qualquer noite dessas quero estar em Santa Teresa olhando a lua nova até que se transforme em lua cheia volta e meia dá saudade de um janeiro de dois mil e dez que dá até coceira na sola dos pés vontade de caminhar pelas ruelas rever os trilhos as trilhas tantas por onde um dia revivi teu coração azul passeia por aqui como passarinho mexe com o meu em desalinho e vai pousar em outro ninho teu coração azul é bandeirinha de volpi enfeitando o meu presente atemporal
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar
palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de
milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não
dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada
capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
Artur Gomes
https://fulinaimargem.blogspot.com/
CONTRABELLUM PERENNIS
Olá, ditadores de todo o mundo,
desuní-vos! Servi-vos à vontade
mas não despejeis sobre nós!
Augusto de Campos.
REITERAÇÕES
SOBRE UM TEMA
o vento no canavial
as bandeirinhas de Volpi
os leões que Hokusai desenhou todos os dias
por 219 dias até morrer
a forma não se atinge nunca
na reiteração das coisas no tempo
as coisas – elas mesmas
são outras e tu
outro és
e o café as camisas brancas o assoalho da casa,
o qual pisaste e tornarás a pisar,
numa configuração nunca idêntica,
porque a madeira desbota e teus cabelos vão a cinza
viver – eis a fissura
é estar inacabado até o fim
Laís Araruna de
Aquino
MUDEZ
A voz se cala
diante do muro
: intransponíveis palavras
rastejando inutilmente
na garganta gasta.
[não há linguagem que supere
o esplendor daquela que canta
ao abrir e fechar de algumas asas]
Nic Cardeal
02.03.2024
Sarau Campos
VeraCidade
Dia 15 de Março 19h –
Abertura – leitura do poema Cidade de Prata
Tavares – por Artur Gomes
Participações:
mesa de bete-papo:
Sylvia Paes + Fernando Rossi + Carol Poesia +
Ronaldo Junior
poesia:
Clara Abreu + Jonas Menezes + Valdiney Mendes +
Marcelo Perez + Maria Carla
música:
Thais Fajardo + Arnaldo Zeus + Reubes Pess
teatro infantil:
Grupo GOTA
Reciclar Pode Ser Uma Festa
direção:
Simone Jardim
contação de estória
: Onalita Tavares Benvindo
produção:
Artur Gomes e Clara Abreu
direção: Artur Gomes
local: Palácio da Cultura – Campos dos
Goytacazes-RJ
Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo
Lima - Prefeitura de Campos
Campos Veracidade
https://fulinaimacarnavalhagumes.blogspot.com/
Realização: Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima – Prefeitura de Campos Uma Nova História
NÃO HÁ PAREDES
MIGRANDO NA TUA AUSÊNCIA
Quando arranquei
teus olhos da parede
perdi as unhas.
Perdi o olfato
arranhando memórias
do teu cheiro.
Perdi a pele dos dedos
e senti os ossos raspando
janelas insensatas.
Já havia perdido a razão
exata de todas as certezas.
Era dor, mas
também libertação.
O cerco do teu olhar
vigiava a minha sede.
Dedos sem carne
alguma. Coração
fugindo pela boca.
Coloquei teus olhos
sobre a mesa e decidi
guardá-los na distância.
Não furei as pálpebras
nem salguei a íris.
Deixei as lágrimas
secando na sombra
solene dos dias...
Mirei de frente aquele
imenso desapego.
Fiquei só.
Sem unhas, sem a pele
descarnada dos dedos.
Falanges esquecidas
sem o sangue apodrecido
da despedida...
Lau
Siqueira
— em João Pessoa, Paraíba.
CÂNTICO PARA ENLOUQUECER CRISTO
Corpos sem órgãos, corpos órfãos, rostos - ganhos?
com orifícios, organismos.
Integrados - imigrantes, corpos nômades, corpos
padres, sem prédios,
eus esquizoides[w1] , maquinário inédito soltando gases, metais
pesados,
corpos passarelas-viadutos, linhas de fuga.
