fotos: Letícia Rocha –
na Geleia Geral Revirando A
Tropicália – 3ª edição
- com Micaela
Albertini – FlorBela
10 de setembro – SESC Piracicaba-SP
13 de setembro – Patuskada –
São Paulo-SP
30 de setembro – Santa Paciência
– Casa Criativa – Campos ex-dos Goytacazes-RJ
TRÊS
TOQUES PARA PENETRAR NA NOITE ESCURA DESTA
PÁTRIA
A(R)MADA
1
Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras
apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na
própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos
ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O
CD Fulinaíma – Sax, Blues Poesia, que gravou em parceria com os músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro,
Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste terceiro milênio, é uma das
experiências mais bem-sucedidas da fusão entre poesia oralizada e música: os
versos lancinantes surgem como navalhas de corte preciso entre os blues,
bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas também cortam a pele do
ouvinte.
Há delícia e dor em sua poética. Uma delícia sensual, sexual, que se explicita
em versos como “poderia abrir teu corpo / com os meus dentes / rasgar panos e
sedas // com as unhas /arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós // da
tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis”. Há dor por
uma terra prometida e sempre adiada, “por uma bandeira arriada / num país que
não levanta”. É nesse espaço entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua
voz e emite seus brasões em alto e bom salto, a plenos pulmões: “eu não tenho
pretensões de ser moderno / nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja
bem na minha língua as labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força
de quem xinga”.
2
Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes
vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no
trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem
que vai de Arnaut Daniel a Zé Limeira e passa por Oswald de Andrade, Torquato
Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.
Cada poeta inventa também o território mítico onde mergulha sua poesia e sua
própria vida. Alguns de maneira explícita, outros, mais velada. Há muitos anos
surge na poesia de Artur o termo “Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que
perpassa livros, sobe aos palcos, atravessa as faixas do CD. Seria um território
de folias macunaímicas, uma terra de prazeres e ócios criativos, avessa ao
eterno passado colonial que não conseguimos nunca superar, como o fantasma de
antigos engenhos em que a “usina / mói a cana / o caldo e o bagaço // usina /
mói o braço / a carne o osso // usina / mói o sangue / a fruta e o caroço //
tritura suga torce / dos pés até o pescoço”?
3
Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas,
reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não
vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar
Cazuza, outro bardo pertencente a mesma tribo. Quem acompanha sua trajetória
errante e anárquica provavelmente vai identificar neste livro poemas já
publicados em outros – porém, com modificações de tonalidades, de timbres, de
intenções.
Se não é despropositado pensar que Dante
Alighieri enxertou em sua Divina Comédia inúmeras desavenças políticas, sociais
e culturais de sua época e mandou para o inferno pencas de seus inimigos florentinos,
é interessante perceber este Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste
Brasil que retrocedeu décadas depois do golpe político-jurídico-midiático
deflagrado em 2016. Esses tempos passarão, é certo, mas este livro ficará –
como um potente desconforto, um desajuste, um desconcerto desse mundo cão e
chão. Se vale como trágica profecia – ao modo do cego Tirésias –, após um breve
período de sonhos que mais uma vez não se cumpriram, os olhos abertos desses
versos ecoarão
nos ouvidos de muitos e cortarão a
carne de tantos: “ó, baby, a coisa por aqui não mudou nada / embora sejam
outras siglas no emblema / espada continua a ser espada / poema continua a ser
poema”.
Ademir Assunção – poeta, escritor, jornalista e letrista de música brasileira. Autor de livros
de poesia, ficção e jornalismo, venceu o Prêmio Jabuti 2013 com A voz do Ventríloquo (Melhor
Livro de Poesia do ano). Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o
inglês, espanhol e alemão, e publicados em livros e revistas na Argentina,
México, Peru e EUA.
Itabapoana Pedra Pássaro
uma metáfora
não é apenas uma metáfora
quando a pedra é pássaro
em Gargaú
às 5 horas da tarde
as garças voam
em direção
ao outro lado da pedra
em Guaxindiba
tenho em mim
que pássaros voam
peixes nadam
quando procuram
outro pouso
Bracutaia
eterna lenda
estanho pássaro
da pedra ouviu o grito
de voou
de Gargaú pro infinito
Artur Gomes
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https://porradalirica.blogspot.com/
Tenho Sede
Traga-me um copo d'água, tenho sede
E essa sede pode me matar
Minha garganta pede um pouco d'água
E os meus olhos pedem teu olhar
A planta pede chuva quando quer brotar
O céu logo escurece quando vai chover
Meu coração só pede teu amor
Se não me deres, posso até morrer
Clique no link para ouvir e ver o vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=xsPAl-cZ0VA
Fulinaíma MultiProjetos
22 – 99815-1268 – whatsapp
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