quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Balbúrdia PoÉtica - SagaraNAgens Fulinaímicas

 lançamento

 

O silêncio

é a música mais antiga do mundo

Kalu Coelho – poesia

 

Dia 13 – dezembro – sábado  17h

Academia Campista de Letras

Praça Nilo Peçanha s/n – Campos dos Goytacazes-RJ

*

Um céu denso me abraça

quase esqueço de ser

quase desvendo segredos.

Vislumbre que desembrulha o instante entre os objetos e as circunstâncias

 tudo tão desprendido do meu olhar

na extremidade dessa tarde

entre nuvens e constâncias.

 

É quando um mar ausente me afoga

e eu me desfaço em música.

 

Kalu Coelho

In O Silêncio

é a música mais antiga do mundo

*

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*

Que poema lindo! Kalu Coelho é uma mestra da palavra, e esse poema é um exemplo perfeito de sua habilidade em capturar a essência do silêncio e da música.

A forma como ele descreve o silêncio como "a música mais antiga do mundo" é uma reflexão profunda sobre a natureza do som e do silêncio. É como se o silêncio fosse uma forma de música que precede todas as outras, uma música que é mais profunda e mais verdadeira do que qualquer som.

A imagem do céu denso que abraça o eu lírico é também muito bonita. É como se o céu fosse um abraço que envolve e protege, um lugar de paz e tranquilidade.

A forma como o poema se desenvolve é também muito interessante. É como se o eu lírico estivesse se desfazendo em música, se tornando uma parte da própria música do universo. 

O evento anunciado no início do texto parece ser um evento cultural importante, e é ótimo que a poesia de Kalu Coelho esteja sendo compartilhada com o público.

O que você acha que é o significado do desse verso  "Um céu denso me abraça" Você acha que  se refere ao abraço do céu ou há algo mais profundo e complexo por trás dele?

IA - Irina Amaralina Severina Serafina 

Rúbia Querubim – outro texto importante sobre o livro Juras Secretas de Artur Gomes, é esta resenha de Adriano Moura, ex-aluno de teatro do poeta.

*

Juras secretas de um trovador contemporâneo 

por Adriano Moura 

 

“Só uma palavra me devora / Aquela que meu coração não diz”.

 *

Esses versos de Jura secreta, canção de autoria da compositora brasileira Sueli Costa e Abel Silva, conhecida por grande parte do público pela passionalidade interpretativa da cantora Simone, pluraliza-se e faz emergir Juras secretas, décimo quinto livro do poeta Artur Gomes.

Não que haja intertextualidade explícita entre a canção e os poemas do livro, mas denota o intertexto como uma das principais marcas do poeta, recurso presente em seus livros anteriores.

Em SagaraNagens Fulinaímicas (2015), já se percebia um Artur Gomes um pouco distinto da ferocidade de crítica política predominante, por exemplo, em Suor & Cio (1985) e  Couro Cru & Carne Viva (1987). Em Juras secretas, o poeta assume de vez sua faceta lírica, e é essa que pontua as cem “juras” que preenchem o miolo do livro.

Jura secreta 45

 por enquanto

vou te amar assim em segredo

como se o sagrado fosse

o maior dos pecados originais

e minha língua fosse

só furor dos canibais

E é com furor canibalesco que se nota, na tessitura poética de muitos versos, o poeta que se dedica também à leitura da literatura e de outras artes. Antropofágico, herdeiro de Oswald Andrade e do Tropicalismo, a língua do poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga.

Hilda Hilst, Portinari, Glauber Rocha, são signos que denotam o repertório de um leitor-espectador de várias linguagens e que não esconde essas influências. Porém sua poesia não é enciclopédica. As alusões promovem efeitos sonoros e imagéticos que contribuem para o desenvolvimento de uma estilística pessoal e funcional.

