quinta-feira, 13 de abril de 2023

Múltiplas Poéticas

mini conto

 

no livro as vísceras expostas em grande estilo tudo aquilo que é ferida aberta passeia sobre o branco do papel todos os órgãos extirpados por uma única facada

 

Artur Gomes

www.fulinaimargem.blogspot.com



Jura Secreta 52

injúria secreta

 

Suassuna no teu corpo

couro de cor Compadecida

Ariano sábio e louco

inaugura em mim a vida

 

Pedra do Reino no riacho

gumes de atalhos na pedreira

menina dos brincos de pérola

pétala na mola do moinho

palavra acesa na fogueira

 

pós os ismos tudo e pós

na pele ou nas aranhas

na carne ou nos lençóis

no palco ou no cinema

a palavra que procuro

é clara quando não é gema

 

até furar os meus olhos

com alguma cascata de luz

devassa em mim quando transcende

lamparina que acende

e transforma em mel

o que antes era pus

 

Artur Gomes

do livro Juras Secretas

Editora Penalux - 2018

https://secretasjuras.blogspot.com/

 

foto: Bruna Barreto

https://www.instagram.com/artesdepersona/


poesia
tesão teu nome
transforma ritual & gesto
não presto porque te amo
te amo porque não presto

Artur Gomes
do livro: Suor & Cio 

www.suorecio.blogspot.com


Tropicalirismo

girassóis pousando
NU - teu corpo festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
do teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce


Artur Gomes
do livro: Suor & Cio 

www.suorecio.blogspot.com



Vício na fala


Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

Oswald de Andrade


A linguagem poética
talvez seja o último
refúgio da huma-
nidade. A escritura
poética restará –
mesmo – como tesouro

arqueológico da remota
paisagem dos sentidos
e percepções
do humano.

Wanda Monteiro


AUTO-RETRATO

talvez, uma noite
retorne

cansado das batalhas
e das festas

nada
nas mãos

muito pouco
nos bolsos

os olhos cheios
de imagens

os ouvidos loucos
de sons

shows dos stones
desenhos de escher

a pele tocada
por mulheres chocantes

vagabundo
cruzando estradas

ítacas
revisitadas

exausto das guerras
um dia, talvez

retorne

sem lenço
sem retoques

talhos
no rosto

cicatrizes
na pele da alma

a paisagem
se dissolvendo

velho, arqueado

o sapato
todo furado

e dois versos
na camiseta:

eis a vida
que não vendo

Ademir Assunção

Do livro Risca Faca – 2021

Selo Demônio Negro 


Setembro além dos medos

Jomard Muniz de Britto

Ser sem parecer ou imitar
crianças felizes.
Ensaiando novos desejos
para todos sem exceção.
Tentando ultrapassar
notas e aplausos.
Eles somos Nós: entre a realidade
os símbolos e as mistificações.
Melhor saber sem museificar
a metódica da escolaridade.
Brincando com outras paisagens.
Roteiros abertos aos presentes
e provocadores.
Ou seria tudo melhor sem os
Neros de bolso e as negativides 


desobediência

os acontecimentos
batem à minha porta

entridentes, insistem
batem
batem

se não os atendo/atento
insinuam-se pelas frestas
mandam sinais
fumaça
notícias
megabaites

e
batem
batem

se me finjo de morta
explodem a vidraça
estilhaços
prestes a romper
aneurismas herdados

contrariando o mestre
(para que a língua não trave
para que não me arrependa)
deles construo poemas
e
com certo engenho
alguma poesia

Dalila Teles Veras

do livro - Tempo em Fúria
Edições Alparrabio - 2019


 macerar a vida nas mãos


muito além da superfície
entrar com gosto, com todos os sentidos
nos labirintos das so(m)bras
amar muito além da pele
e das palavras da boca
amar os olhos e os seus desvios
amar o grito - jorro de vazios
amar os ossos, as vísceras, os rios
amar em mim e no outro o que fede
onde sangra
o que se esconde amedrontado
atrás das pernas fechadas do ego
amar cirurgicamente
cavando, curando, mexendo
que a vida, me parece
não é para os fracos de estômago

