domingo, 3 de março de 2024

múltiplas poéticas

compartilhando do amigo parceiro KINO3 irmão das Ate Manhas Tchello d´Barros

 

Tenho a alegria de lhes apresentar a capa de meu livro "Cataclísmica", que será lançado dia 22 pela Desconcertos Editora, em São Paulo - SP.

Quem acompanha meu trabalho a mais tempo, sabe que gosto muito desse poema visual aí, pois um labirinto de letras é uma boa metáfora para as vivências de quem escreve.
.........................................................................................

Título: “CATACLÍSMICA” ®
Autor: Tchello d’Barros ©
Gênero: Poesia (100 poemas + um manifesto)
Páginas: 140 págs.
Formato: 14 X 21 cm
Ano: 2024
Edição: Desconcertos Editora
Projeto gráfico: Multi-Prisma
Orelha: Drª. Urda Alice Klueger
Prefácio: Poeta e prof. Franklin Valverde
Posfácio: Prof. Dr. José Endoença Martins
Imagem da capa: “Labiyrinthitesis” - poema
visual de Tchello d’Barros
Preço de capa (pré-venda e lançamento): R$ 50,00 

 

 

 jura secreta 101


tem dias que o amor
é incêndio
arde queima devora

tem dias que é só
mansidão calmaria
             como agora

Artur Gomes Fulinaíma
leia mais em
https://braziliricapereira.blogspot.com/


mulher\cidade

 

curto

poema

curto

enxuto

curto e grosso

amo poema osso

 

o corpo

velo\cidade

língua\dente

mulher\cidade

mesmo não fosse

em mim tanto seria

e o que antes não foi feito

estando assim claro faria

algum poema no alvoroço

 

amo

a vera\cidade

amarelinho lapa

cinelândia

qualquer encontro de surpresa

a noite na lua tesa

no parque das ruínas

um beijo na rua guesa

o olhar quase alucina

vidrado em sua íris\retina

no trenzinho pra santa teresa

 

Artur Gomes

leia mais no blog

https://fulinaimicamente.blogspot.com/

 

 Não há nada que não seja Deus

Que não seja eu

Que não seja nada

Não há nada,

Não há nenhum Deus nesse mundo que não seja eu criando possibilidades infinitas

 Não há nenhum Deus em qualquer mundo possível que não seja eu

Manifestando possibilidades infinitas

 Não há nenhum Deus possível em qualquer mundo possível

Que não seja eu gestando possibilidades infinitas de criar

 Não há nada possível que não seja Deus

Nesse mundo e em todos os mundos possíveis e em mim

 Não há nada, nem mundo possível

Que não seja Deus, que não seja eu criando possibilidades

 Não há nada impossível

Então, não há nada que não seja eu

Que não seja Deus

Não há nada

Não há

Que não sejamos nós criando possibilidades infinitas, infinitas, infinitas...

 Não há nada

Não há

 Não há Deus

Não há eu

Não há nada

 Margareth Bravo

Leia mais no blog 

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/


o tempo tem seu avesso

para Prata Tavares in memória

 

cidade

quando penso nela

lembro

nossas angústias

dormem em camas

 

de

 ferro

madeira

ou

palha

 

nossas palavras

também são foices

facãos

ou

car/navalhas

 

nossos poemas

estiletes

canivetes

para rasgarem

o pano de luxo

das mortalhas

 

nossas mágoas

lavamos

nas águas do paraíba

 

enquanto eles

que pensaram

serem donos da cidade

assassinaram

e incineraram os corpos

na usina cambaíba


                                 Artur Kabrunco 

https://fulinaimargem.blogspot.com/


antropofagia

esse poema é um tratado
entre o poeta que tem fome de clareza
e sua musa simbolismo de beleza

se eu não beber teus olhos
não serei eu nem mais ninguém
disse o poeta a sua musa ainda esfinge

beber na fonte dos seus olhos
sem medo de ser feliz

ela completa
não quero poema em linha reta
ainda sou clarice/beatriz
             é ela quem me diz

mas eu não sou discreto
no abstrato do concreto
no concreto do abstrato

todo homem que tem fome
abapuru é o teu auto-retrato

Artur Gomes Gomes
Itabapoana Pedra Pássaro Poema
https://porradalirica.blogspot.com


Pedra Pássaro Poema

 era uma vez um mangue

e por onde andará Macunaíma

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

 

será que ainda existe algum

vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

 

Macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em campos dos Goytacazes

 

Macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos

em são francisco do itabapoana

 

Artur Gomes

Poesia Plural

Org. Chris Resplande

Editora Arribaçã – 2023

fotos: Artur Fulinaíma 

https://fulinaimacentrodearte.blogspot.com/


MAR ABERTO

 

Naquele dia

em que você me puxou

pelo braço

com força

para cima

eu já não respirava.