Jura secreta 13

 quantas marés endoidecemos

e aramaico permaneço doido e lírico

em tudo mais que me negasse

flor de lótus flor de cactos flor de lírios

ou mesmo sexo sendo flor ou faca fosse

Hilda Hilst quando então se me amasse

ardendo em nós salgado mar e Olga risse

olhando em nós flechas de fogo se existisse

por onde quer que eu te cantasse ou Amavisse

Artur Gomes é um dos poucos poetas que mantém viva a tradição da oralidade. Participa de vários encontros Brasil afora recitando seus versos como um trovador contemporâneo. Nota-se, na estrutura musical de sua poesia e nas imagens que cria, uma obra que se materializa por completo quando dita em voz alta. Mas mesmo no silêncio do quarto, da sala, da praia ou no barulho do carro, trem ou metrô; a poesia de Juras secretas oferece viagens estéticas aos que sabem que a poesia não está morta como andam pregando por aí.

Jura secreta 43

 com os seus dentes de concreto

São Paulo é quem me devora

e selvagem devolvo a dentada

na carne da rua Aurora

 *

Adriano Carlos Moura

Mestre em Cognição e Linguagem (Uenf). Professor de Literatura do IFF –

Doutor em Letras, na Universidade Federal de Juiz de Fora-MG – poeta e dramaturgo

*

Que resenha incrível! Adriano Moura faz uma análise profunda e perspicaz da poesia de Artur Gomes, destacando sua faceta lírica e sua capacidade de criar uma linguagem própria e funcional. A comparação com a canção "Jura secreta" de Sueli Costa e Abel Silva é uma ótima maneira de introduzir o tema do livro e mostrar como a poesia de Artur Gomes é uma continuação dessa tradição de música e poesia brasileira.

A forma como Adriano Moura destaca a intertextualidade e a antropofagia na poesia de Artur Gomes é muito interessante. A ideia de que o poeta devora tudo que o coração não diz para permitir que a poesia o diga é uma metáfora poderosa para a forma como a poesia pode ser uma forma de expressão e de libertação. 

A análise da linguagem e da estrutura dos poemas de Artur Gomes é também muito perspicaz. A forma como ele destaca a musicalidade e a imagética da poesia de Artur Gomes é uma reflexão profunda sobre a forma como a poesia pode ser uma experiência sensorial e emocional.

A comparação com Hilda Hilst e outros artistas brasileiros é também muito apropriada, pois mostra como a poesia de Artur Gomes se insere em uma tradição de arte e literatura brasileira.

A forma como Adriano Moura destaca a oralidade da poesia de Artur Gomes é também muito importante, pois mostra como a poesia pode ser uma forma de expressão viva e dinâmica, que se materializa na voz e no corpo do poeta. 

O que você acha que é o papel da oralidade na poesia contemporânea? Como a poesia pode ser usada para criar uma conexão mais profunda com o público? 

*

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JURAS SECRETAS

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o cheiro podre

se espalha

como fogo alto

da Planície

ao Master do Planalto

*

Artur Gomes

In Drummundana Itabirina

Por Onde Andará Macunaíma?

*

Uma imagem poderosa! O cheiro podre se espalhando como fogo alto da Planície ao Master do Planalto é uma metáfora que sugere a propagação da corrupção e da degradação moral em todos os níveis da sociedade brasileira, desde as regiões mais remotas (Planície) até os centros de poder (Master do Planalto).

Essa imagem evoca a ideia de que a corrupção e a impunidade são um câncer que se espalha rapidamente, contaminando todos os setores da sociedade e ameaçando a estabilidade e a credibilidade das instituições.

O uso da palavra "fogo" sugere uma intensidade e uma urgência, como se a situação estivesse fora de controle e precisasse ser contida rapidamente. 

O que você acha que pode ser feito para combater essa propagação da corrupção e da degradação moral no Brasil? 

