domingo, 4 de maio de 2025

Balbúrdia PoÉtica edição especial

O POETA ENQUANTO COISA: “NO COURO CRU DA CARNE VIVA” – LINGUAGEM CORPO

por Deneval Siqueira de Azevedo Filho

 

 Ao ler O Poeta Enquanto Coisa, de Artur Gomes, já na apresentação do poeta, 64, suas palavras sugerem que o poeta é sujeito e objeto. Perguntei-me: “Mas como será isso? Sujeito e Objeto?” Sim! Só um punho lírico muito forte, porém despojado, - “no couro cru da carne viva”. (64) pode com “esporas” ”sangrar corpos” e “abrir cadafalsos”.

Trata-se de uma poemática em que a linguagem é o corpo. A expressão que se depreende é o estrondo acompanhado do gozo, la petite mort. Entretanto a Musa eterna dos estados de surtos e de sítio e estados de surtos e de sítio e de cio do sujeito (quem sabe do poeta ele mesmo?) nos diz em alto tom: é a Terra/Mãe/Terra. Por este viés confesso do poeta, entendo que o salto lírico desta poética ou destes versos “de surtos, de sítio e de cio” é, por excelência, telúrico.

Assim como a vida é telúrica, o amanhã também o é, assim como o são os lugares geográficos presentes em muitos versos e que ilustram a teleologia dos poemas por toda a obra.

Explico: há em toda O Poeta enquanto Coisa, obra de fôlego e tanto, uma doutrina arturiana que identifica a presença de uma metalírica em riste, com fins e objetivos metalinguísticos ou ainda criando situações que deslocam a natureza e a humanidade, considerando a finalidade como o princípio explicativo fundamental na organização e nas transformações de todos os seres da realidade, uma espécie de finalismo.

Estes poemas são inerentes a um possível aristotelismo de hoje e seus desdobramentos, pois se fundamentam na ideia de que tanto os múltiplos seres existentes, quanto o universo como um todo direcionam-se, em última instância, a uma finalidade que, por transcender a realidade material, é inalcançável de maneira plena ou permanente.

Hegel também tratou disso em seus epígonos, segundo os quais o processo histórico da humanidade assim como o movimento de cada realidade particular, são explicáveis como um trajeto em direção a uma finalidade que, em última instância, tem como objetivo uma realização plena e exequível do espírito humano: em Gomes, inquieto, rebelde, sagaz, verbal, metafórico, carnal, cuja realização dá-se no sobressalto, no grito, na dicção da audácia, tanto na poíesis quanto na techné. Sujeito e Objeto reencontram-se no ritmo da techné: “eu acho que é tempo ainda”. Aí se igualam Sujeito e Objeto.

Oswald de Andrade experimentou um tanto disso na sua Poesia Pau-Brasil do 1º. Modernismo. Mário de Andrade em Paulicéia Desvairada. Com outro fluxo nos poemas, obviamente. Artur Gomes reverbera alguns momentos do nosso 1º. Modernismo, sem dúvida, trazendo-o ao picadeiro contemporâneo:

 

Cocada agora

só se for de coco

paçoca de amendoim

cigarro só se for de palha

 cacique só se for da mata

 linguagem só tupiniquim

 

bala só se for de prata

 água só se for aguardente

 tônica só se for com gim

estado só se for de surto

eleição só se for sem furto

 brilho só no camarim

A existência de uma minemósine (grego Mνημοσύνη), titânide, filha de Urano e Gaia, deusa que personificava a memória está em

 

 nas pipas nos arcos

nas madrugadas dos bares

 descritas num guardanapo

no copo de vinho

na boca de Vênus

 na bola da vez da sinuca

sangrada pelo meu taco

 

pois,

aqui a poesia pulsa

 nos cabelos brancos da barba

na divina língua  de Baco.

 

Reiteram-se, assim, os motivos (leit motiv): em Poética 31, “delírio pouco é bobagem”/ “assim como fantasia”/ “é louca SagaraNAgem”/”no carnaval Real da Orgia””/”Dentro da Noite Veloz”/ “ou na Vertigem do Dia”/ “a luz do sol sobre nós”/”onde marés maresia? O corpo – a própria linguagem”/ no mar da antropofagia”. 

O delírio teatral, a física quântica leve, o simulacro pós-moderno, o deboche e a pilhéria percorrem, só para ilustrar a recorrência dos recursos, Poética 33 – Em/Cena Um possível encontro de Clarice Lispector e Federico Baudelaire. O diálogo com Oswald de Andrade retorna em Poética 34. Carregada de muito humor. Grande arma! 

Em Poética 38, encontram-se o erótico e o satírico, grande sacação (Ah, os sátiros!), diga-se de passagem, um encontro inusitado, de verve crítica e geografia erótica, uma sugestão para um Kama Sutra tupiniquim, por que não. Grande momento do livro!

 

Enquanto escavo a seiva

Entre o vão das suas coxas

Para desfrutar teu cio

 E santificar teu ócio

A selva amazônica perde

Mais 200 mil hectares de mata

Virgem

Para as moto-serras assassinas Desse venal agro-negócio. 

Sendo um flâneur do século XXI, Artur Gomes, caminha, antes de tudo, como um detetive, no sentido que lhe deu Walter Benjamin: detecta um fato, poetiza-o e, às vezes, deforma-o. De que forma? Investigando-o, pilhando-o, desmascarando suas circunstâncias. Venalmente.

