atenção carnavalescos da Beija Flor e componentes da comissão julgadora
do Carnaval do Rio de Janeiro de 2013, uma leitura nesse poema do Eliakin
Rufino, seria fundamental pra vocês entenderem melhor o que é um Cavalo, que
nunca foi e nem nunca será um amigo fiel. O Cavalo nasce para o campo, livre de
qualquer cabresto ou cela, só se rende a dominação humana pelo chicote e pela
espora.
Cavalo Selvagem
eu sou cavalo selvagem
não sei do peso da sela
não tenho freio nos beiços
nem cabresto
nem marca de ferro quente
não tenho crina cortada
não sou bicho de curral
eu sou cavalo selvagem
meu pasto é campo sem fim
para mim não existe cerca
sigo somente o capim
eu sou cavalo selvagem
selvagem é minha alegria
de ser livre noite e dia
selvagem é só apelido
meu nome mesmo é cavalo
cavalo solto no pasto
veloz carreira que faço
lavrado todo atravesso
caminhos no campo eu traço
eu corro livre galope
transformo galope em verso
eu sou cavalo selvagem
sou garanhão neste campo
eu sou rebelde alazão
sou personagem de lendas
sou conversa nas fazendas
sou filho livre do chão
eu sou cavalo selvagem
meu mundo é a imensidão
Eliakin Rufino
In Cavalo Selvagem
VALER Editora
www.editoravaler.com.br
TRADUZIR-SE
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?
Ferreira Gullar
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
tempero sabre de fogo
na tua língua com coentro
qualquer paixão re/invento
o corpo/mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Artur Gomes
www.fulinaimargem.blogspot.com
foto: Brenda Sangi Fotografia
fulinaímica
não sei escrevo tanto
não sei se escrevo tenso
um fio elétrico suspenso
com tanta coisa no Ar
não sei se olho em teu olho
pra encontrar a entrada
da porta da tua casa
onde a palavra estiver
não sei se pinto um van gog
ou se escrevo um boudeler
a pétala da flor deságua
sobre a flor da tua pele
na correnteza desse rio
eu bebo tudo que revele
cada gota dessa água
na leveza do teu cio
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na cacomanga
matagal onde nasci
desde que resolvi abrir o meu baú de ossos da
memória, que algumas pessoas, que antes desfilavam por aqui como amigas, agora
fogem da página como diabo foge da cruz.
não escrevo para sacerdotes, escrevo para quem
vive em liberdade, e faz da liberdade o seu sentido maior de viver. não vivo
atras de portas/cortinas escondido embaixo de panos. a minha língua é explícita
linguagem voraz e sacana, aprendi com Oswald de Andrade, que humor, sarcasmo,
ironia, são armas mortais contra a hipocrisia.
Texto imperdível do saudoso Sérgio
Provisano que faço questão de postar aqui:
Caro Fernando Leite, Artur Gomes Gumes, o
famigerado Lady Gumes, cuja língua é uma faca de mil gumes, cuja Poesia corta a
carne da gente como um canto torto, vem com essa conversa (a)fiada, tentando
nos convencer que pintar o nu não era canibalizar o modelo, quando sabemos dos
seus verdadeiros instintos canibais, que extrapolam as fronteiras do
antropofagismo decantado na Semana de Arte Moderna, lá pelos idos de 1922,
quando nem nascidos éramos e da qual ele se considera o único e verdadeiro
herdeiro, mas vamos aos fatos, a real intenção à época era canibalizar o modelo
e, dizem as más línguas (e aí, nem que me torturem eu direi que a minha fonte é
Genilson Soares), tal canibalização ocorreu, no sentido bíblico, o que teria
quase causado uma tentativa de homicídio com fundo lavar a honra, mas são
fofocas, agora extemporâneas, que não cabem mais serem levantadas, afinal, tais
fatos aconteceram em 1989 e, foram questionados até num artigo escrito na
época, pelo atual ex-Secretário de Cultura Oravio De Campos Soares, enfim, eu
me calo para não ser chamado de fofoqueiro, pelos fofoqueiros de plantão,
dentre os quais, eu me incluo, é claro.