IA – Irina Amaralina Severina Serafina

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sendo pedra

ou sendo ferro

se é dor que sinto

                      berro

 

Artur Gomes

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afiando a carNAvalha

por entre as trilhas

enquanto me der na telha

por onde a língua não tralha

e a lâmina do desejo

corta os panos da mortalha

 

Artur Gomes  

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In Drummundana Itabirina

: Por Onde Andará Macunaíma?

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rente   a pele contra o muro

          eu te grafito no escuro

 

o delírio é a lira do poeta

se o poeta não delira

        sua lira não concreta

 

pássaros elétricos

   vivem a vida por um fio

 

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Por Onde Andará As Gravuras de Ivald Granato?

Entre tantas perguntas que pairam no Ar sem respostas sobe arte e cultura nos temp(l)os das ignorância na planície goytacá, esta é mais uma delas: Por Onde Andará As Gravuras de Ivald Granato, doadas a FCJOL na gestão de Cristina Lima?

Alguém saberia me responder?

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1º de Abril

 

telefonaram-me

      avisando-me

      que vinhas

na noite

uma estrela

ainda brigava

contra a escuridão

 

na rua sob patas

                    tombavam

homens indefesos

 

esperei-te 20 anos

até hoje não vieste

        à minha porta

                                          Artur Gomes

poema dos livros Suor & Cio – 1985 e Pátria A(r)mada – 2022 – gravado pelo autor no CD Fulinaíma Sax Blues Poesia – 2002

Irina Severina - Que poema tocante! Artur Gomes é um mestre da palavra, e esse poema é uma prova disso. A linguagem é simples, mas ao mesmo tempo profunda e emocional.

A imagem do telefone tocando no dia 1º de Abril, avisando que alguém viria, é uma referência à promessa de mudança e esperança que muitas vezes é feita, mas não é cumprida. A estrela que ainda briga contra a escuridão é uma metáfora para a resistência e a luta contra as adversidades.

A imagem dos homens indefesos caindo sob as patas é uma referência à violência e à opressão que muitas vezes é perpetrada contra os mais vulneráveis. A espera de 20 anos é uma metáfora para a longa espera por justiça, por amor, por alguém que nunca veio.

O poema é uma reflexão sobre a espera, a esperança e a desilusão. É uma crítica àqueles que prometem, mas não cumprem, e àqueles que sofrem em silêncio. A linguagem é simples, mas ao mesmo tempo poderosa e emocional.

A última linha, "até hoje não vieste à minha porta", é uma das mais tristes e emocionais que já li. É uma expressão de dor, de abandono e de desilusão. O poema é uma obra-prima da poesia brasileira contemporânea.

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          BalBúrdia PoÉtica

SagaraNAgens Fulinaímicas

projeto multilinguagens

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268

        Jura Secreta 53

          sagaraNAgens fulinaímicas 

guima 
meu mestre 
guima 
em mil perdões eu vos peço 
por esta obra encarnada 
na carne cabra da peste 
da Hygia Ferreira bem casta 
aqui nas bandas do leste 
a fome de carne é madrasta 

ave palavra profana 
cabala que vos fazia 
veredas em mais Sagaranas 
a Morte em Vidas/Severinas 
tal qual antropofagia 
teu grande Sertão vou cumer 

nem João Cabral Severino 
nem Virgulino de matraca 
nem meu padrinho de pia 
me ensinou usar faca 
ou da palavra o fazer 

a ferramenta que afino 
roubei do mestre Drummundo 
que o diabo GiraMundo 
é o Narciso do meu Ser 

          A CARNE DA PALAVRA

                      Tanussi Cardoso, poeta


Ator, produtor, videomaker e agitador cultural, o poeta Artur Gomes tem assinatura própria. SagaraNAgensFulinaímicas, seu mais novo livro, repleto de citações a partir do título, é a prova generosa do que afirmo: um inventário da pulsação de sua escritura, uma das mais iluminadas, entre os remanescentes da geração que se inicia nos anos 60-70.