A sílaba sibilou lá
perto da preposição de cá
sibilina, bailarina, Lacan
lamparina consoantes, luzes caatingas
onde não há mais fonte, onde não mais grito
questões de regência, restingas,
bonde das palavras ônibus de interjeições, gritando
a este estado de clamor - pronomes normativos
a manifestação dos pontos com barricadas e
travessões
a fraseologia clama ideias
todas juntas formam clamores
perante uma oração que ainda existe, Deus ?
gentios, pagãos, slogans
as palavras estão com seus sinais trocados?
aqui não precisamos de heróis, ainda não.
Casa Vazia
um monge nervoso
porque esqueceu
a chave de casa
catalogou algumas
palavras em ordem
de preferência 1 aflito 2 conflito 3 reflito 4 ação
refletida
Casa vazia - olhar a casa como se não estivesse
dentro
o monge depois da aflição
se viu numa zona de conflagração
meditou, meditou, meditou
e viu que a casa é vazia,
pois ele não tinha casa,
morava num mosteiro.
Fernando Andrade
Purpurina
“Eu vou
te jogar num pano de guardar confetes”.
Zé Ramalho
Os dias
passam e ainda
esses
pequenos pontos brilhantes, esses
que
insistem em esconder-se
nas dobras dos joelhos
sobre o silêncio das espáduas
no pescoço e em pontos remotos
das
curvas do meu corpo.
Tomo
outro banho
Que se
esvaiam as lembranças
que eu
não quero mais você
há
tantos carnavais
esses
pontos luminosos
estrelinhas que insistem em me lembrar
das
coisas sem nome certo ou endereço
A memória, valsa cheia de tropeços
Tentativas,
ato falho
promessas ao avesso, juras ao vento
e ilusão passageira persistem
como tatuagens secretas no corpo
Terei
te esquecido
quando
eu finalmente lavar
o
carnaval do meu rosto...?
Marcela Giannini
A MULHER QUE MATOU OS PEIXES
nada
sabia das ilhas japonesas,
de suas cachoeiras, rios e cascatas;
nunca reparou na beleza ondulante
dos pequenos dragões vermelhos
brancos, amarelos, prateados
nem viu as “imagens do mundo flutuante”
pintadas em gravuras de madeira coloridas
nem as pipas em formato de peixe
hasteadas por meninos em dias festivos;
a mulher que matou os peixes
nada sabia sobre as antigas histórias
que as avós japonesas contavam aos netos:
que as carpas nadavam contra a correnteza
saltavam cascatas e até mesmo montanhas
para depositarem os seus ovos
e por isso dizia-se que eram dragões.
Não, a néscia nada sabia dessas histórias
e mesmo que soubesse, não faria diferença:
ela só queria roubar as pequenas moedas
jogadas por turistas no lago do Palácio.
Cláudio Daniel
Arte:
Tsukioka Yoshitoshi
Escrever tem
sido um esforço.
A vida parece que exige mais do que posso oferecer.
Não há tempo.
Corre, menina, corre!
Tic, tac, tic, tac…
45 anos
Tic, tac, tic, tac…
As contas
Tic tac…
Filhas
Tic tac…
Aula de teatro
Aula de balé
Aula de música
Aula de cerâmica
Não dá tempo!
Corre, menina!
Reunião às 14h
Corre!
Cirurgia marcada!
Exames adicionais:
Ultra
Sangue
Put@
Corre!
Não dá tempo!
Saber das notícias do mundo…
Mãe, estou doente
Remédio$
Faz um purezinho para mim?
Corre!
Coloca o sapato! Olha a hora!
Não cabe, mãe.
Vai de sandália!
Quando sair do trabalho, compro outro
Tic , tac…
Filha, passa no mercado?
Seu pai não está bem.
Não dá tempo!
Leia um livro, para expandir os conhecimentos
Corre!
Você precisa se cuidar, fazer uma atividade física
Quando sair do trabalho
Tic, tac, tic, tac…
Passo no mercado e compro o sapato
Corre!
Mãe! Mãe!
Estou com medo
Não me solta, dorme comigo?
