segunda-feira, 13 de março de 2023

Fotografia Urbana - Mostra Visual de Poesia Brasileira

 

Fotografia Urbana

Mostra Visual de Poesia Brasileira

 

Em 1982 com Fotografia Urbana,  parceria com Paulo Ciranda vencemos o Festival dos Festivais de Itaocara-RJ. Em 1981 quando Fotografia Urbana foi composta, Ciranda morava em Sampa, no apartamento do seu irmão Zilmar Araújo, no bairro Perdizes, Rua Caiubi.

Pela janela do quarto onde criamos a canção, víamos o famigerado minhocão que nos inspirou essa letra:

 

tem viaduto

 na janela do meu quarto

velocidade na avenida São João

me dá um medo dos cabelos

da pequena alvoroçados

na imensa solidão

 

ai que maldade

ver nos cantos da cidade

é tanta gente dando vida  pelo pão

me dê um beijo meu amor

me feche os olhos

pra ver se eu vejo mais bonito esse chão

 

eu vim pra ver a lua prateada

vim mas não vi

eu vejo é uma lágrima afiada

chorando nossas vida por aqui

tem muita gente pendurada pelas portas

e pelas costas muitas vezes um ladrão

até parece que no meio da verdade

é só mentira enganando a multidão

 

tem pouca coisa na janela do meu quarto

mas o que tem me atormenta o coração

me dê um beijo meu amor

me dê seus olhos

pra ver se eu vejo mais bonito esse chão

 

eu vim para ver a lua prateada

vim mas não vi

eu vejo é uma lágrima afiada

chorando nossas vidas por aqui

 Em 1983, mesmo dirigindo Oficina de Teatro na então ETFC, ainda trabalhava como linotipista na Tipografia onde criei o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira.

Mas isso é assunto pra próxima postagem porque a MVPB é responsável pela virada na minha poética e no meu olhar sobre a produção de poesia contemporânea no Brasil e no planeta.

 

Artur Gomes

50 Anos de Poesia

Memória e Resistência

Trajetória Multilinguagens

leia mais no blog

https://fulinaimargem.blogspot.com/


 

da cana
o açúcar
o melado
a rapa dura
o chuvisco da gema do ovo
e a minha língua sacana
falando a língua do povo

Artur Gomes

50 Anos de Poesia

www.fulinaimamultiprojetos.blogspot.com


nos quartos do Hotel Vinocap
por muitas noites/madrugadas
bebi da solidão nos olhos dela
que esperou pro seis anos
para saciar a minha sede
alimentar a minha fome
entrar na minha vida
fazer parte dessa história
dela tenho oculto o nome
que levarei para eternidade
como registro de memória
e que depois de vinte  anos
ainda arde quando aflora

Artur Gomes

www.fulinaimargem.blogspot.com


para Gigi Mocidade

procuro uma menina
que seja assim quase criança
que seja assim quase mulher
procuro uma menina
que saiba bem a diferença
entre o mal e o bem-me-quer
que saiba bem a flor que cheira
pra desfolhar o mal-me-quer
sabendo tudo brincadeira
saiba beijar o que ela quer
saiba que o beijo é um desejo
que nasce da flor quando mulher
saiba que o desejo quando beijo
não é por um amor qualquer

Artur Gomes

www.porrada.blogspot.com


Erótika

minha língua
entre tuas coxas
lambuzando tua Flor de Lótus
de saliva
tudo em couro cru
tudo em carne viva

Artur Gomes

www.suorecio.blogspot.com


jura secreta 27


o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
desejo o que nos separa
a boca em quantos minutos
as flores soltas na fala
o pó dos ossos dos anos

você me diz não ter pressa
seus olhos fogo na sala
o beijo um lance de dados
cuidado cuidado cuidado
que sou um anjo de fadas
não beije assim meus segredos

meus olhos faróis nos riachos
meus braços dois afluentes
pedaços do corpo do rio
meus seios ilhas caladas
das chamas não conhece o pavio

se você me traz para o cio
assim que o sexo aflora
esta palavra apavora
o beijo dado mais cedo
quebra meu ser no espelho
meu cerne é carne de vidro
na profissão dos enredos
quanto mais água me sinto
presa ao lençol dos seus dedos

o rio retrata meu centro
na solidão de mim mesma
segundo a segundo nas águas
lá onde o sol é vazante
lá onde a lua é enchente
lá onde o rio é estrada
onde coloca seus versos
me encontro peixe e mais nada

Artur Gomes

50 Anos de Poesia

Sagaranagens Fulinaímicas

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


EntriDentes 5
ou uma segunda a tarde em Campos dos Goytacazes

o grito
desestrutura o silêncio
atrás da porta
a lâmina acesa
sangra
sob a luz do abajour lilás
a faca escreve
a palavra morta
dois gumes
na noite que estremece
a voz que cala
e o assassino
limpa a lâmina
como quem come
sua última refeição