Clara Baccarin
do livro Vísceras


UM PARA DENTRO TODO EXTERIOR

nada a esconder
mesmo que
muito por
saber

o mundo
é um
para dentro
todo exterior

por detrás
do dentro
apenas o
dentro

nada
é o que há
para além
do que há:

o oculto
às claras

fundura
em superfície

o mistério
sem segredos:

todas as coisas
ao alcance dos dedos

Paulo Sabino
do livro Um Para Dentro Todo Exterior
Editora Autografia - 2018


 PARANÓIA EM ASTRAKAN


Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
lágrimas invulneráveis
onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
que saem escondidos das tocas
onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
estéreis e incendeiam internatos
onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
a descarga sobre o mundo
onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
no seu hálito
onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
última janela
onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
branco
onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
escurecendo a página
onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas
das beatas
onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
arranhados
onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
penas
onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da
imaginação

Roberto Piva
in Poesia Primata


 

*
Entre
a rosa
e
o sal
se insinua
uma fogueira
que
trepida
lágrima.
Entre
a rosa
e
o sal
se esconde
uma ternura
que
invade
tudo.
Entre
o sal
e
a rosa
se instaura
um coração
que
sangrando
faz nascer
o deserto.
*
Mell Renault in: "Patuá" - Editora Coralina


 

bandeira nacional

com palavras
sons
imagens
e versos
inauguro o monumento
no planalto central

araçá azul
domingo no parque
vapor barato
mal secreto

pérola negra
construção
cabeça
poema concreto

arte
poesia
teatro
cinema
pós poema

terra em transe
tropicália
grande sertão
veredas
vidas secas
memórias do cárcere

parangolés
hélio oiticica
artur bispo do rosário
bacurau

seja herói seja marginal

Artur Gomes Gumes

O Poeta Enquanto Coisa


PERDA (LÍNGUA)

A boca saliva alívio e, viva, a sílaba dá início à livra do cicio a boca abre a língua que não derrapa e depara em lenga-lenga, bota o marco-zero do lero-lero bifurca o caminho que estira a lira e bole a bile suga cega a saga e segue descosturando culturas dando tilt em kilt arremesso de maços cigarros em pizzas de alienígenas em passos passa a língua cruza anticrista a casca grossa da fossa o gerânio o arsênio os domínios dos demônios os anjos marmanjos as tulipas rezando evitar pântanos nos tímpanos e estrias nas estrelas.

Fabiano Calixto

no livro Nominata Morfina
Corsário Satã - 2014


Pulsação convulsa

Meu corpo
possui o sagrado ancestral
a íntima pulsação que desbota
do antigo convulso coração

Meu corpo rebela-se
aos apelos que flutuam
em minha mente
Um pouco chama
um pouco só água fervente

Meu corpo
carne acima
de músculos e ossos
náufrago de abraços
submerso em seiva encarnada

Leito solitário
que desperta e perambula
em mares não explorados

Meu corpo subjugado
pelo tempo inclemente
não perde a voz
nem as horas
que marcam as dores
as certeza invisíveis
como coloridos astros
em infinito caminhar

Entretanto
meu corpo desnudo desembrulha
minha fome de paixão

Secretamente
abro minhas pálpebras enluaradas

Marcia Barroca
do livro desembrulhando o tempo
Pathernon - 2018
  


Saco de Pancada

crivado
de imagens

baleado
por notícias

refém
de fatos
filmes & fotos

cercado
por trás
frente & lados

assim me refaço:
juntando meus cacos
pelo chão
espalhados

Marcelo Mourão

do livro Máquina Mundi
Oficina Editores - 2016 


COMO LER UM LIVRO DE POESIA

Recomenda o bom gosto e o
bom senso que o
leitor faça as leituras
na ordem constituída
e na tessitura proposta
pelo autor.

No entanto, não raros
leitores não se apegam
a tais convenções,
folheando desavisadamente o
livro e esperando que
alguma pétala exploda.

