segunda-feira, 22 de maio de 2023

Sarau Cultural - As Multilinguagens no Museu

Sarau Cultural


As Multilinguagens no Museu
3ª Edição - Dia 26 maio - 19h no Museu Histórico de Campos
Homenagem as memórias de: Kapi, Félix Carneiro, Yve Cavalho, Maria Helena Gomes e Lucia Miners.

produção: Artur Gomes 

Fulinaíma MultiPrtojetos

fotos: Atônio Filho 

 

Um rio

 

Era uma vez…

Um rio

Que de tão vazio,

já não era rio

e nem riachão,

tão pouco riacho.

 

Não era regato,

nem era arroio,

muito menos corgo.

 

Era uma vez…

um rio

que, de tanta cheia,

já não era rio

e nem ribeirão.

 

Era mais que Negro,

era mais que Pomba,

era mais que Pedra,

era mais que Pardo,

era mais que Preto,

bem maior ainda

que um rio grande.

 

Era uma vez…

um rio

que de tão antigo

era temporário,

era obsequente,

era um rio tapado

e antecedente.

 

Que não tinha foz,

que não tinha leito,

que não tinha margem

e nem afluente,

tão pouco nascente.

 

Mas que era um rio.

 

Não era das Velhas,

não era das Almas,

não era das Mortes.

 

Era um Paraíba,

era um Paraná,

era um rio parado.

 

Rio de enchentes,

rio de vazantes,

rio de repentes:

Um rio calado:

 

Sem Pirá-bandeira,

Sem Piracajara,

Sem Piracanjuba.

 

Em suas águas

não havia Pira

não havia íba,

não havia jica,

não havia juba.

 

Nem Pirá-andira,

nem Piraiapeva,

nem Pirarucu.

 

Era um rio assim:

Sem pirá nenhum.

 

Mas que era um rio.

 

Era uma vez….

Um rio.

 

Que, de tão inerte,

Já não era rio.

 

Não desaguou no mar,

não desaguou num lago,

nem em outro rio.

 

É um rio antigo,

que de tão contido

não é natureza.

 

Um dia foi rio,

há muito é represa.

 

Antônio Roberto Góis Cavalcanti(Kapi)


Epifania

(p/ euclides, yeats e soffiati)

 

guiava a picape pela montanha

entre curvas da estrada e do rio

que ambos seguiam à planície

na qual não nasci, mas habito

desde quando aprendi a pisar

e a montanha nas suas certezas

de subir e descer no caminho

falou-me na língua das pedras

de onde brotam as águas:

— decifra-me ou te desfaço!

 

feito do barro massapê

sobre o qual caminhei a vida

tendo o plano por destino e partida

consultei as cores do crepúsculo

que, melancólicas, se riram de mim:

— de onde vens? — indagaram-me as cores

— de cambuci, refúgio dos puris!

— para onde vais?

— aos campos dos goitacás!

— o que corre ao seu lado?

— o rio!

— e para onde corre o rio?

— ao mar!

e riram-se de novo as cores:

— pois então!

 

a montanha, descontente pela ajuda

escondeu o sol e exilou as cores

antes que se voltasse a mim, respondi:

— não te decifro, sou você

sou teu barro, que o rio lava,

carreia e forma a planície

sou o que deságua no mar e o escurece

meu templo não se ergue na pedra

mas no que nela colide e desprende

não me desfaço, transformo!

 

Aluysio Abreu Barbosa

 atafona, 04/06/2000

 www.arturkabrunco.blogspot.com 



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