O POETA ENQUANTO COISA: “NO COURO CRU DA CARNE VIVA” – LINGUAGEM CORPO
por Deneval Siqueira de Azevedo Filho
Ao ler O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes, já na apresentação do poeta, 64, suas palavras sugerem que o poeta é sujeito e objeto. Perguntei-me: “Mas como será isso? Sujeito e Objeto?” Sim! Só um punho lírico muito forte, porém despojado, - “no couro cru da carne viva”. (64) pode com “esporas” ”sangrar corpos” e “abrir cadafalsos”.
Trata-se de uma poemática em que a linguagem é o corpo. A expressão que se depreende é o estrondo acompanhado do gozo, la petite mort. Entretanto a Musa eterna dos estados de surtos e de sítio e estados de surtos e de sítio e de cio do sujeito (quem sabe do poeta ele mesmo?) nos diz em alto tom: é a Terra/Mãe/Terra. Por este viés confesso do poeta, entendo que o salto lírico desta poética ou destes versos “de surtos, de sítio e de cio” é, por excelência, telúrico.
Assim como a vida é telúrica, o amanhã também o é, assim como o são os lugares geográficos presentes em muitos versos e que ilustram a teleologia dos poemas por toda a obra.
Explico: há em toda O Poeta enquanto Coisa, obra de fôlego e tanto, uma doutrina arturiana que identifica a presença de uma metalírica em riste, com fins e objetivos metalinguísticos ou ainda criando situações que deslocam a natureza e a humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade, uma espécie de finalismo.
Estes poemas são inerentes a um possível aristotelismo de hoje e seus desdobramentos, pois se fundamentam na ideia de que tanto os múltiplos seres existentes, quanto o universo como um todo direcionam-se, em última instância, a uma finalidade que, por transcender a realidade material, é inalcançável de maneira plena ou permanente.
Hegel também tratou disso em seus epígonos, segundo os quais o processo histórico da humanidade assim como o movimento de cada realidade particular, são explicáveis como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, tem como objetivo uma realização plena e exequível do espírito humano: em Gomes, inquieto, rebelde, sagaz, verbal, metafórico, carnal, cuja realização dá-se no sobressalto, no grito, na dicção da audácia, tanto na poíesis quanto na techné. Sujeito e Objeto reencontram-se no ritmo da techné: “eu acho que é tempo ainda”. Aí se igualam Sujeito e Objeto.
Oswald de Andrade experimentou um tanto disso na sua Poesia Pau-Brasil do 1º. Modernismo. Mário de Andrade em Paulicéia Desvairada. Com outro fluxo nos poemas, obviamente. Artur Gomes reverbera alguns momentos do nosso 1º. Modernismo, sem dúvida, trazendo-o ao picadeiro contemporâneo:
Cocada agora
só se for de coco
paçoca de amendoim
cigarro só se for de palha
cacique só se for da mata
linguagem só tupiniquim
bala só se for de prata
água só se for aguardente
tônica só se for com gim
estado só se for de surto
eleição só se for sem furto
brilho só no camarim
A existência de uma minemósine (grego Mνημοσύνη), titânide, filha de Urano e Gaia, deusa que personificava a memória está em
nas pipas nos arcos
nas madrugadas dos bares
descritas num guardanapo
no copo de vinho
na boca de Vênus
na bola da vez da sinuca
sangrada pelo meu taco
pois,
aqui a poesia pulsa
nos cabelos brancos da barba
na divina língua de Baco.
Reiteram-se, assim, os motivos (leit motiv): em Poética 31, “delírio pouco é bobagem”/ “assim como fantasia”/ “é louca SagaraNAgem”/”no carnaval Real da Orgia””/”Dentro da Noite Veloz”/ “ou na Vertigem do Dia”/ “a luz do sol sobre nós”/”onde marés maresia? O corpo – a própria linguagem”/ no mar da antropofagia”.
O delírio teatral, a física quântica leve, o simulacro pós-moderno, o deboche e a pilhéria percorrem, só para ilustrar a recorrência dos recursos, Poética 33 – Em/Cena Um possível encontro de Clarice Lispector e Federico Baudelaire. O diálogo com Oswald de Andrade retorna em Poética 34. Carregada de muito humor. Grande arma!
