MOENDA
Usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
Usina
mói o braço
 a carne o osso
Usina
mói o sangue
 a fruta e o caroço
 
tritura suga torce
 dos pés até o pescoço
 e do alto da casa grande
os donos do engenho
controlam
 :
o saldo e o lucro
carne proibida 
o preço atual 
proíbes que me comas 
mas pra ti 
estou de graça 
pra ti 
não tenho preço
 sou eu quem me ofereço 
a ti
: músculo e osso 
 leva-me à boca 
e completa o teu almoço
                  BraziLíricaPereira 
: 
A Traição das Metáfora
1968 
ou 
: 
a investigação uilcorneana
 quem és tu 
Uilcon Pereira 
que foste fazer na Sorbonne? 
ter aulas com Sartre 
ou cantar a Simone?
drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher.
 braziLírica amanheceu incrédula: manchetes, vozerios, falatórios, assembleias, faixas, cartazes. por todas as vias, multivias, multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim. 
E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro.
 Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
poema 1 
entre a pele e a flor no asco com meia sola no sapato o meu vapor mais que barato industrial e infonáutico entre o couro de zinco e o cabelo mar de indecifrável plástico por entre o bronze dos teus pelos entre o gozar cibernético em todo sangue magnético a minha carne pós poeira entre a flor e o vaso de barro na homepage ou no carro na camisinha de vênus vírus H corroendo em vita/plus ou na sala meu olho gótico TVendo BraziLírica lâmpada fala por um tanto ou tanto quase cento e dez em cada fase não sendo assim acaba sendo
poema 2 
debaixo da sacada a escada torta pássaro sem teto acima do delírio coração de porco crava no oco da noite a faca cega, punhal de cinco estrelas na constelação do cão maior por onde Úrsula nua passeia Dédala de Dandi Deusa de Dali lua de Dadá no coração do pintor sem fronteiras acima do pé de abóbora embaixo do pé de cajá Malásia não é aqui Espanha não além mar Salvador não é Dali a mulher que eu quero mesmo é uma Dedé que não Dadá Bia de Dante do inferno Itamarati/Itamaracá constelação ursa maior pra Dadá meu coração pra Dedé não sou cantor quando quero quero mesmo espuma nylon pele tecido isopor.
poundianna
 Torquato era uma poeta
 que amou a Ana
 Leminski profeta 
Que amou Alice 
um dia pós
veio Uilcon torto 
pegou a Jóia di Ana 
juntou na PereirAlice
 com o corpo e alma das duas 
foi Bouvoir Assombradado
 pra lá de França ou Bahia
 roendo o osso do mito
 pois tudo que Sartre dizia
 o Anjo jurou já ter dito 
Nonada 
:
 - Biúte ria
poema seis
 estando quase 
sempre 
e mesmo estando 
esteja breve 
assim como uma letra
 escrita a lápis 
numa estrela aquarela
 rabiscada a giz 
estando por um raio
 esteja por um triz
curto circuito
 quem disse que amor é mudo surdo cego não sabe o que carrego em meu estado de sítio em meu instante de surto
pornofônico confesso
 se este poema inocente primitivo natural indecente em teu pulsar navegante entrar por tua boca entre dentes espero que não se zangue se misturar o meu sangue em teu pensar quando antropo por todas bocas do corpo em total pornofonia na sangração da mulher 
me diga deusa da orgia se também tu não me quer quando em ti lateja e devora palavra por palavra  dentro e por fora em pornografia sonora me diga Lady Senhora nestes teus setenta anos se nunca gozou pelo ânus me diga Bia de Dora num plano lítero/estético qual humano ou cibernético que te masturba ou te deflora
*
vampiresco
 um conto mínimo 2 o senhor dos anéis não mostra os dedos muito menos o coração Bradesco onde um corpo na lama menos Vale que 1 real rasgado na boca do bueiro
poética 93 
tenho nojo 
do Agro Negócio
 que me dá asco
 por tanta perversidade
 quem planta veneno 
é carrasco 
assassino da humanidade 
onde a poesia se espalha
 a língua nativa
não é fogo de palha
                    é brasa viva
indicativo
 
