domingo, 24 de abril de 2022

pássaros elétricos vivem a vida por um fio


overdose nu vermelho

 

retesar as cores

e os músculos

com os dentes agarrados no pincel

 

se faltar carne

para roçar os óvulos

a gente jorra tinta no papel



tropicalha

 

VENDO a lua leviana

no império das bananas

 

papagaios periquitos

graviolas

 

a fruta eu chupo morena

semente eu plano cigana

 

na selva pernambucana

nossa língua deita e rola

 

Artur Gomes

Couro Cru & Carne Viva- 1987

www.suorecio.blogspot.com



poesia

saudade dessa moça bonita

                           na fotografia

 

Artur Fulinaíma

www.arturfulinaima.blogspot.com




a travessia vou fazendo

no inverso

entre os lábios da tua boca

e as letras do teu verso

 

além de tudo meu olho foca

meu olho toca meu olho vê

tudo aquilo que você não lê

 

Rúbia Querubim

www.porradalirica.blogspot.com




                                                 o cu do mundo onde fica?

minha língua afiada

onde enfiá-la?

fulinaimagem

metáfora nua na janela

meter a língua na linguagem dela

 

despir a musa

rasgar o vestido

a calça a blusa

despetalá-la

deixá-la lua

em carne viva nua e crua

 

palácio do planalto alvorada

o cu profundo o submundo

cu do boi

de um país que foi

 

contei duas estrelas

do outro lado do muro

uma era baudelaire

a outra luiz melodia

se eu fosse zeca baleiro

bolero blues cantaria

 

Artur Gomes

www.fulinaimagembaudelerico.blogspot.com




A poesia liberada de Artur Gomes

Por Uilcon Pereira

Leia mais no blog

www.fulinaimacentrodearte.blogspot.com




A

travessia no inverso do meu tempo

sem lenço sem documento

janelas abertas ao vento

 

o poema freudelérico

não tem nada de pessoa

na vitrola rola um demônios da garoa

e o poema mete a língua

no avesso da linguagem

rasga os tecidos da mortalha

assombrado com o verbo desemprego

afia ainda mais a carnavalha

com sua faca de dois gumes

no descompasso do desassossego

 

Federico Baudelaire

www.personasarturianas.blospot.com




Mostra Cine Vídeo Curtas

Cinema Ambiental – Inscrições abertas

Veja aqui https://centrodeartefulinaima.blogspot.com/2022/04/mostra-cine-curtas-cinema-ambiental.html

Mais  Informações pelo e-mail fulinaima@gmail.com

 catadores de marisco

filmado em Guarapari

com trilha sonora de Madan

sobre poema de Haroldo de Campos

FULINAÍMA MultriProjetos

Direção: Artur Gomes

https://www.facebook.com/studiofulinaima/videos/1353003141461269/?hc_ref=PAGES_TIMELINE

 

 


 ENCOBRIMENTO - Wilson Coêlho

 

Naquele 22 de abril se inaugura, deitando

raízes na até então, virgem

terra de homens livres, a era

da chamada modernidade.

 

Descoberta de outro rincão, onde

plantar domínio, pelas poderosas

graças do deus cristão, arcabuzes

ferro e fogo.

 

Na batizada Pau-Brasil, o outro

não existia como alteridade, apenas

como uma extensão, européia

em si mesma.

 

Paraíso de mulheres nuas, possíveis

escravos, ouro e prata, abundantes

para o sustendo da Coroa Real, portuguesa

e divina como a Santa Igreja.

 

Era o caminho das Índias, dizia a bússola

conselheira dos perdidos do mar, cartográficas

e sobretudo sagradas, escrituras.

 

522 anos se passaram, e nada se passou

a limpo, no itinerário das bandeiras

dos bandeirantes que, até hoje, em nossos

quintais fincam seus mastros e definem

posses sobre as cabeças dos despossuídos.

 

Wilson Coêlho


Os bichos e os homens

para Márcio Faraco

 

Parte de nós anda a mugir

triste quando mastiga

o capim contaminado

o milho podre da espiga.

 

Outra segue relinchando

na calmaria das rédeas

a dor da espora, seu lanho

na caminhada de léguas.

 

mas nada mais me comove

que o balido lacrimoso

de meninos e meninas

sobre o campo calcinado

de um futuro que se finda

e nem bem foi começado.

 

Você não vê, sequer percebe

que raramente me engano

quando digo, pesaroso,

que a alegria do rebanho

é quando o lobo medonho

come a ovelha do lado.

 

Parte de nós ajoelha e reza

pondera o cão e o gatilho

mas abençoa o disparo

em nome do pai e do filho.

 

Outra se esconde e faz prece

foge assoprando o rastilho

que queima e lhe persegue

sempre esperando o estampido.

 

Há os que somos rescaldo

daquilo que não mais serve

seguimos estupefatos

minada a nossa verve

pois vemos que a alegria

do rebanho é quando o lobo

nos vendo assim de soslaio

nos deixa pra outro dia

e come a ovelha do lado.

 

Leonardo Almeida Filho

 13 abril 2022




Fulinaíma MultiProjetos

www.centrodeartefulinaima.blogspot.com

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