Há livros de poesia
que demandam
uma relação carnal
enquanto outros são
pluma no vagão de um metrô.

Acontece a muitos livros
não se desvendarem por completo
de uma vez, sendo degustados aos
poucos no passar dos anos e horas.

Isso pois um livro de poesia
é também um oráculo
que consulto para saber
como vai ser meu dia -
mais até do que a astrologia!

A poesia é um libelo contra
a verdade constituída,
uma armadilha pronta para pegar
um incauto ou mesmo uma
avalanche soterrando sentidos.

POR QUE LER OS CLÁSSICOS

É que hoje os dias
são mais breves e
a cada passo estreita
o precipício.

E a vida às vezes
bate firme
e é preciso ter
pescoço duro
pra não ir a
nocaute.

Não se deve jogar
esperando ter o
nome em uma placa
dourada brilhante.

Um diamante é
sempre rígido e constante
e mesmo bruto
carrega em si o peso
de sua glória.

Pois mesmo que falsários
escondam do sol a
sua luz
a chuva sempre lava
a terra e após a
enchente dentro da lama
a vida guarda suas
sementes.

Jardim Minado

O amor
este
jardim minado
por onde
caminhamos abraçados
lado a lado
com o inimigo.

Este conto
de safadas
farsa
mal contada
- mentira reinventada
na qual
sempre acabamos
caindo
novamente.

Olha,
olha ali.
Do outro
lado da pista!
Não é ali?!
não é ali?!
que morreu
o coração
atropelado por um taxista?

 

Pedro Tostes

dos livros - Casa Mata de Si e Jardim Minado

Pedro Tostes é poeta reincidente e insistente. Graduado Nos Rolês com PhD em Pilantropia Cultural. Seus crimes foram mais conhecidos como "o mínimo" (2003), "descaminahr" (2008), "jardim mminado" (2014) e esta mais recente contravemção "na casa mata de si" (20019) pela Editora Patuá. Foi detido, averiguado e apresentado pelas atoridades por porte e comercialização de livros em prestigiosa Festa Literária. Com a organização delituosa "Poesia Maloqueirista", entre outros crimes, editou a infame revista "Não Funciona", querealizou 20 golpes de 20 mil incidências literárias na primeira década do século. Apesar de aparência dócil e gentil, o indivíduo citado apresenta alta periculosidade. Sua cabeça está a prêmio. Caso o encontre, favor informar às autoridades.


PROFISSÃO DE FÉ
para Antônio Roberto de Góis Cavalcanti (Kapi)

Perdeu-se a rara e rica rima
sem cópia, raspa ou rascunho,
na casa ampla de minha cabeça vazia.

Onde ficou a palavra dita estalo,
fechou-se um mundo de silenciações
perdida na frase que me salvaria.

Sem voz nem voto ne ponto nem vírgula,
a poética se insatala plena de perplexidade,
tentando (re)parir as ideias ou trazê-las à luz

como um filme gravado na memória,
(re)organiza estrofes para restaurar a história
que (re)significa o texto por vontade de ser

vai costurando vácuos e versos
em frágeis leituras e poemas imersos
nas entrelinhas da obra quase acabada.

No que não se exclui de tal esforço o preço
de vida e morte em cruel e fatal (re)começo,
no que for de cruz ou de inspirado instante,

mas dor e processo inconteste
posto que inconstante.

Amélia Alves
do livro No Reverso do Viés
Ibis Libris - 2015


signos em convulsão

flores
precisam de água

coelhos
gostam de folhas de couve-flor

humanas
confusões de signos

dexplosão de gaseduto no cairo
centenas de feridos em atentado no metrõ de londres

o público alvo do jô onze e meia
américa - terra de bravos

as abelhas que pousam nas uvas
não são clones de abelhas

um bilhete no e-mail du superpateta
poeta das perdidas ilusões

ilusionista, domador de leões
amante do bom vinho

e das mulheres que uivam na lua cheia
ronrons de fêmeas, gemidos

alquimia de salivas, miados
cheiros, imagens

sem replay

o rio que passa na minha cidade
está poluído

em quais camas as grandes cópulas douradas¿

um boeing me coloca diante das ondas do mar
marolas, maresias

frutos de flores marítimas
deuses do ar, deusa da água

o fogo arde a raíz das árvores
línguas de lesmas, húmus

nada que não finja
beleza que não finda

mesmos crisântemos
florescendo
na lâmina da espada

um facho de lua
sobre as pétalas
do jardim

Ademir Assunção
do livro Zona Branca
Travessa dos Editores - 2006


ARTUR GOMES.
Entrevista de Jiddu Saldanha.
Traducción: Leo Lobos.