 

Michaela v. Schmaedel


dia de sol

de chuva

aqui dentro

já não sei

a previsão

é sempre incerta

mudança

é a única certeza

que me cabe

 

Renata Magliano

Trinta e Cinco Pausas

https://www.instagram.com/re.magliano/


A construção em camadas d’A inevitável fraqueza da Carne, de Wilson Gorj. [Por Rita Apoena, escritora]

No surpreendente romance de Wilson Gorj, A inevitável fraqueza da carne (Editora Penalux, 2023), temos uma narrativa que se impõe ao leitor, que o fisga desde a primeira frase e não o deixa abandonar a leitura antes da sua completa finalização. Isso porque a verossimilhança é plenamente alcançada pela bem elaborada construção das personagens. É por meio de suas atitudes e de suas interações que a sua psicologia resplandece, bem como os conflitos que os movem.

Como o romance mais interno é construído por uma das personagens – e temos aqui um romance dentro do outro – não temos elucubrações que o autor-personagem não poderia saber. Assim, os focos narrativos são usados de modo muito assertivo. Ponto para ele: a narrativa ganha em agilidade. Além disso, a linguagem é concisa, as cenas são dinâmicas, cirurgicamente colocadas, de modo que cada elemento em cena tenha um sentido preciso e profundo no texto. É como se, por trás de um texto “enxuto”, fossem escondidas muitas metáforas nas entrelinhas, de modo a ampliar a significação de cada elemento de criação.

Nessa narrativa, temos poucos personagens, mas habilmente construídos. Carlos é contador e um dos sócios de um escritório de contabilidade. Tendo estudado com o sócio na faculdade, mantém com ele boas relações. Há quatro anos, ele é casado com Luísa, uma mulher que tange a superficialidade das relações e que não demonstra muita sensibilidade por aqueles que a rodeiam. Quando Carlos perde o pai, ela não finge condolências nem se mostra muito sensível ao fato, mas imediatamente anima-se com o anúncio de uma herança, pois ela tinha por objetivo viajar para a Europa e decorar o quarto do filho que tanto esperava. Por mais que tentassem, entretanto, a gravidez nunca acontecia.

Ao longo de toda a narrativa, vemos a personalidade de Luísa ser construída paulatinamente e de forma bastante coerente, de modo a corresponder aos desenlaces da trama. Ao visitarem a propriedade, ela decepciona-se com o testamento modesto deixado para o marido, pois isto a afastaria do sonho de fazer uma grande viagem. Essa insatisfação é tão grande que ela cogita contratar um advogado para reaverem parte do apartamento que o pai deixara à ex-companheira.

De todo modo, vemos como Carlos vai aos poucos se subjugando frente aos sonhos e aos desejos de sua esposa. Ela geralmente não o questiona quanto aos planos em comum, ela os arregimenta por conta própria, ainda que ele tenha sido o único herdeiro. Mesmo os seus momentos íntimos não parecem ser por afeição ao esposo ou à construção da relação, mas unicamente para alcançar o seu objetivo: engravidar. Assim, Luísa parece ser, na trama, uma mulher um tanto egoísta, fútil e cegamente obstinada. Carlos, por sua vez, mostra-se muito pacífico e condescendente com todos que o cercam. Ele não é, contudo, um personagem sem falhas: ele abarca em si as vulnerabilidades e hesitações de um ser humano real. De qualquer modo, sabemos que um impulso não satisfeito, especialmente no que concerne aos desejos, mantém-se adormecido, mas luta por vir à tona, romper os mecanismos de defesa e se satisfazer. A meu ver, esse é o grande embate desse romance: a discussão sobre os instintos e a natureza humana. Por que não dizer: a própria natureza animal.

