O PROMETEU DA POESIA –
Por Wilson
Coêlho
Se para alguns que admiram Geraldo Vandré, principalmente nos
versos em que sua canção "Para não dizer que não falei das flores",
quando se refere aos que "Pelas ruas marchando indecisos cordões/ Ainda
fazem da flor seu mais forte refrão/ E acreditam nas flores vencendo o
canhão", a poesia de Artur Gomes, em "Juras Secretas", consegue
romper com essa suposta dicotomia e contradição, considerando que ele consegue
falar das flores que jorram desse canhão a sua verve poética que explode em
flores aos corações e cérebros atentos ao que a poesia tem para dizer.
Apesar dos versos livres, onde - aparentemente - não tem
compromisso com a rima e a métrica, Artur Gomes trabalha com uma metrificação a
partir da musicalidade definida pelo fôlego, pela respiração e, sua rima, surge
como um processo de associação espontânea onde os finais das palavras dos
versos parecem um exercício em que o espírito assopra entre seus dentes a
sonoridade que combina as sílabas finais, como um hálito do desespero ou da
esperança.
Nesse sentido, suas rimas não podem ser consideradas pobres e
nem ricas, são palavras que se unem por uma sonoridade, que se ajustam ou se
contradizem por um sentimento que expõe à confusão, onde os absurdos das ideias
rompem as fronteiras da lógica formal, como uma possibilidade de
"desafinar o coro dos contentes".
E por falar em "desafinar o coro dos contentes",
essa é uma marca na poesia de Artur Gomes de sua herança anárquica, admiração e
influência de Torquato Neto.
Mas não para por aí, considerando que sua poesia tem muito da
rebeldia de Arthur Rimbaud, François Villon e Alfred Jarry e até mesmo de Pier
Paolo Pasolini.
São poemas repletos de eroticidade, revolta e ironia, como um
mosaico, sem perder o fio da meada.
Enfim, as "Juras Secretas", de Artur Gomes que,
obviamente, são juras na medida em que o poeta se revela, não são nada
secretas, tendo em vista que ele se expõe e coloca nos versos suas vísceras em
aberto, como um Prometeu acorrentado, oferecendo seu fígado aos abutres de
plantão, ao mesmo tempo em que abre seu coração aos que se alimentam da lírica.
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A Biografia de um poeta absurdo
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o vôo
de Heras
EvoEros
enquanto espero
outras Eras
primasVeras nesse quase verão/inverno
que me tire desse purgatório
nó da gravata
quase mesmo inferno
nos abismos desse terno
recortado por Gamboa
mas não sou Pessoa
dessa pedra Itabira
esse pó quase me pira
muritiba muquirana
Itabapoana não me engana
Macunaína ainda vive
nas favelas de Copacabana
Federico Baudelaire
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Drummundana Itabirina
essa dica não é minha
dia 11 de outubro
a Nação Goytacá
vai Balburdiar
na CasAmarÉlinha
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lua cheia
tatuei com a língua a data
no teu corpo litoral – meu corpo em chamas
o mar lambeu o sal na concha
que plantei no teu umbigo
um palmo abaixo espumam ondas
por entre o vão de nossas coxas
Netuno aceso como um beijo de setembro
linguagem viva no temporal por onde for
eu sonho a lua quando cheia
que me transmuta pra compor
Artur Gomes
jogo de dadaísta
não sou iluminista/nem pretender
eu quero o cravo e a rosa
cumer o verso e a prosa
devorar a lírica a métrica
a carne da musa
seja branca/negra
amar/ela vermelha verde
ou cafusa
eu sou do mato curupira carrapato
eu sou da febre sou dos ossos
sou da lira do delírio
e virgílio é o meu sócio
pernambuco amaralina
vida leve ou sempre/vida severina
sendo mulher ou só menina
que sendo santa prostituta
ou cafetina
devorar é minha sina
profanar é o meu negócio
Artur Gomes
Juras Secretas
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clique no link para v(l)er o vídeo filmado em Gargaú por Letícia Rcha com trilha sonora de Fil Buc
https://www.youtube.com/watch?v=szABRGqMqH8&t=10s
No próximo vinte e dois deste setembro dois mil e vinte e cinco finco os olhos na tela do ArteCult.com para v(l)er por onde andará Macunaíma?, coluna assinada pelo “bardo da cacomanga”. E por onde andará Macunaíma? Pelo polo sul ou norte? Ainda andará nos traços a lápis de José César Castro, o fógrafo/desenhista que não é casto? Talvez com um pouco de sorte nos encontremos com ele naquela preguiça boa, escre/vivendo/falando poesia pelo litoral de São Francisco onde Itabapoana agora é pedra que voa.
Artur Gomes (Campos dos Goytacazes-RJ, 1948) é poeta, ator, produtor cultural e vídeo maker, com mais de cinco décadas de intensa atuação nas artes. Criador de projetos que marcaram a cena literária e audiovisual brasileira, como o FestCampos de Poesia Falada e a Mostra Visual de Poesia Brasileira, Artur construiu uma trajetória que une poesia, performance e experimentação multimídia.
Em 2019, lançou o Sarau Balbúrdia PoÉtica, que se tornou um espaço vibrante de celebração da poesia falada e da performance, circulando por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes. O projeto já realizou onze edições, incluindo participações em eventos de grande destaque, como a Bienal do Livro de Campos, e contou com apoio de instituições culturais e do portal ArteCult.com
Autor de mais de 15 livros publicados, entre eles Juras Secretas (2018), Pátria A(r)mada (2019, Prêmio Oswald de Andrade/UBE-Rio) e O Homem Com a Flor na Boca (2023), e Itabapoana Pedra Pássaro Poema (2025). Artur segue produzindo intensamente e difundindo a literatura contemporânea. Mantém o blog Nação Goytacá, https://arturgumes.blogspot.com/
onde reúne a série TransPoÉticas – Coletânea de Poetas Vivos, reafirmando seu papel como articulador cultural e voz ativa da poesia brasileira.
poética
na pedra do sossego
eu me abstenho
na pedra do sossego
eu me abstrato
na argamassa dos teus olhos
me preservo
nos mamilos dos teus seios
me concreto
no cio do teu corpo
eu me retrato
Artur Gomes
www.fulinaimargem.blogspot.com
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