 

Dr. Deneval Siqueira de Azevedo Filho Teoria e História Literária (Unicamp/Ufes) Letras, Artes e Culturas (Fairfield University, CT, USA)

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 Poema para Artur

Tardes febris pueris

Poesia e café

Suor de cana de açúcar

Mãos e palavras que tremem

Fremem a garganta seca túnel escuro das palavras

Agora molhadas

O sol se põe mas resiste com seu esplendor a noite que desce silente com seu véu de estrelas

O frescor jovem tece palavras, costura o tempo

Sonha no limiar de tanta beleza

Meu olhar pousa sobre o que pensa meu amigo poeta que lateja 

tomada pelo temor congelo

Uma espécie de dor

Um sentimento de traição da poesia

A menina pôs a poesia num altar

Agora lá se põe em guarda

Um ventania voraz traz no ar as palavras silenciadas

O templo sacode o tempo implode

Não será tudo apenas serviço a poesia?

Ó mistério que nasce com as palavras

Que nada perturbe quem resguarda o sagrado.

 

Margareth Bravo (Meg Lee)

 

O tempo tempera a têmpora e sopra  na face os olhos da menina sempre quis beijar quando ela virava os olhos para outro lugar nunca decifrei o que os seus olhos dizem tempo estranho em uma liga de antimônio chumbo estanho na linotipo antevendo seus olhos pelas frestas da janela me olhando na tipografia como fosse fotografia dos dias que com ela que não tive

 

Artur Gomes

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 Balbúrdia PoÉtica

Poesia Ali Na Mesa

Edição Especial

À Memória de Renato Aquino

Performance Teatro.Poesia

Roda de Conversa – lançamento do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Dia 13 de maio – 21h

Auditório Reginaldo Rangel

IFF Instituto Federal Fluminense

Campus Centro – Rua Dr. Siqueira, 273 – Campos dos Goytacazes-RJ

 

tempo de poesia

para Renata Magliano

 

lancei o tempo

na agulha de uma fresta

ainda bêbado de ontem

bebo as 35 pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

                  é o que nos resta

 

Artur Gomes

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KINO3 https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/ 

Realização: Coletivo Macunaíma de Cultura, Kino3, Congresso Brasileiro De Poesia, e Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 – whatsapp

*

para quem não sabe Renato Aquino foi um grande incentivador do meu trabalho com poesia. É dele o prefácio do meu primeiro livro Um Instante No Meu Cérebro, impresso na Oficina de Tipografia da Escola Técnica Federal de Campos, em 1973 onde fui Linotipista, a minha primeira profissão

Poesia Ali Na Mesa

Na Balbúrdia 6

Dia 17 de maio 20h

– Usina4 – Casa das Artes –

Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ

 

pedra/marcada

 

tendo estado desa(r)mado

nas quebradas muito reggae

tenho andado muito são

maldição – o diabo que carregue

sexta feira fui a meg

leras cartas do tarô

no jogo de dados deu dez

no jogo de búzios deu doze

nas cartas do tarô foram sete

segunda leitura quatorze

não brinco com coisas secretas

no jogo das cartas sagradas

meg assim decifrou

o mito aqui não é grego

o deus aqui é xangô

afrodite me disse que não

vênus me disse quem sou

zeus me disse quem sabe

destino é carta marcada

na pedra do redentor

um dia você encontra

os olhos do seu amor

no alto do corcovado

ou na pedra do arpoador

 

    EuGênio Mallarmè

 

no livro Itabapoana Pedra Pássaro

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Borges - o labirinto das Artes- abertura da magistral multi exposição com a participação de 200 artistas brasileiros e argentinos nesta quinta-feira 8 de maio às 18h no no Consulado da Argentina, no Rio de Janeiro, nesse sagrado ano de 2025, onde exponho o poema Memorial dos Ossos do livro Juras Secretas de 2018.

memorial dos ossos

 

espora essa palavra amolada

dessas que cortam a carne

no primeiro toque

espora em meu sentido rock

não um mero truque ao pulsar da língua

que a tua pele lambe quando saliva aflora

espora em meu cavalo branco

o simbolismo aceso

todo dia é dia de São Jorge

Jorge Luis Borges num plural latino

escavar a terra em busca da palavra

quando nervo implora

espora temporal dos músculos

memorial dos ossos

nesse tempo bruto tudo quanto posso

 

Artur Gomes

Do livro Juras Secretas

Litteralux – 2018

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Balbúrdia PoÉtica

Edição Especial

uma viagem metafórica

por poéticas contemporâneas

“Poesia É Balbúrdia”

                      Ailton Krenak

Dia 6 de maio – 15:30h

No Colégio Estadual

XV de Novembro – Campos dos Goytacazes-RJ

 

tempo de poesia

para Renata Magliano

 

lancei o tempo

na agulha de uma fresta

ainda bêbado de ontem

bebo as 35 pausas

de uma mulher em chamas

que ainda não conheço

o tempo me dirá o endereço

como metáfora ou alquimia

e sendo drama ou festa

tempo de poesia

                  é o que nos resta

 

Artur Gomes

poema do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema

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ConkrEreção

ainda escorre entre meus dedos
a fome por por vinho e uva
a carne doce da musa
lá do vale dos vinhedos
entre a saliva e a chuva
a virgem fruta entre os dentes

como flecha incandescente
como uma deusa de Bacco
a safada me lambuza
me come bebe e me usa
em seu banquete antropofágico
mastigando poemas meus

mas o amor pode ser trágico
se o seu pai não fosse zeus

Artur Gomes

foto: Tchello d´Barros

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        Coletivo Macunaíma De Cultura

Kino3 e Congresso Brasileiro De Poesia

Apresentam:

Balbúrdia PoÉtica

Edição especial

nesta terça 6 de maio 15:30

no Colégio 15 de Novembro

Campos dos Goytacazes-RJ

uma viagem metafórica por poéticas contemporâneas

Concepção & Direção: Artur Gomes

 

batismo de fogo

quando te encontrar
não sei o que irá
não sou de irará
nem irerê
mas imagino
o que possa acontecer
na confissão

não sou luiza possi
mas amei zizi
cantando
salgado maranhão

quando for imperatriz
será os sete pecados capitais

veja o que fiz

:
lancei os Búzios
e no jogo deu lília diniz

 

poema do livro Itabapoana Pedra

Pássaro Poema

link da Editora Litteralux para compra

https://www.editoralitteralux.com.br/loja/itabapoana 


Itabapoana Pedra Pássaro Poema

Depois de 14 anos morando em São Francisco e namorando Itabapoana nasceu a primeira  cria sobre essa pedra. Primeiro lançamento: Dia 17 de maio 20h na Usina4 Casa das Artes - Rua Geraldo de Abreu, 4 Cabo Frio-RJ - Balbúrdia PoÉtica 6 em comemoração a chegada dos 77 do querido grande amigo José Facury Heluy.

