segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Bolero Blue

 


Bolero Blue

 

beber desse conhac

em tua boca

para matar a febre

nas entreanhas entredentes

indecente é a forma

que te como bebo ou calo

e se não falo quando quero

na balada ou no bolero

não é por falta de desejo

é que a fome desse beijo

furta qualquer outra palavra presa

como caça indefesa

dentro da carne que não sai

 

Este poema ficou por 6 anos, sendo gestado nas entranhas entredentes para ser parido. Em 1996 na primeira vez que fui a Bento Gonçalves, para o Congresso Brasileiro de Poesia, a convite do seu criador o poeta e jornalista Ademir Antônio Bacca, conheci a musa que o inspirou, na época estudante de Arquitetura.  Ficamos por um longo tempo trocando Metáforas de Fogo, através de cartas incendiárias.

Até que numa madrugada de 2002 num dos bares de Bento, que frequentávamos,  durante a realização do evento, ele nasceu cara a cara olho no olho escrito num guardanapo. Essa  passagem está em versos no poema A Poesia Pulsa, do livro O Poeta Enquanto Coisa – Editora Penalux – 2020.


Artur Gomes

www.personasarturianas.blogspot.com


terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

tecidos sobre a terra

  


                Tecidos sobre a Terra

 

Terra,

antes que alguém morra

escrevo prevendo a morte

arriscando a vida

antes que seja tarde

e que a língua

da minha boca

não cubra mais tua ferida

 

entre aberto

em teus ofícios

é que meu peito de poeta

sangra ao corte das navalhas

e minha veia mais aberta

é mais um rio que se espalha

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

 

o que me dói é ver-te

devorada por estranhos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

ó terra incestuosa

de prazer e gestos

não me prendo ao laço

dos teus comandantes

só me enterro à fundo

nos teus vagabundos

com um prazer de fera

e um punhal diamante

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial que a foice corta

 

mas cravado em ti

me ponho a luta

mesmo sabendo – o vão

estreito em cada porta

 

MOENDA

 

usina

mói a cana

o caldo e o bagaço

 

usina

mói o braço

a carne o osso

 

usina

mói o sangue

a fruta e o caroço

 

tritura suga torce

dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande

os donos do engenho controlam

:

o saldo e o lucro

 

Artur Gomes

poema dos livros: Suor & Cio

MVPB Edições - 1985

e Pátria A(r)mada

Editora Desconcertos – 2019

Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio-2020 – lançamendo da segunda edição ampliada em 2022

gravado no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia

2002

 

PoÉticas ArturiAnas

www.arturkabrunco.blogspot.com




desconfiguração do corpo

 

os estilhaços do corpo

estão espalhados

nas cidades

:

pernas aqui

braços ali

cabeças acolá

na total desconfiguração

:

- cabeça/tronco/membros

as cidades estão entupidas

de fragmentos de populações

destroçadas em desespero

a crueldade é tanta

que dificilmente em qualquer cidade

se encontra um ser humano por inteiro

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux - 2020

www.secretasjuras.blogspot.com 



metaforicamente

 

passarás

não verás

país nenhum

             nunca

tua carne desossada

nonada tão real

visceralmente explícita

onde tudo vale nada

 

 

desconhecido

 

eu quero ser

visto apenas

por entidades ocultas

           olhos invisíveis

pedras

peixes

plumas

pássaros

 

 

as meninas do Leblon

 

as meninas do leblon

não sobem no vidigal

pensam que as pedras

lá de cima

cheiram mais que o anormal

 

mas a flor de lótus

           flor de cactos

           flor delírios

cheiram muito mais

            que as pedras

que elas não querem cheirar

no vidigal

 