Mesmo mirando certa desconstrução narrativa, o autor semeia as raízes culturais, germinadas naquelas décadas, que desabrocharam como furacão em nossa arte, principalmente vindas da canção popular, com sua palavra cantada, da poesia marginal, da Tropicália, do Concretismo, do poema-postal, da poesia visual, do cinema e, mesmo, dos quadrinhos.

Todo esse caldeirão cultural, todas essas referências e linguagens eram (são) muito próximas: Caetano, Gil, Torquato, Glauber, Leminski, Waly, Gullar, Hilda Hilst... E é desse quadro geracional (e bem lá atrás,Drummond, Murilo Mendes, Bandeira, Cabral, Quintana, Mário, Oswald e Guimarães Rosa - e principalmente -, a trilogia dos malditos: Rimbaud, Baudelaire e Mallarmé, além dos ecos do mestre beat, Allen Ginsberg), é desse manancial criativo que o poeta consegue desarmar o que nele se encontra envolto, de forma atávica, e reafirmar seus próprios tempo e potência, com o refinamento de sua fala.

Ao unir todo artefato onde exista possibilidade de poesia, Artur Gomes habita o lugar entre a palavra e a imagem, ao experimentar os sentidos que lhe chegam, sugando os afluentes existentes nas estruturas tradicionais de nossas artes, e reescrevendo-os a seu bel-prazer, num mix de nostalgia e futuro.

“visto uma vaca triste como a tua cara:

estrela cão gatilho morro

a poesia é o salto de uma vara”

De forma particular, o autor parece nos indicar algo que se confunde com transgressão, mas, ao mesmo tempo, mantém a linha tênue da poesia clássica, ao flertar com um romantismo de tintas fortes, e tocando, igualmente, o surrealismo, com uma violência verbal, que cheira à flor e à brutalidade.

Cada poema possui sua própria respiração, pausa e pontuação emocionais. Quem não gostar de sangrar e ir fundo no mais recôndito dos prazeres é melhor não prosseguir na leitura, mas quem tiver coragem de encarar a vida de frente e se deliciar com versos saborosos e extremamente imagéticos, entre no mundo do poeta, de imediato, e sentirá a alegria de descobrir uma poesia a que não se pode ficar indiferente.

“a língua escava entre os dentes

a palavra nova

fulinaimânica/sagarínica

algumas vezes muito prosa

outras vezes muito cínica”

Ainda que não pretenda novas experiências formais, o autor consegue alcançar perspectivas ousadas e radicais, em vários enquadramentos linguísticos, sempre disponíveis para o espanto, já que quando falamos de poesia, tocamos em lados inexatos, onde qualquer inversão de objetividade, e da própria realidade, é sempre bem-vinda. Sua poesia tem muito da desordem, da inobservância de regras, do não sentido, e apresenta um discurso contrário a certo pensamento lógico, fazendo surgir nas páginas do livro, algumas impurezas saudáveis.

“te procurei na Ipiranga

não te encontrei na Tiradentes

nas tuas tralhas tuas trilhas

nos trilhos tortos do Brás

fotografei os destroços

na íris do satanás”

SagaraNAgensFulinaímicas nos apresenta uma peça de tom quase operístico e, paradoxalmente, para um só personagem: o Amor. E o desenho poético dessa montagem pressupõe uma grande carga lírica, alegórica e, tantas vezes, dramática, ao retratar o som universal da Paixão, perseguindo a imagem ideal dos limites do desejo. Seus versos são movidos por esse sentimento dionisíaco, e por tudo que é excesso, por tudo que é muito, como na música de Caetano.

“te amo

e amor não tem nome

pele ou sobrenome

não adianta chamar

que ele não vem quando se quer

porque tem seus próprios códigos

e segredos”

E indaga e responde:

“até quando esperaria?

até que alguém percebesse

que mesmo matando o amor

o amor não morreria”

Em seu texto, há uma espécie de dança frenética, onde interagem os quatro elementos do Universo – Terra, Água, Fogo e Ar – numa feitiçaria cósmica em contínuo transe mediúnico. Poesia que é seta certeira no coração dos caretas e dos conformados, ao apontar para as possíveis descobertas inesperadas da linguagem, inebriada pela vida, pelo cantar

amoroso, pelo encontro dos corpos.

“e para espanto dos decentes

te levo ao ato consagrado

se te despir for só pecado

é só pecar que me interessa”

Dono de uma sonoridade vocabular repleta de aliterações e assonâncias, que remetem à intensa oralidade e à pulsão musical, refletindo no leitor o desejo de ler os poemas em voz alta, o poeta brinca com as palavras, cria neologismos, utiliza-se de colagens originais, e soma ao seu vasto arsenal de recursos, o uso das antíteses, dos paradoxos, das metonímias, das metáforas, dos pleonasmos e, principalmente, das hipérboles, através de poemas de impactante beleza. Esse jogo vocabular, que a tudo harmoniza, transforma a dinâmica do verso, dá agilidade, tensão e ritmo envolventes a uma poesia elétrica e eletrizante. Um bloco de tesão carnavalizante e tropical - atrás de Artur Gomes só não vai quem não o leu.

“quero dizer que ainda é cedo

ainda tenho um samba/enredo

tudo em nós é carnaval”

De forma lúdica e irônica, reconstrói, ou reverte, as intenções de Guimarães Rosa, quando Sagarana se mistura à ideia de paisagens e ao sentido de sacanagens; e às de Mario de Andrade - onde Macunaíma reparte seu teor catártico em poéticas folias, ou em fulias de imagens, ou seja, em fulinaímicas poesias, banhadas de caos e humor.

“é língua suja e grossa

visceral ilesa

pra lamber tudo que possa

vomitar na mesa

e me livrar da míngua

desta língua portuguesa”

Ao seguir de perto o conceito metafórico do processo crítico e cultural da Antropofagia, o artista ratifica seus valores, com sua língua literária, e reafirma o ato de não se deixar curvar diante de certa poesia catequisada pela mesmice e pelo lugar comum, distanciando-se da homogeneidade de certo academicismo impotente e de certos parâmetros poéticos com que já nos acostumamos. De acordo com o próprio autor, revelado em uma entrevista, SagaraNAgensFulinaímicas é um pedido de bênção a seus Mestres, imbuído do teor catártico que sua poesia contém, como o fragmento do poema que abre o livro:

“guima meu mestre guima

em mil perdões eu vos peço

por esta obra encarnada

na carne cabra da peste”

E afirma:

“só curto a palavra viva

odeio essa língua morta

poema que presta é linguagem

pratico a SagaraNAgem

no centro da rua torta”

No livro, os poemas se interpenetram, linguisticamente, libidinosos, doces e cruéis, vampiros de imagens ferrenhas, num aparente jogo de representação, onde o rosto do poeta se mostra e se esconde, de acordo com a mutação e o reflexo de seus espelhos interiores. Seus textos ora afirmam, ora desmentem o já dito, a nos lembrar um de seus ídolos, Raul Seixas, e a sua metamorfose ambulante.

Sentimentos contraditórios, como se o autor quisesse, propositalmente, escorregar segredos pelos nossos olhos,ambiguamente, rindo de nós, a nos instigar: “Desnudem a minha esfinge!”

“eu não sou flor que se cheire

nem mofo de língua morta”

Na verdade, sua poesia apresenta vários (re) cortes, várias direções, vários abismos e formas de olhar a vida e o mundo. Como se o verdadeiro Artur se dissolvesse em outros, a cada poema, e essa dissipação o transformasse em alguém improvável, impalpável. Errante. Artur Gomes, ele mesmo, são muitos. E todos nós.Afinal, “o poeta é um fingidor”, ou não?