 olho dentro
do teu olho
 para que olhe
 na minha cara
e cara a cara me diga
a quantas anda
a nossa briga
do nosso amor pela ética
 se é tão estranha a poética
 de só pensar lá na frente
que até perdi a conta
 nesse pretérito faz de contas
das quantas vezes
que já votei pra presidente
e o nosso país do futuro
que nunca chega no presente
 
boca do inferno
 
 por mais que te amar
 seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter
perdão pra nós
eu quero mais
é o teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver
que me matar que seja
e se eu tiver que te matar
que morra
em cada beijo
que te der amando
só vale o gozo
quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
 
musicado e gravado por Luis RibeiroCD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002 
por entre trilhos e trilhas
 por entre tralhas e troços
 foto grafando os destroços
 dos frutos podres no chão
cacomanga 2
 
ali nasci
minha infância
era só canaviais
 ali mesmo aprendi
conhecer os donos de fazenda
 e odiar os generais.
no poema o que ficou¿ 
 para Cesar Augusto de Carvalho 
 no poema ficou caco de vidros azulejando nos azuis no poema ficou o corte mais aberto o sangue mais secreto tanto mal secando blues
 no poema ficou a língua cega a faca desdentada a fome afiada onde era mel agora é pus 
no poema ficou o obsceno não sagrado o beijo ensanguentado o abstrato do concreto no poema ficou um objeto um soneto esfacelado um hiato no decreto 
no poema ficou mais um retalho mais um trapo do espantalho nesse circo abjeto no poema ficou o sangue amargo numa noite quase nada num curral analfabeto
 no poema ficou a escuridão nuvens de cinzas onde antes era luz no poema eu fiquei de pé quebrado no velório esquartejado nessa terra tanta cruz
pátria que pariu 
 para Rubens Jardim
 os dentes das pedras mordem a língua dos meus dias obscuros esse país teve passado não tem presente nem  futuro
 peixe é bicho inteligente foge do óleo criminoso derramado nos mares do nordeste - eita peixe cabra da peste! 
 nem sei em que planeta estamos hoje nessa infernal atmosfera capitão boçal pede desculpas pelas cagadas dos 3 filhos 
 Aí 5 é apenas os centímetros que um deles carrega pendurado entre as pernas esperma já virou porra nesta pátria que                                                  pariu a besta fera
mulher dos sonhos 
 ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas nas entre linhas dela e salta das metáforas por entre portas e janelas
a barra
 o rio é uma passagem 
para encarar a barra 
                      de frente
 a rede pode prender o peixe 
mas não me prende
                    os dentes
mulher dos sonhos 
pesadelo ou nem Freud explica
 ontem sonhei com a mulher dos sonhos não era minha mas procurei saber quem era encontrei o endereço e ela não estava. a governanta me falou que estava em búzios. não a vi mas ouvi uma voz e me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro deve ser bem lido e quem fala deve ser bem escutado - o telefone toca não atendo nem sei quem está do outro lado - deu pra ver dois olhos de búzios na areia ainda molhada pela espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto. era ela toda de branco lenço azul nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos quando percebi quem era acordei.
grafitemas e figuralidades
 estou escrevendo um mini conto um grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me                                                     perguntou o que era
catando cacos de cogumelos azuis
procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia edvaldo santana adonirando um blues vivi-ane preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescente a voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e em um passo de mágica todos os outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão vivi-ane quase teve um troço ao ver o                                                             utensílio vazio.
cacos de cogumelos azuis 
alguns nomes nesta cidade me provocam desconcertam meus neurônios carrapato imburi macuco muritiba uriticum lagoa dos paus sossego a vida aqui vive enrolada em seus novelos São Francisco é tão pacata mais pacata que Arcozelo quando acordada não anda quando dorme é pesadelo 
cato caco nos azuis 
 cato cacos de vidros nos azuis lâminas de fogo nesse olho d'água algas de pedras nesse tempo ostras antes das horas que o dia tarda e os tiranos cessem seu torpor maligno cato caco de vidros nessa areia carma e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas são tantas horas perdidas outras desencontradas na areia da praia no rabo da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus essas horas que já se perderam nos currais do pasto de algum gentio pássaros elétricos que se ejacularam queimando as penas nas tensões dos fios nos geradores desse Zeus me livre onde netuno não                               aporta mais os seus navios o amor é cruel 
com as unhas entranhadas em tuas coxas
                     escrevo como quem
 cata estrelas do mar 
na areia da praia 
como quem come 
o rabo da arraia 
 montado no cavalo marinho
 lambendo escamas de sereia 
com os dentes 
cravados na memória 
e as unhas entranhadas
 em tuas veias 
na espuma branca 
                    de um pergaminho
psic/analítica
 não durmo. sonho. Dédala passeia em minha cama sob os meus lençóis de lã toda palavra sã me despe desejo pelos poros pelos nossos corpos separados apenas pela penugem do tecido quase dentro como Joice me trazendo Dédalus para o travesseiro eu te desejo como tudo que seja carne nervos músculos ossos ela foge quando toco fogo paixão fome sede tesão sexo acho até complexo ela gostar de conversar mas não sentir ou não querer ficar olhando da janela do seu olho gótico como quem analisa feito dadaísta nem fiado nem a vista porque não pode se envolver
             concretude versus                   conkrEreções 
Delírica 
da janela vou olhando o trilho de ferro do vagão barato o brasil do globo fica lá distante em brazilírica lá no meio do mato. a carne bela não viaja aqui nem mora por perto da estação da luz aqui tem merda carne de terceira lixo de primeira pele podre pus
faca uilcônica mortal
 