Tic, tac, tic, tac…
Amanhã, depois que sair do trabalho, passo no
mercado, compro o sapato, marco o médico
faço os exames, pego na escola, levo ao parquinho,
faço purê, compro os remédios, abasteço o carro, troco o óleo…
5 minutos para o beijo de namoro virtual
-te amo!
Enquanto dirijo, entro na reunião,
faço boxe ou musculação e durmo contigo, filha.
Corre, menina! Corre!
Tic, tac, tic, tac…
Escreva, não pare de escrever!
Você precisa goz@r. Tesaum, sabe?
Não dá tempo!
Durmo?
Flávia Gomes
*
agora
agora, quero ficar sozinha
tocar o coração e beijá-lo
quero um escuro para iluminar os
olhos
vá embora
procure um lugar quieto
de longe os pensamentos se falam
não é magia
é física
talvez não seja física
nem linguagem
é segredo
agora confesso :
vamos juntos se um habita o poema do
outro
ou o inferno.
Márcia Maranhão de Conti
@marciadeconti
Afetos
Forasteiros
Imagens salvas
choro minguado
doces bolores
de cortinas fechadas
abraços em ombros nus
silêncios assombrados
soluços contidos como
o gotejar de folhas verdes
"belo como todos os registros de lucidez e
loucura"
preces de amores amanhecidos
peles retalhadas
olfatos terrestres
risos do céu
canduras de estrumes
rasgos de poetas
suicídio de emoções acopladas
febril cavalgada em crisântemos roxos
soluços derrubados
evocação do sofrimento
convulsão da dor
malfeitores do amor
amputação do ser!
Luiza Silva Oliveira
feitiçarias de Artur Gomes - por
Michèle Sato
Difícil iniciar um prefácio para abordar
feitiçarias de um grande mestre. A mágica aparição do texto transborda sentidos
cósmicos, como se um feixe de luz penetrasse em um túnel escuro dando-lhe o
sorver da vida. Diariamente, recebo um deserto imenso de poemas e a leitura se
esvai com “batatinha quando nasce põe a mão no coração”. Um
ou outro me chama a atenção, desde que sou do chamado “mundo das ciências” e
leio poemas com coração, mas inevitavelmente aguçado pelo olhar crítico vindo
do cérebro.
A academia pode ser engessada, mas é,
sobremaneira, exigente. Aplaude o inédito, reconhecendo que o poema é um caos
antes de ser exteriorizado, mas harmônico, quando enfeitiçado. A leitura requer
algo como canto do vento, que não seja fugaz, mas que acaricie no assopro da
Terra. Por isso, é com satisfação que inicio este pequeno texto, sem nenhuma
pretensão de esgotar o talento do grande mestre, mas responder aos poemas de Artur que brilham, soltam faíscas,
incendeiam-se em erotismo e garras enigmáticas. Ele transcende regras, inventa
palavras, enlouquece verbos. E as relações estabelecidas revelam a desordem dos
sonhos na concretude harmônica de suas palavras.
A aventura erótica não se despede de seu olhar
político. Situado fenomenologicamente no mundo, e transverso nele, Artur profana o sagrado com suas
invenções transgressoras. Reinventa a magia e decreta uma nova vida para que o
mundo não seja habitado somente pelos imbecis. Dança no universo, com a palavra
fluída, imprevistos pitorescos, mordidas e grunhidos. Reaparece no meio de um
cacto espinhoso, mas é absurdamente capaz de ofertar a beleza da flor.
Contemporâneo e primitivo se aliam, vencem os abismos como se ao comerem as
palavras monótonas, pudessem renascer por meio da antropofagia infinita de barulhos
e silêncios. O sangue coagulado jorra, as cavernas se dissolvem e é provável
que poucos compreendam a beleza que daí se origina.
