A
Cor da Pele
África sou raíz & raça
orgia pagã na pele do poema
couro em chagas que me sangra
alma satã na carne de Ipanema
Origem
sou afro-tupi
guarani
goitacá que subiu
o paraíba
para o litoral
paulista
nasci na
cacomanga
bicho do mato
curupira carrapato
sou campista
não tiro onda de turista
comigo é assim
:
nem fiado nem à
vista
Artur
Gomes
Suor & Cio – 1985
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AGORA
É hora
de amolar a foice
e cortar o pescoço do cão.
— Não deixar que ele rosne
nos quintais
da África.
É hora
de sair do gueto/eito
senzala
e vir para a sala
— nosso lugar é junto ao Sol.
ADÃO
VENTURA (1946 - 2004)
SENTENÇA
faz muito tempo que eu venho
nos currais deste comício,
dando mingau de farinha
pra mesma dor que me alinha
ao lamaçal do hospício.
e quem me cansa as canelas
é que me rouba a cadeira,
eu sou quem pula a traseira
e ainda paga a passagem,
eu sou um número ímpar
só pra sobrar na contagem.
por outro lado, em meu corpo,
há uma parte que insiste,
feito um caju que apodrece
mas a castanha resiste,
eu tenho os olhos na espreita
e os bolsos cheios de pedras,
eu sou quem não se conforma
com a sentença ou desfeita,
eu sou quem bagunça a norma,
eu sou quem morre e não deita
Salgado
Maranhão
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hipotemusa
a menina da lanchonete
hoje rói as unhas de ira
pira quando quero
o que ela pensa que é
apenas bolero
na praça são salvador
com esse poema torto
que te leva ao desconforto
de pensar o que não sinto
como ela vive sozinha
entre pastéis e empadas
sua vida é hora marcada
de entrada e de saída
não conhece uma outra vida
por isso me olha estranha
com uma sede faminta
de comer meus olhos
palavras – quando te disse
: não minta
Artur
Gomes
Maio 25 – 2023
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USINA
Antônio Roberto Kapi de Góis
Cavalcanti
Usina:
Usina são uns olhos
despertos antes do sol,
a boca mal-lavada
num gole de café...
e um esfregar de mãos
para aquecer o dia.
Usina é uma longa
E curta caminhada,
Inventada em carrocerias,
carroças e bicicletas.
Ou um usar de pés
pra se fazer o dia.
Usina é um balé!
de lenços-de-cabeça,
camisas de xadrez,
foice e facão...
entre gole e outro
de café,
Usina é um apito
de sol a pino,
feito de marmitas,
quando os olhos nada dizem
e as bocas são limpas
por mãos em costas.
Usina é um gosto
(doce-amargo)
de uns caldos escorrendo,
ora nas moendas
ora nos moídos...
É um fazer de conta,
Pós-apito,
Na birosca ao lado
Com uns parceiros:
Um remedar da vida.
Depois
Um mal dormir
De pais e filhos
(de fome, de frio, de medo)
Para que antes que o sol
Se tenha despertado,
— USINA É USURA!
São uns olhos
Que se estendem
Quando em vez
À casa-grande...
São umas vidas
Escapando pela chaminé
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