Artur Gomes Gumes

www.fulinaimarem.blogspot.com


 bolero blue

 SagaraNAgens Fulinaímicas

beber desse conhac em tua boca
para matar a febre nas entranhas
entredentes
indecente é uma forma que te como
bebo ou calo
e se não falo quando quero
na balada ou no bolero
não é por falta de desejo

é que a fome desse beijo
furta outra qualquer palavra presa
como caça indefesa
dentro da carne que não sai

Artur Gomes

www.secretasjuras.blogspot.com


jura secreta 14


eu te desejo flores
lírios brancos margaridas
girassóis
rosas vermelhas
e tudo quanto pétala
asas estrelas borboletas
alecrim bem-me-quer e alfazema

eu te desejo emblema
deste poema desvairado
com teu cheiro
teu perfume
teu sabor, teu suor
tua doçura

e na mais santa loucura
declarar-te amor até os ossos

eu te desejo e posso
palavrArte até a morte
enquanto a vida nos procura


Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


meta metáfora no poema meta

como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico plumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste

como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em plumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


Jura secreta 18


te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto

barcos navios no teu corpo
peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas íntimas que vestias
sobre os teus pêlos ficção

todos os laços dos tecidos
e aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
e o sabor da tua língua
e o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes

e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


aos olhos de Wermmer o amor é natural
como a menina dos brincos de pérola
na pétala do moinho de ventos

imagem: Jose Cesar Castro


 jura secreta 34


te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos

mas não tenha medo
pode doer pode sangrar
e ferir fundo
mas é razão de estar no mundo
nem que seja por segundo
por um beijo mesmo breve
porque te amo
no mar no sal no sol na neve

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


diante do espelho sou
e sempre serei outra
agora o que não sou
fica do outro lado de fora
a lâmina acesa, a brasa
o sal do suor do cio
o mar entre minhas coxas
e mangue entre minhas pernas
os caranguejos que me invadem
sempre que me olham

Gigi Mocidade

www.porradalirica.blogspot.com


diante do Espelho fico zen
chamo zeca baleiro de meu bem
canto a mama canto o papa
canto o negão do rappa
canto até quem não conheço
e não preciso de endereço
pra mandar cartão postal
canto a mina da esquina
que se chama Lys Cabral

Federika Lispector

www.personasarturianas.blogspot.com


osso. a ponte quebrada não me leva para o outro lado. olho o espelho
d´água e tenho certeza que vou me afogar. engoli o vento da primeira madrugada a casa era caco de vidros. minha filha vaza os pés em rio da ostras. nunca mais pensei o mangue como a morada dos peixes e o canal passava atrás da varanda da cozinha. hoje estou sóbria muito mais que embriagada pela maresia com esse cheiro de sexo evaporando pelo olhos e o corpo tremendo de susto por não ter com quem gozar.


jura secreta 98


fosse quântico esse dia
calmo claro intenso inteiro
20 de fevereiro
sendo assim esperaria

mesmo que em meio a tarde
TROVOADAS tempestades
insanidades guerras frias
iniqüidade
angústia
agonia
mesmo assim esperaria
20 horas
20 noites
20 anos
20 dias

até quando esperaria?
até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado

Clarice Lispector


 

Pele

Um favo de mel na boca
um torrão de sal na anca
roubam para a pele o calor de animais
simples e vorazes
soltos como numa catedral
pele de asno
pele de mel
pele de água

Olga Savary


algumas imagens permanecem na medula da memória e me mantém vivo. ontem mesmo te vi à beira mar e mesmo não estando foi como se estivesse tatuada em minha pele com letras de sol e sal nos raios de luz do luar beijei teu nome nas algas e mergulhei no teu olhar.

foto: Artur Gomes Gumes no Pontal de Atafona


jura secreta 115

este teu olho que me olha
azul safira
ou mesmo verde esmeralda fosse
pedra – pétala rara
carne da matéria doce
ou mesmo apenas fosse
esse teu olho que me molha
quando me entregas do mar
toda alga que me trouxe

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


 

a flor da tua pele
me provoca
me toca
e não sei o que fazer
me perco nas esquinas
do teu corpo
em noites de lua nova
como uma prova de física
que eu nunca soube resolver

Federika Lispector


Jura secreta 101

as orquídeas ainda são azuis
girassóis relâmpagos na chuva
na surpresa dentro a tempestade
dessa manhã que finda
pimenta tua boca em chamas
incendeia meus lençóis profana
essa linguagem como arco-íris
como fosse pulsação que arde
nas entranhas dessa luz de fogo
nos meus dentes mastigando a tarde

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


a lama
é o espelho do Brasil
e a Vale
é a puta que pariu

Federika Lispector


esse vinho em minha boca
me lembra o beijo
no papel de pão
guardado nos vinhedos
de um espelho em vão