Nos labirintos de suas palavras, resplandece o
guerreiro devorador, embriagado, quase descendo ao seu próprio inferno. Emana
seu fogo, na ardência de sexo e simultaneamente na carícia do amor. Pedras
frias se aquecem, coram com o tom devasso que colore a mais bela das
pornofonias. Marquês de Sade sente inveja por não ser o único déspota das
palavras sensuais. E os poemas de Artur
reflorescem, exalam odor como desejos secretos e risos que ecoam no
infinito.
não fosse
essa alga queimando em tua coxa ou se fosse e já soubesse mar o nome do teu
macho o amor em ti consumiria (jura
secreta 5)
De repente um cavalo selvagem cavalga na relva
úmida, como se o orvalho da manhã pudesse revelar o fogo roubado das pinturas
rupestres. Ao som de tambores, suas palavras se tornam arte em si, como se
fossem desenhos projetados em um fantástico mundo vertiginoso. Seres encantados
surgem das águas originários de sentimento, abraçadas nas pedras lisas,
rugosas, esverdeadas da terra. O fogo dança em vulcões e a metamorfose é
percebida em seus ares. Os elementos se definem como bestas, humanos, ou
segmentos da natureza como uma orquestra sinfônica que vai além da sonoridade.
Adentram sentidos polissêmicos e, neste momento, até o André Breton percebe o significado das palavras de Artur, pois a beleza é convulsiva e
crava no peito feito cicatriz.
e o que
não soubesse do que foi escrito está cravado em nós como cicatriz no corte (jura secreta 10)
Da violação do limite, do fruto proibido ou da
linguagem erótica, os poemas de Artur são orgasmos literários que oscilam entre
o sacro e o profano. Sua cultura, visão de mundo e inteligência possibilitam ir
além da pura emoção sentimental, evocando a liberdade para que a terra
asfixiada grite pela esperança. Artur
comunga com outros seres a solidariedade da Terra, ainda que por vezes, seja
devastador em denunciar disparidades, mas é habilidoso em anunciar acalentos. A
palavra poética desfruta fronteiras, e Roland
Barthes diria que a história de Artur
é o seu tributo apaixonado que ele presta ao mundo para com ele se conciliar.
Em sua linguagem explosiva, provavelmente está a intensidade de sua paixão - um
amor perverso o suficiente para viciar em suas palavras, mas delicado o
bastante para dar gênese ao mundo enfeitiçado pela habilidade de sua
linguagem.
A essência deste perfume parece estar refletida
num espelho, pois se as linguagens podem incluir também o silêncio, as palavras
de Artur soam como uma melodia.
Projetada numa tela, a pintura erótica torna-se sublime e para além de
escrevê-las, ele vive suas linguagens. Esta talvez seja a diferença de Artur com tantos outros poetas: a sua
capacidade de transcender a tradição medíocre para viver um intenso de mistério
de sua poética. Ele não duvida de suas palavras, nem as censura para não
quebrar seu encanto, mas devora em seu ser na imaginação e no poder de sua
criação. Criador e criatura se misturam, zombam da vida, gargalham da
obviedade. Põem-se em movimento na dança estrelas que iluminam a palavra.
Os fragmentos poéticos são misteriosos de
propósito, uma cortina mal fechada assinala que o palco pode ser visto, porém
não em sua totalidade. Disso resulta a sedução para que ele continue
escrevendo, numa manifestação enigmática do poder surrealista em nos alertar
sobre nossas incompletudes fenomenológicas. O imperfeito é o sentido da
fascinação, diria Barthes em seus fragmentos de um discurso amoroso. E a
poética de Artur não representa
ressurreição, nem logro, senão nossos desejos. O prazer do texto pode revelar o
prazer do autor, mas não necessariamente do leitor. Mas Artur lança-se nesta dialética do desejo, permitindo um jogo
sensual que o espaço seja dado e que a oportunidade do prazer seja saciada como
se fosse um "kama sutra
poético" para além do prazer corporal. Esta duplicidade semiológica
pode ser compreendida como subversiva da gramática engessada - o que, em
realidade, torna seus textos mais brilhantes. Não pela destruição da erudição,
mas pela abertura da fenda, para que a fruição da linguagem seja bandeira
cultural da liberdade.
E a sua liberdade projeta-se num horizonte onde
a dimensão sócio-ambiental é freqüentemente presente. É uma poesia universal de
representações urbanas e rurais, de flora, fauna e fontes de praças públicas.
Desacralizando o “normal previsível”,
borda em sua costura de mosaicos, esquinas e passaredos.