Artur Gomes es un poeta que se mueve a la velocidad de su erotismo, un liberta­rio, con una sed poética– antropófaga. Dueño de un estilo único y con talento extremo para decir sus poemas en público el viene coleccionando fans por el Brasil y el exte­rior. Influenciando multitudes de jóvenes poetas en Río de Janeiro y contribuyendo fuerte­mente para la cultura del país.
- Leyendo tus poemas me encontré con una cuestión semejante a Hilda Hilst. No escribes una poesía “fácil”, entonces te pregunto: ¿Escribes para tener lectores? -

Claro que escribo para tener lectores, como Hilda Hilst también que­ría tenerlos. La dificultad, creo, está en la cuestión de los lenguajes poéti­cos. No creo que mi poesía sea difícil. Tal vez la falta de lectura de poesía sea el factor que dificulte a la mayoría de los lectores captar en su esencia el mensaje del poeta.

– Para muchos poetas posees una óptima forma de decir poemas, de las mejores que ya se vio por ahí. ¿Hablar poemas es también un oficio?

– Hablar poesía, es un ejercicio que practico cotidiana­mente desde el instante en que me descubrí poeta. Si ser poeta es un oficio, hablar poemas, para mí también lo es. Se que con esta comunica­ción directa, el poema se torna más accesible al otro, que deja de ser lector para ser oyente. El sentido auditivo le permite una emoción que la lectura silenciosa no proporciona.

– Tengo curiosidad en saber, el Artur Gomes que escribe los poemas es el mismo que los habla. ¿Existen “auras” diferentes en cada momento de tu actividad artística?

– El acto de la crea­ción, es un instante solita­rio, en que el poeta se encuentra con los conflictos inherentes a todo ser humano, es cuando está en comunión consigo, y al mismo tiempo en comunión con todos. En este instante no existe mucho en que pensar, a no ser, dejar al imagina­rio fluir y a la escritura brotar en el papel, o en la tela del computador. Ahora el acto de hablar el poema requiere otras prácti­cas. En mi caso tiendo a no teatralizar el texto, y si dotar el habla de una sonoridad compatible con el drama o el humor pertinente que está contenido en la palabra escrita. En este momento el poeta deja de ser poeta, para tornarse actor.

– Además de poeta eres también un gestor/productor, haciendo puente para otros artistas y ayudando a eventos de gran importancia nacional como la “Bienal de Campos”, o “Festival de Campos – Poesía Hablada”, o el “Concurso de cuentos José Cândido de Carvalho”. ¿ Queda tiempo para tirar maní a los monos?

– Tú me haces recordar una bella canción de Car­los Careqa, “No de maní a los monos”, presente en su disco “Los hombres son todos iguales”. Todas estas actividades son rea­liza­das con un intenso placer, si así no fuese no valdría la pena. Lo que más importa en este caso es la posibilidad de colocar la poesía en primer lugar, lo que para mi es una tarea diaria. Los monos que esperen por el maní… (risas).

– ¿“Fulinaíma” y “Sagarana” son conceptos inspira­dos en Guimarães Rosa y Mário de Andrade? ¿O es una especie de diálogo filosófico
poético con la juventud brasilera tan carente de contacto con artistas viscerales?