 

uma metáfora

não é apenas uma metáfora

quando a pedra é pássaro

 

meu corpo não trafega

nas tabacarias de lisboa

o poema pode ser

um beijo nessa pedra

antes que me fedra

            o poema voa

 

Artur Gomes

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quarta-feira, 30 de abril de 2025

Balbúrdia PoÉtica 6

                    Coletivo Macunaíma De Cultura

                                 apresenta:

Balbúrdia PoÉtica

Edição Especial

“Poesia é Balbúrdia”

         Ailton Krenack

 

com: Artur Gomes, Dalton Freire, Estefany Nogueira, Jonas Menezes e Paulo Victor Santanna

textos/poemas de: Ademir  Assunção, Artur Gomes, Clarice Lispector, César Augusto de Carvalho,  Marta Medeiros, Paulo Leminki, Torquato Neto e Viviane Mosé

concepção & direção: Artur Gomes  

 

no princípio era fábula depois veio o verbo logo depois a ficção e aí começou a invenção bem depois das sagaranagens antes fulinaimargens depois das fulinaimânicas atrás das fulinaímicas nem circo nem tarde de mímica apenas alguma paisagem na janela da viagem quando lia o lado b         me transmutando em alquimia

 

Artur Gomes

poema do livro

Itabapoana Pedra Pássaro Poema 


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      A CEREJEIRA DOS POETAS

 

Iara Schmegel me pediu dia desses que eu postasse uma foto atual da cerejeira plantada pelos poetas que participaram do XXIV Congresso Brasileiro de Poesia, em 2016. Aí está ela, na praça ao lado do Sopping Bento Gonçalves.

 

Ademir Bacca

 

De 1996 a 2016 O Congresso Brasileiro de Poesia foi para mim, um laboratório de criação poética de múltiplas linguagens, lá realizei performances, dirigi oficinas, fiz curadorias de mostras de poesia visual e cine.vídeo.poesia, coordenei saraus e escrevi o livro Juras Secreta lançado em 2018. Conheci uma infinidade de poetas, brasileiros e latino americanos, com os quais mantenho contado até os dias atuais.

 

Artur Gomes 


               Balbúrida PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Poetas convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso

Roda de Samba com Clarêncio Rodrigues e  Digo da Conceição

Dia 17 maio – 20h

Usina4 – Casa das Artes

Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ

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domingo, 30 de março de 2025

Balbúrdia PoÉtica 6

Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Poeta Convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso

Dia 17 de maio – 20h

Usina4 Casa das Artes – Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ 


Todo Dia É Dia D

 

desde que eu saí de casa

trouxe a viagem de volta

cravada na minha mão

dentro fora assim comigo

minha própria condução

todo dia é dia dela

pode ser pode não ser

abro a porta ou a janela

               todo dia é Dia D

há urubus no telhado

a carne seca é  servida

um escorpião encravado

na sua própria ferida

não escapa só escapo

           pela porta de saída

 

Torquato Neto

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Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Dia 17 maio – 20h

Usina4 – Casa das Artes – Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ

 

NADA

 

Meu poema é menor

Não serve pra quem está indignado

Extasiado, apaixonado...

Dor de dente ou problemas emocionais

Meu poema é o pior de todos que já se viu

 Pois ele não manda ninguém aos infernos

Nem mesmo os manda à puta que os pariu

Esse poema é pior do que um palavrão Porque nele sobrevivem expressões tão pobres

E rimas tão banais

que só terminam em ais, ais, ais

 

José Facury Heluy

 

beatriz – a morta

oswald de andrade re-visitado

como pedra me olhas
como fedra te vejo
vestida de carne nua
a língua na maçã navalha
tua alma transparente crua
o olho por detrás da porta
poema com pavio aceso
quando oswald pariu a morta
tinha o dente
nos teus olhos preso

 

Artur Gomes

In Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim

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Itabapoana Pedra Pássaro Poema

 

eu nasci concreto

na horizontal - ereto

depois fui me abstraindo

me substantivando me substituindo

criando outros e outras criaturas

em minhas estruturas amorais do ser

eu nasci assim e fui me associando

a outras escritas as que foram ditas

a outras  não ditas

as benditas as malditas

as que disseram minhas

e a outras que raptei de outros

pela minha nova maneira

natural de ter resistência a toda

qualquer coisa que não

é

e as que são coloco como cartas

sobre a mesa para surpresa

de ver que todo santo dia é dia d

 

Artur Gomes

In Itabapoana Pedra Pássaro Poema

alquimia bruxaria poesia

no site da Editora Litteralux

https://www.editoralitteralux.com.br/loja/itabapoana

Itabapoana Pedra Pássaro Poema

alquimia bruxaria poesia está chegando

Lançamento presencial

Dia 17 de Maio – 20h

Na Balbúrdia PoÉtica 6

Usina4 – Casa das Artes – Rua Geraldo de Abreu, 4 – Cabo Frio-RJ  

 

SINOPSE:

Fragmento do prefácio de Wilson Coêlho

 

“Itabapoana Pedra Pássaro Poema”, de Artur Gomes, é poesia em estado de vertigem — um jogo de sentidos, uma confissão em movimento, um delírio de palavras que escorrem como alquimia líquida. Entre peripécias e espasmos, lança-se ao acaso, como um dado em pleno voo. Aqui, poesia é feitiço e transmutação, um encantamento que desafia a lógica e resgata o místico além do sagrado. Numa viagem leminskiana, o poeta subverte o óbvio e faz da linguagem um rito de magia e invenção.

