terça-feira, 30 de janeiro de 2024

o pantanal ainda sangra

 

            o pantanal ainda sangra

 

peixes ontem

comeram

pendrives

notbooks

e outras coisitas

mais

que tal família

sorrateiramente

cinicamente

descaradamente

lançou ao mar

              de Angra

 

Artur Gomes

O Homem Com A Flor Na Boca

Arte: Tchello d´Barros 

leia muito mais no blog

www.fulinaimagens.blogspot.com 

sábado, 27 de janeiro de 2024

múltiplas linguagens


para rúbia querubim

 

zeus do céu e do olimpo

que nos proteja

voltamos e agora

acho que é para ficar

quem um dia já foi ex

no outro pode ser atual

isso é normal

não há que se espantar

se foi zeus quem disse

santo algum pode negar

 

Artur Fulinaíma

https://fulinaimamultiprojetos.blogspot.com/


                 INVERNIA


Há um momento
em que o mundo se recolhe,
sequer ladram os cães.
Tudo se retira
e se desventra,
viver se torna concha
no abissal do estéril:
deixa de ser vidro o vidro,
deixa de cortar, a faca,
mimetizam-se as coisas
para se tornarem nulas:
não mais há musgo ou pedra,,
só o sintoma,
desritualiza, o mundo,
a agudeza do instante:
raça, instrumento, nome
se desmentem
com inconsistência
de sombra sobre a água:
tudo é instinto e espanto
nos descaminhos
do rigoroso,
tudo é inverno e cavidade
nas intimidades do mínimo:
não há face nem totem
nos recônditos do escuro,
viver é anonimato
a destruir o denso,
instante de amolar de lâminas
para sangrar silêncios,
carne do vibrátil
a render-se ao Imóvel. 

 

                                    Cleber Pacheco 



           Eu Poderia Estar Matando

 Armando Liguori Junior

 

Hoje pela manhã fui surpreendido pelas percepções em resenha do amigo Aliedson Lima publicadas em seu canal O NAVALHISTA. Agradeço muitíssimo o tempo dedicado a leitura do meu livro EU PODERIA ESTAR MATANDO - Desconcertos Editora e por ter compartilhado comigo e com seus seguidores estas percepções. Grande abraço.

 

o navalhista

“O inferno são os outros” é provavelmente uma das frases mais difundidas do filósofo Jean-Paul Sartre. A poeta portuguesa Adília Lopes reitera a sentença sartreana em um dos seus poemas e a completa: “mas o Céu/ também”. E esse “outro” é o Inferno/Céu que Armando Liguori Junior trabalha do primeiro ao último poema no livro “Eu poderia estar matando” (Desconcertos Editora @desconcertoseditora , 2022).

O livro é um exercício de intropatia. De um humanismo inquietante. Os versos refletem sobre as distâncias entre o “eu” e o “outro”. “Entre nós o abismo” é o título de um poema em que Liguori explicita esse esforço: “Estico o cabo de aço/ E deslizo até chegar/ Onde você está”. Em cada poema, o poeta vai até as últimas consequências nesse esforço de Sísifo.

 É claro, chegando no “outro” também nos deparamos com o Inferno. Enquanto “máquinas que desejam”, constituídas por um Eu “Biologicamente inacabado. Historicamente repetitivo. Definitivamente previsível. Necessariamente adaptável...” somos nosso inferno. É inegável. (Pensando aqui nas duas guerras de nossos dias, já repararam que hoje mal nos comovemos quando vemos notícias de que mais corpos foram empilhados em tal lugar...?)

 Um rápido comentário sobre a poética de Liguori: o título de cada poema já é em si o primeiro verso. Gosto da ideia. Dá fluidez e nos poupa daqueles títulos que só quem escreveu sabe a relação que tem com o resto do poema – quando o livro não propõe a reflexão acerca de um único tema, tudo bem. Do contrário, dá uma quebra de ritmo irritante. Não acontece aqui. Se o título do livro é “Vivemos um mesmo tempo:” seu primeiro verso é “o de todos”.

Em um mundo em que se colocar no lugar no outro é cada dia mais difícil, “Eu poderia estar matando” é um lembrete de que não podemos ignorar a mensagem de Adília Lopes: também há Céu no outro. Talvez seja essa a mensagem do livro de Armando Liguori Junior.




REFRAÇÃO

Da transparência,
o vidro sabe
o sólido;
a água, o líquido;
a luz,
tudo o que transtorna:
debulhar do avesso
em cartilagens de gelo,
afiar do translúcido
na desintoxicação do fixo:
copo e água
em limo e lume
no desentranhar
do que foge às córneas:
interpenetração do incolor
a acender o que incinera:
manto a desnudar
anonimato e batismo,
invenção do inerente
a inverter o íntimo. 