estanco o cavalo do sonho
 no teu quartel do princípio
 papel cortado na resma
a mula pasta acordada
a besta pulsa assombradada 
no visgo quente da lesma
trincheira
 há uma gota de sangue 
entre meus olhos e os teus 
e muitas velas acesas 
pra salvar a nossa carne 
e bocas cheias de dentes 
mastigando a nossa morte
 mas eles é que morrerão 
meu amor : num grande susto
 quando nus virem 
amando nessa cama 
 de ferro e de pau duro
 poesia para desconcertos
*
Dédalus
para Alberto Bresciani e o seu magnífico Hidroavião
 
 o poeta pesca peixes
na floresta de concreto
 lâminas de cimento
há séculos não está pra peixe
                      este mar secreto
 
 aqui redes em pânico
pescam esqueletos no ar
linhas de naylon
degolam tartarugas
que morrem náufragas
na Av. atlântica
 
o poeta cata os cacos
 que restaram
desta pátria desossada
dentro da noite veloz
 ... e se fosse não apenas o que eu quisesse ela também fosse o silêncio da fala a espera de uma outra palavra que ainda não dissemos nos vazios de nossas bocas quando a língua se esconde antes da cena acontecer. e se fôssemos como dois perdidos numa noite suja procurando a lamparina para dar a luz dentro dessa noite veloz até que exploda uma vertigem no dia ?
poética 
essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me provoca esse estado de não sei quantas adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do menino esse veneno em cada grão de soja em cada grão de milho em cada folha de alface essa face carcomida antes dos trinta e eu aqui pensando a quantas anda os projetos do meu filho
incorporação
 para Igor Fagundes
 esse poema bárbaro
 com fonema brazilírico 
vai fazer meu aramaico 
incorporar o seu delírico
 palavras que incorporo 
dança vento 
movimento folhas 
verdes no algodão
 fulinaíma dançarino 
sertão moleque
 esse menino do frevo
 xaxado xote blues rasgado baião 
                                Juras secretas 
Jura secreta 1
a língua escava entre os dentes
 a palavra nova fulinaimânica/sagarínica algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
 tudo o que quero conhecer
:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
 a pele em flor a flor da pele
 a palavra dândi
 em corpo nua
a língua em fogo
a língua crua
a língua nova a língua lua fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
Jura secreta 13
o tecido do amor já esgarçamos
 em quantos outubros nos gozamos 
agora que palavro Itaocaras
e persigo outras ilhas
na carne crua do teu corpo 
amanheço alfabeto grafitemas 
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
 em tudo mais que me negasse
flor de lótus flor de cactos
 flor de lírios ou mesmo sexo
 sendo flor ou faca fosse 
Hilda Hilst quando então se me amasse
 ardendo em nós salgado mar e Olga risse
 pulsando em nós flechas de fogo
 se existisse
por onde quer que eu te cantasse
ou Amavisse