Em Poética 38, encontram-se o erótico e o satírico, grande sacação (Ah, os sátiros!), diga-se de passagem, um encontro inusitado, de verve crítica e geografia erótica, uma sugestão para um Kama Sutra tupiniquim, por que não. Grande momento do livro!
Enquanto escavo a seiva
Entre o vão das suas coxas
Para desfrutar teu cio
E santificar teu ócio
A selva amazônica perde
Mais 200 mil hectares de mata
Virgem
Para as moto-serras assassinas Desse venal agro-negócio.
Sendo um flâneur do século XXI, Artur Gomes, caminha, antes de tudo, como um detetive, no sentido que lhe deu Walter Benjamin: detecta um fato, poetiza-o e, às vezes, deforma-o. De que forma? Investigando-o, pilhando-o, desmascarando suas circunstâncias. Venalmente.
Dr. Deneval Siqueira de Azevedo Filho Teoria e História Literária (Unicamp/Ufes) Letras, Artes e Culturas (Fairfield University, CT, USA)
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Poema para Artur
Tardes febris pueris
Poesia e café
Suor de cana de açúcar
Mãos e palavras que tremem
Fremem a garganta seca túnel escuro das palavras
Agora molhadas
O sol se põe mas resiste com seu esplendor a noite que desce
silente com seu véu de estrelas
O frescor jovem tece palavras, costura o tempo
Sonha no limiar de tanta beleza
Meu olhar pousa sobre o que pensa meu amigo poeta que
lateja
tomada pelo temor congelo
Uma espécie de dor
Um sentimento de traição da poesia
A menina pôs a poesia num altar
Agora lá se põe em guarda
Um ventania voraz traz no ar as palavras silenciadas
O templo sacode o tempo implode
Não será tudo apenas serviço a poesia?
Ó mistério que nasce com as palavras
Que nada perturbe quem resguarda o sagrado.
Margareth Bravo (Meg Lee)
O tempo tempera a têmpora e sopra na face os olhos da menina sempre quis beijar
quando ela virava os olhos para outro lugar nunca decifrei o que os seus olhos
dizem tempo estranho em uma liga de antimônio chumbo estanho na linotipo
antevendo seus olhos pelas frestas da janela me olhando na tipografia como
fosse fotografia dos dias que com ela que não tive
Artur Gomes
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Balbúrdia PoÉtica
Poesia Ali Na Mesa
Edição Especial
À Memória de Renato Aquino
Performance Teatro.Poesia
Roda de Conversa – lançamento do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema
Dia 13 de maio – 21h
Auditório Reginaldo Rangel
IFF Instituto Federal Fluminense
Campus Centro – Rua Dr. Siqueira, 273 – Campos dos Goytacazes-RJ
tempo de poesia
para Renata Magliano
lancei o tempo
na agulha de uma fresta
ainda bêbado de ontem
bebo as 35 pausas
de uma mulher em chamas
que ainda não conheço
o tempo me dirá o endereço
como metáfora ou alquimia
e sendo drama ou festa
tempo de poesia
é o que nos resta
Artur Gomes
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KINO3 https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/
Realização: Coletivo Macunaíma de Cultura, Kino3, Congresso Brasileiro De Poesia, e Fulinaíma MultiProjetos
22 99815-1268 – whatsapp
*
para quem não sabe Renato Aquino foi um grande incentivador do meu trabalho com poesia. É dele o prefácio do meu primeiro livro Um Instante No Meu Cérebro, impresso na Oficina de Tipografia da Escola Técnica Federal de Campos, em 1973 onde fui Linotipista, a minha primeira profissão
Poesia Ali Na Mesa
Na Balbúrdia 6
Dia 17 de maio 20h
– Usina4 – Casa das Artes –
Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ
pedra/marcada
tendo estado desa(r)mado
nas quebradas muito reggae
tenho andado muito são
maldição – o diabo que carregue
sexta feira fui a meg
leras cartas do tarô
no jogo de dados deu dez
no jogo de búzios deu doze
nas cartas do tarô foram sete
segunda leitura quatorze
não brinco com coisas secretas
no jogo das cartas sagradas
meg assim decifrou
o mito aqui não é grego
o deus aqui é xangô
afrodite me disse que não
vênus me disse quem sou
zeus me disse quem sabe
destino é carta marcada
na pedra do redentor
um dia você encontra
os olhos do seu amor
no alto do corcovado
ou na pedra do arpoador
EuGênio Mallarmè
no livro Itabapoana Pedra Pássaro
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Borges - o labirinto das Artes- abertura da magistral multi exposição com a participação de 200 artistas brasileiros e argentinos nesta quinta-feira 8 de maio às 18h no no Consulado da Argentina, no Rio de Janeiro, nesse sagrado ano de 2025, onde exponho o poema Memorial dos Ossos do livro Juras Secretas de 2018.