Oswald de Andrade

imagem: Jose Cesar Castro


jura secreta 102

 

a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta
a ninfa que me ímã quando arquiteta
o salto da abelha quando mel em flor
e pulsa pulsa pulsa
na matéria negra cor
quando a pele que veste é nada
éter pluma seda pelo
quando custa estar em arcozelo
desatar a lã dos fios do novelo
no sol de Amsterdã desvendar Hollandas
e os mistérios da palavra por entre os cotovelos

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com

terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida.

amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil
nos teus seios como um rio

Artur Gomes

tecidos sobre a pele

Suor & Cio – 1985

Pátria A(r )mada 2002

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com


Movimento Dos Barcos
Jards Macalé/Wally Salomão

Tô cansado
E você também
Vou sair sem abrir a porta
E não voltar nunca mais

Desculpe a paz que eu lhe roubei
E o futuro esperado que eu não dei
É impossível levar um barco sem temporais
E suportar a vida como um momento além do cais

Que passa ao largo
Do nosso corpo
Não quero ficar dando adeus
Às coisas passando, eu quero
É passar com elas, eu quero
E não deixar nada mais do que as cinzas de um cigarro
E a marca de um abraço no seu corpo

Não, não sou eu quem vai ficar no porto chorando, não
Lamentando o eterno movimento
Movimento dos barcos, movimento

ouça aqui
https://www.youtube.com/watch?v=oNr6aP_xnUY
 


jura secreta 103


a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala
a rua onde trafego é amplo
atalho pra o submundo
o poço onde mergulho é fundo
vai da pele que me cobre a carne
ao nervo mais íntimo do osso

Artur Gomes

Juras Secretas

Editora Penalux – 2018

www.secretasjuras.blogspot.com


Sede

eu tenho sede de água
eu tenho sede de mar
girassol nos meus cabelos
espuma de sal esperma e pelos
por onde eu possa delirar
eu tenho sede de sexo
em noites claras de luar

Gigi Mocidade

www.porradalirica.logspot.com


Electra

Electra era filha de Agamenon, rei de Micenas, que na época era a mais poderosa cidade grega, e de sua esposa, Clitemnestra. Quando Agamenon partiu para liderar o exército grego na Guerra de Troia, Clitemnestra tornou-se amante de Egisto, primo do marido. Mais de dez anos depois, quando Agamenon voltou vitorioso, Egisto e Clitemnestra tramaram um plano para eliminá-lo: organizaram um banquete em homenagem ao rei e, durante a festa, Egisto assassinou o primo à traição. Electra então fugiu de Micenas levando o irmão pequeno, Orestes, e o educou longe da corte, ensinando-o a acreditar que sua missão na vida era vingar a morte do pai. Anos depois, já adulto, Orestes voltou com Electra à cidade natal, onde o rapaz matou tanto Egisto quanto a própria mãe, Clitemnestra. Matricídio era considerado um crime tão grave que, segundo a lenda, a própria deusa Atena (que os romanos mais tarde cultuaram com o nome de Minerva) foi chamada para presidir o julgamento de Orestes. Por um lado, matar a própria mãe era uma coisa horrível, por outro, a morta também era culpada de um crime hediondo, o de tramar a morte do próprio marido. Por isso, o júri ficou tão dividido que houve um empate: metade a favor de sentenciar Orestes à morte, a outra metade a favor de inocentá-lo. A própria Minerva votou pela absolvição de Orestes, que assim saiu livre e tornou-se o novo rei de Micenas. Essa é a origem da expressão "voto de Minerva", que quer dizer o voto que representa a decisão numa situação indefinida. 


Ítaca

O SIGNIFICADO DE ÍTACA (*)
Quando você partir, em direção a Ítaca, que sua jornada seja longa, plena de aventuras, repleta de conhecimento. Não tema Laestrigones e Ciclopes nem o irascível Poseidon; você não irá encontrá-los durante o caminho, se o pensamento estiver elevado, se a emoção jamais abandonar seu corpo e seu espírito. Laestrigones e Ciclopes, e o enfurecido Poseidon não estarão em seu caminho se você não carregá-los em sua alma, se sua alma não os colocar diante de seus passos. Espero que sua estrada seja longa. Que sejam muitas as manhãs de verão, que o êxtase de ver os primeiros portos, entre o Crepúsculo e a Aurora, traga uma alegria nunca experimentada. Busque visitar os empórios da Fenícia, recolha o que há de melhor. Vá às cidades do Egito, aprenda com um povo que tem tanto a ensinar. Não perca Ítaca de vista, pois chegar lá é o seu destino. Mas não apresse os seus passos; é melhor que a jornada demore muitos anos e seu barco só ancore na ilha quando você já estiver enriquecido com o que conheceu no caminho. Não espere que Ítaca lhe dê mais riquezas. Ítaca já lhe deu uma bela viagem; sem Ítaca, você jamais teria partido. Ela já lhe deu tudo, e nada mais pode lhe dar. Se no final, você achar que Ítaca é pobre, não pense que ela o enganou. Porque você tornou-se um sábio, viveu uma vida intensa, e este é o significado de Ítaca.


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