a pedra
a faca
o país
o poema
a pátria
a fátria
a mátria
a fedra
era uma vez
era uma voz
era entre eles
era entre nós
o fado
o samba
o blues
o rock
era uma pedra preta
era uma pedra de toque
uilcon sempre me disse
nunca deixou de me dizer
quem sabe da pedra de toque
terá sempre o que escrever
pode ter na cabeceira
qualquer livro que tiver
pode ser na madrugada
noite dia seja como for
que tenha lido o poeta
o escritor
vai ter sempre algum motivo
pra espancar a sua dor
vai ter flecha de oxossi
vai ter pedra de xangô
diante do espelho
quem vê
a verdadeira face?
me lembro de um tempo
em que em Bento Gonçalves
não havia nostalgia
embriagávamos de vinho
e respirávamos poesia
o que mais posso dizer
do que se esconde
no teu corpo submerso?
o mar só vai salgar a pele
o sol só vai iluminar seus olhos
as células os pulmões
o fígado o estômago
só vão se alimentar
do que entra pela boca
pelos poros sai o líquido
acumulado que não presta
o que sobrou da nutrição
a dor da fome
só sentes os que não comem
do que se alimenta teu corpo
semimorto de cansaço?
Federika
Lispector
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eu não queria
nem isso nem aquilo
nesse tempo estraçalhado
nesse país intranquilo
com esse golpe de estado
quando tenso
o poema penso
fio suspenso no
AR
quando teso
o poema preso
peixe surpreso no
MAR
Artur Gomes
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houve uma vez
duas meninas
galoparam
léguas selvagens
na minha íris retina
jura
secreta 78
a paciência explode
na cara do presidente
arranca-lhe os dentes
e o mandato
a vida é um teatro
no picadeiro do planalto
no circo dos indigentes
Artur Gomes
Da Nascente A Foz : Um Rio De Palavras
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simples como se fosse
abelha fabricando mel
o céu da tua boca
em minha língua de fel
gisele a flor da pele
na minha pele tanta
como esquecer tuas unhas
como esquecer tuas plantas
orquídias por toda cama
quando éramos dois
e alguns goles de vinho
par aquecer o depois
sempre tão calmo o relógio
pelos ponteiros dos músculos
como esquecer o teu sexo
naquela noite de entregas
na minha boca de ósculos
e em teus olhos crepúsculo
Federico
Baudelaire
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o meu amor
não é um bicho
mas é um pássaro
af0gado no lixo
Gigi
Mocidade
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a menina dos meus olhos
com os nervos a flor da pele
brinca de bem-me-quer
ela ainda pensa que é menina
mas já é quase uma mulher
Artur
Gomes – Jura Secreta 4
segunda feira de chuva
tremenda sagaranagem
acho que vou fazer
algo com a linguagem
língua
a minha língua
é safada
nua e crua
não gasta palavra atoa
não canta palavra gasta
não é graça de lisbela
nem é fado de lisboa
é
blues rascante rasgado
lâmina pedra de toque
samba rock
plug ligado
no navio ou na canoa
bebe do rio
e de sampa
nos demônios da garoa
fio desencapado
tensão eletricidade
tesão canibalidade
na voracidade da pessoa
tempo
poético
o tempo
é o senhor
dos meus ponteiros de músculos
relógio oculto no in consciente
o tempo
nos olhos daquela viagem
a paisagem
caminho das pedras
o cenário
vale dos vinhedos
o tempo
guarda em segredo
como uma jura secreta
na íris dos olhos dela
na face da noite
na retidão clara do dia
como uma concha na areia
o tempo
mar de espumas
sargaço algas noturnas
a carne do corpo também
o vinho do tempo na boca
e a língua dizendo amém
re-invento a palavra cláudia
na lavra que ela mais gosta
pode ser que seja vento
jogo brisa tempestade
dama de espade fogo
re-invento a palavra lobo
muito mais que liberdade
amor desejo saudade
onde quer que lá esteja
a palavra que deseja
onde eu mais possa criar
