terça-feira, 5 de outubro de 2021

talvez

 


                corpo em trânsito

 

em São Paulo uma menina

me chamou de SerAfim

por saber que poesia

é tudo que transa em mim

 

e ainda uma outra

me chamou de desvairado

por saber que concretismo

anda sempre do meu lado

 

foi então que em Teresina

me chamaram de Torquato

ao perceberem minha boca

com esse meu vapor barato

 e uma outra feminina

me chamou de Faustino

por re-V(L)ER no meu poema

esse  sotaque feminino

 

no Recôncavo baiano

bem no centro o reconvexo

rasguei todos meus planos

quando fiz primeiro sexo

 

numa feirinha de verdura

uma linda criatura elegante sensual

me pediu pra ler Leminski

quando viu meu visual

no poema de Kandinsky

 

 e encontrei fulinaíma

no universo paralelo

pra revirar o céu de anil

desse país verde amarelo

 revirando a tropicalha

pelo avesso do avesso

foi tamanha a CarNAvalha

que perdi meu endereço

 

fui parar em Ipanema

num 1º de Abril

quando assisti pelo cinema

a pátria mãe que  me pariu

 

fui pro morro da Mangueira

re-inventar Parangolé

por entender que esse brasil

                ainda vai ficar de pé .

 

                                                      Federico Baudelaire

                                            O homem com a flor na boca

                                  www.fulinaimargens.blogspot.com

 


duas rosas vermelhas

em mim significam

tudo aquilo que o oculto

ainda me diz

metáfora lírica que me vem

dos olhos dela

 

a flor mais bela

que me pinta em aquarela

no engenho do encantado

e

me visita na janela

em meu sonho acordado

 

Artur Gomes

Deus Não Joga Dados 

www.fulinaimicamente.blogspot.com


talvez

 

                talvez seja

 um pouco panfleto

diabo  concreto

quando avisto o mar à vista

surrealista

pra entortar a linha reta

mais anarquista

             que poeta

 

Artur Gomes

https://www.facebook.com/arturgomespoeta


imagem - Felipe Stefani

Depois da invasão das minhas contas no face e no zap levei algumas semanas em modo reflexão. Pensamentos vários se passaram, primeiro tentar rastrear para descobrir pistas dos invasores, ou das invasoras. Segundo como Flor de Lótus, respirar, concentrar, porque a vida segue sem limites, ponteiros de relógios de zincos ou de músculos não param, giram giram giram.  Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, verdade absoluta já cantou Chico Buarque. E de Dante a Chico Buarque todos os poetas já cantaram suas musas. Beatriz são tantas. Refletindo sobre o susto do absurdo, contabilizando as perdas tanto em um espaço e outro, duas semanas me fingindo de morto para voltar ao ataque com os atentados poéticos: Deus Não Joga Dados, e O Homem Com A Flor Na Boca é mais um petardo que se encontra em fase de construção.  Depois de organizar em blogs todos os poemas dos livros Juras Secretas, O Poeta Enquanto Coisa e Pátria A(r)mada e de quebra ir me alimentando dos fragmentos que comporão o livro Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras, registros memorialísticos das minhas travessuras por este sertão do zeus me livre e alguns tratados sobre a minha produção poética.  

 

MAKONDO

 

Meus Cem Anos de Solidão

vivi ali na Cacomanga

minha Itaguara

meu Grande SerTão Veredas

minha América Latrina

não sei por quanto tempo Apalo Seco

25 Anos De Sonho E Sangue

Santeiro do Mangue

me arrancou o fôlego me jogou na Transa

“triste  Bahia ó quão dessemelhante

estás e estou do nosso antigo Estado

a ti tocou-te a máquina mercante

que em tua larga barra tem entrado

tanto negócio e tanto negociante”

Gregório de Mattos Guerra

me deu o mote:

 

o bom cabrito não berra

tudo que vem do  mar

a grana mata in-terra


ontem em um longo papo, ao telefone,  com o parceiro KINO3 Tchello d´Barros, conversávamos sobre a ideia de um  Banquete Antropofágico que penso colocar como uma das atividades do projeto: Vamos Devorar 22. – 100 Anos Depois, como sátira a situação de um país com o brasil onde parte da sua população se alimenta de osso e rejeitos dos açougues.