No início do romance, ficamos sabendo que a a mãe de Carlos, uma mulher forte e considerada por ele como a sua grande heroína, sofre de Alzheimer e vive numa casa de repouso, o que deixa Carlos um tanto culpado, pois a mãe, durante toda a sua vida, havia se sacrificado por ele. Mas ele tenta ser um bom filho, na medida do possível: diante da doença da mãe, assegura-lhe a estadia no melhor asilo da região, visita-a com frequência e lhe leva as suas flores preferidas. Tenta lhe proporcionar a vida mais digna que é capaz. Algumas vezes, tem de acompanhar o seu discurso em demência. Outras vezes, contudo, tem de mentir, dizendo-lhe que a levaria para casa.

Por razões que vamos descobrir no desenrolar da trama, o seu pai fora um homem muito distante. Desde criança, quando ele deixou a família para viver com a amante, Carlos e ele não mantinham quaisquer vínculos. Mas, com o tempo, o ressentimento que Carlos sentia pelo pai foi se desvanecendo. Desse modo, vemos que Carlos tenta ser um bom filho e um bom marido, ainda que as intercorrências do destino o coloquem muitas vezes à prova. Quando os vieses desse destino começam a suceder, ele é um homem em desamparo, em busca da sua família perdida, e que ele vira se esfacelar.

Com a morte do pai, Carlos recebe uma chácara como herança, e é a partir desse fato que a trama começa a se desenvolver, pois, com as idas frequentes à nova propriedade, Carlos conhece Maya, a filha dos caseiros, uma jovem muito bonita, estudante de Letras, por quem ele se sente imediatamente atraído. Quando ele a encontra pela primeira vez, ela lê um romance de Milan Kundera, A insustentável leveza do ser, que serve de referência e epígrafe ao belo romance de Gorj.
A jovem parece perceber o seu interesse por ela e não se mostra arredia, pelo contrário. A partir daí, Carlos empreende uma luta com aquilo que ele acha certo e os desígnios do seu desejo. Essa metáfora é ilustrada pelas repetidas aparições de uma jaguatirica nas imediações da chácara. Guiada por seus instintos e por sua fome, o animal busca as aves do local, mas é impedida pelas cercas de arame e pelos ferozes cachorros da residência. De modo análogo, Carlos também é, a princípio, impedido pelas circunstâncias, pela sua postura ética e pelas descobertas que faz.

O desenlace desse conflito é resolvido de modo surpreendente pelo autor, com uma reviravolta muito inteligente na trama. Além dela, o que mais surpreende na narrativa é o modo como o autor joga com as instâncias do real, criando várias camadas de realidade, como um romance por dentro de outro. Desse modo, há uma tênue linha divisória entre a ficção e a realidade, o que nos faz perguntar o que seria real e o que seria ficcionalizado, convidando-nos a outras leituras. Também surpreende, como dissemos, o modo como a narrativa ganha extrema fluidez, a ponto de não querermos deixar o livro antes da sua completa finalização.

Escreve o autor: “Os cães do caseiro, na casa ao lado, latiam sem parar. No galinheiro, as aves também pareciam alvoroçadas. Ele apontou a lanterna naquela direção e teve um sobressalto: a luz devolveu dois olhos vermelhos olhando fixos para ele […] Os dois, homem e felino, ficaram se mirando por um tempo […]. Como nas ocasiões anteriores, o facho da lanterna tinha o efeito de inibir seus movimentos, deixando-a sem ação imediata: as patas dianteiras já tocavam o grosso galho que se projetava sobre o muro. Ela virou a cabeça um pouco para trás […] e, saltando sobre o galho, avançou para dentro da árvore engolida pela escuridão.”

Como se vê, neste romance, a poesia de Wilson Gorj está na escolha cuidadosa de cada um dos elementos que compõem as inúmeras metáforas do texto. E essa percepção se aprofunda à medida que novas releituras são feitas. Essa construção em camadas só é possível em grandes obras literárias, feita por grandes autores. 


PRONOME

 

crianças correm descalças

escorre seiva ainda

calçadas desertas

e inquietas

ruas incertas e tortas

lua antes ungida

ora proibida

ora pro nobis

sem nome choram

sem normas coram

carolas frígidas

até que o dia clareie

até que a noite a lua leve

até amanhã, talvez

 

Marcelo Brettas

In florestas imaginárias 



https://fulinaimatupiniquim.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas

um lance de dados   doze e quarenta e seis mallarmè na hora incerta dormindo visível na besta sinal inviável na quarta d...