re-invento a palavra pedra
xangô oxum na mesma água
se alimentando das algas
que re-inventamos no mar
Artur Gomes
O poeta enquanto coisa
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o
obscuro
objeto do desejo
de pedra dourada ficaram portas
janelas de entradas e saídas
a sedução de dois olhos
em minha carne proibida
nem tanto pelo que falo
nem tanto pelo que sinto
a vodka acereja o conhac
o abismo o
labirinto
de pedra dourada
ficou um café orgânico
no teu sertão encantada
numa manhã de domingo
do outro lado da trilha
com tanta veracidade
que me esqueci da idade
e me apaixonei por tua filha
de pedra dourada
ficaram olhos acesos
do outro lado a janela
o espelho as contas de vidro
o jogo da sedução – maravilha
os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval
aquela delícia louca
o batom na minha língua
o cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer na tua boca
Artur
Gomes
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dani-se
morreale
se ela me pisar nos calos
me cumer o fígado
me botar de quatro
assim como cavalo
galopar meus pelos
devorar as vértebras
dani-se
se ela me vier de unhas
me lascar os dentes
até sangrar o sexo
me enfiar a faca
apunhalar meus olhos
perfurar meus dedos
dani-se
se o amor for bruto
até mesmo sádico
neste instante lírico
se comédia ou trágico
quero estar no ato
e dane-se o fato
deste sangue quente
em tua bocados infernos
deixa queimar os ossos
e explodir os nossos
poemas físicos pós-modernos
o lugar
da memória
ou
metalírica antropofágica
em são pedro de alcântara
não foi apenas um nome
entre os casarões coloniais
do século dezenove
moveram o pulso no
impulso
na sala do bistrô
ela me mata a fome
feijão tropeiro no prato
no prato feijão tropeiro
a língua no espírito santo
experimenta a pimenta
pimenta do espírito santo
na língua um novo tempero
mágica metáfora fábula primeira
no pavio da lamparina
faíscas claras da gema
entre os pelos daquela menina
no fogo meta poema
vai queimar a carne inteira
Artur
Fulinaíma
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3 dentadas no pão e a faca suja de manteiga entreguei-me ao
desejo de olhar o corpo do poema deitado sobre a grama no quintal do casario no
cafezal rolava um blues vestido de algodão branca flor entre as sílabas tônicas
e a fonética das cores entre o vão das coxas brancas de alfazema sopravam
ventos de alecrim permanecemos ali por quase uma semana e meus olhos
entranhados nos seus passos penetravam frente costas litoral o êxtase vinha no
piscar de olhos sem precisar ao menos tocar a flor no céu da boca
terra de
santa cruz
para espantar
a pandemia
os vermes
os vírus
o mito
as bestas os bostas
eu grito
:
minha bandeira
é carNAvalha
meu pau brasil
é tropicalha
prova dos nove
é alegria
meu circo
maracangalha
meu fuzil
é poesia
não é fácil
ímã linguagem fácil
ora bolos ora bola
complexa metafórica
no ritmo da roda gigante
que a tua língua não controla
se não fosse macunaíma
fulinaíma também não seria
por qualquer coisa que fosse
poeta
não caberia
mesmo se filho eu fosse
de uma santa maria
afilhado de grande otelo
neto da
romaria
e quando ao mundo eu viesse
em outro lugar não podia
tinha que ser cacomanga
onde EU então nasceria
um
goytacá em curitba
atravesso
esta cidade
transversais e paralelas
bicho avesso
sigo em frente
quero uma cerveja
em qualquer bar
daqui a pouco
um bife sujo
pode ser boca maldita
na rua 24 horas
comer um quibe
um grão de bico
eu sei que fico zhôo
eu sei que fico zen
eu sei que nada fico
mesmo ao lado tudo down
mesmo assim não desespero
toco na língua um rock and roll
só fico mesmo quando quero
obs.: poema escrito em 2005 durante uma temporada que passei na
casa do Helio Letes.