das veredas do silêncio

as vielas dos escombros

não sei mais por onde ando

nesse país agora esgoto

 

esgotada todas as possibilidades

da fala escrevo

dando descarga na privada

 da latrina pública

no banheiro do palácio do planalto

 

                              Pastor de Andrade 

 


                                                  Florbela

A mulher dos sonhos

Quem é ela

 

depois do sonho

sossego  ou pesadelo

quem será capaz

de desatar o nó desse novelo

 

há tempos não te sinto

não te toco

não te abraço

não te beijo

não te foco

 

hoje tenho um corte no peito

unhas de serpente

fio de navalha

faca afiada

 

ontem sonhei

que Freud explica

nossa relação apimentada

 quando acordei

 era você

me dando uma dentada

 

Deus não joga dados

mas a gente lança

sem nem mesmo saber

se alcança

o número que se quer

 

mas como me disse mallarmè

:

- vida não é lance de dedos

A vida é lança de dardos

Deus não arde no fogo

mas eu ardo 


Fulinaíma origem e significados

 

Ela dormia oculta no inconsciente coletivo nasceu dentro do mato à beira da estrada dos Bandeirantes, me chegou como um vulcão relâmpago caldeirão fervendo. Seguia dentro de um fusca com Naiman, indo para o SESC Campinas para dirigir uma Oficina de Criação de Artifícios com foco na poesia experimental visual contemporânea.

Era 1996 tinha acabado de viver uma extraordinária experiência com os Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim e anteriormente a Mostra Visual de Poesia Brasileira -  Mário de Andrade – 100 Anos.

Tinha passado os últimos 3 anos entre Campos dos Goytacazes, São Paulo, ABC(Santo André, São Bernardo, São Caetano). Entre Macunaíma, Paulicea Desvairada e Serafim Ponte Grande. Andava ainda entre os Alpharrabios, os grafitemas e figuralidades, grávido de efervescências.

Ela e seus derivados seus substratos, foram chegando e se tornando música, teatro, livro, cinema, referências marca registrada do caldeirão de misturas. Foi se espalhando se espraiando entre palcos e computadores nos papéis tecidos ao vento ganhando forma física corporal entre praças ruas e estradas.

Até que um belo dia de ano que não sei quando baixa em Pernambuco, no Recife pra ser exato. Uma ex aluna da ex Escola Técnica Federal de Campos, ex namorada que em 1987 atravessou comigo a Ciranda do Boi Cósmico no Ginásio de Esportes dos Carvalhos Voadores, resolve criar a logomarca, e Dali  nasce  a Fulinaíma MultiProjetos .

Eis a origem, os significados¿ procurem pesquisem que não dou de graça. Não é para entortar cabeças é o que mora na minha. Que são os derivados transversais das travessias e travessuras tudo que me trouxe esse cavalo selvagem indomável de nome Tempo. 



Guaxindiba

preservar antes que acabe

 

santa clara sonhos sossego guaxindiba

em lagoa doce deixei a pindaíba

no beiral da barra – o ambiente aqui escarra

com a boca do diabo

 numa quinta feira 25 de março pedalava até manguinhos para comer um peixe com uma linda burguesa gelada no boteco de seu Jorge Gary, passando por guaxindiba, meu olho gótico não resiste, paro e sequestro essas imagens deprimentes, e não me digam que a culpa é da natureza, não, isso é apenas a resposta que ela dá ao que os homens fazem com ela.


Hoje é o Dia D do meu verão 73

Com mil e um poemas pra contar, no papel na pele na tela. Indiozinho que saiu lá  da cacomanga para passo a passo ir desbravando o mundo com a palavra em punho e nem sei  as quantas contas tive que fazer as contas pra chegar até aqui. Mas aprendi com muita  sorte saber que tenho uma mãe afro-tupi e um pai que me ensinou a não morrer antes da morte. Muitos amigos, parceiros conquistei nas travessias por este sertão afora, cada um deles me levou a novas descobertas, novos aprendizados e experimentações e hoje o que sou, agradeço a todos, que de uma forma ou outra, me ensinaram a ser poeta. 