Artur Gomes

O homem com a flor na boca

www.arturfulinaima.blogspot.com






com os dentes

cravados na memória

para Paulo Ciranda

 

em Itacoatiara o mar  me beijou a boca 

na praia no verão de dois mil e dezessete

sinto o gosto agora

como se Itaipu fosse Pedra Dourada

com um beijo de São Paulo

Itapetininga ou mesmo uma  Itaocara

onde estivemos  em mil novecentos

 e setenta e seis numa Balada Pros Mortais

que em mil novecentos e setenta e sete 

 transbordou Ave da Paz

primeira da nossa safra

com registro fonográfico

gravada por Biafra

depois em Miracema mil novecentos e oitenta e um

 dançamos com um Boi Pintadinho

nossa canção ao vento Fotografia Urbana

mais uma vez Itaocara mais  um Festival dos Festivais

em mil novecentos e oitenta e dois 

e a ciranda gira nessa roda gigante

que vai bordando sonoridades no tempo

 

Artur Gomes

PoÉticas ArturiAnas

https://www.facebook.com/arturgomespoeta




manguinhos

poema em linha torta

 

geograficamente

lapa para mim são 3

em campos no rio e em sampa

em mil novecentos e noventa em seis

quando publiquei sampleando

pela primeira vez

uma ninfeta paulista

me perguntou onde era

a lapa do poema

de manguinhos lhe respondi

:

o poema pode ser um beijo em tua boca

 

há tempos não tenho paciência

para respostas concretas

se no poema o poeta faz referências

a estação da luz av. paulista

consolação água branca barra funda

essa lapa só pode ser em sampa

né cara pálida ninfeta analfabeta


 Federico Baudelaire

https://www.facebook.com/federicoduboi



gargaú

 

aqui signos

não casam com significados

cada um segue sua trilha

cada um segue seu atalho

eita povo pacato pra caralho

assombro sobe em minha telha

e

com a língua/navalha carNAvalho

 

Artur Gomes

O Poeta Enquanto Coisa

Editora Penalux - 2020

www.secretasjuras.blogspot.com

 

guaxindiba

 

aqui

passávamos carnaval na juventude e éramos recebidos com grande amor onde acampávamos no quintal do pescador 5 da madruga íamos colher rede do pescado e passávamos a semana comendo  peixe assado no buraco de areia com cachaça cerveja e mariola  em guaxindiba conheci a minha primeira sereia angélica flor do bosque e foram anos de luas e serestas ruas e florestas estrelas incendiárias

 

Artur Gomes Fulinaíma

fulinaimicamente

www.fulinaimicamente.blogspot.com



suspenso

no Ar

não penso

atravesso

o portão da tua casa

o corpo em fogo

a carne em brasa

tudo arde

nas cinzas das horas

no silêncio da tarde

vou entrando sem alarde

sem comício

como o pássaro

que acaba de cantar

em pleno hospício

 

você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa? escrevi pscanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora

Artur Gomes

PoÉticas ArturiAnas

www.arturkabrunco.blogspot.com



quanto mais me re-par-to

muito mais me mul-ti-pli-co

 

pastor de andrade

fedeika lispector

gigi mocidade

federico Baudelaire

rúbia querubim

federika bezerra 

eugênio mallarè

 

parabolicamará minha antena parabólica fio terra para minhas intervenções intragaláticas nas multi-i-transversais relações humanas para o planeta que virá

 

Artur Gomes

o criador das mutltitransações fulinaímicas

www.fulinaimagens.blogsot.com


1



BordeLíricas

 

Dionísio bêbado de noites

pelos Cassinos de Bento

transa nos pergaminhos

depois de um tapa no branco

com uma puta dama nos becos

e algumas garrafas de vinho 


aqui

em casa

lavo pinto bordo

o corpo

a alma

os pelos

cada um que

pinte seus delírios

cada um que

desenrole

seus novelos

 

 EuGênio Mallarmè

o antropofágico fulinaímico 

https://www.facebook.com/EuGenioGumes


2



o desconcerto na frase

está no corte

no verso

formiga carregando folhas

nas costas

o formigueiro instaura

uma colmeia de dados

que o tempo

ainda não decifrou 


 

pássaros elétricos

           vivem a vida

           por um fio

 

Federika Lispector

Jornalista na Igreja Universal do Reino de Zeus 


3



Irreverência Ou Morte!