        pele grafia 
meus lábios em teus ouvidos 
flechas netuno cupido
 a faca na língua a língua na faca 
a febre em patas de vaca 
as unhas sujas de Lorca 
cebola pré sal com pimenta 
 na tua língua com coentro
 qualquer paixão re-invento 
o corpo mar quando agita
 na preamar arrebenta
 espuma esperma semeia
 sementes letra por letra 
na bruma branca da areia
 sem pensar qualquer sentido
 grafito em teu corpo despido 
poemas na lua cheia 
Jura secreta 16 
 para may pasquetti 
fosse esta menina Monalisa 
ou se não fosse apenas brisa 
diante da menina dos meus olhos 
com esse mar azul nos olhos teus
 não sei se MichelÂngelo 
Da Vinci Dalí ou Portinari 
te anteviram 
no instante maior da criação 
pintura de um arquiteto grego
 quem sabe até filha de Zeus
 e eu Narciso amante dos espelhos
 procuro um espelho em minha face
 para ver se os teus olhos 
já estão dentro dos meus
Jura secreta 18
 te beijo vestida de nua
 somente a lua te espelha 
nesta lagoa vermelha 
porto alegre caís do porto 
 barcos navios no teu corpo
 os peixes brincam no teu cio 
nus teus seios minhas mãos
 as rendas finas que vestias 
sobre os teus pelos ficção
 todos os laços dos tecidos
 aquela cor do teu vestido 
a pura pele agora é roupa
 o sabor da tua língua 
o batom da tua boca
 tudo antes só promessa
 agora hóstia entre os meus dentes
 e para espanto dos decentes 
te levo ao ato consagrado
 se te despir for só pecado 
é só pecar que me interess
Jura secreta 27
 rio em pele feminina
 o rio com seus mistérios
 molha meu cio em silêncio 
desejo o que nos separa
 a boca em quantos minutos 
 as flores soltas na fala
 o pó dos ossos dos anos
você me diz não ter pressa 
seus olhos fogo na sala
 o beijo um lance de dados
 cuidado cuidado cuidado 
que sou um anjo de fadas
 não beije assim meus segredos 
meus olhos faróis nos riachos 
meus braços dois afluentes 
 pedaços do corpo do rio 
meus seios ilhas caladas 
das chamas não conhece o pavio 
se você me traz para o cio 
assim que o sexo aflora 
esta palavra apavora 
o beijo dado mais cedo 
quebra meu ser no espelho
 meu cerne é carne de vidro
 na profissão dos enredos
 quanto mais água me sinto
 presa ao lençol dos seus dedos 
o rio retrata meu centro 
na solidão de mim mesma 
segundo a segundo nas águas 
lá onde o sol é vazante
 lá onde a lua é enchente
 lá onde o rio é estrada 
onde coloca seus versos 
me encontro peixe e mais nada 
Jura secreta 29 
           esfinge
 o amor não é apenas um nome
 que anda por sobre a pele 
um dia falo letra por letra 
no outro calo fome por fome 
é que a flor da tua pele 
 consome a pele do meu nome 
cravado espinho na chaga
 como marca cicatriz
 eu sou ator ela esfinge
:
 Clarice/Beatriz
: 
assim vivemos cantando
 fingindo que somos decentes 
para esconder o sagrado 
em nossos profanos segredos 
se um dia falta coragem 
a noite sobra do medo
 
