Tecidos sobre a
terra
Terra,
antes que alguém
morra
escrevo prevendo a
morte
arriscando a vida
antes que seja
tarde
e que a língua
da minha boca
não cubra mais tua
ferida
entre/aberto
em teus ofícios
é que meu peito de
poeta
sangra ao corte
das navalhas
e minha veia mais
aberta
é mais um rio que
se espalha
amada de muitos
sonhos
e pouco sexo
deposito a minha
boca no teu cio
e uma semente
fértil
nos teus seios
como um rio
o que me dói é
ter-te
devorada por
estranhos olhos
e deter impulsos
por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante
minha terra
é de senzalas
tantas
enterra em ti
milhões de outras
esperanças
soterra em teus
grilhões
a voz que tenta –
avança
plantada em ti
como canavial que
a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo
sabendo - o vão
estreito em cada
porta
Moenda
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa
grande
os donos do engenho controlam
: o saldo e o lucro
artur gomes
leia mais no blog considerações de
vários estudiosos da poética de Artur Gomes
https://arturgumes.blogspot.com/
foto: Alice Lira – Museu da República
– Brasília – DF
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