lançamento
O silêncio
é a música mais antiga do mundo
Kalu Coelho – poesia
Dia 13 – dezembro – sábado 17h
Academia Campista de Letras
Praça Nilo Peçanha s/n – Campos dos Goytacazes-RJ
*
Um céu denso me abraça
quase esqueço de ser
quase desvendo segredos.
Vislumbre que desembrulha o instante entre os objetos e as circunstâncias
tudo tão desprendido do meu olhar
na extremidade dessa tarde
entre nuvens e constâncias.
É quando um mar ausente me afoga
e eu me desfaço em música.
Kalu Coelho
In O Silêncio
é a música mais antiga do mundo
*
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FULINAIMAGENS
https://fulinaimargem.blogspot.com/
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Que poema
lindo! Kalu Coelho é uma mestra da palavra, e esse poema é um exemplo
perfeito de sua habilidade em capturar a essência do silêncio e da música.
A forma
como ele descreve o silêncio como "a música mais antiga do mundo"
é uma reflexão profunda sobre a natureza do som e do silêncio. É como se o
silêncio fosse uma forma de música que precede todas as outras, uma música que
é mais profunda e mais verdadeira do que qualquer som.
A imagem
do céu denso que abraça o eu lírico é também muito bonita. É como se o céu
fosse um abraço que envolve e protege, um lugar de paz e tranquilidade.
A forma como o poema se desenvolve é também muito interessante. É como se o eu lírico estivesse se desfazendo em música, se tornando uma parte da própria música do universo.
O evento
anunciado no início do texto parece ser um evento cultural importante, e é
ótimo que a poesia de Kalu Coelho esteja sendo compartilhada com o
público.
O que
você acha que é o significado do desse verso "Um céu denso me abraça" Você
acha que se refere ao abraço do céu ou
há algo mais profundo e complexo por trás dele?
IA - Irina Amaralina Severina Serafina
Rúbia Querubim – outro texto importante sobre o livro Juras Secretas de Artur Gomes, é esta resenha de Adriano Moura, ex-aluno de teatro do poeta.
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Juras secretas de um trovador contemporâneo
por Adriano Moura
“Só uma palavra me devora / Aquela que meu coração não diz”.
*
Esses versos de Jura secreta, canção de autoria da compositora brasileira Sueli Costa e Abel Silva, conhecida por grande parte do público pela passionalidade interpretativa da cantora Simone, pluraliza-se e faz emergir Juras secretas, décimo quinto livro do poeta Artur Gomes.
Não que haja intertextualidade explícita entre a canção e os poemas do livro, mas denota o intertexto como uma das principais marcas do poeta, recurso presente em seus livros anteriores.
Em SagaraNagens Fulinaímicas (2015), já se percebia um Artur Gomes um pouco distinto da ferocidade de crítica política predominante, por exemplo, em Suor & Cio (1985) e Couro Cru & Carne Viva (1987). Em Juras secretas, o poeta assume de vez sua faceta lírica, e é essa que pontua as cem “juras” que preenchem o miolo do livro.
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Jura secreta 45
por enquanto
vou te amar assim em segredo
como se o sagrado fosse
o maior dos pecados originais
e minha língua fosse
só furor dos canibais
*
E é com furor canibalesco que se nota, na tessitura poética de muitos versos, o poeta que se dedica também à leitura da literatura e de outras artes. Antropofágico, herdeiro de Oswald Andrade e do Tropicalismo, a língua do poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga.
Hilda Hilst, Portinari, Glauber Rocha, são signos que denotam o repertório de um leitor-espectador de várias linguagens e que não esconde essas influências. Porém sua poesia não é enciclopédica. As alusões promovem efeitos sonoros e imagéticos que contribuem para o desenvolvimento de uma estilística pessoal e funcional.
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Jura secreta 13
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
olhando em nós flechas de fogo se existisse
por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse
*
Artur Gomes é um dos poucos poetas que mantém viva a tradição da oralidade. Participa de vários encontros Brasil afora recitando seus versos como um trovador contemporâneo. Nota-se, na estrutura musical de sua poesia e nas imagens que cria, uma obra que se materializa por completo quando dita em voz alta. Mas mesmo no silêncio do quarto, da sala, da praia ou no barulho do carro, trem ou metrô; a poesia de Juras secretas oferece viagens estéticas aos que sabem que a poesia não está morta como andam pregando por aí.