– Por instinto natural, siempre me gusto jugar con las palabras, re
inventar unas y otras, no es simple­mente hacer una relectura. Pero si, intentar crear a través de ellas algunas otras. Tengo la certeza que los contactos con la música y el teatro contribuirán decidida­mente para desa­rrollar todavía más esa práctica.
Tanto Fulinaíma como Sagarana son frutos que crecieron de proyectos desa­rrolla­dos con el objetivo de una re
creación volcada para esos pila­res de la cultura brasilera contemporánea. La crea­ción de Fulinaíma se la debo a mi cercano colabora­dor el músico Naiman. Ella nace cuando todavía estaba en escena en São Paulo con el proyecto Retazos Inmortales de Serafim”, a pesar que su foco está centrado en Oswald de Andrade, es con la mezcla macunaímica de Mário de Andrade que pensa­mos adobar nuestra comida. En tanto Sagarana, nace con la crea­ción del poema Saragaranagens, que es un pedido de bendición al maestro Guimarães Rosa.

– Antes de destacarse como un maestro de la palabra ya eras conocido como artista visual. Háblanos un poco de tu trabajo en esta área.

– En 1983, aún en Campos, cree el proyecto Muestra Visual de Poesía Brasilera, que es una “exposición gráfico visual” con los lenguajes experimentales que pudimos conocer a partir del modernismo. A partir de ahí comencé a estrechar contacto con grandes poetas del país y del exte­rior que ya hace algún tiempo trabaja­ban con poesía visual y otros lenguajes experimentales donde la visualidad estaba presente. Este proyecto tubo varios desdoblamientos y a cada exposición de acuerdo con el objetivo que intentá­ba­mos alcanzar definía las característi­cas de la poesía que íbamos a exponer. Considero este trabajo bien singular en mi producción poética. Aunque es con la palabra escrita con la que procuro colocar mi condición de poeta en este mundo.

- ¿A quién lees?

– En poesía leo una infinidad de poetas conocidos o no, por cuenta del “Festival de Campos de Poesía Hablada”, y a nuestros maestros Drummond, João Cabral, Oswald y Mário de Andrade, Paulo Leminski, Mário Faustino, Torquato Neto, Murilo Mendes, Baudelaire, Augusto y Haroldo de Campos, Mallarmé, Manuel Bandeira, Mário Quintana, Manoel de Barros, Ferreira Gullar, Hilda Hilst y Ana Cristina César. Acabe de leer el libro Plano de Vuelo, de Ademir Antonio Bacca.

- ¿A quién conside­ras hoy el primer equipo de la poesía en el Brasil?

– Es muy difícil definir ese primer equipo. Aunque tene­mos también de una forma subterránea, una decena de grandes poetas en plena productividad como Tanussi Cardoso, Marcus Vinicius Quiroga, Helena Ortiz, Antônio Cícero, Aclyse de Mattos, Aricy Curvello, Dalila Teles Veras, Ademir Assunção, Fabiano Calixto, Diana de Hollanda, Zhô Bert­holini, Lau Siqueira, y por ahí sigue… Es una producción aún restringida a una ciudad o a una región de cada uno de esos poetas, pero de gran calidad.

– ¿Quién es Artur Gomes por Artur Gomes?

– Un ser, social, erótico, religioso, sagarânico y fulinaímico, preo­cupado con las cuestiones humanas de los seres que habitan este convulsionado planeta.

ALGUNA POESÍA

no. no basta­ría la poesía de tranvía
que desbarranca luna en mis pestañas
en un trapecio de pendientes donde la solapa
cargada de asaltantes en sus arcos
hiriendo la fría noche como un golpe
que va haciendoel amor entre las líneas.

no. no basta­ría la poesía cristalina
para las niñas que están rasgándo
se el cuerpo intentando lasuerte
en cada puerta del metro.
y nosotros poetas desvendando palabritas
vamos danzando en el vértigo de este circovola­dor.

no. no basta­ría toda risa por las plazas
ni el amor que las palomas tejen por los trigales
los pája­ros despedazándose en los ventanales
y las mujeres cuidando a sus críos.