memorial dos ossos
espora essa palavra amolada
dessas que cortam a carne
no primeiro toque
espora em meu sentido rock
não um mero truque ao pulsar da língua
que a tua pele lambe quando saliva aflora
espora em meu cavalo branco
o simbolismo aceso
todo dia é dia de São Jorge
Jorge Luis Borges num plural latino
escavar a terra em busca da palavra
quando nervo implora
espora temporal dos músculos
memorial dos ossos
nesse tempo bruto tudo quanto posso
Artur Gomes
Do livro Juras Secretas
Litteralux – 2018
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Balbúrdia PoÉtica
Edição Especial
uma viagem metafórica
por poéticas contemporâneas
“Poesia É Balbúrdia”
Ailton Krenak
Dia 6 de maio – 15:30h
No Colégio Estadual
XV de Novembro – Campos dos Goytacazes-RJ
tempo de poesia
para Renata Magliano
lancei o tempo
na agulha de uma fresta
ainda bêbado de ontem
bebo as 35 pausas
de uma mulher em chamas
que ainda não conheço
o tempo me dirá o endereço
como metáfora ou alquimia
e sendo drama ou festa
tempo de poesia
é o que nos resta
Artur Gomes
poema do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema
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https://coletivomacunaimadecultura.blogspot.com/
ConkrEreção
ainda escorre entre meus dedos
a fome por por vinho e uva
a carne doce da musa
lá do vale dos vinhedos
entre a saliva e a chuva
a virgem fruta entre os dentes
como flecha incandescente
como uma deusa de Bacco
a safada me lambuza
me come bebe e me usa
em seu banquete antropofágico
mastigando poemas meus
mas o amor pode ser trágico
se o seu pai não fosse zeus
Artur Gomes
foto: Tchello d´Barros
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https://fulinaimargem.blogspot.com/
Coletivo Macunaíma De Cultura
Kino3 e Congresso Brasileiro De Poesia
Apresentam:
Balbúrdia PoÉtica
Edição especial
nesta terça 6 de maio 15:30
no Colégio 15 de Novembro
Campos dos Goytacazes-RJ
uma viagem metafórica por poéticas contemporâneas
Concepção & Direção: Artur Gomes
batismo de fogo
quando te encontrar
não sei o que irá
não sou de irará
nem irerê
mas imagino
o que possa acontecer
na confissão
não sou luiza possi
mas amei zizi
cantando
salgado maranhão
quando for imperatriz
será os sete pecados capitais
veja o que fiz
:
lancei os Búzios
e no jogo deu lília diniz
poema do livro Itabapoana Pedra
Pássaro Poema
link da Editora Litteralux para compra
Depois de 14 anos morando em São Francisco e namorando Itabapoana nasceu a primeira cria sobre essa pedra. Primeiro lançamento: Dia 17 de maio 20h na Usina4 Casa das Artes - Rua Geraldo de Abreu, 4 Cabo Frio-RJ - Balbúrdia PoÉtica 6 em comemoração a chegada dos 77 do querido grande amigo José Facury Heluy.
uma metáfora
não é apenas uma metáfora
quando a pedra é pássaro
meu corpo não trafega
nas tabacarias de lisboa
o poema pode ser
um beijo nessa pedra
antes que me fedra
o poema voa
Artur Gomes
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