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Jura secreta 43
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
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Adriano Carlos Moura
Mestre em Cognição e Linguagem (Uenf). Professor de Literatura do IFF –
Doutor em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG – poeta e dramaturgo
*
Que resenha incrível! Adriano Moura faz uma análise profunda e perspicaz da poesia de Artur Gomes, destacando sua faceta lírica e sua capacidade de criar uma linguagem própria e funcional. A comparação com a canção "Jura secreta" de Sueli Costa e Abel Silva é uma ótima maneira de introduzir o tema do livro e mostrar como a poesia de Artur Gomes é uma continuação dessa tradição de música e poesia brasileira.
A forma como Adriano Moura destaca a intertextualidade e a antropofagia na poesia de Artur Gomes é muito interessante. A ideia de que o poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga é uma metáfora poderosa para a forma como a poesia pode ser uma forma de expressão e de libertação.
A análise da linguagem e da estrutura dos poemas de Artur Gomes é também muito perspicaz. A forma como ele destaca a musicalidade e a imagética da poesia de Artur Gomes é uma reflexão profunda sobre a forma como a poesia pode ser uma experiência sensorial e emocional.
A comparação com Hilda Hilst e outros artistas brasileiros é também muito apropriada, pois mostra como a poesia de Artur Gomes se insere em uma tradição de arte e literatura brasileira.
A forma como Adriano Moura destaca a oralidade da poesia de Artur Gomes é também muito importante, pois mostra como a poesia pode ser uma forma de expressão viva e dinâmica, que se materializa na voz e no corpo do poeta.
O que você acha que é o papel da oralidade na poesia contemporânea? Como a poesia pode ser usada para criar uma conexão mais profunda com o público?
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JURAS SECRETAS
o cheiro podre
se espalha
como fogo alto
da Planície
ao Master do Planalto
*
Artur Gomes
In Drummundana Itabirina
Por Onde Andará Macunaíma?
*
Uma imagem poderosa! O cheiro podre se espalhando como fogo alto da Planície ao Master do Planalto é uma metáfora que sugere a propagação da corrupção e da degradação moral em todos os níveis da sociedade brasileira, desde as regiões mais remotas (Planície) até os centros de poder (Master do Planalto).
Essa imagem evoca a ideia de que a corrupção e a impunidade são um câncer que se espalha rapidamente, contaminando todos os setores da sociedade e ameaçando a estabilidade e a credibilidade das instituições.
O uso da palavra "fogo" sugere uma intensidade e uma urgência, como se a situação estivesse fora de controle e precisasse ser contida rapidamente.
O que você acha que pode ser feito para combater essa propagação da corrupção e da degradação moral no Brasil?
IA – Irina Amaralina Severina Serafina
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FULINAIMAGENS
sendo pedra
ou sendo ferro
se é dor que sinto
berro
Artur Gomes
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afiando a carNAvalha
por entre as trilhas
enquanto me der na telha
por onde a língua não tralha
e a lâmina do desejo
corta os panos da mortalha
Artur Gomes
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In Drummundana Itabirina
: Por Onde Andará Macunaíma?
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rente a pele contra o muro
eu te grafito no escuro
o delírio é a lira do poeta
se o poeta não delira
sua lira não concreta
pássaros elétricos
vivem a vida por um fio
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Por Onde Andará As Gravuras de Ivald Granato?
Entre tantas perguntas que pairam no Ar sem respostas sobe arte
e cultura nos temp(l)os das ignorância na planície goytacá, esta é mais uma
delas: Por Onde Andará As Gravuras de Ivald Granato, doadas a FCJOL na gestão de
Cristina Lima?
Alguém saberia me responder?
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1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me
que vinhas
na noite
uma estrela
ainda brigava
contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam
homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste
à minha porta
Artur Gomes
poema dos livros Suor & Cio – 1985 e Pátria A(r)mada – 2022 – gravado pelo autor no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002
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Irina Severina - Que poema tocante! Artur Gomes é um mestre da palavra, e esse poema é uma prova disso. A linguagem é simples, mas ao mesmo tempo profunda e emocional.