 

Gigi Mocidade

Rainha da Bateria da Mocidade Independente de Padre Olivácio - A EScola de Samba Oculta No InConsciente Coletivo

https://www.facebook.com/gigimocidade 


4



no universo paralelo

tenho mestrado bíblico

em chá de cogumelo

 

Pastor de Andrade

patrono da Igreja Universal do Reino de Zeus

https://www.facebook.com/pastordeandrade


5



fiz um trato com o sarcasmo

o bom humor a ironia

única forma que encontrei

para fazer a travessia 


poema insPirado

no Trato, poema de Ademir Assunção

do seu livro Risca Faca que acabo de ler

na coletânea poetas vivos –

blog Fulinaimicamente – TransPoÉticas –

https://fulinaimicamente.blogspot.com/2022/02/coletanea-poetas-vivos_23.html

 

 Para Pagu

in memória

 

vontade de voltar

a correr por pradarias

num cavalo selvagem

sem celas rédeas arreios

ou cancela

indo ao encontro

dos vagabundos

livre leve solta

nua como vim ao mundo

 

Rúbia Querubim

a grande musa fulinaímica

https://www.facebook.com/rubiaquerubim


6

 



Travessia Campestre

para RúbiaQuerubim

e Sérgio Sampaio in memória

 

a travessia você faz

como quiser

ou como pode

 

no lombo do cavalo

ou na garupa do bode 



Federika Bezerra : A Porta Bandeira

Que BorTou Olivácio Doido

 

 

Em mil novecentos e vinte e cinco

na noite de orgias satanazes

um raio de trovão incandescente

rachou a igreja em Goytacazes

um vulto do despacho então desceu

movido por farol de grande luz

tocou na pedra quebrou cruz

a Rainha do Fogo dessa gente


Federika de ouro azul e prata

na porta da igreja foi parida

criada pelo Padre Olivácio

que logo depois lançou na vida

aos cindo de idade encantada

foi pega masturbando em sacristia

por causa de um sonho com o príncipe

DuBoi da mais sagrada putaria


Expulsa da cidade foi pra longe

cresceu entre os jardins de JardiNÓpolis

mas se você pergunta Freud Explica:

- o seu palácio agora é em Petrópolis


Aos dezenove plena de alegria

conheceu Gigi da Bateria

na porta do Beco de Satã

na festa federal do Bar da Lama

 

a Deusa dos Lençóis de toda cama

sorrindo para ver como é que fica

dá um corte na história inverte o drama

e transforma Ouro Preto em Vila Rica


e assim vamos cantar em verso e prosa

a saga dessa Deusa Iansã

que em busca da mordida na maçã

sonhava encontrar Guimarães Rosa


Viemos do SerTão para os seus braços

porque a Mocidade Independente

é a mais fina e pura Flor do Lácio

afilhada do secular Padre Miguel

e fiel ao seu pai Padre Olivácio

e para completar a grande roda

trazemos o cacique Pau BraZil

o centenário Oswald de Andrade

filho da paulicéia que pariu!


Passando pelas bandas do Catete

dançando na maior intensidade

macumba com o índio brasileiro

nossa Ex-Cola campeã da liberdade

Federika engravidou o grafiteiro

do famoso cacete Samaral

que escrevia pelos muros da cidade:

Mocidade já ganhou o Carnaval!


e assim vamos cantar na grande roda

tudo o que deu e o que não deu

o dia que um pastor bem  collorido

pensou ser pai de santo e se fudeu!


a mulher do tempo

linda felina de fellini

que o meu olho felino

descobriu

 

extasiado me pergunto

:

quem foi o grande zeus

que inventou

ou foi a mãe de eros

que pariu ?


Federico Baudelaire

mestre salada Mocidade Independente de Padre Olivácio - A Escola de Samba Oculta no InConscinete Coletivo

https://www.facebook.com/federicoduboi


7



Aos cinco anos de idade

minha mãe não me assumiu

e me entregou pro padre

que morava com uma freira

cresci então na Mocidade

e me tornei Porta Bandeira

 

Federika Bezerra

https://www.facebook.com/onomedamusa






Pátria A(r) mada

www.arturgumesfulinaima.blogspot.com

Live em homenagem a Antônio Cícero

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