Impressões (iniciais)
de "Pátria A(r)mada":
Por Nic Cardeal
Ademir Assunção está corretíssimo - sua poesia, Artur, não é literatura que se conforma em permanecer apenas nas páginas de um livro, pois a sua palavra é feita muito mais de som - de GRITO! - do que de apenas letras grafadas sobre o papel. E esse som entra não somente pelos ouvidos, mas também transpassa através da pele e por toda a cartografia do corpo, como uma tatuagem latejante, marcando fundo todas as suas texturas, até alcançar as veias, os veios, misturando-se ao sangue, à seiva nossa de cada dia, para finalmente alimentar a alma com força, resistência, e também com a revolta/dor necessária à sobrevivência da esperança! Em "Pátria A(r)mada" essa revolta é imensa, diretamente proporcional aos absurdos do capitalismo que nos tem devorado em variados âmbitos e sentidos. Sua inquietude poética é a força necessária para que não sucumbamos nos abismos do conformismo e da resignação, e possamos seguir adiante, ainda que os tempos estejam cada vez mais obscuros... mas há também o amor (ainda bem!), sobreposto à miséria da realidade nua e crua de um país despedaçado e submisso às mais variadas formas de violência daqueles "poderes" desumanos, armados até os dentes... Muito bem escolhido o título do livro, que de "Pátria amada" foi transformado em "Pátria armada", retrocedendo a um fascismo nojento após o golpe explícito de 2016. A sua denúncia é política, social, cultural, humanitária, ética, estética - e poética! Lerei muitas outras vezes, para absorver com mais vagar cada poema! Parabéns!
Sua poesia é viva - e é vida! Adorei! Grande
abraço!
de um outro tolo fascista retumbante
e as antigas vozes do golpe em brados
ríspidos
outra vez inundam de penumbra
o céu da pátria neste instante.
outrora conquistada com laços fortes
já não pode mais ser sentido
em nossas almas já carentes de
liberdade,
hoje o golpe novamente desafia a
nossa sorte,
nesse espasmo retardado
de um tolo perturbado
que contraria a honestidade até a
morte!
idolatrada
tão massacrada
salve-nos, salve-nos!
sonho de tantos,
hoje um constante pesadelo
que agora desce
de teu formoso céu antes límpido
a imagem da antiga ditadura outra vez
o escurece.
sois corrupto, sois infame
a espalhar violências e mentiras sem
medidas,
da idade das trevas em gigantes
medidas
e o futuro vos garante essa certeza!
idolatrada
és tu Brasil
a nossa terra tão amada
dos filhos deste solo
somos aqueles que não fogem
e não fingem na sua luta,
ó pátria amada
Brasil.
deitados em berço esplêndido
somos aqueles
que levantaram muito cedo
e desde então foram à rua
semear o pão, a labuta,
a coragem e a boa conduta,
ao som do mar e à luz do céu escuro
ao nascer de tantos sóis e tantas
luas
à espera da colheita
e do florescer de um novo mundo...
nossa garra sempre foi a mais bonita
nosso sangue bem vermelho
tem mais vida
nossa vida de verdades
nossa alma de valores
não há de fazer valer
a sua vida sem escrúpulos ou pudores!
idolatrada
tão massacrada
salve-nos, salve-nos!
nosso amor eterno
é nosso símbolo
a democracia
é nossa glória do passado
nossa vitória do presente conquistado
e a paz de um futuro esperado!
nos assusta com seus amigos
torturantes
não pensem que os filhos teus
fugirão à luta
verão que nenhum dos filhos teus
entregarão a estrela à noite escura
nem entregarão suas crianças
à própria sorte!
és tu Brasil
a pátria amada
dos filhos teus
54 milhões
não fugirão à luta
nem por temer a própria morte
nem por cunhar a própria história
em igual consorte
pátria amada idolatrada
igual a ti
mulher altiva
nunca se viu!
(Nic Cardeal/2016, para Dilma Rousseff)
Leia mais no blog
https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário