quarta-feira, 20 de outubro de 2021

o espelho

 


a pedra

a faca

o país

o poema

 

a pátria

a fátria

a mátria

a fedra

 

 

era uma vez

era uma voz

era entre eles

era entre nós

 

o fado

o samba

o blues

o rock

 

era uma pedra preta

era uma pedra de toque

 

uilcon sempre me disse

nunca deixou de me dizer

quem sabe da pedra de toque

terá sempre o que escrever

 

pode ter na cabeceira

qualquer livro que tiver

pode ser na madrugada

noite dia seja como for

que tenha lido o poeta

o escritor

vai ter sempre algum motivo

pra espancar a sua dor 


vai ter flecha de oxossi

vai ter pedra de xangô


diante do espelho

quem vê

a verdadeira face?

 

me lembro de um tempo

em que em Bento Gonçalves

não havia nostalgia

embriagávamos de vinho

e respirávamos poesia


o que mais posso dizer

do que se esconde

no teu corpo submerso?

 

o mar só vai salgar a pele

o sol só vai iluminar seus olhos

 

as células os pulmões

o fígado o estômago

só vão se alimentar

do que entra pela boca

 

pelos poros sai o líquido

acumulado que não presta

o que sobrou da nutrição

 

a dor da fome

só sentes os que não comem

do que se alimenta teu corpo

semimorto de cansaço?

 

Federika Lispector

www.brazilicapereira.blogspot.com

 

eu não queria

nem isso nem aquilo

nesse tempo estraçalhado

nesse país intranquilo

com esse golpe de estado




quando tenso

o poema penso

fio suspenso no

AR

 

quando teso

o poema preso

peixe surpreso no

MAR

 

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com



houve uma vez

duas meninas

galoparam

léguas selvagens

na minha íris retina

 


jura secreta 78

 

a paciência explode

na cara do presidente

arranca-lhe os dentes

e o mandato

a vida é um teatro

no picadeiro do planalto

no circo dos indigentes

 

Artur Gomes

Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras

www.arturfulinaima.blogspot.com



simples como se fosse

abelha fabricando mel

o céu da tua boca

em minha língua de fel

 

gisele a flor da pele

na minha pele tanta

como esquecer tuas unhas

como esquecer tuas plantas

 

orquídias por toda cama

quando éramos dois

e alguns goles de vinho

par aquecer o depois

 

sempre tão calmo o relógio

pelos ponteiros dos músculos

como esquecer o teu sexo

naquela noite de entregas

na minha boca de ósculos

e em teus olhos crepúsculo

 

Federico Baudelaire

www.porradalirica.blogspot.com



o meu amor

não é um bicho

mas é um pássaro

af0gado no lixo

 

Gigi Mocidade

www.secretasjuras.blogspot.com

 


a menina dos meus olhos

com os nervos a flor da pele

brinca de bem-me-quer

ela ainda pensa que é menina

mas já é quase uma mulher

 

Artur Gomes – Jura Secreta 4




segunda feira de chuva

tremenda sagaranagem

acho que vou fazer

algo com a linguagem



 língua

 

a minha língua

 é safada

nua e crua

não gasta palavra atoa

não canta palavra gasta

não é graça de lisbela

nem é fado de lisboa

 

é

blues rascante rasgado

lâmina pedra de toque

samba rock

plug ligado

no navio ou na canoa

bebe do rio

e de sampa

nos demônios da garoa

 

fio desencapado

tensão eletricidade

tesão canibalidade

na voracidade da pessoa 


tempo poético

 

o tempo

é o senhor

dos meus ponteiros de músculos

relógio oculto no in consciente

 

o tempo

nos olhos daquela viagem

a paisagem

caminho das pedras

o cenário

vale dos vinhedos

 

 o tempo

guarda em segredo

como uma jura secreta

na íris dos olhos dela

na face da noite

na retidão clara do dia

como uma concha na areia

 

o tempo

mar de espumas

sargaço algas noturnas

a carne do corpo também

o vinho do tempo na boca

e a língua dizendo amém 



                     re-invento a palavra cláudia

na lavra que ela mais gosta

pode ser que seja vento

jogo brisa tempestade

dama de espade fogo

 

re-invento a palavra lobo

muito mais que liberdade

amor desejo saudade

onde quer que lá esteja

a palavra que deseja

onde eu mais possa criar

 

re-invento a palavra pedra

xangô oxum na mesma água

se alimentando das algas

que re-inventamos no mar

 

Artur Gomes

O poeta enquanto coisa

www.secretasjuras.blogspot.com



 o

                 obscuro objeto do desejo

 

de pedra dourada ficaram portas

janelas de entradas e saídas

a sedução de dois olhos

em minha carne proibida

 

nem tanto pelo que falo

nem tanto pelo que sinto

a vodka acereja o conhac

          o abismo o labirinto

 

de pedra dourada

ficou um café orgânico

no teu sertão encantada

numa manhã de domingo

do outro lado da trilha

com tanta veracidade

que me esqueci da idade

e me apaixonei por tua filha

 

 

de pedra dourada

ficaram olhos acesos

do outro lado a janela

o espelho as contas de vidro

o jogo da sedução – maravilha

 

os passeios nas cachoeiras

os banhos de bar o carnaval

aquela delícia louca

o batom na minha língua

o cheiro das flores do mal

meu bem-me-quer na tua boca

 

Artur Gomes

www.fulinaimargem.blogspot.com



dani-se morreale

 

se ela me pisar nos calos

me cumer o fígado

me botar de quatro

assim como cavalo

galopar meus pelos

devorar as vértebras

dani-se

 

se ela me vier de unhas

me lascar os dentes

até sangrar o sexo

me enfiar a faca

apunhalar meus olhos

perfurar meus dedos

dani-se

 

se o amor for bruto

até mesmo sádico

neste instante lírico

se comédia ou trágico

quero estar no ato

e dane-se o fato

deste sangue quente

em tua bocados infernos

deixa queimar os ossos

e explodir os nossos

poemas físicos pós-modernos

 

o lugar da memória

ou metalírica antropofágica

 

em são pedro de alcântara

não foi apenas um nome

entre os casarões coloniais

do século dezenove

moveram  o pulso no impulso

 

na sala do bistrô

ela me mata a fome

feijão tropeiro no prato

no prato feijão tropeiro

a língua no espírito santo

experimenta a pimenta

pimenta do espírito santo

na língua um novo tempero

 

mágica metáfora fábula primeira

no pavio da lamparina

faíscas claras da gema

entre os pelos daquela menina

no fogo meta poema

vai queimar a carne inteira

 

Artur Fulinaíma

www.secretasjuras.blogspot.com


3 dentadas no pão e a faca suja de manteiga entreguei-me ao desejo de olhar o corpo do poema deitado sobre a grama no quintal do casario no cafezal rolava um blues vestido de algodão branca flor entre as sílabas tônicas e a fonética das cores entre o vão das coxas brancas de alfazema sopravam ventos de alecrim permanecemos ali por quase uma semana e meus olhos entranhados nos seus passos penetravam frente costas litoral o êxtase vinha no piscar de olhos sem precisar ao menos tocar a flor no céu da boca 



                 terra de santa cruz

 

para espantar

a pandemia

os vermes

os vírus

o mito

as bestas os bostas

eu grito

 

:

 

minha bandeira

é carNAvalha

meu pau brasil

é tropicalha

prova dos nove

é alegria

meu circo

maracangalha

meu fuzil

é poesia


não é fácil

ímã linguagem fácil

ora bolos ora bola

complexa metafórica

no ritmo da roda gigante

que a tua língua não controla



se  não fosse macunaíma

fulinaíma também não seria

por qualquer coisa que fosse

                     poeta não caberia

 

mesmo se filho eu fosse

de uma santa maria

afilhado de grande otelo

              neto da romaria

 

e quando ao mundo eu viesse

em outro lugar não podia

tinha que ser cacomanga

onde EU então nasceria 


 

um goytacá em curitba

 

atravesso

esta cidade

transversais e paralelas

bicho avesso

sigo em frente

 

quero uma cerveja

em qualquer bar

daqui a pouco

um bife sujo

pode ser boca  maldita

na rua 24 horas

 

comer um quibe

um grão de bico

eu sei que fico zhôo

eu sei que fico zen

eu sei que nada fico

 

mesmo ao lado tudo down

mesmo assim não desespero

toco na língua um rock and roll

só fico mesmo quando quero

 

obs.: poema escrito em 2005 durante uma temporada que passei na casa do Helio Letes.


meu tio era yauratê

 

meu tio era yauratê

no corpo de cacá de carvalho

homem tigre leopardo onça

índio endiabrado caiçara caipora

 

agora minha tribo chora

na terceira margem do rio

guimarães rosa – em sagaranas

                        numa outra aurora

 

na espera do silêncio

vozes em desespero

o imenso vazio na fala

na estação de trem a mesma coisa

no hospital a mesma coisa

no vagão do metrô a mesma coisa  

vida e morte entrelaçadas

na ante sala do terror

o poeta enquanto coisa

com sua língua estraçalhada

 

no instante da partida

a hora da chegada

onde a inesperada não avisa

o momento do terror

e o país um cemitério

no carnaval engana-dor 



                                                                     poesia

tesão : teu nome

          transforma

          ritual e gesto

não presto porque te amo

te amo porque não presto

 

o cão azul  

para rodrigo sousa leão

 

ele cantava

como um pássaro engaiolado

as 4 da madrugada

no seu apartamento

e me perguntou

se eu tinha gostado

da garganta da serpente

e se era também azul

o cão que estava do meu lado

invisível para mim

naquele momento

 

nas fibras da memória

 

o meu espelho hoje

só reflete tempestade

 

em memória o vazio

nos atropela

 

pela língua pela lavra

fogo brasa

do teu corpo me acelera

 

perdi a conta

quantas vezes

o teu nome

me arrancou do sono

 

nas fibras da memória

tua memória nua

 

olhando da janela

o dia amanheceu

 

por isso anda o arrepio

quando o telefone toca



                       mariana brumadinho

 

um mar de lama

mata um rio

que era doce

 

mariana brumadinho

tem muita lama

no meio do caminho

 

holocausto

 

quem se alimenta

dessa dor

desse horror

desse holocausto

 

desse país em ruínas

da exploração dessas minas

defloração desse cabaço

 

quem avaliza esse des(governo)

simboliza esse fracasso


Artur Gomes

na antologia 

Almas Lavadas de Lama


 

y love song baby

 

em imburi o vento sopra

gosma de tapioca

manga mandioca abacaxi

 

são francisco itabapoana

não me engana

 

minha língua não precisa

provar

lamber

comer

chupar

para saber o gosto

o amargo dessa estrada

 

nela se desova

toda cruel veracidade

da podridão de uma cidade

que nunca deveria ter sido



                        bandeira nacional

 

com palavras

 sons

navalhas

imagens

versos

inauguro o monumento

no planalto central

 

araçá azul

domingo no parque

vapor barato

mal secreto

 

pérola negra

construção

cabeça

poema concreto

 

arte

poesia

teatro

cinema

pós poema

 

terra em transe

tropicália

grande sertão

veredas

vidas secas

memórias do cárcere

 

parangolés

hélio oiticica

artur bispo do rosário

bacurau

 

seja herói seja marginal

 

exu cabra da peste oxente

 

hoje acordei

com uma vontade da porra

de trepar na goiabeira

talvez assim quem sabe

ela me chame de jesus

e tire ele da cruz

 

ou quem sabe bacurau

para acabar com os karkamanos

ou quem sabe bakuri

 

ou talvez até quem sabe

ela me chame

de exu cabra da peste

um punk alucinado

do nordeste coreano


era uma vez um brasil

com esperança de ser feliz

veio um infeliz e destruiu

 

Artur Gomes

4 poemas do livro Pátria A(r)mada

na revista Gueto 

https://revistagueto.com/2019/08/01/quatro-poemas-de-

artur-gomes/?fbclid=IwAR2IJ_KyHNvUHVwPCQel8TQbfOwlmxmzVP8qu

HCtQ3SkRFCWAxEQoeU9SEY



oficina de fotografia


com uma câmera nas mãos

um poema na cabeça

fotografar o poema

antes que desapareça

 

Artur Gomes

https://www.facebook.com/arturgomesfotografia



ensaio

 

com meu olho gótico TVendo enquanto o teu me trans pira pelos poros poemas ainda não escritos os ruídos os silêncios falas palavras que mesmo não saindo de tua boca vão ficando na retina e fotografadas na pele da memória 



vertigem 8

 

de pedra dourada

ficaram dedos

em minha língua de pétalas

desejos não saciados

por águas de cachoeiras

por trilhas inalcançáveis

na carne virgem do sol

 

de pedra dourada

ficaram minas

cravadas na flor da memória

no corpo cicatriz – tatuagem

nos olhos quantas vertigens

não sei por quantas viagens

ainda verei essas minas

 

em cada sulco dos dedos

em cada pedra nas mãos

 

jura secreta 40

 

moro no teu mato dentro

não gosto de estar por fora

tudo que me pintar eu invento

como um beijo no teu corpo agora

 

desejo-te pelo menos enquanto resta

partícula mínima micro solar floresta

sendo animal da mata atlântica

quântico amor ou meta física

tudo o que em mim não há respostas

 

metáfora D´alquimim fugaz brasílica

beijo-te a carne que te cobre os ossos

pele por pele sobre as tuas costas

 

os bichos amam em comunhão na mata

como se fosse aquela hora exata

em que despes de mim o ser humano

e do corpo rasgamos todo pano

e como um deus pagão pensamos sexo

 

Artur Gomes

Juras Secretas

www.secretasjuras.blogspot.com



  



 Artur Gomes

O homem com a flor na boca

www.fulinaimargem.blogspot.com

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