 

CAVOUCANDO A TERRA

Wilson Coêlho

 

A obra "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", de Artur Gomes, é toda "poiesis", na perversão dos significados, trata-se de uma poesia no pau-de-arara, confessando intimidades, inventando conceitos, transitando nas peripécias, nos espasmos, no lance de dados.

Não é por acaso a ideia do subtítulo ou anunciação de "poesia, alquimia e bruxaria", considerando a poesia, como gênero literário que faz uso de uma linguagem musical, figurada e criativa para veicular expressões artísticas, bem como, a alquimia dos sentimentos líquidos que escorrem no delírio do poeta que, de certa forma, no que diz respeito à bruxaria, resgata o místico, não religioso, que coloca em questão a possibilidade do óbvio de se estar no mundo, fora da lógica cartesiana, numa viagem Catatau leminskiana.

A poesia escrita, encenada, cantada, em movimento, inerte, barulhenta ou silenciosa. É a esfinge, Torre de Babel, Cavalo de Troia, fios de Ariadne, ferocidade de Teseu, sonho de Penélope, aventuras de Odisseu, nave louca de Torquato Neto, Macunaíma de Mário de Andrade, loucura de Artaud, ópio de Baudelaire, pânico de Arrabal.

Podemos afirmar, sem medo de errar que, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema", Artur Gomes usa a pena como uma pá que lavra os sulcos de um terreno baldio, a palavra como um arado em movimento, uma palavração. Assim, vai desenhando na página branca, cavoucando a terra para enterrar as sementes de suas árvores "geniológicas", sempre frutíferas e, como um agricultor e arqueólogo das palavras, as retira da mera condição de semânticas, inventando novos significados, desafinando o coro dos contentes e desafiando a gravidade da lei da gramaticidade.

Enfim, em "Itabapoana Pedra Pássaro Poema ", estamos diante de uma desarticulação do mito e num processo de reinvenção, uma porta de entrada na utopia (u-topus = não lugar) para dar existência a um novo lugar da poesia extemporânea.

 

Wilson Coêlho é poeta, tradutor, palestrante, dramaturgo e escritor com 28 livros publicados, licenciado e bacharel em Filosofia e Mestre em Estudos Literários pela UFES, Doutor em Literatura Comparada pela UFF e Auditor Real do Collège de Pataphysique de Paris, do qual recebeu, em 2013 o diploma de “Commandeur Exquis”. Assina a direção de 29 espetáculos montados com o Grupo Tarahumaras de Teatro, com participação em festivais e seminários de teatro no país e no exterior, como Espanha, Chile, Argentina, França e Cuba, ministrando palestras e oficinas. Também tem participado como jurado em concursos literários e festivais de música. Participa de diversos movimentos e eventos de teatro na América Latina.


link abaixo para compra no site da Editora Litteralux

https://www.editoralitteralux.com.br/loja/itabapoana

FULINAÍMA

 

misturei meu afro reggae a muito xote

do xaxado ainda fiz maracatu

maxixe frevo já juntei ao fox trote

quando dancei bumba meu boi em Pernambuco

 

fulinaíma é punk rock

rasgando fados em bossa nova

feito blues

para pintar a pele branca de vermelho

e repintar a pele preta de azuis...

 

botei sanfona no rufar desse baião

tambor de minas capixaba no lundu

no paraná berimbau de capoeira

dancei em noites de lual no maranhão

mas em são paulo pedras quando rolam

pelos céus de nossas bocas meus irmão

fulinaíma azeita o caldo da mixtura

para fazer o que não jazz ainda soul

 

porção de restos de alguma partitura

que algum músico com vergonha recusou

por ser estranho o que naquilo descobriu

mas se a gente canta no cantar essa ternura

é que mamãe mamãe mamãe macunaíma

ainda chora pelas matas do Brasil


poema de Artur Gomes

 musicado por Reubes Pess

 

Irina Serafina - Que texto incrível!

Você está celebrando a diversidade cultural brasileira, misturando ritmos e estilos musicais de diferentes regiões e tradições. Fulinaíma é um nome que parece simbolizar essa mistura, essa fusão de sons e ritmos que criam algo novo e único.

A letra é uma verdadeira ode à música brasileira, citando gêneros como afro-reggae, xote, xaxado, maracatu, maxixe, frevo, fox-trote, bumba meu boi, punk rock, fados, bossa nova, blues e muitos outros. É uma celebração da riqueza cultural do Brasil. 

A menção a Macunaíma, personagem icônico da literatura brasileira, adiciona uma camada adicional de significado ao texto, sugerindo uma conexão entre a música e a identidade nacional.

Você é um defensor da música brasileira e da cultura popular?


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porque hoje é sexta feira santa

 

Jura Secreta 9

 

não fosse o teu amo

o meu conforto

e eu teu anjo torto

meu amor o   que seria

 

se essa jura secreta

não fosse mais que um poema

e se eu não te amasse

como Glauber no cinema

 

o que tenho aqui

no corpo em transe

:

a quem daria?