no basta­ría delirar Copacabanay
esta cosa de sal que no me engaña
la luna en la carne cortando una seducción gay
y un olor de fémina en el aire devora­dor
aparentando rea­lismo hipermoderno,
en un cuerpo de ángel que no fue mi dios quien hizo
ese gusto de cosa del infierno
como probar el amor al aire libre
en una cósmica y profana poesía
entre las piedras y el mar de Arpoa­dor
una mixtura de hechizo y fantasía
en altas olas de misterios que son nuestros

no. no basta­ría toda poesía
que yo traigo en mi alma un tanto puerca,
esta pos­tal con una imagen parecida a Lorca:
un tranvía aterrizando allá en la Urca
y esta ciudad recostándose en el agua
en mis demoliciones
pues si el Cristo redentor dejase la piedra
con certeza nunca más reza­ría el padrenuestro
y con certeza solo haría con mis huesos poesía.

EL BUEY MANCHADO

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar.
Y…allá va el buey
con sus ojos tris­tes
hecho madre cansada
del camino, de la vida,
cargando dolor
cabizbajo
con miedode ser el primero
en enfrentar el puñalo la horca.

Allá va el buey del arado
buey de carro
buey de carga
buey de cerca
buey de yugo
buey de cuerda
buey de prado
buey de corte.

Buey negro
buey blanco
Allá va el buey manchado…
allá va el buey
en su conciencia
triste, solita­rio
ojeando a los que pasan
con miedo de alzar su voz
su bufaral oído de los otros.

Allá va el buey
en su paso manso,
danza en la contra
danza
con la certeza que la esperanza
es mucho más que aquello
que le fue predestinado.

Allá va el buey
manchado
allá va el buey…buey Antonio
buey Juana buey María
buey Juan.
Buey Thiago
Buey Ferreira
Buey Drummondel
Buey Bandeira,
y tantos
que conoci que sabiendo o no sabiendo
cada buey tiene su fin.
Allá va el bueycon su gesto manso
en el equilibrio manco
que me inspira y desespera…
va para el cofre,
él sabe eso.
Va al matadero
él sabe eso.
Va a la balanza
y sin ser equilibrista
ya conoce su destino.
allá va el buey
manchado

Y allá va el buey
por las líneas del tren
en los vagones de fierro.
Cargado
de marcas en el cuerpo
y agonía en su corazón.

Levanta mi buey levanta
que es hora de viajar
despierta buey todo
buey debe luchar…

Levanta mi buey opera­rio
buey de martirio y de sala­rio
buey de pala y de hora­rio
buey de la amarra en el cuello
buey de carne, buey de hueso
servido al plato de la serpiente
buey de lama
buey de foso
buey indigesto e indigente.

levanta mi buey de fardo
buey de cerca
buey de carga
buey de yugo
buey de cuerda
buey de fuerza
buey de farsa
buey de farra
de venganza
buey de fiesta
buey de hierro
levanta mi buey destino
buey pavesa
espanta
pájaro
buey de paño
levanta mi buey de paja
buey de circo
buey de sueño
buey salvaje
buey de plano
levanta mi buey de barra
buey de guerra
buey de berro buey de barro.

Levanta mi buey manchado
hombre payaso enmascarado
máscara de ani­mal y desengaño
ningún hombre des­almado
se mostrará con nuestra cara
se cubrirá con nuestros paños

Levanta mi buey de plata
buey de plato
buey de llanto
buey de clavo
alambre de púas
buey de carga y de arado
buey Juan des­empleado
de terno infierno y de corbata
buey sin libro
buey sin acta
buey de zafra
buey de cofre
buey de carta
buey de corte:
buey de carne herida
mugiendo de sur a norte,
buey que nace para la vida
y que engorda para la muerte.

Traducción: Leo Lobos y Cristiane Grando
http://www.santiagoinedito.cl/

Esfinge

o amor
não e apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome

e que a pele do teu nome
consome a flor da minha pele

cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
clarisse/beatriz

assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nosso profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo

na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente

o nome tem seus mistérios
que se esconde sob panos
o sol e claro quando não chove
o sal e bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve

o mar que vai e vem
não tem volta
o amor e a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim

Artur Gomes
em maio chega novo livro: O Poeta Enquanto Coisa 

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