 é que na sombra da tatuagem
 sinal enfim permanente 
ficou pregando uma peça
 em nosso passado presente 
o nome tem seus mistérios
 que se escondem sob panos
 o sol é claro quando não chove
 o sal é bom quando de leve 
para adoçar desenganos 
na língua na boca na neve
 o mar que vai e vem não tem volta
 o amor é a coisa mais torta 
que mora lá dentro de mim 
teu céu da boca é a porta 
onde o poema não tem fim
Jura Secreta 37
 baby cadelinha 
devemos não ter pressa 
a lâmina acesa 
sob o esterco de Vênus 
onde me perco mais
 me encontro menos 
de tudo o que não sei 
só fere mais quem menos sabe
 sabre de mim baioneta estética
 cortando os versos do teu descalabro 
visto uma vaca triste
 como a tua cara 
estrela cão gatilho morro
: 
a poesia é o salto de um vara
 disse-me uma vez só 
quem não me disse 
ferve o olho do tigre
 enquanto plasma 
letal a veia no líquido do além 
cavalo máquina meu coração
 quando engatilho 
 devemos não ter pressa 
a lâmina acesa 
sob os demônios de Eros 
onde minto mais porque não veros 
fisto uma festa mais que tua vera
 cadela pão meu filho forro
: 
a poesia é o auto de uma fera 
devemos não ter pressa 
a lâmina acesa
 sob os panos quem incesta ?
 perfume o odor final do melodrama 
sobras de mim papel e resma 
impressão letal 
dos meus dedos imprensados
 misto uma merda a mais 
que tua garra 
panela estrada grão socorro
:
 a poesia é o fausto de uma farra
Jura Secreta 41 
Goytacá Boy 
musicado e cantado por Naiman
 no CD fulinaíma sax blues poesia
 ando por São Paulo meio Araraquara 
a pele índia do meu corpo
 concha de sangue em tua veia
 sangrada ao sol na carne clara 
juntei meu goytacá teu guarani 
tupy or not tupy 
não foi a língua que ouvi 
em tua boca caiçara 
para falar para lamber 
para lembrar da sua língua 
arco íris litoral como colar de uiara 
é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda lágrima
 que mãe chorara 
para roçar para provar
 para tocar na sua pele urucum
 de carne e osso 
a minha língua tara 
sonha comer do teu almoço
 e ainda como um doido curuminha 
a lamber o chão que restou da Guanabara
Jura Secreta 43
 veraCidade
 por quê trancar as portas 
tentar proibir as entradas
 se já habito os teus cinco sentidos 
e as janelas estão escancaradas ? 
um beija flor risca no espaço
 algumas letras de um alfabeto grego 
signo de comunicação indecifrável 
eu tenho fome de terra 
e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos 
quando piso na Augusta 
o poema dá um tapa na cara da Paulista flutuar na zona do perigo
 entre o real e o imaginário 
João Guimarães Rosa Caio Prado 
Martins Fontes 
um bacanal de ruas tortas 
eu não sou flor que se cheire
 nem mofo de língua morta 
o correto deixei na Cacomanga 
matagal onde nasci
 com os seus dentes de concreto
 São Paulo é quem me devora
 e selvagem devolvo a dentada 
na carne da rua Aurora 
Jura Secreta 53 
sagaraNAgens fulinaímicas 
guima meu mestre guima 
em mil perdões eu vos peço
 por esta obra encarnada 
na carne cabra da peste 
da Hygia Ferreira bem casta
 aqui nas bandas do leste
 a fome de carne é madrasta 
ave palavra profana
 cabala que vos fazia
 veredas em mais Sagaranas
 a Morte em Vidas/Severinas
 tal qual antropofagia 
teu grande Sertão vou cumer 
nem João Cabral Severino 
nem Virgulino de matraca 
nem meu padrinho de pia 
me ensinou usar faca 
ou da palavra o fazer 
a ferramenta que afino 
roubei do mestre Drummundo 
que o diabo GiraMundo 
é o Narciso do meu Ser 
Jura secreta 57 
 meta metáfora no poema meta 
como alcançá-la plena 
no impulso onde universo pulsa 
no poema onde estico prumo 
onde o nervo da palavra cresce 
onde a linha que separa a pele
 é o tecido que o teu corpo veste
 como alcançá-la pluma
 nessa teia que aranha tece
 entre um beijo outro no mamilo
 onde aquilo que a pele em prumo 
rompe a linha do sentido e cresce 
onde o nervo da palavra sobe 
o tecido do teu corpo desce
 onde a teia que o alcançar descobre
 no sentido que o poema é prece
O poeta enquanto coisa
*
obscuro objeto do desejo
 de pedra dourada ficaram portas janelas de entradas e saídas a sedução de dois olhos em minha carne proibida nem tanto pelo o que falo nem tanto pelo que sinto a vodka a cereja o conhac o abismo o labirinto
 de pedra dourada ficou um café orgânico no teu sertão encantada numa manhã de domingo do outro lado da trilha com tanta veracidade que me esqueci da idade e me apaixonei por tua filha
 de pedra dourada ficaram olhos acesos do outro lado a janela o espelho as contas de vidro o jogo da sedução a maravilha os passeios nas cachoeiras os banhos de bar o carnaval aquela delícia louca o batom na minha língua o cheiro das flores do mal meu bem-me-quer na tua boca
tragédia infame
 empresto minha voz aos deserdados os desnutridos os que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço nem mesmo a mesa e essa pergunta pra resposta que não vinha nem bolinho de chuva nem broa de milho nem carne seca com farinha espinha de peixe na garganta é o que sobrou pra curuminha - empresto meu corpo minha voz a esses personagens os que tem sede os que tem fome ou que morrem assassinados nos guetos nos campos nas cidades por balas de canhão rajadas de fuzil estás fudido brasil entregue as traças então me resta exterminar o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça
 Federico Baudelaire 
Mestre Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio - A Escola de Samba Oculta no InConsciente Coletivo – Bispo da Igreja Universal do Reino de Zeus
ancestral
 
