terça-feira, 28 de janeiro de 2025

múltiplas poéticas

os imprescindíveis

 

Há homens que lutam um dia

e são bons,

Há outros que lutam um ano

e são melhores,

Há os que lutam muitos anos

e são muito bons,

Mas há os que lutam toda vida

e estes são os imprescindíveis 

 

Bertold Brecht

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*

Abertura das portas para as empreiteiras X

 

Bertold Brecht RE-Visitado

 

no primeiro dia

eles chegam olhando o mar

em frente a tua casa

depois chegam com seus estudos

pra empreendimentos promissores

a construção de um Porto - seguro

que gerarão desenvolvimento e o progresso da região

a seguir chegam com suas dragas

derrubam sua casa roubam sua dignidade

com promessas de indenização e moradia

aí começam a construir um Porto – inseguro

a iniciativa é privada

mas o dinheiro para investimento é público

mas um golpe de dados n história da república

depois de anos você vê que as promessas: NONADA

e você não pode fazer nada

o Estado está do lado deles

a Justiça está do lado deles

e para o país o empreendimento é de grande interesse

e aí eu lhe pergunto:

- Que País é Esse?

 

Artur Gomes

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O método de Brecht

O alemão Bertold Brecht(1898-1956) foi um teórico que praticamente antagonizou com Stanislavski, tornando-se um dos pilares de sustentação das artes cênicas no tocante à interpretação e a mentalidade mística a respeito da arte dramática. Seu principal livro "Estudos sobre teatro", de imprescindível leitura para aqueles que pretendem seguir na carreira artística, demonstra passo a passo sua visão sobre o mundo naturalista (Stanislavskiano), que pretende conquistar o público com o sonho, o fingimento e o jogo de faz-de-conta, enquanto que, para Brecht a necessidade maior daqueles que assistem um espetáculo, é absorver a mensagem emitida pelos artistas e não confundir a ficção com a realidade.

Para conseguir que o público absorva a mensagem do espetáculo, não se iludindo com a realidade do contexto, Brecht propôs o afastamento do público em relação ao que ocorre no palco. Esse afastamento não se realiza fisicamente e sim emocionalmente, de forma que o espectador não deve envolver-se com o espetáculo, e sim, manter a imparcialidade e a postura crítica diante dos acontecimentos expostos no palco. Para constituir esse afastamento, tudo aquilo que Stanislavski propôs em sua teoria cai por terra, a começar com o cenário e a iluminação, que segundo Brecht, não devem convidar o público ao sonho e sim a certeza de que tudo que se passa no palco é uma mentirinha propositada.

Sobre a teoria do distanciamento do público em relação o que acontece no palco, Brecht elucida:

“ Os esforços do ator convencional concentram-se tão completamente na produção do fenômeno psíquico da empatia, que se poderá dizer que nele, somente se descortina a finalidade principal de sua arte (...) a técnica que causa o efeito do distanciamento é diametralmente oposta à que visa a criação da empatia. A técnica de distanciamento impede o ator de produzir o efeito da empatia”

Porém, Brecth não descarta totalmente o uso da empatia por parte do público. Para o teórico, o ator deve passar a informação com a mesma empatia que uma pessoa passa uma informação cotidiana. Afinal, quem fala quer ser escutado, e para que isso ocorra o emissor deve abordar os assuntos de uma maneira clara e objetiva para que o receptor queira escutar, utilizando-se do recurso da empatia somente para prender a atenção do receptor. Quando uma pessoa é atropelada, por exemplo, alguém conta esse fato para outra pessoa, esse alguém procurará representar essa ou aquela personagem para mostrar o que aconteceu, de forma que, para isso, sem tentar induzir o receptor a uma ilusão de que sua representação é real. O uso da empatia está justamente na forma natural que o emissor busca chamar a atenção do receptor, com pantomima, com o movimento escrachado, com a dor exagerada, com os movimentos trocista e brincalhões, ou sérios e pesarosos, mas sempre no âmbito das informação clara, simples e objetiva.

Para Brecht, o ator consegue distanciar o público, distanciando-se também de sua personagem, buscando representá-lo da maneira mais fidedigna possível, porém mantendo suas prerrogativas em relação a sua personagem, sem deixar de pensar em nenhum momento em suas próprias aspirações, críticas e sentimentos. O ator deve ser profissional o bastante para contribuir sempre para o crescimento de sua personagem independente do que pensa a respeito dela, de forma que, para alcançar a perfeição na interpretação, o ator deverá se ater ao que Brecht chamou de “mesa de estudos”, rejeitando qualquer impulso prematuro de empatia com sua personagem, buscando compreender sua personagem, como um leitor que lê para si próprio, em voz baixa, e não para os outros. Para o teórico as primeiras impressões do ator a respeito da personagem são demasiadamente importantes, pois serão essas as impressões que os espectadores terão quando virem o espetáculo.