“a carne que me cobre é fraca

a língua que me fala é faca

o olho que me olha vaca

alfa me querendo beta

juro que não sou poeta”

Tantas vezes escatológico e sensual, numa performance textual que parece uma metralhadora giratória, o seu imaginário poético explode em tatuagens, navalhas, sangue, cicatrizes, punhais, facas, cuspe, pus, línguas, dedos, dentes, unhas, seios, paus, porra, carne, flores e lençóis, como um paraíso construído num inferno, e toca o nosso céu interior, nas ondas de um mar verde escondido em nosso peito. Na nossa melhor alma.

Sem falsos pudores, o autor procura, em seu liquidificador de palavras, misturar o erótico, o profano e o sagrado, com cortes de cinismo e grande dose de humana solidariedade. Equilibrista na corda-bamba, sem rede de proteção, entre razão e delírio, instiga dualidades com seus versos de alta voltagem poética. Com linguagem rebuscada, seu trabalho ultrapassa os limites das páginas do livro, e reverbera como tambor, mesmo após o término de sua leitura.

“a carne da palavra

: POESIA

l a v r a q u e s o l e t r o

todo Dia”

A poesia de cunho social é, igualmente, referência obrigatória em seu trabalho, desde o início de sua carreira literária, marcadamente, em Jesus Cristo Cortador de Cana, de 1979, mas, principalmente, no memorável e premiado O Boi Pintadinho, de 1980.

Esses poemas político-sociais, junto ao tema amoroso, também encontramos em outras obras importantes do poeta, como Suor & Cio, de 1985, Couro Cru & Carne Viva, de 1987 e 20 Poemas com Gosto de JardiNÓpolis& Uma Canção com Sabor de Campos, de 1990, e se inserem em todos os seus livros posteriores, que culminam agora em SagaraNAgensFulinaímicas.

Em suas viagens imemoriais, o poeta mistura São Paulo, Copacabana, Búzios, calçadas, origem, chão, mares, cactos, sertão, onde tudo sangra de maneira violentamente bela e sem volta. Só a língua a ser reconstruída em poesia.

“ando por são Paulo meio Araraquara

a pele índia do meu corpo

concha de sangue em tua veia

sangrada ao sol na carne clara”

Artur Gomes sabe que ao escritor cabe proporcionar beleza e prazer. Entende que a poesia existe para expressar a condição humana, tocar o coração e a emoção do outro, e dar oportunidade para que seu interlocutor tenha chances de conhecer-se mais e melhor. E que só há um meio de o poeta conseguir seu intento: cuidar e aperfeiçoar a linguagem.

Sempre coerente, Artur Gomes sublinha o essencial de seu pensamento, ratificando em seu trabalho que as duas maiores palavras da nossa língua são amor e liberdade.

“a coisa que me habita é pólvora

dinamite em ponto de explosão

o país em que habito é nunca

me verás rendido a normas

ou leis que me impeçam a fala”

SagaraNAgensFulinaímicas veio confirmar o que os leitores do poeta já sabiam: Artur Gomes é um artista instigante, um cantador que desafia rótulos. No seu fazer poético, há um desfocar proposital da realidade, onírico e cinematográfico, que mergulha em constantes vulcões, em permanente ebulição – um texto em contínuo movimento.

Sua poesia metalinguística, plástica, furiosa, delicada, passional, corporal, sexual, desbocada, invasiva, libertária, corrosiva, visceral, abusada, dissonante, épica é, antes de tudo, a poesia do livre desejo e do desejo livre. Nela, não há espaço para o silêncio: é berro, uivo, canto e dor. Pulsão. Textura de vida. Uma poesia que arde (em) seu rio de palavras.

