Dionisíaca
hoje é domingo
de Hera me vingo
com minha sarcástica ironia
fisto-me de Dionísio
nessa festa pras Bacantes
me consagro teu amante
pelos vinhedos de Baco
no ápice sagrado
da su-real pornofonia
entre os lençóis
o outubro
me deixou no tudo nada
a luz branca sem sono
em nossos corpos de abandono
ela arquitetava uma nesga
entre as frestas da janela
luz do luar nos olhos dela
girassóis em desmantelos
por entre poros entre pelos
minhas unhas tuas costas
Amsterdã nos teus cabelos
o que Van Gog me trazia
era branca noite de outono
que amanheceu sem ver o dia
nossos corpos estavam banhados
de vinho tinto e poesia
fonética
das cores
3 dentadas no pão e a faca suja
de manteiga entreguei-me ao desejo de olhar o corpo do poema nu ainda virgem
deitado sobre a grama no quintal do casario no
cafezal rolava um blues vestido de algodão branca flor entre as sílabas tônicas
e a fonética das cores entre o vão das coxas brancas de alfazema sopravam
ventos de alecrim
poema atávico
e se a gente se amasse uma vez só
a tarde ainda arde primavera tanta
nesse outubro quanto
de manhãs tão cinzas
nesse momento em Bento Gonçalves
Mauri Menegotto termina
de lapidar mais uma pedra
tem seus olhos no brilho da escultura
confesso tenho andado meio triste
na geografia da distância
esse poema atávico tem
a cor da tua pele
a carne sob os lençóis
onde meus dedos
ainda não nasceram
algum deus
anda me pregando peças
num lance de dados mallarmaicos
comovido
ainda te procuro em palavras aramaicas
e a pele dos meus olhos anda perdida
em teu vestido
Projeto Arte Cultura
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