sexta-feira, 13 de maio de 2022

Impressões (iniciais) de "Pátria A(r)mada":



 Impressões (iniciais)

de "Pátria A(r)mada":

Por Nic Cardeal

 Ademir Assunção está corretíssimo - sua poesia, Artur, não é literatura que se conforma em permanecer apenas nas páginas de um livro, pois a sua palavra é feita muito mais de som - de GRITO! - do que de apenas letras grafadas sobre o papel. E esse som entra não somente pelos ouvidos, mas também transpassa através da pele e por toda a cartografia do corpo, como uma tatuagem latejante, marcando fundo todas as suas texturas, até alcançar as veias, os veios, misturando-se ao sangue, à seiva nossa de cada dia, para finalmente alimentar a alma com força, resistência, e também com a revolta/dor necessária à sobrevivência da esperança! Em "Pátria A(r)mada" essa revolta é imensa, diretamente proporcional aos absurdos do capitalismo que nos tem devorado em variados âmbitos e sentidos. Sua inquietude poética é a força necessária para que não sucumbamos nos abismos do conformismo e da resignação, e possamos seguir adiante, ainda que os tempos estejam cada vez mais obscuros... mas há também o amor (ainda bem!), sobreposto à miséria da realidade nua e crua de um país despedaçado e submisso às mais variadas formas de violência daqueles "poderes" desumanos, armados até os dentes... Muito bem escolhido o título do livro, que de "Pátria amada" foi transformado em "Pátria armada", retrocedendo a um fascismo nojento após o golpe explícito de 2016. A sua denúncia é política, social, cultural, humanitária, ética, estética - e poética! Lerei muitas outras vezes, para absorver com mais vagar cada poema! Parabéns!

Sua poesia é viva - e é vida! Adorei! Grande abraço!


Lendo seus poemas, acabei lembrando deste poema que escrevi em 2016, para Dilma Rousseff, quando do golpe:


VELHAS VOZES ÁSPERAS DO GOLPE RÍSPIDO


Ouviram das urnas velhas vozes ásperas

de um outro tolo fascista retumbante

e as antigas vozes do golpe em brados ríspidos

outra vez inundam de penumbra

o céu da pátria neste instante.


Se o sabor da igualdade

outrora conquistada com laços fortes

já não pode mais ser sentido

em nossas almas já carentes de liberdade,

hoje o golpe novamente desafia a nossa sorte,

nesse espasmo retardado

de um tolo perturbado

que contraria a honestidade até a morte!


Ó pátria amada

idolatrada

tão massacrada

salve-nos, salve-nos!


Brasil

sonho de tantos,

hoje um constante pesadelo

que agora desce

de teu formoso céu antes límpido

a imagem da antiga ditadura outra vez o escurece.


Monstro pela própria natureza

sois corrupto, sois infame

a espalhar violências e mentiras sem medidas,

da idade das trevas em gigantes medidas

e o futuro vos garante essa certeza!


Ó pátria adorada

idolatrada

és tu Brasil

a nossa terra tão amada

dos filhos deste solo

somos aqueles que não fogem

e não fingem na sua luta,

ó pátria amada

Brasil.


Não somos os que nasceram

deitados em berço esplêndido

somos aqueles

que levantaram muito cedo

e desde então foram à rua

semear o pão, a labuta,

a coragem e a boa conduta,

ao som do mar e à luz do céu escuro

ao nascer de tantos sóis e tantas luas

à espera da colheita

e do florescer de um novo mundo...


Do que a espera mais cansativa

nossa garra sempre foi a mais bonita

nosso sangue bem vermelho

tem mais vida

nossa vida de verdades

nossa alma de valores

não há de fazer valer

a sua vida sem escrúpulos ou pudores!


Ó pátria amada

idolatrada

tão massacrada

salve-nos, salve-nos!


Brasil

nosso amor eterno

é nosso símbolo

a democracia

é nossa glória do passado

nossa vitória do presente conquistado

e a paz de um futuro esperado!


Mas se um tolo de um brado retumbante

nos assusta com seus amigos torturantes

não pensem que os filhos teus

fugirão à luta

verão que nenhum dos filhos teus

entregarão a estrela à noite escura

nem entregarão suas crianças

à própria sorte!


Terra adorada

és tu Brasil

a pátria amada

dos filhos teus

54 milhões

não fugirão à luta

nem por temer a própria morte

nem por cunhar a própria história

em igual consorte

pátria amada idolatrada

igual a ti

mulher altiva

nunca se viu!


(Nic Cardeal/2016, para Dilma Rousseff)

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