indGesta
ê fome negra
incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus!
Brazílica Pereira
neste país de fogo e palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha
não me metam nestes planos
verdes amarelos
meus dentes vãos armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos
ó my brazyl
ainda em alto mar
cabral quando te viu
foi logo gritando
:
- Terra à vista!
de bandeja te entregando
pra união democrática ruralista
Torquato Neto re-visitado
por aqui nem só beleza
nestes dias de paupéria
nação de tanta riqueza
país de tanta miséria
já podeis
da pátria, ó filho
ver demente a mãe gentil
já raiou a liberdade
em cada cano de fuzil
Artur Gomes
Suor & Cio – 1985
Couro Cru & Carne Viva – 1987
Pátria A(r)mada – 2019
segunda edição em 2022
www.porradalirica.blogspot.com
FLORA
reluz em mim amor e Flora
que tal riqueza em luz aflora
clara evidência total menino
com tal beleza voz e destino
e se não fores mansa
é que virás do mar
e virás da mãe Flora lumiar
e virás da tarde e do amanhecer
e será tão linda ainda
vai saber :
se andei por folhas
foi pra te germinar
e deixar sementes
pra te alimentar
e se não fores Flora
é o que vou fazer
deste grão de vida
que estás pra nascer
CORAÇÃO
DE GALINHA
não sou tigresa
em tua cama
nem caviar em tua mesa
não sou mulher de fama
muito embora sempre tesa
não vim da boca do lixo
saí da ele do ovo
meu coração de galinha
virou orgasmo do povo
COITO
teu corpo é carne de manga
em meu pênis viril
enquanto sangra
quando beijo tua boca
enfurecido
rasgando por trás
o teu vestido
COR DA
PELE
África sou: raíz e raça
orgia pagã na pele do poema
couro em chagas que me sangra
alma satã na carne de Ipanema
o negro na pele
é só pirraça
de branco
na cara do sistema
no fundo é amor
que dou de graça
dou mais do que moça
no cinema
CARNE
PROIBIDA
o preço atual
proíbe
que me coma
mas pra ti
estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu
quem me ofereço
a ti
:
músculo e osso
leva-me à boca
e completa teu almoço
OFÍCIO
ponho minha gema
em tua blusa
para que pule
no teu peito
minha musa
toda tensão
de ter tua pele
em meu poema
PROFISSÃO
meu ofício é de poeta
pra rimar poema e blusa
e ficar em sua pele
pelo tempo em que me usa
Artur Gomes
Suor & Cio
MVPB Edições - 1985
Nenhum comentário:
Postar um comentário