Brecht criou o método de “determinação do não antes pelo contrário”. Para conceber melhor o propósito de sua personagem e passar essa informação da melhor forma possível para o público, o ator deve compreender que para cada ação, há um movimento contrário que deve ser previsto. Ex: “Se a personagem anda para direita, é porque ela não anda para a esquerda”. Esse só há de se perguntar: “ Por que minha personagem não anda para a esquerda”. O que a leva nesse momento a andar somente para a direita?”. Para Brecht é importante que o ator saiba que, no palco, ele é apenas um artista que está interpretando uma personagem, ou seja, um intérprete que mostra a personagem, mas não a vive, que tenta interpretá-la da melhor maneira possível, mas que não tenta persuadir-se (tampouco os outros) de que é a própria personagem. Dessa forma, o ator em cena não é Otelo, nem Hamlet, nem Lear e sim um artista que os representa da melhor maneira possível, que dá ao público a chance e o direito de tomar partido, de criticar, de conceber um idealismo sobre as personagens de maneira própria. Cabe ao ator, no palco, propor um debate e não debater.

fonte: http://atorearte.blogspot.com/.../09/o-metodo-de-brecht.html 







com os dentes cravados na memória

nesses 18 dias já de quarentena venho re-visitando textos e poemas inacabados, encontrei este que foi publicado na revista digital Cronópios, acho que em 2008

Mamãe é Brega mas é Xique

Decididamente mamãe não ouve e nem gosta do "rei" Roberto Carlos, porque não tem medo de lobisomem e desde os tempos em que lia José Cândido de Carvalho sabe muito bem quem são os Coronéis. mamãe tem 78 rotações por minuto e mas não perde tempo diante da TV com o Encravo e a Rosa, prefere assistir no TNT O Nome da Rosa, o filme, e fuma um baseado quando lê Umberto Eco e passa a contar o que sobrou.

Mamãe é foda cultiva no jardim flores e trombetas e as vezes sai pelos campos catando cogumelos e ervas cidreiras dizendo que o chá é bom para o fígado, pois tem comido muitas flores que lhe dão indigestão. Mamãe ouve Raul Seixas e sabe decor toda letra de Ouro de Tolo, e acha que não está com “a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar”.

Ela vai pra rua e solta os bichos: 4 gatos recém paridos que amamenta com carinho como se outros filhos fossem, mamãe usa um crucifixo de madeira no pescoço põe alho no bolso e diz que é para espantar as cobras e lagartos que vez em quando aparecem no seu quintal pedindo votos.

Assim que a noite chega ela reza pra são Jorge Ogum Oxossi e todos os caboclos da mata e da cidade porque acha que na cidade é que estão todos os bandidos de colarinho branco. mamãe não dá sopa nem merenda muito menos bolsa escola cheque cidadão e outros baratos e diz não acreditar em esmola, já leu até Bertold Brecht e tem pena dos analfabetos políticos pois acredita que é aí que se encontra a grande miséria humana com que os aproveitadores continuam a se alimentar nos períodos eleitorais para enriquecer suas contas bancárias cada qual com seus laranjas.

Esperta que só ela, mamãe aperta contra o peito uma estampa de Jesus Cristo e fala: “esse é o cara” não enganou o povo com passagem a 1 real taxa de iluminação pública bolsa família bolsa emprego ou bolsa escola, deu passagem de graça, e não precisou se disfarçar com outros nomes deu a cara a forca e não nasceu pra ser otário como jogador de futebol.

 

Artur Gomes

in - Viagens InSanas

março de 2020

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Balbúrdia Poética 5
Dia 28 de março 19h
No Stand da ACL
Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ

OVERDOSE NU VERMELHO

retesar as cores
e os músculos
com os dedos agarrados no pincel

se faltar carne
para roçar os óvulos
a gente jorra tinta no papel


Artur Gomes
in Couro Cru & Carne Viva – 1987
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Prefácio

Quem fez esta manhã, quem penetrou
À noite os labirintos do tesouro,
Quem fez esta manhã predominou
Seus temas a paráfrases do touro,
As traduções do cisne: fê-la para
Abandonar-se a mitos essenciais,
Deflorada por ímpetos de rara
Metamorfose alada, onde jamais
Se exaure o deus que muda, que transvive.
Quem fez esta manhã fê-la por ser
Um raio a fecundá-la, não por lívida
Ausência sem pecado e fê-la ter
Em si princípio e fim; ter entre aurora
E meio-dia um homem e sua hora

Mário Faustino
O Homem E Sua Hora
Org. Benedito Nunes
Cia das Letras – 2002

* 

Este é um dos livros de poesia mais importante que já li, e que se tornou referência para  minha caminhada Poética. Fui apresentado a poesia de Mário Faustino, pela inesquecível amiga Wilma Lima( vermelha), em Santo André, entre os anos de 1993 a 1996, onde ela amigavelmente me recebia como hóspede em sua residência na rua Carneiro Leão, 22.


Artur Gomes

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                um lance de dados

 

doze e quarenta

e seis

mallarmè

na hora incerta

dormindo

visível na besta

sinal inviável

na quarta

dedo de deus

na segunda

jogando dado

na sexta-feira

 

Artur Gomes

In BraziLírica Pereira : A Traição das Metáforas –

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desde menina

tive um sonho

que me desatina

beijar e ser beijada

com muita lança perfume

confete e serpentina

no carnaval de Veneza

ver toda coisa presa

solta livre no espaço

que couber

ver meu país soberano

com seu povo digno

     impagável  de pé

 

Irina Severina

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                    vozes  do cerrado

 

brasília, Brasília,

onde estás

que não respondes?

 

em que bloco

em que superquadra

tu te escondes?

 

Nicolas Behr

Brasilírica

Antologia

Poemas escolhidos

1977-2017

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                          sub/VERSÃO

 

só desfraudando

a bandeia tropicalha

é

que a ente avacalha

com as chaves dos mistérios

dessa terra tão servil.

 

tirania sacanagem safadeza

 

tudo rima uma beleza

com a pátria/mãe que nos pariu

 

Artur Gomes

In Couro Cru & Carne Viva – 1987

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                   brumadinho

 

ainda tem

muita lama

no meio do caminho

 

Federika Lispector

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                    safadinho

 

ainda tem

muita cama

no meio do caminho

 

Lady CarNAvalha Gumes

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