GIRAssóis pousando
nu teu corpo: festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
no teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce
MAGIA
quando meto pés
em tuas matas
selvagem índio
pássaro animal
devasto céus sem ter limites
com poesia sobrenatural
OVERDOSE NU VERMELHO
retesar as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel
se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel
BR – 101
ah! meu amor
não te esqueci
ainda procriando no meu corpo
os micróbios do teu sangue
enlouqueci
GENITAL
pasto no cosmo
a soja secular de jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópoles
no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia
tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
e um grande pênis roxo
milenar
feito aspiral em círculo
preparando imenso orgasmo
pra festejar o fim do século
Artur Gomes
Couro Cru & Carne Viva - 1987
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FRUTAS
no vermelho dos morangos
marrom dos sapotis
na pele das romãs
carne das goiabas
polpa das amoras
licor das melancias
e tropical abacaxi
no gosto que elas têm de beijo
e jeito que elas têm de sexo
penetro os dentes mordendo
chupando dragando em ti
a terra das frutas na boca
arando o vale das coxas
com o caule da minha espada
eu planto a língua molhada
PRIMEIRO
AMOR
montado no sol a pino
no pasto do céu em chamas
eu cavaleiro menino
enlouqueci na sua cama
VOO
SELVAGEM
I
correndo nos cavalos
cresceu
meu coração de égua
enxertado
em ilusões de águias
II
meu coração galopa
pelo campo afora
no dorso dos poemas
na pele das esporas
III
diante da cerca
estão os bois
saciando o sexo:
corpos sob o sol
selvagens & parceiros
guiados pelo odor
amando pelo cheiro
IV
no pasto
o encontro boca a boca
a égua abriu-se toda
para que nela
entrasse
bastasse
ver
o seu pulsar
e gozo
para que o alazão também
entre o capim
gozasse
V
com espada em riste
galopamos pradarias
e lutamos ferozmente
por dois segundos e meio
tua fúria era louca
e agarrei-me em tua crinas
para não cair da cama
mas o amor era tanto
e tanto era o prazer
quando fomos pra cama
não tinha mais o que fazer
CORAÇÃO
CIVIL
meu coração vadio
quando está no cio
faz comício
em seu quintal
vai pro bar e bebe o rio
e canta um hino nacional
TEMPERO
é preciso socar certas palavras
com sal pimenta & alho
para dar o gosto
o ardido
que se traz na boca
é tempero mal cuidado
é preciso cortar o mofo
das ações de certas palavras
para quando for poema
ter ação presente
penetrar a carne
e ter sabor de gente
MULHER
meu poema
se completa
em seu vestido
roçando sua carne
no algodão tecido
MINERADOR
I
mulher é lua nova luz ativa
teu corpo manso
é cobre nos meus braços
um fogo em prata
aceso nos meus olhos
minas gerais
senhora dos meus passos
II
para plantar seu corpo
em meu ofício
é que me fiz
metade em seu amor
para plantar a flor
no meu suplício
é que me fiz de ti
minerador
III
coberto em couro cru
& carne viva
amor brilhante diamante e luz
estrela e nave nua corre linda
sobre o teu seio
desperto em vera cruz
IV
no sol que banha
o teu suor e sangue
unhas de ferro
coração de cobre e aço
veia da américa
canção e flor do mangue
cortina aberta
estrada pro meu leito
metade de um país
metade do meu peito
ROSANA
nadar por sobre o peixe
dos seus olhos
e penetrar as profundezas
do seu útero
assim quando prepara
um outro nascimento
na escuridão
que a sua luz dê Flora
e com um membro teso
vazar a claridade
que em teus seios mora
ALINE
o mar é um grande macho
quando vagas ondas
te pulsando água
no pontal das pernas líquidas
penetrando ventre
pelos poros pelos
que desaguam frutos
de uma branca espuma
despetalando o bico os teus seios
SIMONE
muito mais de um desejo
que não basta
o meu poema arrasta
um nome de mulher
na língua ultra molhado
marés e temporais
enchentes alto mar
do teu corpo navegado
ELIS
pau latina
mente
procurando passo
te encontro pelo
na porta desse poço
em pele de estopim
e um barril de pólvora
explode no meu peito
pura que o pariu
mulher, estás em mim
ATAFONA
vaza meu corpo
seu nome atravessado
terminal nas minhas coxas
lançado ao mar das suas costas
onde ancoro meus navios
retesando o braço dos meus rios
na maré dos seus pontais
peixe punhal de branco sal
em suas pernas sensuais
quando sangra nos meus cios
toda água do seu cais
MARISA
GATA MANSA
afundas
tuas unhas fundas
viajas sub mundo
em doses de tensão
quando vibra tua voz
na voz do coração
e tua alma leve
tudo leva
tudo voa
quando tuas garras
de animal
sangra a carne
da pessoa
HALLEY
penetraria eu
o mar revolto em tua boca
queimando ao fogo do inferno
nus teus órgãos
grudado em tua pele
tudo em pelo
como quem montado
em tua alma
galopasse a língua fria
feito um cavaleiro
que nos céus
cavalgasse o corpo de mulher
:
cometa incendiando a luz do dia
CARNAVALIZANDO
tropicaenamente
meus versos oswaldianos
em carnaval pela cidade
vão ficar durante o ano
desbundando a troup-sex
e a mulatinha andradiana
com bundinha à caetano
despe a gil bertinidade
no patamar do meu tríplex
BOCA DO
INFERNO
por mais que te amar
seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é teu pudor de dama
despetalando
meus lençóis
e se tiver que me matar
que seja
e se eu tiver que te matar
que morra
em cada beijo
que te der amando
só vale o gozo
quando for eterno
inferniznado os céus
e santificando
a boca do inferno
APARTAMENTO
entre teu quarto e
sala
trafego meus cavalos
com prazer domando
a fala
no quintal da tua cama
roçando a língua no meu falo
nosso orgasmo se inflama
ÊXTASE
deixa eu pousar
pelo animal ereto
pulsando em tua boca
meu amor contrário ás leis
expondo a fúria
do meu coração em festa
na vitalidade
da sua pulsação
quando aninhar meu falo
em tuja língua tesa
pondo a linha do horizonte
presa
na plenitude da ejaculação
FLOR DA
PELE
I
o beijo que não te dei
é parte que ainda
não re partiu de mim
o que te dou
está na boca
fruta mordida
em teu seio
:
carne de amendoim
II
uma mulher caminha nua
na ponta da minha estrela
ou na ponta da tua estrela – nua
caminho eu
parte do mar e do fogo
na língua na assombração
parte da terra e do vento
na carne do pensamento
lavras do teu vulcão
III
alguma estrela cadente
varreu o pó do meu sangue
beijou o chão dos meus olhos
e o fogo azul deste mar
em grave e cruel desespero
igual corrente gadeia
com dente veloz de aflição
comeu a carne na poça
voou com os seios da moça
e fez-se em constelação
IV
para voar com tuas patas
é preciso estar de fato
com o corpo em êxtase
e todo sangue em poesia
pois se não no teu impulso
e voo pro grande sexo
sangrarás na virgindade
e morrerás de hemorragia
Artur Gomes
Suor & Cio
MVPB Edições - 1985
FULINAIMICAMENTE
NAÇÃO GOITACÁ
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