Sarau Cultural
As Multilinguagens no Museu
3ª Edição - Dia 26 maio - 19h no Museu Histórico
de Campos
Homenagem as memórias de: Kapi, Félix Carneiro,
Yve Cavalho, Maria Helena Gomes e Lucia Miners.
produção: Artur Gomes
Fulinaíma MultiPrtojetos
fotos: Atônio Filho
Um rio
Era uma vez…
Um rio
Que de tão vazio,
já não era rio
e nem riachão,
tão pouco riacho.
Não era regato,
nem era arroio,
muito menos corgo.
Era uma vez…
um rio
que, de tanta cheia,
já não era rio
e nem ribeirão.
Era mais que Negro,
era mais que Pomba,
era mais que Pedra,
era mais que Pardo,
era mais que Preto,
bem maior ainda
que um rio grande.
Era uma vez…
um rio
que de tão antigo
era temporário,
era obsequente,
era um rio tapado
e antecedente.
Que não tinha foz,
que não tinha leito,
que não tinha margem
e nem afluente,
tão pouco nascente.
Mas que era um rio.
Não era das Velhas,
não era das Almas,
não era das Mortes.
Era um Paraíba,
era um Paraná,
era um rio parado.
Rio de enchentes,
rio de vazantes,
rio de repentes:
Um rio calado:
Sem Pirá-bandeira,
Sem Piracajara,
Sem Piracanjuba.
Em suas águas
não havia Pira
não havia íba,
não havia jica,
não havia juba.
Nem Pirá-andira,
nem Piraiapeva,
nem Pirarucu.
Era um rio assim:
Sem pirá nenhum.
Mas que era um rio.
Era uma vez….
Um rio.
Que, de tão inerte,
Já não era rio.
Não desaguou no mar,
não desaguou num lago,
nem em outro rio.
É um rio antigo,
que de tão contido
não é natureza.
Um dia foi rio,
há muito é represa.
Antônio Roberto Góis Cavalcanti(Kapi)
Epifania
(p/
euclides, yeats e soffiati)
guiava a picape pela montanha
entre curvas da estrada e do rio
que ambos seguiam à planície
na qual não nasci, mas habito
desde quando aprendi a pisar
e a montanha nas suas certezas
de subir e descer no caminho
falou-me na língua das pedras
de onde brotam as águas:
— decifra-me ou te desfaço!
feito do barro massapê
sobre o qual caminhei a vida
tendo o plano por destino e partida
consultei as cores do crepúsculo
que, melancólicas, se riram de mim:
— de onde vens? — indagaram-me as
cores
— de cambuci, refúgio dos puris!
— para onde vais?
— aos campos dos goitacás!
— o que corre ao seu lado?
— o rio!
— e para onde corre o rio?
— ao mar!
e riram-se de novo as cores:
— pois então!
a montanha, descontente pela ajuda
escondeu o sol e exilou as cores
antes que se voltasse a mim,
respondi:
— não te decifro, sou você
sou teu barro, que o rio lava,
carreia e forma a planície
sou o que deságua no mar e o escurece
meu templo não se ergue na pedra
mas no que nela colide e desprende
não me desfaço, transformo!
Aluysio Abreu Barbosa
atafona, 04/06/2000
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