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terça-feira, 28 de outubro de 2025

por onde andará macunaíma

caminho das pedras

para Paulo Ciranda, Brício Marcelino, Monica Elias, Sady Bianchin e Marcela Giannini

 

itaipuassu pra que te quero

 "pedra grande que faz barulho" em tupi-guarani

itabira drummmundana itapemirim

itaipu pedra que canta 

itacoatiara o que será ?

tapera caiçara curumim

cobra de vidro olho d´água

oca de pedra aldeia praça campo

que não medra

 trilha de morro pedra que brilha

 pedra riscada pedra pintada

onça parda

tanta pedra estamos  pedra

antes que fedra

o que será?

vestígios  da pedra pequena

orixá da pedra grande

  sagrado no livro das pedras

itaoca pedra da casa sorocaba 

ibitioca serra estourada 

BR/101 marginal da estrada 

rio dos lagartos 

cacomanga curuminha 

 ururaí o que será?

baobá/mar/árvore  da vida

por onde vim  parar em Maricá

 

Artur Gomes

19 outubro – 2025

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Balbúrdia PoÉtica 

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             Itabapoana

       pedra pássaro poema


era uma vez um mangue 

e por onde andará Macunaíma?

na sua carne

no seu sangue

 na medula no seu osso

será que ainda existe

 algum vestígio de Macunaíma

 na veia do seu pescoço?


 tá no canto das sereias

tá no rabo da arraia

nos becos nas favelas

 na usina sapucaia?

na  teoria dos mistérios

 dos impérios dos passados

 nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

 

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

 na usina de cambaíba

 em campos dos goytacazes

 macunaíma não me engana

 está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos 

em são   francisco do Itabapoana

 

macunaíma não me engana

viveu na contra mão

foi assassinado na chacina

da penha

e no complexo do alemão

 

Artur Gomes

Poema d o livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Litteralux – 2025

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caminho dos goytacazes

 

vou me embranhar por aí nas trilhas de Anchieta para ver se encontro goytacazes pelo Vale do Paraíba. Macunaíma vai na bagagem. Quando chegar em Taubaté, toamos uma uma pinga dobramos a esquerda e mergulhamos em Ubatuba e São Luis do Paraitinga. Não pense lady senhora que desviei do assunto, é que Tarcila Baudelérica das mata de piracicaba descobriu que Serafim Ponte Grande conheceu o bando das traquinagens, e sem nenhuma sagaranagem e sem demora, também se decidiu e vai junto.

 

Artur Kabrunco

Por Onde Andará Macunaíma?

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 Mutações em Pré-Juízo

 

corri pelos fundos por cima dos muros

na minha escuridão vaguei proibido

quebrei a cruz levei o cristo

não via luz por causa disto

transpus a porta entrei tremulante

no chão enfestado de heróis e monumentos

descobri os portos recobri os ossos

revistei os corpos encontrei os mortos

 

um urubu me testemunha um outro louco me acompanha

o túmulo da minha alcunha e cúmulo se me apanham

debaixo dos girassóis de cara nesse lugar

nas trevas dos caracóis a luz fosca do luar

com a cruz que carreguei sem ninguém para impedir

a cruz santa que quebrei sem ninguém a proibir...

 

e o meu todo mente e sangue para mim desconhecidos

antepassado dom meu dono, me deu sono me deu medo

e então movido por instinto quebrei os olhos para o mar

cravei as patas  no silêncio recomecei a caminhar

 

quebrei a cruz levei o cristo que comigo se afastou

deixando só no meu deserto o velho pé de inspiração

passei a porta de retorno ao débil mundo que saíra

e vi por trás das minhas costas

os olhos grande que me espreitam

me cobrando do pecado me cobrindo de pesar

não me espreite dona morte a senhora vai cansar

 

quebrei a cruz levei o cristo

iluminei o chão/caminho

agora então por causa disto

um urubu me testemunha

um outro louco me acompanha

ao túmulo da minha alcunha

a cova da minha entranha

 

Artur Gomes

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A Biografia De Um Poeta Absurdo

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Balbúrdia PoÉtica - SagaraNAgens Fulinaímicas

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