A poética das Juras Secretas opõem-se a instância pretérita numa espiral de
presente com futuro. Metafisicamente, desliga-se do momento agonizante e os
olhos do poeta não se cansam, ainda que a paisagem queira cansá-los. Seu toque
lembra o neoconcretismo, por vezes, cuja aparição na semana da arte moderna
mexeu com os mais tradicionais versos da literatura ordinária. Mas sua
temporalidade vence Chronos, na
denúncia de um calendário tirano ao anúncio de Kairós, também senhor do tempo, mas que media pelos ritmos do
coração.
20 horas 20 noites 20 anos 20 dias até quando esperaria... até quando alguém
percebesse que mesmo matando o amor o amor não morreria. (jura secreta
51)
É óbvio que a materialidade da linguagem, sua
prosódia e seu léxico se mantêm no texto. Mas foge das estruturas engessadas do
arrombo repetitivo, florescendo em neologismos verossímeis e ritmos cardíacos.
Amiúde, são palavras jorradas em potente cultura significante. No chão
dialogante, este poeta desestabiliza a normalidade com suas criações.
por que
te amo e amor não tem pele nome ou sobrenome não adianta chamar que ele não vem
quando se quer porque tem seus próprios códigos e segredos mas não tenha medo
pode sangrar pode doer e ferir fundo mas é razão de estar no mundo nem que seja
por segundo por um beijo mesmo breve por que te amo no sol no sal no mar na
neve. (jura secreta 34)
ARTUR
GOMES é, para mim, um grande
relato de seu próprio devir, que sabe poetizar a partir de seu vivido. E por
isso, enfeitiça.
Michèle Sato – Bióloga, pesquisadora na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.
Jura Secreta
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse e eu não falasse
com esse punhal de prata
o sal sob o teu vestido
o sangue no fluxo sagrado
sem nenhum segredo
esse relógio apontado pra lua
não fosse essa jura secreta
mesmo se fosse eu não dissesse
essa ostra no mar das tuas pernas
como um conto do Marquês de Sade
no silêncio logo depois do susto
a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da pele
a palavra dandi em corpo nua
a língua em fogo a língua crua
a língua nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
Jura secreta 2
não fosse esse punhal de prata
mesmo se fosse e eu não quisesse
o sangue sob o teu vestido
o sal no fluxo sagrado
sem qualquer segredo
esse rio das ostras
entre tuas pernas
o beijo no instante trágico
a língua sem que ninguém soubesse
no silêncio como susto mágico
e esse relógio sádico
como um Marquês de Sade
quando é primavera
como uma boda de sangue
às 5 horas da tarde
a cara triste da morte
faca de dois gumes
naquela nova granada
e Federico Garcia Lorca
naquela noite de Espanha
Jura secreta 4
a menina dos meus olhos
com os nervos à flor da pele
brinca de bem-me-quer
ela inda pensa que é menina
mas já é quase uma mulher
queimando em tua coxa
ou se fosse e já soubesse
mar o nome do teu macho
o amor em ti consumiria
Olga Savary
no sumidouro dos meus dias
o couro cru
na antropofágica erótica
carne viva
tua paixão em mim
Jura secreta 6
o que passou não ficará já foi
a menina dos meus olhos
roubou a tua menina
e levou para festa do boi
fosse um Salgado Maranhão
nosso batismo de fogo
25 de março
e o morro querosene em chamas
no canto pro tempo nascer
e o amor que a gente faria
o sol acabou de fazer
ou se não fosse não importa
e sua realidade
Jura Secreta 8
artefato (poema sujo)
numa cidade abstrata
sem sentido ou significado
matadouro é arte concreta
veracidade é pecado
pago com pena de morte
esta máquina de escrever
fotografada em Itaguara
como um poema de Lorca
escrito em Nova Granada
cravado em Araraquara
você não sabe onde está
você não sabe onde é
você não sabe de quem foi
este punhal na metáfora
que sangra a carne do boi
o meu conforto
e eu teu anjo torto
meu amor como seria
:
a quem daria?