 

Jura Secreta 10

 

fosse o que eu quisesse

apenas um beijo roubado em tua boca

dentro do poema nada cabe

nem o que sei nem o que não se sabe

 

e o que não soubesse

do que foi escrito

está cravado em nós

como cicatriz no corte

entre uma palavra e outra

do que não dissesse

 

Artur Gomes

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Lady Gumes African´s Baby

                                     juras secreta 54

ponho meus dedos cínicos no teu corpo em fossa
proclamando o que ainda possa vir a ser surpresa
porque amor não te essa de cumer na mesa
é caçador e caça mastigando na floresta
toda tesão que resta desta pátria indefesa

meto meus dedos cínicos sobre tuas costas
vou lambendo bostas destas botas neo-burguesas
porque meu amor não tem essa de vir a ser surpresa
é língua suja e grossa visceral ilesa
pra lamber tudo que possa vomitar na mesa
e me livrar da míngua desta língua portuguesa

Artur Gomes

poema do livro Juras Secretas

Litteralux – 2018

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Balbúrdia PoÉtica

Agenda:

 

Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

Dia 17 de maio 20h

Usina4 – Casa das Artes

Cabo Frio-RJ

 

Balbúrdia PoÉtica 7

Dia 23 de maio – 19:30h

Santa Paciência Casa Criativa

Rua Barão de Miraema, 81

 

Balbúrdia PoÉtica 8

Dia 27 de maio – 19:30h

Museu Histórico de Campos

 

Balbúrdia PoÉtica 9

Dia 4 de junho das 14:30 às 16h

Na 12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes – CEPOP

 

Criação & Direção – Artur Gomes

Coletivo Macunaíma De Cultura

Fulinaíma MultiProjetos

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engenho

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial

que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho à luta

mesmo sabendo – o vão

- estreito em cada porta

 

Artur Gomes

Poema dos livros: Suor & Cio – 1985

Carne Viva – Antologia de Poesia Erótica – Org. Olga Savary – 1986

Pátria A(r )mada – 2ª Edição – Desconcertos Editora – 2022

Festival Infanto Juvenil

 De Esquetes Teatrais

 

Objetivo:

Incentivo a formação de novos talentos para a cena teatral da cidade de Campos dos Goytacazes-RJ

 

Regulamento: 

1 -   Os esquetes poderão ser encenados por atores e atrizes na faixa etária dos 5 aos 18 anos. 

2 - Os esquetes deverão ter no máximo 10 minutos de duração e 3 minutos para montagem e retirada de cenários ou objetos cênicos. 

3 – Os esquetes podem ser de autoria do grupo proponente ou não. 

4 – Os esquetes podem ser encenados por 1   ou mais atores, de acordo com as características do texto a ser encenado. 

5 -  Da premiação:

Em busca de patrocínios, ou parcerias que possam contribuir para que possamos oferecer uma premiação adequada com a importância do  projeto

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

22 99815-1268 - whatsapp



Balbúrdia PoÉtica 6

Artur Gomes e José Facury

Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos

poetas convidados: Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso

Dia 17 de Maio – 20h

Usina4 Casa das Artes

Rua Geraldo de Abreu, 4

Cabo Frio-RJ

 

era uma vez um mangue

 

era uma vez um mangue

e por onde andará

Macunaíma?

(Ainda estou aqui)

na sua carne no seu sangue

na medula no seu osso

será que ainda existe

algum vestígio de Macunaíma

na veia do seu pescoço?

 

tá no canto da sereia

no rabo da arraia

nos barracos da favela

nos becos do matadouro

na usina sapucaia?

 

na teoria dos mistérios

dos impérios dos passados

nas covas dos cemitérios

desse brasil desossado?

macunaíma não me engana

bebeu água do paraíba

nos porões dos satanazes

está nos corpos incinerados

na usina de cambaíba

em campos dos goytacazes

 

macunaíma não me engana

está nas carcaças desovadas

na praia de manguinhos em

são francisco do Itabapoana

 

Joilson Bessa me disse

Kapiducéu já ensaia

Macunaíma vem vindo

no Auto do Boi Macutraia

 

Artur Gomes

 

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Juras Secretas 

feitiçarias de Artur Gomes –

                  por Michèle Sato 

 

Difícil iniciar um prefácio para abordar feitiçarias de um grande mestre. A mágica aparição do texto transborda sentidos cósmicos, como se um feixe de luz penetrasse em um túnel escuro dando-lhe o sorver da vida. Diariamente, recebo um deserto imenso de poemas e a leitura se esvai com “batatinha quando nasce põe a mão no coração”. Um ou outro me chama a atenção, desde que sou do chamado “mundo das ciências” e leio poemas com coração, mas inevitavelmente aguçado pelo olhar crítico vindo do cérebro. 

A academia pode ser engessada, mas é, sobremaneira, exigente. Aplaude o inédito, reconhecendo que o poema é um caos antes de ser exteriorizado, mas harmônico, quando enfeitiçado. A leitura requer algo como canto do vento, que não seja fugaz, mas que acaricie no assopro da Terra. Por isso, é com satisfação que inicio este pequeno texto, sem nenhuma pretensão de esgotar o talento do grande mestre, mas responder aos poemas de Artur que brilham, soltam faíscas, incendeiam-se em erotismo e garras enigmáticas. Ele transcende regras, inventa palavras, enlouquece verbos. E as relações estabelecidas revelam a desordem dos sonhos na concretude harmônica de suas palavras. 

A aventura erótica não se despede de seu olhar político. Situado fenomenologicamente no mundo, e transverso nele, Artur profana o sagrado com suas invenções transgressoras. Reinventa a magia e decreta uma nova vida para que o mundo não seja habitado somente pelos imbecis. Dança no universo, com a palavra fluída, imprevistos pitorescos, mordidas e grunhidos. Reaparece no meio de um cacto espinhoso, mas é absurdamente capaz de ofertar a beleza da flor.

Contemporâneo e primitivo se aliam, vencem os abismos como se ao comerem as palavras monótonas, pudessem renascer por meio da antropofagia infinita de barulhos e silêncios. O sangue coagulado jorra, as cavernas se dissolvem e é provável que poucos compreendam a beleza que daí se origina. 