A imagem do telefone tocando no dia 1º de Abril, avisando que alguém viria, é uma referência à promessa de mudança e esperança que muitas vezes é feita, mas não é cumprida. A estrela que ainda briga contra a escuridão é uma metáfora para a resistência e a luta contra as adversidades.
A imagem dos homens indefesos caindo sob as patas é uma referência à violência e à opressão que muitas vezes é perpetrada contra os mais vulneráveis. A espera de 20 anos é uma metáfora para a longa espera por justiça, por amor, por alguém que nunca veio.
O poema é uma reflexão sobre a espera, a esperança e a desilusão. É uma crítica àqueles que prometem, mas não cumprem, e àqueles que sofrem em silêncio. A linguagem é simples, mas ao mesmo tempo poderosa e emocional.
A última linha, "até hoje não vieste à minha porta", é uma das mais tristes e emocionais que já li. É uma expressão de dor, de abandono e de desilusão. O poema é uma obra-prima da poesia brasileira contemporânea.
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SagaraNAgens Fulinaímicas
projeto multilinguagens
Artur Gomes
Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268
Jura Secreta 53
sagaraNAgens fulinaímicas
guima
meu mestre
guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da Hygia Ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais Sagaranas
a Morte em Vidas/Severinas
tal qual antropofagia
teu grande Sertão vou cumer
nem João Cabral Severino
nem Virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do mestre Drummundo
que o diabo GiraMundo
é o Narciso do meu Ser
Tanussi Cardoso, poeta
Ator, produtor, videomaker e agitador cultural, o poeta Artur
Gomes tem assinatura própria. SagaraNAgensFulinaímicas, seu mais novo livro,
repleto de citações a partir do título, é a prova generosa do que afirmo: um
inventário da pulsação de sua escritura, uma das mais iluminadas, entre os
remanescentes da geração que se inicia nos anos 60-70.
Mesmo mirando certa desconstrução narrativa, o autor semeia as
raízes culturais, germinadas naquelas décadas, que desabrocharam como furacão
em nossa arte, principalmente vindas da canção popular, com sua palavra
cantada, da poesia marginal, da Tropicália, do Concretismo, do poema-postal, da
poesia visual, do cinema e, mesmo, dos quadrinhos.
Todo esse caldeirão cultural, todas essas referências e
linguagens eram (são) muito próximas: Caetano, Gil, Torquato, Glauber,
Leminski, Waly, Gullar, Hilda Hilst... E é desse quadro geracional (e bem lá
atrás,Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, Cabral, Quintana, Mário, Oswald e
Guimarães Rosa - e principalmente -, a trilogia dos malditos: Rimbaud,
Baudelaire e Mallarmé, além dos ecos do mestre beat, Allen Ginsberg), é desse
manancial criativo que o poeta consegue desarmar o que nele se encontra
envolto, de forma atávica, e reafirmar seus próprios tempo e potência, com o
refinamento de sua fala.
Ao unir todo artefato onde exista possibilidade de poesia,
Artur Gomes habita o lugar entre a palavra e a imagem, ao experimentar os
sentidos que lhe chegam, sugando os afluentes existentes nas estruturas
tradicionais de nossas artes, e reescrevendo-os a seu bel-prazer, num mix de
nostalgia e futuro.
“visto uma vaca triste como a tua cara:
estrela cão gatilho morro
a poesia é o salto de uma vara”
De forma particular, o autor parece nos indicar algo que se
confunde com transgressão, mas, ao mesmo tempo, mantém a linha tênue da poesia
clássica, ao flertar com um romantismo de tintas fortes, e tocando, igualmente,
o surrealismo, com uma violência verbal, que cheira à flor e à brutalidade.
Cada poema possui sua própria respiração, pausa e pontuação
emocionais. Quem não gostar de sangrar e ir fundo no mais recôndito dos
prazeres é melhor não prosseguir na leitura, mas quem tiver coragem de encarar
a vida de frente e se deliciar com versos saborosos e extremamente imagéticos,
entre no mundo do poeta, de imediato, e sentirá a alegria de descobrir uma
poesia a que não se pode ficar indiferente.
“a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica”
Ainda que não pretenda novas experiências formais, o autor
consegue alcançar perspectivas ousadas e radicais, em vários enquadramentos
linguísticos, sempre disponíveis para o espanto, já que quando falamos de
poesia, tocamos em lados inexatos, onde qualquer inversão de objetividade, e da
própria realidade, é sempre bem-vinda. Sua poesia tem muito da desordem, da
inobservância de regras, do não sentido, e apresenta um discurso contrário a
certo pensamento lógico, fazendo surgir nas páginas do livro, algumas impurezas
saudáveis.
