Tecidos sobre a Terra
Terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua
da minha boca
não cubra mais tua ferida
entre aberto
em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói é ver-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal diamante
minha terra
é de senzalas tantas
enterra em ti
milhões de outras esperanças
soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo – o vão
estreito em cada porta
MOENDA
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
: 
o saldo e o lucro
Artur Gomes
poema dos livros: Suor & Cio 
MVPB Edições - 1985
e Pátria A(r)mada
Editora Desconcertos – 2019
Prêmio Oswald de Andrade –
UBE-Rio-2020 – lançamendo da segunda edição ampliada em 2022
gravado no CD Fulinaíma Sax Blues
Poesia 
2002
PoÉticas ArturiAnas 
www.arturkabrunco.blogspot.com
os estilhaços do corpo
estão espalhados
nas cidades
:
pernas aqui
braços ali
cabeças acolá
na total desconfiguração
:
- cabeça/tronco/membros
as cidades estão entupidas
de fragmentos de populações
destroçadas em desespero
a crueldade é tanta
que dificilmente em qualquer cidade
se encontra um ser humano por inteiro
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux - 2020
www.secretasjuras.blogspot.com
metaforicamente
passarás
não verás
país nenhum
             nunca
tua carne desossada 
nonada tão real
visceralmente explícita
onde tudo vale nada 
desconhecido
eu quero ser
visto apenas
por entidades ocultas
           olhos
invisíveis 
pedras
peixes
plumas
pássaros 
as
meninas do Leblon
as meninas do leblon
não sobem no vidigal
pensam que as pedras
lá de cima
cheiram mais que o anormal
mas a flor de lótus
           flor de
cactos
           flor delírios
cheiram muito mais
            que as
pedras 
que elas não querem cheirar 
no vidigal 
Artur
Gomes
O homem com a flor na boca
www.arturfulinaima.blogspot.com 
com os dentes
cravados
na memória 
para
Paulo Ciranda 
em Itacoatiara o mar  me beijou a boca 
na praia no verão de dois mil e dezessete 
sinto o gosto agora
como se Itaipu fosse Pedra Dourada 
com um beijo de São Paulo 
Itapetininga ou mesmo uma  Itaocara 
onde estivemos  em mil
novecentos
 e setenta e seis numa
Balada Pros Mortais
que em mil novecentos e setenta e sete
 transbordou Ave da Paz
primeira da nossa safra
com registro fonográfico
gravada por Biafra
depois em Miracema mil novecentos e oitenta e um 
 dançamos com um Boi Pintadinho 
nossa canção ao vento Fotografia Urbana
mais uma vez Itaocara mais  um Festival dos Festivais 
em mil novecentos e oitenta e dois
e a ciranda gira nessa roda gigante
que vai bordando sonoridades no tempo 
Artur Gomes
PoÉticas ArturiAnas 
https://www.facebook.com/arturgomespoeta
manguinhos
poema em linha torta
geograficamente
lapa para mim são 3
em campos no rio e em sampa
em mil novecentos e noventa em seis
quando publiquei sampleando
pela primeira vez
uma ninfeta paulista
me perguntou onde era
a lapa do poema 
de manguinhos lhe respondi
:
o poema pode ser um beijo em tua boca
há tempos não tenho paciência 
para respostas concretas
se no poema o poeta faz referências
a estação da luz av. paulista
consolação água branca barra funda
essa lapa só pode ser em sampa
né cara pálida ninfeta analfabeta 
Federico Baudelaire
https://www.facebook.com/federicoduboi
gargaú
aqui signos
não casam com significados
cada um segue sua trilha
cada um segue seu atalho
eita povo pacato pra caralho
assombro sobe em minha telha
e
com a língua/navalha carNAvalho
Artur Gomes
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux - 2020
www.secretasjuras.blogspot.com
guaxindiba
aqui
passávamos carnaval na juventude e éramos recebidos com grande amor onde acampávamos no quintal do pescador 5 da madruga íamos colher rede do pescado e passávamos a semana comendo  peixe assado no buraco de areia com cachaça cerveja e mariola  em guaxindiba conheci a minha primeira sereia angélica flor do bosque e foram anos de luas e serestas ruas e florestas estrelas incendiárias
Artur Gomes Fulinaíma
fulinaimicamente
www.fulinaimicamente.blogspot.com
suspenso 
no Ar 
não penso 
atravesso 
o portão da tua casa 
o corpo em fogo 
a carne em brasa 
tudo arde
nas cinzas das horas
no silêncio da tarde
vou entrando sem alarde
sem comício 
como o pássaro 
que acaba de cantar 
em pleno hospício
 
você pensa que escrevo em rua reta ou
estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa?
escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de
setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra
a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das
contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora
quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem
pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus
mamilos a espera do beijo da esfinge que devora
Artur Gomes 
PoÉticas ArturiAnas
www.arturkabrunco.blogspot.com
quanto mais me re-par-to
muito mais me mul-ti-pli-co
pastor de andrade
fedeika lispector
gigi mocidade
federico Baudelaire
rúbia querubim
federika bezerra
eugênio mallarè
parabolicamará minha antena parabólica fio terra para minhas intervenções intragaláticas nas multi-i-transversais relações humanas para o planeta que virá
Artur Gomes
o criador das mutltitransações fulinaímicas
1
BordeLíricas
Dionísio bêbado de noites
pelos Cassinos de Bento
transa nos pergaminhos
depois de um tapa no branco
com uma puta dama nos becos
e algumas garrafas de vinho 
aqui
em casa
lavo pinto bordo
o corpo
a alma
os pelos
cada um que
pinte seus delírios
cada um que
desenrole
seus novelos
EuGênio Mallarmè
o antropofágico fulinaímico
https://www.facebook.com/EuGenioGumes
2
o desconcerto na frase
está no corte
no verso
formiga carregando folhas
nas costas
o formigueiro instaura
uma colmeia de dados
que o tempo
ainda não decifrou 
pássaros elétricos
           vivem a vida
           por um fio
Federika Lispector
Jornalista na Igreja Universal do Reino de Zeus 
3
Irreverência Ou Morte!
Gigi Mocidade
Rainha da Bateria da Mocidade Independente de Padre Olivácio - A EScola de Samba Oculta No InConsciente Coletivo
https://www.facebook.com/gigimocidade 
4
no universo paralelo
tenho mestrado bíblico
em chá de cogumelo
Pastor de Andrade
patrono da Igreja Universal do Reino de Zeus
https://www.facebook.com/pastordeandrade
5
fiz um trato com o sarcasmo
o bom humor a ironia
única forma que encontrei
para fazer a travessia 
no Trato, poema de Ademir Assunção
do seu livro Risca Faca que acabo de ler
na coletânea poetas vivos –
blog Fulinaimicamente – TransPoÉticas –
https://fulinaimicamente.blogspot.com/2022/02/coletanea-poetas-vivos_23.html
Para Pagu
in memória
vontade de voltar
a correr por pradarias
num cavalo selvagem
sem celas rédeas arreios
ou cancela
indo ao encontro
dos vagabundos
livre leve solta
nua como vim ao mundo
Rúbia Querubim
a grande musa fulinaímica
https://www.facebook.com/rubiaquerubim
6
Travessia Campestre
para RúbiaQuerubim
e Sérgio Sampaio in memória
a travessia você faz
como quiser
ou como pode
no lombo do cavalo
ou na garupa do bode 
Federika Bezerra : A Porta Bandeira
Que BorTou Olivácio Doido
Em mil novecentos e vinte e cinco
na noite de orgias satanazes
um raio de trovão incandescente
rachou a igreja em Goytacazes
um vulto do despacho então desceu
movido por farol de grande luz
tocou na pedra quebrou cruz
a Rainha do Fogo dessa gente
Federika de ouro azul e prata
na porta da igreja foi parida
criada pelo Padre Olivácio
que logo depois lançou na vida
aos cindo de idade encantada
foi pega masturbando em sacristia
por causa de um sonho com o príncipe
DuBoi da mais sagrada putaria
Expulsa da cidade foi pra longe
cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis
mas se você pergunta Freud Explica:
- o seu palácio agora é em Petrópolis
Aos dezenove plena de alegria
conheceu Gigi da Bateria
na porta do Beco de Satã
na festa federal do Bar da Lama
a Deusa dos Lençóis de toda cama
sorrindo para ver como é que fica
dá um corte na história inverte o drama
e transforma Ouro Preto em Vila Rica
e assim vamos cantar em verso e prosa
a saga dessa Deusa Iansã
que em busca da mordida na maçã
sonhava encontrar Guimarães Rosa
Viemos do SerTão para os seus braços
porque a Mocidade Independente
é a mais fina e pura Flor do Lácio
afilhada do secular Padre Miguel
e fiel ao seu pai Padre Olivácio
e para completar a grande roda
trazemos o cacique Pau BraZil
o centenário Oswald de Andrade
filho da paulicéia que pariu!
Passando pelas bandas do Catete
dançando na maior intensidade
macumba com o índio brasileiro
nossa Ex-Cola campeã da liberdade
Federika engravidou o grafiteiro
do famoso cacete Samaral
que escrevia pelos muros da cidade:
Mocidade já ganhou o Carnaval!
e assim vamos cantar na grande roda
tudo o que deu e o que não deu
o dia que um pastor bem  collorido
pensou ser pai de santo e se fudeu!
a mulher do tempo
linda felina de fellini
que o meu olho felino
descobriu
extasiado me pergunto
:
quem foi o grande zeus
que inventou
ou foi a mãe de eros
que pariu ?
Federico Baudelaire
mestre salada Mocidade Independente de Padre Olivácio - A Escola de Samba Oculta no InConscinete Coletivo
https://www.facebook.com/federicoduboi
7
Aos cinco anos de idade
minha mãe não me assumiu
e me entregou pro padre
que morava com uma freira
cresci então na Mocidade
e me tornei Porta Bandeira
Federika Bezerra
Pátria A(r) mada
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