há muito tempo
não recebo cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos simplesmente para dizer amém
 
já fui católico rezei terços ladainhas acompanhei a procissão dos afogados na Tapera
 para soletrar a palavra Cacomanga
 e entender que o barro da cerâmica trago grudado na minha íris retina
 
meu batismo de fogo
foi numa Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes
e hoje saber o que são
 
minha África
são os olhos negros de Madame Satã na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã
língua 
minha língua é safada nua e crua não gasta palavra a toa não canta palavra gasta nem é fado de Lisboa é blues rasgado pedra de toque samba rock plug ligado no navio ou na canoa bebe do Rio e de Sampa nos demônios da garoa fio desencapado tensão eletricidade tesão canibalidade na voracidade da Pessoa
mamãe coragem
 numa canção do Lenine o peixe está na rede o mar está com sede o rio agora chora onde esta cidade pedra veracidade medra eu te esfinjo drama 
onde a ferocidade Fedra eu te desejo deda eu te devoro dama
 pensando a trama Torquato eu disse mamãe coragem a vida é sagaranagem na elegia da hora fulinaíma é viagem te levo na minha bagagem não chora mamãe não chora
 O homem om a flor na boca
*
lugar de não sei onde
 
 ancorei os meus cavalos
na boca da areia
 as tripas retorcidas no galope
 
 no areal a sinfonia do ontem
 um horizonte cinza de um futuro que não chega
 peixes flutuando depois da asfixia levo meus assombros para um lugar de não sei onde
poema 5 
 para Jorge Ventura
 a faca não cala do poema a fala 
Dionísio Neto de Bacco 
quem sabe filho de Zeus 
jantou numa Santa Ceia 
na casa de Prometeus 
 nas madrugada de Bento 
lambeu o vinho nos seios 
das Bacantes 
no convento por todos poros 
do corpo por todos pelos e meios 
 depois grafitou nas vidraças
 com dedos de diamantes
 a Rosa de Hirochima 
num coração estudante 
depois de romper o dia 
por volta da seis e meia 
era um coração de poeta 
                             com poesia na veia
meus caninos já foram místicos simbolistas sócio políticos sensuais eróticos mordendo alguma história agora são dentes famintos cravados na pele da memória
escorre - nus
 teus seios
espumas que jorrei e
m tua boca
 ainda existe 
algo entre as costas 
e as coxas
 algas - água
 o sal da minha língua 
que lambeu a tua ostra
tem algo errado nessas estatísticas de mortes dessa drástica pandemia multipliquem 60.000 X 10 e ainda não vai ser exato o número de cadáveres empilhados nos campos de concentração que transformaram esse país que nunca foi uma nação
arranco mais uma pérola 
do ventre de hilda triste 
na porta da tua casa 
meu poema ainda insiste 
a menina que matou o tempo
 o vento também comia
 na lâmina o catavento 
pra espantar a maresia 
 nas ruínas de santa teresa
era domingo de poesia
 bateu uma pedra no rock 
e nos levou na ventania
poema 17 
com os dentes cravados na memória para Flora Filipe Sofia Alice Isadora meus tesouros
 I 
por todos anos 80
 ipanema 83
 flora recém nascida 
e eu chegando aos 40 
gomes carneiro 
visconde de pirajá 
bem próximo ao carinhoso 
bartolo com seu trumpete
 depois que a noite dormia
 tocava uma pérola negra 
e beijava o novo dia 
no boteco de onde estava 
conselheiro lafaiete 
refúgio da boemia 
me acordou com seu trumpete clarividência aflorava sonoridade – melodia 
logo depois era Drummond
 na praça general osório
 pra enriquecer meu repertório
 na pedra da poesia 
II
 ipanema 84
 filipe recém nascido 
por esses tempos vividos 
naquela aldeia carioca
 com todo vapor barato 
na tribo os sete sentidos 
nesses dentes da memória 
os 5 presentes no corpo
 outros 2 ganhos no tapa
 pelas ruas de ipanema 
 ou pelos becos da lapa
poema 21
 