meu tio
era yauratê
meu tio era yauratê
no corpo de cacá de carvalho
homem tigre leopardo onça
índio endiabrado caiçara caipora
agora minha tribo chora
na terceira margem do rio
guimarães rosa – em sagaranas
numa
outra aurora
na espera do silêncio
vozes em desespero
o imenso vazio na fala
na estação de trem a mesma coisa
no hospital a mesma coisa
no vagão do metrô a mesma coisa
vida e morte entrelaçadas
na ante sala do terror
o poeta enquanto coisa
com sua língua estraçalhada
no instante da partida
a hora da chegada
onde a inesperada não avisa
o momento do terror
e o país um cemitério
no carnaval engana-dor
poesia
tesão : teu nome
transforma
ritual e gesto
não presto porque te amo
te amo porque não presto
o cão azul
para rodrigo sousa leão
ele cantava
como um pássaro engaiolado
as 4 da madrugada
no seu apartamento
e me perguntou
se eu tinha gostado
da garganta da serpente
e se era também azul
o cão que estava do meu lado
invisível para mim
naquele momento
nas
fibras da memória
o meu espelho hoje
só reflete tempestade
em memória o vazio
nos atropela
pela língua pela lavra
fogo brasa
do teu corpo me acelera
perdi a conta
quantas vezes
o teu nome
me arrancou do sono
nas fibras da memória
tua memória nua
olhando da janela
o dia amanheceu
por isso anda o arrepio
quando o telefone toca
mariana
brumadinho
um mar de lama
mata um rio
que era doce
mariana brumadinho
tem muita lama
no meio do caminho
holocausto
quem se alimenta
dessa dor
desse horror
desse holocausto
desse país em ruínas
da exploração dessas minas
defloração desse cabaço
quem avaliza esse des(governo)
simboliza esse fracasso
Artur Gomes
na antologia
Almas Lavadas de Lama
y love
song baby
em imburi o vento sopra
gosma de tapioca
manga mandioca abacaxi
são francisco itabapoana
não me engana
minha língua não precisa
provar
lamber
comer
chupar
para saber o gosto
o amargo dessa estrada
nela se desova
toda cruel veracidade
da podridão de uma cidade
que nunca deveria ter sido
bandeira
nacional
com palavras
sons
navalhas
imagens
versos
inauguro o monumento
no planalto central
araçá azul
domingo no parque
vapor barato
mal secreto
pérola negra
construção
cabeça
poema concreto
arte
poesia
teatro
cinema
pós poema
terra em transe
tropicália
grande sertão
veredas
vidas secas
memórias do cárcere
parangolés
hélio oiticica
artur bispo do rosário
bacurau
seja herói seja marginal
exu cabra
da peste oxente
hoje acordei
com uma vontade da porra
de trepar na goiabeira
talvez assim quem sabe
ela me chame de jesus
e tire ele da cruz
ou quem sabe bacurau
para acabar com os karkamanos
ou quem sabe bakuri
ou talvez até quem sabe
ela me chame
de exu cabra da peste
um punk alucinado
do nordeste coreano
era uma vez um brasil
oficina
de fotografia
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
fotografar o poema
antes que desapareça
Artur
Gomes
https://www.facebook.com/arturgomesfotografia
ensaio
com meu olho gótico TVendo enquanto o teu me trans pira pelos
poros poemas ainda não escritos os ruídos os silêncios falas palavras que mesmo
não saindo de tua boca vão ficando na retina e fotografadas na pele da memória
vertigem
8
de pedra dourada
ficaram dedos
em minha língua de pétalas
desejos não saciados
por águas de cachoeiras
por trilhas inalcançáveis
na carne virgem do sol
de pedra dourada
ficaram minas
cravadas na flor da memória
no corpo cicatriz – tatuagem
nos olhos quantas vertigens
não sei por quantas viagens
ainda verei essas minas
em cada sulco dos dedos
em cada pedra nas mãos
jura
secreta 40
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como um beijo no teu corpo agora
desejo-te pelo menos enquanto resta
partícula mínima micro solar floresta
sendo animal da mata atlântica
quântico amor ou meta física
tudo o que em mim não há respostas
metáfora D´alquimim fugaz brasílica
beijo-te a carne que te cobre os ossos
pele por pele sobre as tuas costas
os bichos amam em comunhão na mata
como se fosse aquela hora exata
em que despes de mim o ser humano
e do corpo rasgamos todo pano
e como um deus pagão pensamos sexo
Artur
Gomes
Juras Secretas
www.secretasjuras.blogspot.com
Artur Gomes
O homem com a flor na boca
www.fulinaimargem.blogspot.com