2018
www.secretasjuras.blogspot.com
Profanalha Nu
Rio
a flecha de são sebastião
como ogum de pênis/faca
perfura o corpo da glória
das entranhas ao coração
do catete ao largo do machado
onde aqui afora me ardo
como bardo do caos urbano
na velha aldeia carioca
sem nenhuma palavra bíblica
e muito menos avária
: orgasmo é falo no centro
lá dentro da candelária
Artur Gomes
Poética 48
era quase uma menina
nem bem sei se era
pois me dera amor carnal
como eu quiser
como nunca antes
outra mulher me dera
Federika Lispector
Fricção
quem passou a língua
nas coxas da Caipora?
me pergunta Federico Baudelaire
cheirando as Flores d0 Mal
no Sarau de EuGênio Mallarmè
Gigi então invoca
a Dona Santa Federika
que baixa na mesma hora
- ora bolas fui eu
com minha língua de faca
cortei a cara da vaca
a começar pelas coxas
depois subi pelo corpo
até o buraco da boca
e meti a língua na língua
e na suruba das línguas
a dela mordendo a minha
a minha mordendo a dela
a Arte então se revela
não existe Arte sem língua
nem Teatro sem linguagem
a Arte é uma grande suruba
e o resto mais é paisagem
Cristina Bezerra