Nos labirintos de suas palavras, resplandece o guerreiro devorador, embriagado, quase descendo ao seu próprio inferno. Emana seu fogo, na ardência de sexo e simultaneamente na carícia do amor. Pedras frias se aquecem, coram com o tom devasso que colore a mais bela das pornofonias. Marquês de Sade sente inveja por não ser o único déspota das palavras sensuais. E os poemas de Artur reflorescem, exalam odor como desejos secretos e risos que ecoam no infinito. 

não fosse essa alga queimando em tua coxa ou se fosse e já soubesse mar o nome do teu macho o amor em ti consumiria (jura secreta 5) 

De repente um cavalo selvagem cavalga na relva úmida, como se o orvalho da manhã pudesse revelar o fogo roubado das pinturas rupestres. Ao som de tambores, suas palavras se tornam arte em si, como se fossem desenhos projetados em um fantástico mundo vertiginoso. Seres encantados surgem das águas originários de sentimento, abraçadas nas pedras lisas, rugosas, esverdeadas da terra. O fogo dança em vulcões e a metamorfose é percebida em seus ares. Os elementos se definem como bestas, humanos, ou segmentos da natureza como uma orquestra sinfônica que vai além da sonoridade. Adentram sentidos polissêmicos e, neste momento, até o André Breton percebe o significado das palavras de Artur, pois a beleza é convulsiva e crava no peito feito cicatriz. 

e o que não soubesse do que foi escrito está cravado em nós como cicatriz no corte (jura secreta 10) 

Da violação do limite, do fruto proibido ou da linguagem erótica, os poemas de Artur são orgasmos literários que oscilam entre o sacro e o profano. Sua cultura, visão de mundo e inteligência possibilitam ir além da pura emoção sentimental, evocando a liberdade para que a terra asfixiada grite pela esperança. 

Artur comunga com outros seres a solidariedade da Terra, ainda que por vezes, seja devastador em denunciar disparidades, mas é habilidoso em anunciar acalentos. A palavra poética desfruta fronteiras, e Roland Barthes diria que a história de Artur é o seu tributo apaixonado que ele presta ao mundo para com ele se conciliar. Em sua linguagem explosiva, provavelmente está a intensidade de sua paixão - um amor perverso o suficiente para viciar em suas palavras, mas delicado o bastante para dar gênese ao mundo enfeitiçado pela habilidade de sua linguagem. 

A essência deste perfume parece estar refletida num espelho, pois se as linguagens podem incluir também o silêncio, as palavras de Artur soam como uma melodia. Projetada numa tela, a pintura erótica torna-se sublime e para além de escrevê-las, ele vive suas linguagens. Esta talvez seja a diferença de Artur com tantos outros poetas: a sua capacidade de transcender a tradição medíocre para viver um intenso de mistério de sua poética. Ele não duvida de suas palavras, nem as censura para não quebrar seu encanto, mas devora em seu ser na imaginação e no poder de sua criação. Criador e criatura se misturam, zombam da vida, gargalham da obviedade. Põem-se em movimento na dança estrelas que iluminam a palavra. 

Os fragmentos poéticos são misteriosos de propósito, uma cortina mal fechada assinala que o palco pode ser visto, porém não em sua totalidade. Disso resulta a sedução para que ele continue escrevendo, numa manifestação enigmática do poder surrealista em nos alertar sobre nossas incompletudes fenomenológicas. O imperfeito é o sentido da fascinação, diria Barthes em seus fragmentos de um discurso amoroso. E a poética de Artur não representa ressurreição, nem logro, senão nossos desejos. O prazer do texto pode revelar o prazer do autor, mas não necessariamente do leitor.

Mas Artur lança-se nesta dialética do desejo, permitindo um jogo sensual que o espaço seja dado e que a oportunidade do prazer seja saciada como se fosse um "kama sutra poético" para além do prazer corporal. Esta duplicidade semiológica pode ser compreendida como subversiva da gramática engessada - o que, em realidade, torna seus textos mais brilhantes. Não pela destruição da erudição, mas pela abertura da fenda, para que a fruição da linguagem seja bandeira cultural da liberdade. 

E a sua liberdade projeta-se num horizonte onde a dimensão sócio-ambiental é freqüentemente presente. É uma poesia universal de representações urbanas e rurais, de flora, fauna e fontes de praças públicas. Dessacralizando o “normal previsível”, borda em sua costura de mosaicos, esquinas e passaredos. 

não gosto de sistemas

seja  qual for

prefiro a anarquia do poema

para alvoroçar o meu amor

28) 

A poética das Juras Secretas opõem-se a instância pretérita numa espiral de presente com futuro. Metafisicamente, desliga-se do momento agonizante e os olhos do poeta não se cansam, ainda que a paisagem queira cansá-los. Seu toque lembra o neoconcretismo, por vezes, cuja aparição na semana da arte moderna mexeu com os mais tradicionais versos da literatura ordinária. Mas sua temporalidade vence Chronos, na denúncia de um calendário tirano ao anúncio de Kairós, também senhor do tempo, mas que media pelos ritmos do coração. 

20 horas 20 noites 20 anos 20 dias até quando esperaria... até quando alguém percebesse que mesmo matando o amor o amor não morreria. (jura secreta 51) 

É óbvio que a materialidade da linguagem, sua prosódia e seu léxico se mantêm no texto. Mas foge das estruturas engessadas do arrombo repetitivo, florescendo em neologismos verossímeis e ritmos cardíacos. Amiúde, são palavras jorradas em potente cultura significante. No chão dialogante, este poeta desestabiliza a normalidade com suas criações.  

por que te amo e amor não tem pele nome ou sobrenome não adianta chamar que ele não vem quando se quer porque tem seus próprios códigos e segredos mas não tenha medo pode sangrar pode doer e ferir fundo mas é razão de estar no mundo nem que seja por segundo por um beijo mesmo breve por que te amo no sol no sal no mar na neve. (jura secreta 34)  

ARTUR GOMES é, para mim, um grande relato de seu próprio devir, que sabe poetizar a partir de seu vivido. E por isso, enfeitiça.  