Jura secreta 10
fosse o que eu quisesse
apenas um beijo roubado em tua boca
dentro do poema nada cabe
nem o que sei nem o que não se sabe
e o que não soubesse
do que foi escrito
está cravado em nós
como cicatriz no corte
entre uma palavra e outra
do que não dissesse
O COISA RUIM
me querem manso
cordeiro
imaculado
sangrado
no festim dos canibais
me querem escravo
ordeiro
serviçal
salário apertado no bolso
cego mudo e boçal
me querem rato
acuado
rabo entre as pernas
medroso
um verme, pegajoso
mas eu sou osso
duro de roer
caroço
faca no pescoço
maremoto, tufão, furacão
mas eu sou cão
lato
mordo
arreganho os dentes
incito a revolta dos deuses
toco fogo na cidade
qual nero
devasto o lero lero
entro em campo
desempato
eu sou o que sangra
um poeta nato
Ademir Assunção
do livro Zona Branca (2001)
AGOSTO À CONTRAGOSTO
O tempo nos tece uma veste
E muito custa esse imposto
Pois lento nos dá outro susto
Gastou-se mais um agosto
Posto que vasto é o tempo
E visto que nos é imposto
Viver só um tempo sucinto
Numa sina à contragosto
E a soma insana dos anos
Aos poucos sela um desgosto
No raso espaço do espelho
O tempo esculpe seu rosto
Tchello d`Barros
o negro do céu
abrilhanta a lua
ai, que frio!
em meus sonhos
o telefone toca
acordo.
a lua no céu
estrelas cintilam
oh, insônia
a lua sumiu
o céu escureceu
nada aconteceu
Cesar
Augusto de Carvalho
do livro Curto Circuito
Editora Patuá - 2019
www.editorapatua.com.br
cheguei ao céu
diz o pinheiro
eu sempre quis
mas
o meu lugar
é a raíz
Hamilton Faria
Poemas da
janela
poesia fulinaimargem
arte
revolução
não gosto de panelinha
mas adoro um caldeirão
Federico
Baudelaire
www.fulinaimargem.blogspot.com
não conheço
mas é como
se conhecesse
disse-me ontem
a psicóloga
antes que
amanhecesse
depois de uma noite
de trégua
depois de passar a régua
na direção dos caminhos
Rúbia
Querubim
https://porradalirica.blogspot.com/
arquitetura/poesia
enquanto arquitetos
desenhistas
desenhavam
eu foto.grafava escrevia poesia
muitas vezes a arquitetura do poema
me vem em linhas fulinaímicas
sinuosas
se em verso
ou prosa
não explico
o que me importa
é o ofício
ao qual eu me dedico
Artur Gomes
para o livro Vampiro Goytacá
Canibal Tupiniquim
leia mais no blog
https://fulinaimargem.blogspot.com/
Itapetininga
pedra de sal no mar de Pirapitanga tem gente que de repente deixou de ser ou já
não era¿ quem disse que amor é santo¿ nem tudo que poderia te dizer escrevo nem
sei mais quem habita as costas do teu litoral e quantas algas já contei nas
asas do temporal imagens em chamas vieram nas entre linhas rasgando as entre
minhas esporas palavras dela quem disse que desejo não cabe no poema?
meu objeto do desejo tem nos
olhos cor de algas e algum peixe que se foi sem teatro a alma não respira
perde-se a vida Serafim Ponte Grande ainda me aponta uma ponte algumas trilhas
tenho uma amiga que ainda não sabe quanto é musa — nas Juras Secretas para ela
muito já foi escrito e muito mais ainda tenho a escrever até rasgar as
entranhas nas armadilhas do ser estou desde dezembro sem poder fazer o que
gosto e isso me deixa em desgosto a vida sem tira-gosto vida de gado:
Artur Fulinaíma
O Homem Com A Flor Na Boca
https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/
disponível para compra aqui
https://www.editorapenalux.com.br/autor/MzAz/Artur_Gomes
somos todos
pornográficos
teu corpo
é carne de manga
em meu pênis viril
enquanto sangra
quando beijo tu boca
enfurecido
rasgando por trás
o teu vestido
EuGênio Mallarmè
https://personasarturianas.blogspot.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário