sábado, 13 de novembro de 2021

ó my brazyl

 

                                              indGesta

 

ê fome negra

incessante

febre voraz gigante

ê terra de tanta cruz

onde se deu primeira  missa

índio rima com carniça

no pasto pros urubus!

 

 Brazílica Pereira

 

neste país de fogo e palha

se falta lenha na fornalha

uma mordaz língua não falha

cospe grosso na panela

da imperial tropicanalha

 

não me metam nestes planos

verdes amarelos

meus dentes vãos armados

nem foices nem martelos

meus dentes encarnados

alvos brancos belos

já estão desenganados

desta sopa de farelos

 

ó my brazyl

ainda em alto mar

cabral quando te viu

foi logo gritando

:

- Terra à vista!

 de bandeja te entregando

pra união democrática ruralista

 

Torquato Neto re-visitado

 

por aqui nem só beleza

nestes dias de paupéria

nação de tanta riqueza

país de tanta miséria

 

já podeis

da pátria, ó filho

ver demente a mãe gentil

já raiou a liberdade

em cada cano de fuzil

 

Artur Gomes

Suor & Cio – 1985

Couro Cru & Carne Viva – 1987

Pátria A(r)mada – 2019

segunda edição em 2022

www.porradalirica.blogspot.com


FLORA

 

reluz em mim amor e Flora

que tal riqueza em luz aflora

clara evidência total menino

com tal beleza voz e destino

 

e se não fores mansa

é que virás do mar

e virás da mãe Flora lumiar

e virás da tarde e do amanhecer

e será tão linda  ainda vai saber :

 

se andei por folhas

foi pra te germinar

e deixar sementes

pra te alimentar

 

e se não fores Flora

é o que vou fazer

deste grão de vida

que estás pra nascer

 

CORAÇÃO DE GALINHA

 

não sou tigresa

em tua cama

nem caviar em tua mesa

não sou mulher de fama

muito embora sempre tesa

 

não vim da boca do lixo

saí da ele do ovo

meu coração de galinha

virou orgasmo do povo



COITO

 

teu corpo é carne de manga

em meu pênis viril

enquanto sangra

quando beijo tua boca

                     enfurecido

rasgando por trás

o teu vestido

 

COR DA PELE

 

África sou: raíz e raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema

 

o negro na pele

é só pirraça

de branco

na cara do sistema

 

no  fundo é amor

que dou de graça

dou mais do que moça

no cinema

 

CARNE PROIBIDA

 

o preço atual

proíbe

que me coma

 

mas pra ti

estou de graça

pra ti

não tenho preço

 

sou eu

quem me ofereço

a ti

:

músculo e osso

 

leva-me à boca

e completa teu almoço

 

OFÍCIO

 

ponho minha gema

em tua blusa

para que pule

no teu peito

minha musa

toda tensão

de ter tua pele

em meu poema

 

PROFISSÃO

 

meu ofício é de poeta

pra rimar poema e blusa

e ficar em sua pele

pelo tempo em que me usa 

 

 Artur Gomes

Suor & Cio

MVPB Edições - 1985

www.suorecio.blogspot.com

 


 

Artur Gomes

FULINAIMAGEM

www.fulinaimargem.blogspot.com

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