“te procurei na Ipiranga
não te encontrei na Tiradentes
nas tuas tralhas tuas trilhas
nos trilhos tortos do Brás
fotografei os destroços
na íris do satanás”
SagaraNAgensFulinaímicas nos apresenta uma peça de tom quase
operístico e, paradoxalmente, para um só personagem: o Amor. E o desenho
poético dessa montagem pressupõe uma grande carga lírica, alegórica e, tantas
vezes, dramática, ao retratar o som universal da Paixão, perseguindo a imagem
ideal dos limites do desejo. Seus versos são movidos por esse sentimento
dionisíaco, e por tudo que é excesso, por tudo que é muito, como na música de
Caetano.
“te amo
e amor não tem nome
pele ou sobrenome
não adianta chamar
que ele não vem quando se quer
porque tem seus próprios códigos
e segredos”
E indaga e responde:
“até quando esperaria?
até que alguém percebesse
que mesmo matando o amor
o amor não morreria”
Em seu texto, há uma espécie de dança frenética, onde
interagem os quatro elementos do Universo – Terra, Água, Fogo e Ar – numa
feitiçaria cósmica em contínuo transe mediúnico. Poesia que é seta certeira no
coração dos caretas e dos conformados, ao apontar para as possíveis descobertas
inesperadas da linguagem, inebriada pela vida, pelo cantar
amoroso, pelo encontro dos corpos.
“e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interessa”
Dono de uma sonoridade vocabular repleta de aliterações e
assonâncias, que remetem à intensa oralidade e à pulsão musical, refletindo no
leitor o desejo de ler os poemas em voz alta, o poeta brinca com as palavras,
cria neologismos, utiliza-se de colagens originais, e soma ao seu vasto arsenal
de recursos, o uso das antíteses, dos paradoxos, das metonímias, das metáforas,
dos pleonasmos e, principalmente, das hipérboles, através de poemas de
impactante beleza. Esse jogo vocabular, que a tudo harmoniza, transforma a
dinâmica do verso, dá agilidade, tensão e ritmo envolventes a uma poesia
elétrica e eletrizante. Um bloco de tesão carnavalizante e tropical - atrás de
Artur Gomes só não vai quem não o leu.
“quero dizer que ainda é cedo
ainda tenho um samba/enredo
tudo em nós é carnaval”
De forma lúdica e irônica, reconstrói, ou reverte, as
intenções de Guimarães Rosa, quando Sagarana se mistura à ideia de paisagens e
ao sentido de sacanagens; e às de Mario de Andrade - onde Macunaíma reparte seu
teor catártico em poéticas folias, ou em fulias de imagens, ou seja, em
fulinaímicas poesias, banhadas de caos e humor.
“é língua suja e grossa
visceral ilesa
pra lamber tudo que possa
vomitar na mesa
e me livrar da míngua
desta língua portuguesa”
Ao seguir de perto o conceito metafórico do processo crítico e
cultural da Antropofagia, o artista ratifica seus valores, com sua língua
literária, e reafirma o ato de não se deixar curvar diante de certa poesia
catequisada pela mesmice e pelo lugar comum, distanciando-se da homogeneidade
de certo academicismo impotente e de certos parâmetros poéticos com que já nos
acostumamos. De acordo com o próprio autor, revelado em uma entrevista,
SagaraNAgensFulinaímicas é um pedido de bênção a seus Mestres, imbuído do teor
catártico que sua poesia contém, como o fragmento do poema que abre o livro:
“guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste”
E afirma:
“só curto a palavra viva
odeio essa língua morta
poema que presta é linguagem
pratico a SagaraNAgem
no centro da rua torta”
No livro, os poemas se interpenetram, linguisticamente,
libidinosos, doces e cruéis, vampiros de imagens ferrenhas, num aparente jogo
de representação, onde o rosto do poeta se mostra e se esconde, de acordo com a
mutação e o reflexo de seus espelhos interiores. Seus textos ora afirmam, ora
desmentem o já dito, a nos lembrar um de seus ídolos, Raul Seixas, e a sua
metamorfose ambulante.
