quarta-feira, 10 de novembro de 2021

alguma poesia

 


                             ALGUMA POESIA

 

I

não bastaria a poesia deste bonde

que despenca lua nos meus cílios

num trapézio de pingentes onde a lapa

carregada de pivetes nos seus arcos

ferindo a noite fria como um tapa

vai fazendo amor por entre os trilhos

 

II

não bastaria a poesia cristalina

se rasgando o corpo estão muitas meninas

tentando a sorte em cada porta de metrô

e nós poetas desvendando palavrinhas

vamos dançando uma vertigem

no tal circo voador

 

III

não bastaria todo riso pelas praças

nem o amor que os pombos tecem pelos milhos

com os pardais despedaçando nas vidraças

e as mulheres cuidando dos seus filhos

 

IV

não bastaria delirar Copacabana

e esta coisa de sal que não me engana

a lua na carne navalhando um charme gay

e um cheiro de fêmea no ar devorador

aparentando realismo hiper-moderno

num corpo de anjo que não foi

meu deus quem fez

esse gosto de coisa do inferno

como provar do amor no posto seis

numa cósmica e profana poesia

entre as pedras e o mar do arpoador

uma mistura de feitiço e fantasia

em altas ondas de mistérios que são vossos

 

V

não bastaria toda poesia

que eu trago em minha alma

um tanto porca

este postal com uma imagem

meio lorca:

um bondinho aterrizando lá na urca

e esta cidade deitando água

em meus destroços

 

pois se o cristo redentor

deixasse a pedra

na certa nunca mais

rezaria padre nossos

e na certa só faria

poesia com os meus ossos




Artur Gomes

FULINAIMAGEM

NAÇÃO GOITACÁ

www.fulinaimargem.blogspot.com

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