Artur Gomes: Malditos Bem Ditos

quinta-feira, 5 de maio de 2022

Malditos Bem Ditos

O Poeta Enquanto Coisa

Em 1983 depois que criei o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira, passei a ler e pesquisar dois poetas que para mim são grandes referências: Torquato Neto e Paulo Leminski. Cheguei a conhecer os dois em vida aqui entre nós neste planeta terra.

Torquato, conheci em 1972 um mês antes da sua trágica morte e Leminski conheci em São Paulo, no início de 1980. Na primeira exposição da MVPB realizada em setembro de 1993, no Palácio da Cultura em Campos dos Goytacazes, ambos estiveram representados com suas respectivas poesias.

De Torquato expus o seu poema Cogito, e do Leminski expus o seu famoso livro branco, (no espaço destinado na Mostra aos Objetos Gráficos), que me foi enviado pelo próprio, editado pela Zap, agência de publicidade que ele trabalhava em Curitiba. Essa presença da poesia dos dois, em minha vida a partir daí, acabaram influenciando a minha escrita e ao mesmo tempo suas poéticas passaram a fazer parte do ,meu repertório de performances com poesia ao vivo.

Cogito

eu sou como eu sou

pronome

pessoal intransferível

do homem que iniciei

na medida do impossível

eu sou como eu sou

agora

sem grandes segredos dantes

sem novos secretos dentes

nesta hora

eu sou como eu sou

presente

desferrolhado indecente

feito um pedaço de mim

Torquato Neto

Em 1997 em Bento Gonçalves-RS por ocasião da inauguração do Bar Cachorro Louco, em homenagem ao Leminki, fiz em parceria com a estudante de Arquitetura Juliana Cagliari Stefani, uma exposição com poemas de Leminski ilustrados por ela, e um recital com a poesia do seu livro Distraídos Venceremos editado pela Cia Das Letras em 1987.

a lei do quão

Deve ocorrer em breve

uma brisa que leve

um jeito de chuva

à última branca de neve.

Até lá, observe-se

a mais estrita disciplina.

A sombra máxima

pode vir da luz mínima.

Paulo Leminski