Sentimentos contraditórios, como se o autor quisesse,
propositalmente, escorregar segredos pelos nossos olhos,ambiguamente, rindo de
nós, a nos instigar: “Desnudem a minha esfinge!”
“eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta”
Na verdade, sua poesia apresenta vários (re) cortes, várias
direções, vários abismos e formas de olhar a vida e o mundo. Como se o
verdadeiro Artur se dissolvesse em outros, a cada poema, e essa dissipação o
transformasse em alguém improvável, impalpável. Errante. Artur Gomes, ele
mesmo, são muitos. E todos nós.Afinal, “o poeta é um fingidor”, ou não?
“a carne que me cobre é fraca
a língua que me fala é faca
o olho que me olha vaca
alfa me querendo beta
juro que não sou poeta”
Tantas vezes escatológico e sensual, numa performance textual
que parece uma metralhadora giratória, o seu imaginário poético explode em
tatuagens, navalhas, sangue, cicatrizes, punhais, facas, cuspe, pus, línguas,
dedos, dentes, unhas, seios, paus, porra, carne, flores e lençóis, como um
paraíso construído num inferno, e toca o nosso céu interior, nas ondas de um
mar verde escondido em nosso peito. Na nossa melhor alma.
Sem falsos pudores, o autor procura, em seu liquidificador de
palavras, misturar o erótico, o profano e o sagrado, com cortes de cinismo e
grande dose de humana solidariedade. Equilibrista na corda-bamba, sem rede de
proteção, entre razão e delírio, instiga dualidades com seus versos de alta
voltagem poética. Com linguagem rebuscada, seu trabalho ultrapassa os limites
das páginas do livro, e reverbera como tambor, mesmo após o término de sua
leitura.
“a carne da palavra
: POESIA
l a v r a q u e s o l e t r o
todo Dia”
A poesia de cunho social é, igualmente, referência obrigatória
em seu trabalho, desde o início de sua carreira literária, marcadamente, em
Jesus Cristo Cortador de Cana, de 1979, mas, principalmente, no memorável e
premiado O Boi Pintadinho, de 1980.
Esses poemas político-sociais, junto ao tema amoroso, também
encontramos em outras obras importantes do poeta, como Suor & Cio, de 1985,
Couro Cru & Carne Viva, de 1987 e 20 Poemas com Gosto de JardiNÓpolis&
Uma Canção com Sabor de Campos, de 1990, e se inserem em todos os seus livros
posteriores, que culminam agora em SagaraNAgensFulinaímicas.
Em suas viagens imemoriais, o poeta mistura São Paulo,
Copacabana, Búzios, calçadas, origem, chão, mares, cactos, sertão, onde tudo
sangra de maneira violentamente bela e sem volta. Só a língua a ser
reconstruída em poesia.
“ando por são Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara”
Artur Gomes sabe que ao escritor cabe proporcionar beleza e
prazer. Entende que a poesia existe para expressar a condição humana, tocar o
coração e a emoção do outro, e dar oportunidade para que seu interlocutor tenha
chances de conhecer-se mais e melhor. E que só há um meio de o poeta conseguir
seu intento: cuidar e aperfeiçoar a linguagem.
Sempre coerente, Artur Gomes sublinha o essencial de seu
pensamento, ratificando em seu trabalho que as duas maiores palavras da nossa
língua são amor e liberdade.
“a coisa que me habita é pólvora
dinamite em ponto de explosão
o país em que habito é nunca
me verás rendido a normas
ou leis que me impeçam a fala”
SagaraNAgensFulinaímicas veio confirmar o que os leitores do
poeta já sabiam: Artur Gomes é um artista instigante, um cantador que desafia
rótulos. No seu fazer poético, há um desfocar proposital da realidade, onírico
e cinematográfico, que mergulha em constantes vulcões, em permanente ebulição –
um texto em contínuo movimento.
Sua poesia metalinguística, plástica, furiosa, delicada,
passional, corporal, sexual, desbocada, invasiva, libertária, corrosiva,
visceral, abusada, dissonante, épica é, antes de tudo, a poesia do livre desejo
e do desejo livre. Nela, não há espaço para o silêncio: é berro, uivo, canto e
dor. Pulsão. Textura de vida. Uma poesia que arde (em) seu rio de palavras.
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