na foto com minha querida musa Hilda,no parque das ruínas, santa teresa - rio de janeiro - 2010
com os dentes
cravados na memória
em 1984 quando eu e césar castro colocamos fogo no
Palácio da Cultura, nada mais queríamos naquele momento do que mudanças nos
destinos da cidade. Passaram-se 4 anos e em 1998 o então prefeito Zezé Barbosa
não conseguiu eleger o seu sucessor Jorge Renato Pereira Pinto. Elegeu-se então
pela primeira vez o candidato do movimento Muda Campos, que todos sabem quem, e
infelizmente mudou-se para pior. Se hoje colocarmos novamente fogo no Palácio,
pode levar novamente 4 anos para mudar, mas que muda muda. O Patrono Oswaldo
Lima, de passagem pelo terreirão da Mocidade, disse que só fogo não adianta, ali
só uma bomba mesmo.
A Traição das
Metáforas
em Brazílica Pereira de Campos ex-dos Goytacazes
no presídio federal fluminense a rainha das artes cínicas Federika Bezerra
esfola um cordeiro a unha, e desafia Macabea a estrela que não sobe para uma
cena melodramática no pasto das oliveiras.
- Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de
Luís de Camões gosto de ser e de estar e quero me dedicar a criar confusões de
prosódia e uma profusão de paródias que encurtem dores e furtem cores como
camaleões (caetano veloso)
Zé do Burro carregava sua cruz misticamente
enquanto Rosa sua mulher adúltera prevaricava no terreiro dançando ao som dos
atabaques em louvor a Iansã.
Foi aí que Macabea deu o troço:
- não admito poeta no presídio fazendo filme pornô.
Mas enquanto falava seus olhos esbugalhados não
cansavam de olhar a Rosa gozando descaradamente da sua cara de santa do pau oco.
Pessoas fingem que vivem quando não gozam.
Federika não, goza da cara cínica do cordeiro sendo destrinchado no Banquete
Antropofágico em homenagem a Oswald de Andrade, na porta do Teatro Trianon,
enquanto o poeta pornô desflauda sua bandeira nua e crua descabaçando as flores
da rua espuma/esperma semeia e o corpo despido da prosa grafita na lua cheia.
Federico Baudelaire
o mestre sala dos mares nunca dantes navegado
Com os Dentes
Cravados na Memória
Voltando a década de 80, exatamente 1988 Sérgio
Provisano me lembra uma cena hilária Fernando Leite. Estávamos reunidos numa
tarde na sala de Oscar Wagner, pós expediente, para uma rodada costumeira de
queijos e vinhos, e Nilson Siqueira, o pintor Nilsinho Maluqinho noivo na época
de Dona Maria, além de Jeanzinho, tinha lá sua queda por Jô, nossa modelo
canibalizada.
Quando algumas garrafas de vinho já tinham sido
consumidas, Genilson tocou num assunto que Dona Maria não gostou e não perdeu
tempo, sentou a mão no Maluquinho, que deixou Nilsinho, com o pescoço torto até
hoje. E lembro-me que esta cena veio se repetir em 89 no verão do Farol, numa
linda noite de lua cheia, quando na Casa de Cultura, Dona Maria soube que
Nilsinho havia convidado Jô a nossa modelo canibalizada, para um jantar.
Na mesa do Bar de Zé Antonio, estávamos reunidos
já com algumas cervejas consumidas quando chegou Dona Maria e não perdeu tempo,
exemplou o Maluquinho novamente. Nesta noite estava conosco também desde 81, o
apelido que Gilson tinha colocado em uma das nossas musas da época,
frequentadora do Estudio 52, que vivia provocando delírios etílicos em Jorge
Teles nosso cinegrafista de plantão.
Artur Gomes Gumes