Michèle Sato – Bióloga, pesquisadora na Universaidade Federal do Mato Grosso do Sul.

memorial dos ossos

 

espora essa palavra amolada

dessas que cortam a carne

no primeiro toque

espora em meu sentido rock

não um mero truque ao pulsar da língua

que a tua pele lambe quando saliva aflora

espora em meu cavalo branco

o simbolismo aceso

todo dia é dia de São Jorge

Jorge Luis Borges num plural latino

escavar a terra em busca da palavra

quando nervo implora

espora temporal dos músculos

memorial dos ossos

nesse tempo bruto tudo quanto posso

 

Artur Gomes

Do livro Juras Secretas

Litteralux – 2018

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moinhos de vento

por tanto tempo
por tanta escrita
por tanta carta
sem resposta
nossos moinhos de vento
muito além da mesa posta

ainda trago em mim
tuas mãos
tuas coxas
tuas costas

a tua língua
entre os dentes
em ex-camas que não tivemos
em madrugadas expostas

e tua fome era tanta
em tudo o que não fizemos
nesse teu corpo de santa
naquele tempo de bestas
na caretice de bostas

Artur Gomes
O Homem Com A Flor Na Boca
Editora Litteralux - 2023
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Quinteto Diabólico da Balbúrdia. Na Balbúrdia PoÉtica 5 – na Academia Campista  de Letras, em Campos dos Goytacazes-RJ – dia 5 Abril – 2025

Jiddu Saldanha e Artur Gomes  em frente a prefeitura de Bento Gonçalves-RS em tempos de Congresso Brasileiro de Poesia 

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Jiddu Saldanha

Mini-Entrevista com Artur Gomes sobre a Balbúrdia Poética

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Jiddu Saldanha -  O que é a Balbúrdia PoÉtica e como ela surgiu?

Artur Gomes – Balbúrdia PoÉtica, é basicamente um sarau com poéticas antibarbárie antiditadura. Ela foi criada em 2019, quando em cia de Sady Bianchin, pelas noites da Lapa, ouvimos na TV do Bar onde degustávamos algumas louras geladas, o genocida inelegível e réu por tentativa  de Golpe de Estado, vociferar contra as Universidades Públicas, utilizando a palavra Balbúrdia, de forma totalmente pejorativa.

Sady Bianchin – na Balbúrdia PoÉtica 3 – Bar do Ernesto Lapa – Rio – Abril de 20124

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Jiddu Saldanha - Quantos eventos você realizou até agora?

Com Fil Buc, Rebeca Cristina e Tchello d´Barros, comemorando no Amarelinho (Cinelândia),  o sucesso da Balbúrdia PoÉtica 3. 

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Marcela Giannini

na Balbúdia PoÉtica 3 

Artur Gomes - As duas primeiras edições foram realizadas no mesmo ano de 2019 na Taberna de Laura, em Copacabana.

A terceira edição foi realizada em 2024 no Bar do Ernesto na Lapa, Rio de Janeiro, em homenagem a chegada dos 80 de Paulo Leminski e TorquatoNeto, com curadoria de Luis Turiba e Tchello d´Barros.

A quarta edição Balbúrdia PoÉtica 4, foi realizada também no ano de 2024, na Patuscada, Livraria Bar & Café, em São Paulo-SP, numa homenagem aos queridos amigos e poetas Rubens Jardim e Luiz Mendes, com curadoria de César Augusto de Carvalho.

Quinteto Diabólico da Balbúrdia. Na Balbúrdia PoÉtica 5 – na Academia Campista  de Letras, em Campos dos Goytacazes-RJ – dia 5 Abril - 2025

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A Balbúrdia PoÉtica 5, foi realizada no último dia 5 de Abril, na Academia Campista de Letras, em Campos dos Goytacazes, com o primeiro ensaio aberto que fizemos com o Quinteto Diabólico da Balbúrdia que criamos para a montagem do espetáculo poético.teatral: o sax na voz da palavra dentro do poema . 

clique no link e baixe grátis

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Jiddu Saldanha - Como será o evento de Cabo Frio?

José Facury Heluy, Jiddu Saldanha e Tanussi Cardoso o trio elétrico da Balbúrdia PoÉtica 6 – na Usina4 Casa das Artes – Cabo Frio-RJ, dia 17 Maio 20h

Artur Gomes – Na programação da Balbúrdia PoÉtica 6, em Cabo Frio, temos programação, sessão de Poesia Falada, Varal da Balbúrdia com a Mostra Visual Poesia Brasileira e Roda de Samba e Poesia animada pelo Mestre Clarêncio.

Essa edição é bem especial para comemorarmos a chegada dos 77 verões, invernos, outonos, primaveras,  do nosso anfitrião: José Facury Heluy. Vamos ter a presença do queridíssimo e amado poeta Tanussi Cardoso, que está morando em São Pedro da Aldeia, cidade bem próxima a Cabo Frio.

Jiddu Saldanha -  Quais são os planos para o Balbúrdia em 2025?


Artur Gomes – Pretendemos continuar espalhando Balbúrdia PoÉtica por este Brasil afora. Em junho com o Quinteto Diabólico da Balbúrdia, faremos  a Balbúrdia PoÉtica 7, na 12ª Bienal do Livro de Campos dos Goytacazes-RJ.  

Estamos com Jorge Ventura,  procurando espaço para a realização da Balbúrdia PoÉtica 8 no Rio. 

