sábado, 8 de julho de 2023

Tecidos Sobre A Terra

 

Tecidos sobre a terra

 

Terra,

antes que alguém morra

escrevo prevendo a morte

arriscando a vida

antes que seja tarde

e que a língua

da minha boca

não cubra mais tua ferida

 

entre/aberto

em teus ofícios

é que meu peito de poeta

sangra ao corte das navalhas

e minha veia mais aberta

é mais um rio que se espalha

 

amada de muitos sonhos

e pouco sexo

deposito a minha boca no teu cio

e uma semente fértil

nos teus seios como um rio

o que me dói é ter-te

devorada por estranhos olhos

e deter impulsos por fidelidade

 

ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal de amante

 

minha terra

é de senzalas tantas

enterra em ti

milhões de outras esperanças

soterra em teus grilhões

a voz que tenta – avança

plantada em ti

como canavial que a foice corta

mas cravado em ti

me ponho a luta

mesmo sabendo  - o vão

estreito em cada porta

Moenda

 

usina

mói a cana
o caldo e o bagaço


usina

mói o braço
a carne o osso


usina

mói o sangue
a fruta e o caroço


tritura suga      torce
dos pés até o pescoço

 

e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
: o saldo e o lucro

 

artur gomes

leia mais no blog considerações de vários estudiosos da poética de Artur Gomes

https://arturgumes.blogspot.com/

 

foto: Alice Lira – Museu da República – Brasília – DF


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