nos meus delírios baudeléricos
 ou mesmo fossem baudelíricos
 sonho teu corpo flor de cactos
 como se fosse flor de lírios
toco teus pelos flor do mangue 
pulsando sangue em teus martírios 
penso teu sexo flor de lótus
 sagrada flor dos meus delírios
resumo
 ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de Santa Maria Madalena olhava a montanha e lembrava-me de selvagem que fui aos olhos dela enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me folhas de papel em branco.
Goytacá Boy 2
 araraquara guaxindiba itaocara 
grumari o que liga essas palavras 
ao eu vocabulário a carne índia 
o sangue a cachaça paraty
 grussaí guarapary baia da guanabara
 juntei meu goytacá seu guarani
 tupi or not tupi
 não foi a língua que ouvi 
em tua boca caiçara 
 capivari tucuruvi taubaté pindamonhangaba piracicaba pirapora piraí paranapiacaba 
vim da tapera carioca 
do roçado do aipim 
cacomanga minha toca 
meu coração ururaí
 tupinambá goytacá tupiniquim 
 quanta selva quanta mata
 desmatada desde o dia que o português pisou aqui 
 para falar para lamber para lembrar 
da sua língua arco íris litoral 
como colar de uiara 
é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda lágrima
 que mãe chorara 
para roçar para provar para tocar 
na sua pele urucun de carne e osso
 a minha língua tara 
sonha cumer do teu almoço
 e ainda como um doido curuminha 
a lamber o chão que restou da Guanabara
 juntei meu goytacá seu guarani
 tupi or not tupi 
não foi a língua que ouvi 
 em sua boca caiçara 
 gargaú guriri itapevi
 abapuru minha musa antropofágica 
tem o nome de pagu
 tarcila anita d´alkmim 
itaim guarujá piratininga 
itapetinga itaquera 
 quantas palavras ensanguentadas
nas taperas 
santeiro do mangue minha pátria 
meu tesouro 100 anos se passaram 
como vento e são paulo transformou-se nessa selva de concreto uma cidade de cimento
olho de lince
 para Tchello d´Barros 
onde engendro a Sagarana
invento a Sagaranagem 
entre a vertigem e a voragem
 na palavra de origem
 entre a língua e a miragem 
São Bernardo e Diadema 
 
mordendo :  o vírus da linguagem 
no olho de lince do poema
Artur Gomes é poeta, ator, videomaker e produtor cultural. Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições Du Bolso – 2015), Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux – 2020 ) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020 –  O Homem Com A Flor Na Boca (Editora Litteralux - 2023)
 Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002. 
Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira
 Em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada pelo SESC São Paulo. 
 Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo Estado. 
 Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazs-RJ onde foi Diretor de Projetos Especiais de 1999 a 2004. 
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e Reubes Pess. 
 Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP.
 Integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP 
Em 2022 criou o Projeto: Geléia Geral - Semana de 22 - 100 Anos Depois - realizado na Santa Paciência - Casa Criativa - Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2023 criou o Sarau Mltilinguagens - realizado pela Faundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima - Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2024 realizou a Balbúrdia Poética 3 - no Bar do Ernesto Lapa - Rio de Janeiro - em parceria com Tchello d`Barros e Luis Turiba
Com seu videopoema Goytacá Boy é um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.
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Atualmente exerce a função de Coordenador de Cultura na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ e tem iunéditos os livros : Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim e Itabapoana Pedra Pássaro Poema