 

Cleber Pacheco

 

POESIA XXV

 

Vejo que atravessas tua infantaria

em minhas águas turvas (sobre este

manso amar que já foi Saara): tua

vegetação simbólica.

Vejo que transitas

entre espelhos cegos

e anjos rapaces (o que fazer

com esse altar de hipócritas santificados?).

Estás acampada nos pássaros,

com tua boca de hipérbole, face

ao azul virulento

 

                                     e os anônimos

 

sem nome.

E sou o que te banha

entre os rebanhos, nesta

escrita de plasma; nesta caligem

do verbo purificador.

Então, deixo-te aqui estas palavras

sujas de pólen. Como se amar

fosse morrer.

 

Salgado Maranhão 

na foto: - um encontro nosso na 7ª Feria do Livro de São Luis - Maranhão  - 2012


                               OSWALD DE ANDRADE

 Fragmento do texto “Uma poética da radicalidade”, de Haroldo de Campos

”Qual a linguagem literária vigente quando se aprontou e desfechou a revolução poética oswaldiana?

 O Brasil intelectual das primeiras décadas deste século [o texto é do século passado], em torno à Semana de 22, era ainda um Brasil trabalhado pelos ‘mitos do bem dizer’ (Mário da Silva Brito), no qual imperava o ‘patriotismo ornamental’ (Antonio Cândido), da retórica tribunícia, contraparte de um regime oligárquico-patriarcal, que persiste República adentro. Rui Barbosa, “a águia de Haia”; Coelho Neto, “o último heleno”; Olavo Bilac, ‘o príncipe dos poetas’, eram os deuses incontestes de um Olimpo oficial, no qual o Pégaso parnasiano arrastava seu pesado caparazão metrificante e a riqueza vocabular (entendida num sentido meramente cumulativo) era uma espécie de termômetro da consciência ‘ilustrada’.

 Evidentemente que a linguagem literária funcionava, nesse contexto, como um jargão de casta, um diploma de nobiliarquia intelectual: entre a linguagem escrita com pruridos de escorreição pelos convivas do festim literário e a linguagem desleixadamente falada pelo povo (mormente em São Paulo, para onde acudiam as correntes migratórias com as suas deformações orais peculiares), rasgava-se um abismo aparentemente intransponível.

 A poesia ‘pau-brasil’ de Oswald de Andrade representou, como é fácil de imaginar, uma guinada de cento e oitenta graus nesses status quo, onde – a expressão é do próprio Oswald de Andrade – ‘os valores estáveis da mais atrasada literatura do mundo, impediam qualquer renovação’. Repôs tudo em questão em matéria de poesia e, sendo radical na linguagem, foi encontrar, na ponta de sua perfuratriz dos estratos sedimentados da convenção, a inquietação do homem brasileiro novo, que se forjava falando uma língua sacudida pela ‘contribuição milionária de todos os erros’ num país que iniciava – precisamente em São Paulo –um processo de industrialização que lhe acarretaria fundas repercussões estruturais.

 ‘Se procurarmos a explicação do por que o fenômeno modernista se processou em São Paulo e não em qualquer outra parte do Brasil, veremos que ele foi uma consequência da nossa mentalidade industrial.

 São Paulo era de há muito batido por todos os ventos da cultura. Não só a economia cafeeira promovia os recursos, mas a indústria com a sua ansiedade do novo, a sua estimulação do progresso, fazia com que a competição invadisse todos os campos de atividade.’ É o retrospecto de Oswald em 1954.”




Jura secreta 1 

a língua escava entre os dentes 
a palavra nova 
fulinaimânica/sagarínica 
algumas vezes muito prosa 
outras vezes muito cínica 

tudo o que quero conhecer: 
a pele do teu nome 
a segunda pele o sobrenome 
no que posso no que quero 

a pele em flor a flor da pele 
a palavra dandi em corpo nua 
a língua em fogo a língua crua 
a língua nova a língua lua 

fulinaímica/sagaranagem 
palavra texto palavra imagem 
quando no céu da tua boca 
a língua viva se transmuta na viagem 

 

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

Leia mais no blog https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/



Feliz aniversário, São Paulo, onde vivi minha infância e também o melhor da adolescência. Saudade 

Maria Marta Nardi

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a Liberdade
Saudade…

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade…

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

In Lira Paulistana, Mário de Andrade, Quando eu morrer. 


 

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.

