quarta-feira, 24 de maio de 2023

HOJE 25 - maio - 19h - na Faculdade de Medicina de Campos


A Cor da Pele

 

África sou raíz & raça

orgia pagã na pele do poema

couro em chagas que me sangra

alma satã na carne de Ipanema


Origem

 

sou afro-tupi

guarani

goitacá que subiu o paraíba

para o litoral paulista

nasci na cacomanga

bicho do mato

curupira  carrapato

sou campista

não tiro onda de turista

comigo é assim

:

nem fiado nem à vista

 

Artur Gomes

Suor & Cio – 1985

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https://suorecio.blogspot.com/


        AGORA

 

É hora

de amolar a foice

e cortar o pescoço do cão.

— Não deixar que ele rosne

nos quintais

da África.

É hora

de sair do gueto/eito

senzala

e vir para a sala

— nosso lugar é junto ao Sol.

 

ADÃO VENTURA (1946 - 2004)


              SENTENÇA

 

faz muito tempo que eu venho

nos currais deste comício,

dando mingau de farinha

pra mesma dor que me alinha

ao lamaçal do hospício.

 

e quem me cansa as canelas

é que me rouba a cadeira,

eu sou quem pula a traseira

e ainda paga a passagem,

eu sou um número ímpar

só pra sobrar na contagem.

 

por outro lado, em meu corpo,

há uma parte que insiste,

feito um caju que apodrece

mas a castanha resiste,

eu tenho os olhos na espreita

e os bolsos cheios de pedras,

eu sou quem não se conforma

com a sentença ou desfeita,

eu sou quem bagunça a norma,

eu sou quem morre e não deita

 

Salgado Maranhão

 

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 hipotemusa

 

a menina da lanchonete

hoje rói as unhas de ira

pira quando quero

o que ela pensa que é

apenas bolero

na praça são salvador

com esse poema torto

que te leva ao desconforto

de pensar o que não sinto

como ela vive sozinha

entre pastéis e empadas

sua vida é hora marcada

de entrada e de saída

não conhece uma outra vida

por isso me olha estranha

com uma sede faminta

de comer meus olhos

palavras – quando te disse

: não minta

 

Artur Gomes

Maio 25 – 2023

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USINA

Antônio Roberto Kapi de Góis Cavalcanti

 

Usina:

Usina são uns olhos

despertos antes do sol,

a boca mal-lavada

num gole de café...

e um esfregar de mãos

para aquecer o dia.

 

Usina é uma longa

E curta caminhada,

Inventada em carrocerias,

carroças e bicicletas.

 

Ou um usar de pés

pra se fazer o dia.

 

Usina é um balé!

de lenços-de-cabeça,

camisas de xadrez,

foice e facão...

entre gole e outro

de café,

 

Usina é um apito

de sol a pino,

feito de marmitas,

quando os olhos nada dizem

e as bocas são limpas

por mãos em costas.

 

Usina é um gosto

(doce-amargo)

de uns caldos escorrendo,

ora nas moendas

ora nos moídos...

 

É um fazer de conta,

Pós-apito,

Na birosca ao lado

Com uns parceiros:

Um remedar da vida.

 

Depois

Um mal dormir

De pais e filhos

(de fome, de frio, de medo)

Para que antes que o sol

Se tenha despertado,

 

— USINA É USURA!

 

São uns olhos

Que se estendem

Quando em vez

À casa-grande...

 

São umas vidas

Escapando pela chaminé

 

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