ALGUMA POESIA
I
não bastaria a poesia deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a noite fria como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos
II
não bastaria a poesia cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador
III
não bastaria todo riso pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos
IV
não bastaria delirar Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e um cheiro de fêmea no ar devorador
aparentando realismo hiper-moderno
num corpo de anjo que não foi
meu deus quem fez
esse gosto de coisa do inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos
V
não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma
um tanto porca
este postal com uma imagem
meio lorca:
um bondinho aterrizando lá na urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo redentor
deixasse a pedra
na certa nunca mais
rezaria padre nossos
e na certa só faria
poesia com os meus ossos
FULINAIMAGEM
NAÇÃO GOITACÁ
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