Pablo Neruda


Não se mede a idade
pelos anos.
Cada um tem a idade
do seu coração,
dos sabores e dissabores,
das alegrias e tristezas,
da sua experiência
de vida, da sua fé,
e disposição para vivê-la.

George Sand (1804-1876) 

via Renata Maria Parreira Cordeiro - 


 
“Ya no hay tiempo, ya no hay nada distancia. Hay ya solo realidad. Lo que fue, ¡fue para siempre!” #FridaKahlo

.
(Archivo Isolda P. Kahlo, México)



Duplo sentido
*
Hamilton Ramos Afonso
*
Se algum dia te deixares aprisionar por um sorriso ,
não faças prisão dos teus lábios
por apenas um beijo...

Sorriso e beijo
que sirvam para te libertar a alma
e a mesma se junte ,
sem cadeias
à alma do sorriso e do beijo
que te prenderam
*
Arte: Manuela Rughetti.. 


“Apaixonada,
saquei minha arma,
minha alma,
minha calma,
só você não sacou nada.”

Ana Cristina Cesar


Daniel Costa-Lourenço
*
Quando finalmente adormecer,
Será na tarde que chegará solta, indolente, de pés descalços
(sobre a relva,
De lábios doces por experimentar,
Sem vestígios de nós os dois e todo o mundo, sedutor,
Num abraço de juramento, de corpos estendidos e mãos
(tateando o espaço perfumado de fruta fresca.
É domingo, és tu o jardim secreto desenhado a sonhos,
Que não chegam mas torturam o lusco-fusco dos meus
(olhos,
Semi-cerrados, inquietos, ansiosos.
És mais música, menos poema, voz de toda a insolência.
Uma consolação aguardada, evidente e íntima,
Um desejo indomável que não deixa vestígio visível nem
(sopro morno sobre a pele.
Acorda-me.
Estes não são dias como os outros e quando ceder ao
(pôr-do-sol,
Tudo desaparecerá sobre o silêncio de uma floresta
(aguardando o fogo.
Mas tu não. Tu ficas.
Tu ficas e guardas o sol para quando eu não quiser
mais chuva.
*
*
Arte: Lauri Blankie 


INVENTEI O AMOR

Haverá um dia em que virás para mim, como uma flor que foge do jardim, na pressa sedutora da paixão, de peito destapado e belo a espreitar pelo decote singelo do teu vestido amarelo, desafiando a calma dos deuses com a beleza encantadora dos teus sorrisos sedutores, como se tu fosses dona de todos os amores!

Desde aquela noite em que partiste, enquanto todos dormiam e deixaste em mim apenas as memórias raras do teu perfume de flores frescas como as manhãs soalheiras de primavera, que te espero com as mãos abertas e ainda cheias do fogo da tua pele maravilhosa para te queimar como um vulcão e marcar eternamente o teu coração!

E até chegar esse dia desejado do futuro, tu serás tudo o que eu procuro para te inundar o olhar com um brilho de pedras preciosas e te morder o ouvido com a luxúria das palavras langorosas, e então tomo o teu corpo com ardor, convencido que todos os deuses estão mortos e que fui eu mesmo que inventei o amor!

Diogo Alves


Valdir Rocha 

VICIADOS EM SOLIDÃO

 

você não vai conseguir

por muito tempo

empurrar a vida

com a fumaça do seu cigarro

eu não vou conseguir

por muito tempo

driblar a morte

com as taças vermelhas

do meu bordeaux

nós não vamos

por muito tempo

enganar a sorte

alimentando os vícios

da nossa solidão

 

Jovino Machado 


PERIPÉCIA OU O INESPERADO DE UMA ALMA CANÇADA –

Por debaixo da couraça
Esculpida no cotidiano
Um toque na janela
Desperta o voo de uma brisa
Sonhando estrelas

Dentre os escombros
De um ser atingido
Pelas granadas do existir
Uma semente de rosa
Insiste em brotar

Em meio às lágrimas
Descendo as pedras da face
Endurecidas pelo furor
De um passado nem tão longínquo
Os lábios desenham um sorriso

Enquanto o coração
Essa máquina de moer sentimentos
Inventa uma taquicardia
E coloca todo o corpo em alerta
Para uma possível esperança

E no fim do túnel
Ou do outro lado do arco-iris
Um menino caminha descalço
Acreditando que ainda é tempo
Para novos sonhos

 

Wilson Coêlho



ramagem

rima com pilantragem? 


Live em homenagem a Antônio Cícero

Sarau Cultural A Vitória com Você Dia 22 - novembro - 19h Local: CDL - Av. 7 de setembro, 274 Campos dos Goytacazes-RJ música teat...