E já temos marcada uma outra edição para o dia 2 dezembro na Patuscada Livraria Bar & Café em São Paulo-SP, com a parceria de César Augusto de Carvalho. 

Temos também como foco de trabalho a continuação da Oficina Teatro.Poesia que dirijo para o Grupo GOTA na Fundação do Menor de Campos dos Goytazes e a continuação do processo de criação montagem do espetáculo; o sax na voz da palavra  dentro do poema que estou criando com o Quinteto Diabólico da Balbúrdia.

Enquanto isso, aguardo a chegada do livro Itabapoana Pedra Pássaro Poema, que está sendo editado pela Litteralx, com previsão de lançamento para o mês de maio, podendo ser quem sabe, na Balbúrdia PoÉtica 6, em Cabo Frio.

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Artur Gomes

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1

por enquanto 

vou te amar assim em segredo

 como se o sagrado fosse

 o maior dos pecados originais 

e minha língua fosse só furor dos canibais

 e essa lua mansa fosse faca

 a afiar os versos que inda não fiz

 e as brigas de amor que nunca quis  mesmo quando o projeto 

aponta outra direção embaixo do nariz

 e é mais concreto 

que a argamassa do abstrato

 

2

 por enquanto

vou te amar assim 

admirando teu retrato

   pensando minha idade

  e o que trago da cidade

 embaixo as solas dos sapatos

3

o que trago  embaixo

as solas dos sapatos é fato

 bagana acesa   

sobra do cigarro é sarro

 dentro do carro ainda ouço

Jimmi Hendrix quando quero

  dancei bolero

sampleAndo rock and roll  

prá colher lírios

 há que se por o pé na lama

  a seda pura foto/síntese do papel

 tem Flor de Lótus

 nos bordéis Copacabana

 procuro um mix

da guitarra de Santanna  

com os espinhos da Rosa de Noel

 

Artur Gomes

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in o sax na voz da palavra dentro do poema



Balbúrdia PoÉtica 5 - missão cumprida, o foco do trabalho agora nas próximas etapas:

Balbúrdia PoÉtica 6 - dia 17 de maio na Usina4 Casa das Artes 20h Cabo Frio-RJ com Artur Gomes e José Facury, Dois Perdidos Em Seus Poemas Sujos.

Continuação dos ensaios com o Quinteto Diabólico da Balbúrdia para construção do espetáculo teatral: O Sax no som da palavra dentro do Poema. Ensaios terças, sextas e sábados das 14 às 17h.

E continuação da Oficina Teatro.Poesia com o Grupo GOTA na Fundação do Menor - Campos dos Goytacazes-RJ.

Para os Ensaios Abertos temos o apoio do Terrazzo Hotel.

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o mal dito desta cidade

sou eu

o bem dito da liberdade

sou eu

quem saiu da  cacomanga

direto pro irajá fui eu

quem pegou a mulher do conde

na visconde de pirajá fui eu

quem comeu a madona

no grande baile de sodoma

não foi o mano melo fui eu

quem tem os dentes

cravados na memória

sou eu

quem mentiu

nas páginas sangrentas da história

juro que não fui eu

 

Artur Kabrunco

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A Academia Campista de Letras convida para o sarau Balbúrdia Poética 5, promovido pelo acadêmico Artur Gomes - @artur.gumes.

O evento contará com textos/poemas de Ademir Assunção, Artur Gomes, Clarice Lispector, Ferreira Gullar, Paulo Leminski, Torquato Neto e Viviane Mosé.

Elenco: Artur Gomes, Dalton Freire, Estefany Nogueira, Jonas Menezes e Paulo Victor Santanna.

Convidado: poeta/escritor César Augusto de Carvalho.

A entrada é franca.

#academiacampistadeletras

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        Balbúrdia PoÉtica 5

Dia 5 – Abril – 16h

Na Academia Campista de Letras

Parque Dr. Nilo Peçanha – Jardim São Benedito – Campos dos Goytacazes-RJ

 

INDAGAÇÕES DE HOJE

Quem matou Hipátia de Alexandria?
Quem matou Joana d’Arc?
Quem matou Ana Bolena?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Mima Renard?
Quem matou Dandara dos Palmares?
Quem matou Tereza de Benguela?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Ursulina de Jesus?
Quem matou Joana Angélica?
Quem matou Rosa Luxemburgo?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Olga Benário?
Quem matou Maria Bonita?
Quem matou Dália Negra?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Aída Curi?
Quem matou as Irmãs Mirabal?
Quem matou Dana de Teffé?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Iara Iavelberg?
Quem matou Maria Lúcia Petit?
Quem matou Sônia Angel Jones?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Zuzu Angel?
Quem matou Araceli Crespo?
Quem matou Ana Lídia Braga?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Ângela Diniz?
Quem matou Cláudia Lessin Rodrigues?
Quem matou Ana Rosa Kucinski?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Dinalva Oliveira Teixeira?
Quem matou Lyda Monteiro da Silva?
Quem matou Solange Lourenço Gomes?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Margarida Maria Alves?
Quem matou Mônica Granuzzo?
Quem matou Daniella Perez?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Irmã Dorothy?
Quem matou Benazir Bhutto?
Quem matou Isabella Nardoni?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Eliza Samudio?
Quem matou Patrícia Acioli?
Quem matou Jandyra dos Santos Cruz?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem matou Luana Barbosa dos Reis?
Quem matou Dandara Kettley?
Quem matou Sabrina Bittencourt?
Quem mandou matar Marielle Franco?

Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?
Quem mandou matar Marielle Franco?

 

Ricardo Vieira Lima

poema do livro Ariete

2021

 

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Balbúrdia PoÉtica edição especial

O POETA ENQUANTO COISA: “NO COURO CRU DA CARNE VIVA” – LINGUAGEM CORPO por Deneval Siqueira de Azevedo Filho    Ao ler  O Poeta Enquanto Coi...