IV

 

a poesia as vezes me vem da fala

outras de vozes absurdas

na travessia cantei pontos de Jongo

em Folias de Reis Festas Juninas

despachos de Macumba

para me defender dos capataz

nunca vivi porto seguro

na minha praia não tem cais

escrevo como falo aprendi com os ancestrais




 literalmente

 

pego na enxada diariamente

para capinar o quintal

da estação três cinco três

 

literalmente

 

não é metáfora

para lamber cio da terra

como na canção que Chico fez

 

tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi e boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi é boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi é boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home e boi e boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi é boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi e boi é home tem boi com fome tem boi com fome tem boi com fome home é boi e boi é home tem boi com fome

Boi-Pintadinho – 1980 –



Iriri


Mar que as vezes vem

mar que as vezes vai

quando vem me entra

e fica

quando vai

de dentro de mim não sai

 

Jura Não Secreta

para Paulo Leminski

 

quando a ciranda de roda

atravessou minha rua

com os teus fogos de artifícios

pelos céus da tua boca

 

foi então que eu quis a lua

e disse então sem sabê-la

antes que ela me visse

 

neste dia via Alice

foi então que ele me disse

:

- foi nesse chão que eu fiz Estrela

 

Litoral

 

Muitas vezes quando beijo o litoral das suas costas encontro algas pedrinhas e conchinhas mariscos estrela do mar procuro o que há nas entrelinhas para quando espuma escorrer entre o mar das suas coxas seja líquido esperma que saiu das entre minhas

 

Obscuro objeto do desejo

 Eu sempre encaro um livro como o objeto do desejo muitas vezes como o desejo do objeto Clarice como livros como fossem chocolates que  roubou de Isadora  a mulher que me devora numa febre de batom que é muito louca enquanto sou O Homem Com A Flora Na Boca

 Estou procurando uma letra que complete a palavra que ainda não escrevi desafio que me propus quando escrevi a primeira ode para ela nem se deu conta da flauta mágica na metáfora azul do fauno em sua boca vermelha de batom e o cacho de uvas mastigados entre os dentes com cheiro de leite ardente esguichado na distância

 

As unhas de Hera

 

O meu amor é um relâmpago

um coice nas trovoadas

caldeirão de raios elétricos

em noites de Cingapura

 

Algumas noites é Ana

nas madrugadas é Vera

na cama somos Bacantes

mil giga byte um tera

muito mais que tri amantes

                no plug me acelera

 

arranca do chão os meus pés

            me lança na atmosfera 

ela -  a louca de Espanha

Medusa da Inglaterra

meu corpo trapezista dançantes

meu corpo tua quimera

 

enterra suas sete cabeças

enquanto me diz – espera

me morde me lambe – me lanha

com suas unhas de Hera



meta/fórica

 

ouço a música

nesse disco estrangeiro

a musa tem o nome: guanabara

no silêncio ela ri da nossa cara

a flor do mangue agora mora

onde seu leito jorra lama

por sua boca desdentada

peixe podre explode angra

em meu poema carNAvalha

naturalismo onde supunha

sal da terra no esgoto

eco sistema não interessa

ao senhor do mato grosso

agro-negócio é matadouro

soja pasto para os bois

o simbolismo da escrita é só metáfora

a concretude o modernismo vem depois


Mitológica

 

Daqui desta cachoeira

no morro da barbárie

no país dos abandonos

sobre a minha ancestralidade voz digo

:

África sou raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

na ponta da pedra

a faca risca o ponto para Ogum

tem um animal de vagina espacial na poesia

 

lá do alto na fresta do sol pela janela

Tranca Rua e 7 Pedreira

me resguardam quando avistam

o assassino pronto para o tiro

a bala rasga rente os pelos

a pele sangra a alma voa

desfere uma canhota de esquerda

no centrão da testa do atirador

 

o anjo caído despenca

do precipício que ele mesmo inventou

 

Metáforas de Fogo

atravesso as letras entre sílabas semióticas  Metáforas de Fogo atiçadas aos pés da porta antes do beijo que ficou para o depois 


Fulinaíma MultiProjetos

Artur Gomes

Fulinaimicamente

www.fulinaimicamente.blogspot.com

Juras Secretas O Poeta Enquanto Coisa

www.secretasjuras.blogspotcom

Pátria A(r) mada

www.porradalirica.blogspot.com

O Homem Com A Flor Na Boca

www.arturfulinaima.blogspot.com

EntreVistas

www.arturgumes.blogspot.com

Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

www.fulinaimargens.blogspot.com


 

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